3º Dia na Argentina (dia 22 do mochilão)
Acordamos
cedo, como sempre, e tomamos nosso desayuno
no hotel, antes de sair para conhecer a cidade. Era nosso terceiro dia em
Mendoza, mas até este momento só havíamos visto os arredores na região de Maipú
e Luján de Cuyo e a cidade de San Rafael. Nossa programação era de mais dois
dias na cidade e queríamos aproveitá-los bem.
Deixamos o hotel e caminhamos
calmamente até a Plaza da Independencia
no centro da cidade. Um grande chafariz marca o centro da praça, em seu redor
estão o Museu Municipal de Arte Moderna e o Teatro Municipal de Mendoza, além
de um anfiteatro.
Chafariz da Plaza Independência em Mendoza |
Anfiteatro na Plaza Independencia |
Diante da praça está o
prestigiado Plaza Hotel, construído na década de 1920 e até hoje em atividade,
como opção de hospedagem de luxo na cidade. Ao lado o Teatro Independência,
inaugurado no ano de 1925, como parte do complexo hoteleiro e reformado entre
os anos 2000 e 2003, quando foi totalmente reconstruído e modernizado por trás
da fachada histórica.
Teatro Independencia |
Ao lado está o Colégio Nacional
de Mendoza, que surgiu em meados do século XVIII, com atividades educativas
ministradas pelos jesuítas, e continuou em 1817 com o Colégio da Santíssima
Trindade, que funcionou até o terremoto de 1861. O atual colégio foi inaugurado
no mesmo lugar em 1865, mas continuou em obras até sua completa conclusão em
1910.
Uma boa maneira de se locomover
pela cidade é adquirir o boleto do Bus Turístico (www.mendozacitytour.com), um ônibus com um
andar em cima aberto para melhor visualização da cidade e que conta com fones de
ouvido no qual se pode acompanhar o roteiro com as explicações de um guia em
português. Compramos o boleto com duração de um dia no guichê diante da Plaza Independencia e embarcamos logo em
seguida.
Guichê do Bus Turistico na praça |
O bus turístico faz um trajeto
com quinze paradas, onde se pode descer e subir em qualquer destes pontos no
período de 24h ou 48h, dependendo do boleto que se compre.
O ônibus passa pontualmente a
cada uma hora nos locais marcados e é uma boa opção de transporte, pois te leva
a todos os principais pontos turísticos da cidade, sem que necessite gastar com
transporte mais vezes. Também se pode dar uma volta completa no circuito todo
para conhecer e depois escolher os pontos onde quer descer.
Passagem San Martin vista do ônibus |
Seguimos pelas ruas de Mendoza
ouvindo as explicações do guia na voz gravada e passamos pelo Centro Cultural
NAVE, nos arredores do Parque Central. Já havíamos caminhado por estes lados no
primeiro dia na cidade, antes de irmos as vinícolas de Luján de Cuyo, então seguimos sentados apenas apreciando o passeio
de ônibus.
Descemos do ônibus na Área
Fundacional de Mendoza, que foi o centro da cidade na época em que foi fundada
por Pedro Del Castillo, em 2 de março de 1561.
A antiga Plaza de Armas é agora a Plaza
Del Castillo, em homenagem ao fundador. Posso dizer que Mendoza foi uma das
cidades que mais gostei de ter conhecido em toda viagem, talvez pela afinidade
de datas já que a cidade foi fundada nesta praça no mesmo dia de meu
aniversário (apesar de a cidade ser exatamente 419 anos mais velha que eu...
hehehe), mas muito do que me atraiu por lá se deve a esta área da cidade e sua
história.
Em 1861 um grande terremoto
destruiu toda a cidade, matando um terço da população da província. O terremoto
foi seguido de diversos focos de incêndio que tomaram as casas em ruínas,
devido a fogareiros e lampiões acesos na hora do evento, os incêndios queimaram
as ruínas da cidade por três dias.
Praça muito bem cuidada |
Estátua do fundador da cidade |
No ano do terremoto a cidade se
resumia, basicamente, a esta praça e seus arredores, após o terremoto a cidade
foi reconstruída tendo sua nova praça central inaugurada em 1863, onde hoje
está a Plaza da Independencia. Placas
de azulejo foram instaladas nos muros e calçadas das casas que hoje estão no
lugar de antigas construções destruídas no terremoto. A cidade parece que nunca
vai se esquecer de tamanha destruição.
Na atual Plaza Del Castillo está o Museo
Fundacional, que guarda um pouco da história do setor colonial da cidade.
Localizado no interior do antigo edifício do Cabildo (Casa de Governo), o acervo é formado por objetos e partes
das construções locais, como exemplares de muros e ladrilhos encontrados após o
grande terremoto de 1861.
O museu oferece visita guiada de terça a sábado das 8 às 20 hs e domingo
das 12 às 18:30 hs (não abre às segundas-feiras) em três sítios: a antiga casa
de governo, o chafariz original localizado abaixo da praça atual e as ruínas da
igreja de São Francisco. Comprando o boleto de entrada no museu se ganha um
boleto para visitar o aquário municipal.
Entramos para conhecer o museu e a menina na recepção pediu que
aguardássemos para o início da visita guiada pelos sítios arqueológicos.
Enquanto esperávamos aproveitamos para ver parte da exposição que conta um
pouco da cultura dos ancestrais que viviam em torno do Aconcaqua. Exemplos de
vestimentas e foto de uma famosa múmia encontrada no pico a mais de 5000 metros
acima do nível do mar estão expostas no museu.
Peça de exposição do museu |
Imagem da múmia achada no Aconcagua |
A menina, que nos guiaria, nos
chama e junta todo o grupo para explicar que o museu foi construído onde
funcionou a antiga Casa de Governo antes do terremoto, mas que após a tragédia
foi ali erguido um matadouro que foi desativado devido a surtos de doenças na
região. A fachada com o portal de entrada do antigo matadouro faz parte da
estrutura do museu e pode ser vista, como era originalmente, em uma foto
exposta na parede.
Prédio do Museu: Portal de entrada do antigo matadouro |
Foto do prédio quando ainda funcionava o matadouro |
A guia explica que o museu nasceu como resposta à necessidade de
expor e conservar os restos arqueológicos encontrados entre 1989 e 1991 nas
escavações realizadas no local, onde se encontrou o piso original do antigo Cabildo, abaixo do piso do matadouro,
agora exposto aos visitantes.
A exposição gira em torno do trágico terremoto e depois de ouvir
as histórias dos terremotos de Lima no Perú (no longínquo primeiro dia de nossa
viagem) e de passar perto de um em Arica, quando saímos da cidade junto com
pessoas que evacuavam o lugar com medo, ver as fotos e imagens que registram as
consequências deste tremor causou uma inevitável e estranha sensação de imaginar-me
naquele lugar em 1861.
Maquete da Praça de Armas antes do terremoto |
Imagens mostram o antes e depois do terremoto |
Foto da igreja depois do terremoto |
A segunda parte da exposição não estava dentro do prédio do museu
e a guia nos conduz pela praça em direção ao chafariz atual. Ao lado dele
encontra-se uma escadaria que leva a uma porta abaixo do nível da grama na
praça. A guia explica que o nível das ruas foi elevado ao longo do tempo, pois
a cidade sempre sofreu com enchentes nas épocas de chuvas e que destroços do
terremoto na área original da cidade foram enterrados nas obras de
terraplanagem ao longo dos anos. Durante escavações foi encontrada soterrada e
intacta a fonte, original da fundação da cidade datada de 1561. O local foi
escavado e protegido estando agora em exposição apenas para os visitantes do
museu, exatamente abaixo do chafariz atual.
A guia abre o cadeado e do outro lado do portão de ferro existe
uma porta de vidro. Ao atravessá-la sentimos o ar pesado e sufocante, protegido
do ar externo por outra porta de vidro que conduz a um corredor por debaixo da
praça, por onde se vê a estrutura e piso originais da cidade. Um lugar
incrível!
Subterrâneo da praça: Resquícios da cidade velha |
Aqueduto que abastecia a fonte e a cidade |
É possível ver os antigos canais de água que abasteciam a cidade e
no centro de tudo está a antiga fonte, protegida por um domo que sustenta o
chafariz atual no centro da praça acima. Posso dizer que é possível sentir até
o cheiro do passado no ar pesado e sufocante no meio do sítio arqueológico.
Deixamos os subterrâneos da praça e caminhamos para o terceiro e
último sítio histórico da visita guiada: As Ruínas do Convento e Igreja Jesuíta
de São Francisco.
As ruínas são a única mostra do que sobrou da antiga cidade após o
devastador terremoto, já que toda a cidade foi destruída e apenas a igreja
permaneceu parcialmente de pé.
A guia nos conta toda a história do templo, que foi construído
pela Sociedade de Maria e consagrado à Imaculada Conceição. Nesta propriedade
se instalou, em 1609, a Companhia de Jesus, que em 1628 começou a transformação
do templo em uma bela construção de pedra, cal e tijolos, com uma grandiosa
nave com capelas laterais, que se concluiu em 1645. Em 1767 os jesuítas foram
expulsos e tiveram que fechar as portas de seu templo para deixar o país. No
ano de 1798 os franciscanos tomaram o lugar e o transformaram em um convento.
Alguns anos depois a igreja foi parcialmente destruída por um terremoto, e
quando foi finalmente reinaugurado o templo franciscano da Companhia de Jesus
foi gravemente afetado pelo grande terremoto de 1861 que acabou com a cidade de
Mendoza.
Paredes que permaneceram de pé após o histórico terremoto |
A guia nos conta que após o terremoto de 20 de março de 1861 e dos
três dias de incêndio que devastaram a cidade, apenas se via uma única
construção entre destroços e poeira: A Igreja de São Francisco. Em seu interior
estava a imagem de Nossa Senhora de Carmen de Cuyo, patrona do Exército dos Andes,
e o fato do templo não ter desmoronado completamente e soterrado a imagem foi considerado um
milagre da santa.
Coluna e paredes |
Mas infelizmente os danos causados à estrutura foram grandes
demais e a fachada do templo acabou destruída após o terremoto. A imagem da Virgem de
Carmen de Cuyo foi guardada em segurança até a construção da atual Iglesia de San Francisco, na área nova
da cidade, para onde a imagem original foi encaminhada e se encontra até hoje.
A igreja, hoje em ruínas, foi o lugar de onde partiu, em 1817, o
Exército dos Andes liderado pelo General San Martin e o lugar onde o general e
seu exército jurou bandeira antes de cruzar a cordilheira para ajudar na
libertação das colônias espanholas.
Escadarias da torre ainda intactas |
Pudemos caminhar em volta das paredes ainda de pé e subir pela
escadaria intacta que levava à torre sineira. A guia explica onde ficava a nave
principal e aponta as colunas que restaram após o desabamento pós-terremoto. No fim da visita deixamos as ruínas, que foram declaradas
Monumento Histórico Nacional no ano de 1941, e seguimos de volta para a praça
onde nos despedimos da simpática menina que nos guiou e contou um pouco sobre a
incrível história da cidade.
A visita durou cerca de 1h30min, portanto ainda faltavam mais
trinta minutos para o ônibus turístico passar pelo mesmo ponto em que descemos.
Tínhamos as entradas para o Aquário Municipal, que ganhamos quando compramos a
visita ao museu Fundacional, portanto resolvemos seguir caminhando até o Parque
O’Higgins, um pouco mais a frente, pois este liga o museu ao aquário. O parque
estava bem deserto e possui um caminho que cruza toda sua extensão. O nome do
lugar homenageia Bernardo O’Higgins, um militar e estadista chileno que foi
considerado o pai da pátria, sendo um dos responsáveis pela independência do
Chile, ajudado pelo General San Martin e pelo Exército dos Andes.
No parque está o Teatro Municipal Gabriela Mistral, outra
homenagem a uma figura do país vizinho, já que seu nome remete a famosa poetisa
chilena que ganhou um Nobel de Literatura em 1945. Diante do teatro encontra-se
um busto da escritora.
Teatro Municipal Gabriela Mistral |
Busto de Gabriela Mistral |
Cruzamos o parque caminhando calmamente e avistamos a cúpula e
torre da Iglesia e Convento La Merced que
fica a dois quarteirões do parque. Resolvemos ir conhecer a igreja que é muito
bonita e foi totalmente reconstruída após o terremoto de 1861.
Deixamos a igreja e seguimos margeando o parque até chegarmos ao
Aquário Municipal de Mendoza (aberto diariamente entre 9h e 19h30min).
Inaugurado em 1945, foi o primeiro aquário do país e depois de
reformado é hoje um espaço super moderno e agradável de se conhecer. Pagamos a
taxa de entrada e fomos ver os diversos mini aquários que contam com telas
contendo as informações de cada espécie.
Por dentro do Aquário Municipal |
Aquário |
Exemplo de peixe em um dos aquários |
Pudemos ver diversas espécies tanto de água doce (peixes tropicais
vivíparos e ovíparos) como marinha (anêmonas, cavalos-marinhos, ouriços,
moluscos e crustáceos).
Nem sei o que é isso... rs |
Peixes bonitos e curiosos |
Nos divertimos vendo espécies curiosas que nunca havíamos visto e
famosas espécies reproduzidas nos cinemas em forma de animações como o caso dos
personagens “Nemo” e “Dory”.
Em um aquário especial que recria um recife marinho está a grande
tartaruga chamada Jorge que tem 95 anos de idade. Não curto animais em
cativeiro e me incomodou ver o grande Jorge pelo vidro, depois de ter visto
muitas tartarugas marinhas na natureza em outros lugares por aí. Mais a frente
um tanque apresenta diversas tartarugas em meio a pedras que recriam o ambiente
natural.
No terraço encontra-se a área destinada aos jacarés e répteis, com
um tanque em uma área com paredes e telhados de vidro, que possui areia, água e
pedras para recriar o ambiente natural dessas espécies.
Ainda no terraço uma lagoa a céu aberto, com plantas flutuantes e
musgos, apresenta peixes e recria o habitat da vida aquática. Este é o fim da
visita ao aquário e descemos pela rampa de acesso de volta a rua.
Na frente do aquário Municipal existe um ponto do ônibus
turístico, mas ainda teríamos mais meia hora, pois quando estávamos chegando ao
aquário passou um ônibus. Esta era a oportunidade de conhecer o Serpentário de
Mendoza, que fica diante do Aquário e do ponto do Bus Turistico.
O serpentário é uma coleção particular bem pequena. Pode-se ver
diversas espécies de cobras em caixas de vidro ao longo de um grande corredor.
Cada espécie possui uma plaqueta de identificação contando sua
origem e características principais. Cartazes e baners explicam um pouco sobre os seres e os tipos de venenos, além
de curiosidades e informações diversas sobre os répteis.
Além das cobras o serpentário também possui algumas espécies de
aracnídeos. É um lugar bem estranho para quem nunca foi, como eu, mas achei
legal conhecer. A visita é super rápida e saímos em tempo de tomar o ônibus.
Seguimos com o ônibus até o
ponto próximo ao prédio da Municipalidade de Mendoza, onde toda quinta-feira do
mês de março, sempre às 20h, é realizado no terraço o evento “Música e Vinho na
Altura”. Haviam nos falado sobre o evento, cujo objetivo é combinar música com
boas bebidas e demonstrar como as melodias e acordes podem melhorar o sabor de
um vinho. Quando soubemos nos interessamos em ir, já que durante as reuniões se
apresentavam grupos de diferentes estilos musicais, como pop e músicas dos anos
60, 70 e 80, além de música lounge, mas infelizmente, o evento tinha sido no
mesmo dia em que fomos ao Cañon Del Atuel
e quando retornamos já havia passado da hora.
Municipalidade de Mendoza |
Gravura na varanda do prédio |
Por detrás do prédio da
prefeitura da cidade encontra-se o Palácio de Justiça com uma fachada
imponente, composta de 14 colunas de pedra, e ao seu lado, o Palácio de Governo
do Distrito de Mendoza diante de uma grande praça verde. Esta é a região
conhecida como “Centro Cívico” da cidade.
Palácio de Justiça |
Palácio do Governo |
No centro da praça, diante do
Palácio do Governo, está o Memorial da Bandeira, um monumento de reflexão, que destaca a
historia da Bandeira do Exército dos Andes através de uma pira que homenageia o
General San Martin e seus soldados.
Memorial da Bandeira |
Uma rampa conduz o visitante
para o subsolo abaixo da praça onde grandes paredes separam duas salas através
de um corredor que contém dizeres do general.
Rampa de acesso ao subsolo do memorial |
Frases do General San Martin nas paredes |
A primeira sala é guardada por
um soldado do exército argentino vestido com uma réplica do uniforme do
Exército dos Andes. No centro da sala, diante de um retrato do General San
Martin está a bandeira original usada na ofensiva que culminou com a libertação
de diversas colônias espanholas. A Bandeira está nesta sala com controle de
temperatura, iluminação e umidade, junto de quepes usados pelos soldados de
diferentes patentes, conforme nos explicava o carismático soldado. O próprio
uniforme usado pelo soldado que nos falava, tinha seus significados em cada
apetrecho. O soldadinho era bem simpático, mas não nos deixou fotografar a sala
nem a bandeira, por isso eu busquei algumas imagens de internet para mostrar o
que vimos por lá.
Sala da bandeira de San Martin com um soldado e exposição de peças: Foto de reprodução da Internet |
O soldado nos contou a história
do general que após conquistar a independência da Argentina, em 1816, cruzou a
Cordilheira com o Exercito de Los Andes
para participar do processo de independência do Chile e do Peru, junto com
General O’Hinggis, além de ajudar o General Bolívar a libertar a Bolívia. Ele
nos contou que a bandeira foi bordada a mão pelas freiras de Mendoza e que nela
foram fixadas diversas joias doadas pela alta classe da população, mas que não
mais podemos ver estes itens, pois durante a guerra o exército, necessitado de
recursos, precisou vender estes apetrechos para comprar mantimentos e munição.
Na sala também está o documento original de juramento à bandeira, que foi
realizado na Igreja de São Francisco em 1817, quarenta e quatro anos antes do
grande terremoto destruí-la.
A segunda sala, do outro lado
do corredor, guarda dois troféus de batalha, conquistados por San Martin: os
estandartes do Exército Real Espanhol que foram capturados durante a batalha de
Chacabuco em 1817. Os mesmos foram levados a Buenos Aires e retornados a Mendoza
para a inauguração do memorial em 2012. Apesar de não poder fotografar,
aproveitamos que estávamos sós e registramos rapidamente os estandartes
espanhóis... hehehe.
Bandeiras tomadas em batalha no ano de 1817 |
Bandeira do Real Exército Espanhol |
Estandarte como troféu de guerra |
Deixamos o centro cívico
impressionados com a história da libertação e como o povo argentino é orgulhoso
dos feitos de seu libertador. Já havíamos visto tamanho sentimento cívico em
outros países (eu inclusive relatei aqui que na Bolívia deixam coroas de flores
nas estátuas de Simón Bolívar), mas infelizmente no Brasil a história é mal contada
e não se percebe nenhum orgulho nacional pelo passado. Enfim... tomamos o
ônibus no mesmo lugar onde descemos e voltamos ao nosso city tour comentado
pelos fones de ouvido.
O ônibus cruza o centro
gastronômico da cidade e segue na direção do Parque General San Martin, cuja
entrada é guardada por um imponente portão de ferro. O parque é uma das mais
belas áreas verdes da cidade, em seu interior estão praças, lagos, um
zoológico, museus, entre outras atrações.
No interior do parque há uma grande fonte, a Fuente de los Continentes, que possui quatro figuras humanas que
sustentam um pedestal com quatro imagens de crianças simbolizando os quatro
continentes: Américas, Europa, Ásia e África, já que a Oceania não era
considerada um continente na época de sua fabricação. Completam a construção,
quatro figuras de sereias com conchas no espelho d’água.
Fonte dos Continentes |
Detalhe da fonte |
O local é ótima opção para quem
quer descansar, pedalar, ou simplesmente passear ao ar livre, no entanto, nós
não teríamos tempo de conhecer e desfrutar do parque, por isso apenas
apreciamos a paisagem vista do ônibus.
Parque San Martin |
Parque visto pelo ônibus |
Nossa intenção era de descer no
alto do mirante existente no Cerro de La
Gloria. Uma subida bem íngreme e sinuosa nos conduz ao alto da colina. Pelo
caminho pudemos observar as torres de iluminação do Estádio Provincial Las Malvinas, construído dentro do Parque para
realização da Copa do Mundo de 1978.
Oura atração existente dentro
do parque é o Anfiteatro, onde acontece anualmente a festa da Vendímia. A festa é um dos maiores
eventos da cidade e ocorre sempre no primeiro sábado do mês de março, seu nome
está associado a colheita da uva para as vinícolas, comemorada nesta data. Uma
pena que a festa havia ocorrido um fim de semana antes de nossa chegada...
Finalmente o ônibus nos deixa
no Cerro de La Gloria, de onde se tem uma vista privilegiada de toda a região.
O acesso ao topo do cerro se dá
diante de um paredão contendo diversos brasões que remetem as glórias do
exército comandado pelo General San Martin. Placas argentinas, chilenas e
peruanas homenageiam o famoso Ejército de
los Andes de diversas formas.
Cerro de La Gloria: Homenagem ao Exército dos Andes |
Brasões homenageiam o exército liderado pelo General San Martin |
Imenso brasão no Cerro de La Gloria |
No topo do Cerro de La Gloria
está o Monumento ao Ejército de los Andes,
uma obra de autoria do artista uruguaio Juan Manuel Ferrari. A base foi feita
com pedras trazidas da Cordilheira dos Andes e todas as esculturas, ricas em
detalhes, são de bronze. No centro do monumento está a imagem do General
montado em seu cavalo.
Monumento ao Exército dos andes |
O General e seu cavalo |
Ao redor do monumento as outras
esculturas representam o exército que cruzou a cordilheira com o general e
também momentos marcantes dessa travessia.
A história contada na escultura |
Placas de bronze recriam as batalhas |
No topo de toda escultura, uma
imagem representa a liberdade, principal objetivo das batalhas do exército.
A liberdade representada em meio ao exércido |
O monumento foi construído em
1914, após um concurso, vencido pelo uruguaio, para o melhor projeto em
homenagem ao exército. Foi o próprio escultor quem escolheu o local onde a
escultura vencedora seria instalada. Quando o local foi escolhido o governo
mudou o nome da colina, que antes se chamava Cerro Del Pilar, para Cerro
de La Gloria.
Cerro de La Gloria |
Ficamos no cerro por uma hora,
até que o próximo ônibus subiu pela estrada. Embarcamos de volta para descer e
cruzamos o parque San Martin, saindo pelo Parque
Del Aborigen.
Voltamos para as ruas mendocinas
e terminamos todo o circuito do ônibus acompanhando as explicações através do
áudio com fones, até o ponto inicial onde embarcamos pela primeira vez na Plaza Independencia.
Desembarcamos do ônibus e fomos
a uma loja da CATA, uma operadora de ônibus de viagem, para comprar nossas
passagens para Buenos Aires. Este seria nosso último trecho viajando num ônibus
e resolvemos que iríamos no melhor que pudéssemos. Nos demos de presente o
conforto do CATA Royal Suite, cujo preço era um pouco salgado, mas compensava
em uma viagem direta de 12h, enquanto as demais linhas ofereciam de 14h a 16h
de viagem com parada em outras cidades no caminho.
Para nossa surpresa havia na
praça uma feirinha de artesanato que funcionava até as 21h, então ficamos por
lá um tempo olhando alguns itens. A noite caiu de vez, iluminando a praça e
seguimos para as ruas no entorno procurando um bom lugar para jantar.
Paramos no restaurante Estancia La Florencia (Avenida Sarmiento,
698). Sentamos em uma área reservada junto à calçada, como acontece com quase
todos os restaurantes na cidade. Neste dia pedimos uma garrafa de vinho
mendocino para acompanhar o tradicional prato de carne com batata argentino.
Achamos bem legal com um bom atendimento e ficamos um bom tempo ali degustando
o vinho após terminar o jantar.
Depois voltamos para o hotel
caminhando tranquilamente pelas calmas ruas da cidade. Tomamos um banho e
caímos na cama bem cansados depois de um dia cheio.
4º Dia na Argentina (dia 23 do mochilão)
Dormimos
até mais tarde no nosso último dia em Mendoza. A ideia era passar um dia bem
tranquilo antes da longa viagem até Buenos Aires, onde se encerraria nosso
mochilão na América do Sul.
Depois de
comer no hotel seguimos para a rua e caminhamos até a Plaza España. Mendoza possui quatro praças em volta da Plaza Independencia, sendo a Plaza España a mais bonita delas, na minha
opinião.
A praça,
que teve muitos nomes, foi construída em 1863 quando se reconstruiu a cidade
após o grande terremoto, sendo remodelada por artesãos espanhóis em 1946,
quando ganhou murais de azulejos vitrificados nas fontes e bancos, além de
pequenos azulejos que ornamentam o piso de toda a praça.
Bonito monumento com azulejos |
Plaza España |
Banco na praça: Azulejos espanhóis |
Seguimos
até a segunda praça equidistante da praça central e chegamos a Plaza San Martin, que homenageia o
famoso general. No centro da praça uma estátua mostra o General em seu cavalo.
Monumento ao General San Martin |
Plaza San Martin |
Do outro
lado da rua está a Basílica de São Francisco, a igreja mais antiga da cidade de
Mendoza. Construída em 1875, foi o primeiro templo erguido após o terremoto de
1861.
Entramos
para conhecer a igreja cujo projeto foi inspirado na Igreja da Trindade que
fica em Paris. A basílica é bem grande, possuindo três naves, mas a torre
sineira central e duas torres laterais foram destruídas no terremoto de 1920,
oito anos antes de o ser declarada Patrimônio Histórico Nacional.
Interior da igreja |
Altar |
Desde que
fizemos a visita as Ruínas de San Francisco no dia anterior, ficamos curiosos
de visitar esta basílica, pois a guia havia informado que em seu interior
estava a imagem original de Nuestra
Señora Del Carmen de Cuyo que resistiu milagrosamente ao grande terremoto.
Segundo nos foi contado, a Virgem de Cuyo foi consagrada Padroeira e General do
Exército dos Andes, em 1817, pelo próprio General San Martin, que antes de
cruzar os Andes a ofertou seu Bastão de Mando em apreço pelo sucesso na
campanha que se iniciava.
No
interior da basílica também encontra-se um mausoléu onde estão os restos
mortais de Mercedes Tomasa, filha do general, Mariano Balcarce, seu filho, além
de sua neta Maria Mercedes.
Deixamos
a igreja e caminhamos alguns quarteirões até a Plaza Chile, marcada por um
monumento dedicado à amizade entre os Argentina e Chile. O monumento no centro
da praça exibe o herói da independência Argentina, José de San Martin, e o
libertador do Chile, Bernardo O’Higgins.
Deixamos
para visitar a Plaza Italia depois, a
última das quatro praças, e acabamos não indo. Caminhamos pelas ruas
arborizadas de Mendoza olhando vitrines de lojas diversas. Cabe destacar que em
Mendoza o comércio fecha as portas na hora do almoço, de modo que todas as
lojas permanecem fechadas entre 12h e 15h, portanto reserve este horário para
passear pelas praças da cidade.
Praças de Mendoza |
Caminhamos
pela Alameda Mendocina que foi planejada pelo próprio San Martin, muito antes
do terremoto de 1861, mas que foi totalmente replanejada quando a cidade foi
reconstruída. Hoje a alameda esta sobre o principal rio que abastece Mendoza e
irriga as diversas árvores nas ruas e praças.
A partir
da Plaza Independencia existe um paseo com diversos restaurantes e cafés
e foi lá que paramos para almoçar. O lugar é muito simpático, com cadeiras no
passeio e muitas opções de cardápio para escolher. Paramos no “Villavicencio” e
almoçamos muito bem ao ar livre. Ao fundo, no meio do paseo, uma banda amadora tocava em troca de moedas deixando todo o
lugar envolto em um clima super agradável.
Villavicencio no passeio |
Clima muito agradável na cidade |
Caminhamos
pelo paseo procurando algo doce para
comer depois do almoço e paramos para provar os doces da famosa “Havanna”, que
também tinha suas cadeiras na frente da loja.
Ficamos
sentados nos bancos da Plaza
Independencia por um tempo e voltamos ao hotel Wine Aparts (Calle La Rioja, 1738). Já havia dito
aqui que achamos o apart hotel bem confortável, com quarto e cozinha separados
e utensílios para preparar nossa própria comida, além de servir o desayuno no hall. Tomamos um banho e arrumamos nossas mochilas que já não
comportavam tudo, pois compramos vinhos em Santiago e Luján de Cuyo, além de
algumas lembranças pelo caminho. Montamos uma mochila extra (antes usada como
mochila de “ataque” para caminhadas) e encerramos nossa estadia.
Nossa cozinha no quarto do Wine Aparts |
Despedida do hotel |
Nosso
ônibus saía as 19h30min do terminal e decidimos ir caminhando até a rodoviária.
O trecho é bem longo, principalmente com as mochilas nas costas e uma caixa com
três garrafas de vinho na mão, mas andamos com calma e aproveitamos para
conhecer um pouco mais a cidade. Era nossa despedida.
Chegamos cedo
e ficamos um bom tempo ali sentados vendo os ônibus chegarem e saírem, até que
as 19h30min embarcamos no ônibus o CATA Royal Suite, com destino a Buenos
Aires. Para quem quer conforto eu super recomendo o ônibus que possui poltronas
com inclinação de 180º e televisão individual para cada assento. De fome
ninguém pode reclamar, pois são servidos entrada e prato principal, tudo muito
exagerado, além de vinho para acompanhar e uma taça de champagne que podíamos
pedir para a assistente que acompanhava a viagem. Ainda levamos uma pequena
garrafa de vinho (esse bem ruim) de lembrança, como um regalo. Antes de dormir eu ainda vi um filme.
Gastos
para 2 pessoas em 28/03/2014:
-
Bus Turístico: A$ 150,00
- Museu
+ Aquário: A$ 32,00- Serpentário: A$ 40,00
- Lanche: A$ 85,00
- Água: A$ 10,00
- Jantar: A$ 400,00
- Compras diversas (lembranças): A$ 155,00
- Passagens para Buenos Aires (CATA): A$ 1720,00
Gastos
para 2 pessoas em 29/03/2014:
- Hotel
(Wine Aparts): A$ 1018,00
- Almoço/
Sobremesa: A$ 275,00- Compras diversas (lembranças): A$ 235,00
- Água: A$ 10,00
- Jantar: A$ 250,00
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário, dúvida ou sugestão