terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Mendoza


3º Dia na Argentina (dia 22 do mochilão)

Acordamos cedo, como sempre, e tomamos nosso desayuno no hotel, antes de sair para conhecer a cidade. Era nosso terceiro dia em Mendoza, mas até este momento só havíamos visto os arredores na região de Maipú e Luján de Cuyo e a cidade de San Rafael. Nossa programação era de mais dois dias na cidade e queríamos aproveitá-los bem.

Deixamos o hotel e caminhamos calmamente até a Plaza da Independencia no centro da cidade. Um grande chafariz marca o centro da praça, em seu redor estão o Museu Municipal de Arte Moderna e o Teatro Municipal de Mendoza, além de um anfiteatro.

 
Chafariz da Plaza Independência em Mendoza
 
Anfiteatro na Plaza Independencia


Diante da praça está o prestigiado Plaza Hotel, construído na década de 1920 e até hoje em atividade, como opção de hospedagem de luxo na cidade. Ao lado o Teatro Independência, inaugurado no ano de 1925, como parte do complexo hoteleiro e reformado entre os anos 2000 e 2003, quando foi totalmente reconstruído e modernizado por trás da fachada histórica.

 
Plaza Hotel

Teatro Independencia

Ao lado está o Colégio Nacional de Mendoza, que surgiu em meados do século XVIII, com atividades educativas ministradas pelos jesuítas, e continuou em 1817 com o Colégio da Santíssima Trindade, que funcionou até o terremoto de 1861. O atual colégio foi inaugurado no mesmo lugar em 1865, mas continuou em obras até sua completa conclusão em 1910.

 
Colégio Nacional de Mendoza

Uma boa maneira de se locomover pela cidade é adquirir o boleto do Bus Turístico (www.mendozacitytour.com), um ônibus com um andar em cima aberto para melhor visualização da cidade e que conta com fones de ouvido no qual se pode acompanhar o roteiro com as explicações de um guia em português. Compramos o boleto com duração de um dia no guichê diante da Plaza Independencia e embarcamos logo em seguida.

Guichê do Bus Turistico na praça

O bus turístico faz um trajeto com quinze paradas, onde se pode descer e subir em qualquer destes pontos no período de 24h ou 48h, dependendo do boleto que se compre.

 
Bus Turistico

O ônibus passa pontualmente a cada uma hora nos locais marcados e é uma boa opção de transporte, pois te leva a todos os principais pontos turísticos da cidade, sem que necessite gastar com transporte mais vezes. Também se pode dar uma volta completa no circuito todo para conhecer e depois escolher os pontos onde quer descer.

 
Passagem San Martin vista do ônibus




Seguimos pelas ruas de Mendoza ouvindo as explicações do guia na voz gravada e passamos pelo Centro Cultural NAVE, nos arredores do Parque Central. Já havíamos caminhado por estes lados no primeiro dia na cidade, antes de irmos as vinícolas de Luján de Cuyo, então seguimos sentados apenas apreciando o passeio de ônibus.

 
NAVE Cultural

Descemos do ônibus na Área Fundacional de Mendoza, que foi o centro da cidade na época em que foi fundada por Pedro Del Castillo, em 2 de março de 1561.

 
Plaza Del Castillo na área fundacional de Mendoza

A antiga Plaza de Armas é agora a Plaza Del Castillo, em homenagem ao fundador. Posso dizer que Mendoza foi uma das cidades que mais gostei de ter conhecido em toda viagem, talvez pela afinidade de datas já que a cidade foi fundada nesta praça no mesmo dia de meu aniversário (apesar de a cidade ser exatamente 419 anos mais velha que eu... hehehe), mas muito do que me atraiu por lá se deve a esta área da cidade e sua história.

 
Chafariz na Plaza Del Castillo

Em 1861 um grande terremoto destruiu toda a cidade, matando um terço da população da província. O terremoto foi seguido de diversos focos de incêndio que tomaram as casas em ruínas, devido a fogareiros e lampiões acesos na hora do evento, os incêndios queimaram as ruínas da cidade por três dias.

 
Praça muito bem cuidada
Estátua do fundador da cidade




No ano do terremoto a cidade se resumia, basicamente, a esta praça e seus arredores, após o terremoto a cidade foi reconstruída tendo sua nova praça central inaugurada em 1863, onde hoje está a Plaza da Independencia. Placas de azulejo foram instaladas nos muros e calçadas das casas que hoje estão no lugar de antigas construções destruídas no terremoto. A cidade parece que nunca vai se esquecer de tamanha destruição.

 
Placas marcam os lugares onde ficavam antigas construções

Na atual Plaza Del Castillo está o Museo Fundacional, que guarda um pouco da história do setor colonial da cidade. Localizado no interior do antigo edifício do Cabildo (Casa de Governo), o acervo é formado por objetos e partes das construções locais, como exemplares de muros e ladrilhos encontrados após o grande terremoto de 1861.

 
Museu Fundacional: Conta a história do grande terremoto de 1861

O museu oferece visita guiada de terça a sábado das 8 às 20 hs e domingo das 12 às 18:30 hs (não abre às segundas-feiras) em três sítios: a antiga casa de governo, o chafariz original localizado abaixo da praça atual e as ruínas da igreja de São Francisco. Comprando o boleto de entrada no museu se ganha um boleto para visitar o aquário municipal.


Entramos para conhecer o museu e a menina na recepção pediu que aguardássemos para o início da visita guiada pelos sítios arqueológicos. Enquanto esperávamos aproveitamos para ver parte da exposição que conta um pouco da cultura dos ancestrais que viviam em torno do Aconcaqua. Exemplos de vestimentas e foto de uma famosa múmia encontrada no pico a mais de 5000 metros acima do nível do mar estão expostas no museu.

 
Peça de exposição do museu
 
Imagem da múmia achada no Aconcagua


A menina, que nos guiaria, nos chama e junta todo o grupo para explicar que o museu foi construído onde funcionou a antiga Casa de Governo antes do terremoto, mas que após a tragédia foi ali erguido um matadouro que foi desativado devido a surtos de doenças na região. A fachada com o portal de entrada do antigo matadouro faz parte da estrutura do museu e pode ser vista, como era originalmente, em uma foto exposta na parede.

 
Prédio do Museu: Portal de entrada do antigo matadouro
 
Foto do prédio quando ainda funcionava o matadouro



A guia explica que o museu nasceu como resposta à necessidade de expor e conservar os restos arqueológicos encontrados entre 1989 e 1991 nas escavações realizadas no local, onde se encontrou o piso original do antigo Cabildo, abaixo do piso do matadouro, agora exposto aos visitantes.

 
Escavações arqueológicas revelando o antigo piso

A exposição gira em torno do trágico terremoto e depois de ouvir as histórias dos terremotos de Lima no Perú (no longínquo primeiro dia de nossa viagem) e de passar perto de um em Arica, quando saímos da cidade junto com pessoas que evacuavam o lugar com medo, ver as fotos e imagens que registram as consequências deste tremor causou uma inevitável e estranha sensação de imaginar-me naquele lugar em 1861.

 
Maquete da Praça de Armas antes do terremoto
 
Imagens mostram o antes e depois do terremoto

Foto da igreja depois do terremoto


A segunda parte da exposição não estava dentro do prédio do museu e a guia nos conduz pela praça em direção ao chafariz atual. Ao lado dele encontra-se uma escadaria que leva a uma porta abaixo do nível da grama na praça. A guia explica que o nível das ruas foi elevado ao longo do tempo, pois a cidade sempre sofreu com enchentes nas épocas de chuvas e que destroços do terremoto na área original da cidade foram enterrados nas obras de terraplanagem ao longo dos anos. Durante escavações foi encontrada soterrada e intacta a fonte, original da fundação da cidade datada de 1561. O local foi escavado e protegido estando agora em exposição apenas para os visitantes do museu, exatamente abaixo do chafariz atual.

 
Entrada da câmara subterrânea abaixo da Plaza Independencia

A guia abre o cadeado e do outro lado do portão de ferro existe uma porta de vidro. Ao atravessá-la sentimos o ar pesado e sufocante, protegido do ar externo por outra porta de vidro que conduz a um corredor por debaixo da praça, por onde se vê a estrutura e piso originais da cidade. Um lugar incrível!

 
Subterrâneo da praça: Resquícios da cidade velha
 
Aqueduto que abastecia a fonte e a cidade


É possível ver os antigos canais de água que abasteciam a cidade e no centro de tudo está a antiga fonte, protegida por um domo que sustenta o chafariz atual no centro da praça acima. Posso dizer que é possível sentir até o cheiro do passado no ar pesado e sufocante no meio do sítio arqueológico.

 
Debaixo do chafariz atual: Fonte de água que abastecia a cidade desde sua fundação em 1561

Deixamos os subterrâneos da praça e caminhamos para o terceiro e último sítio histórico da visita guiada: As Ruínas do Convento e Igreja Jesuíta de São Francisco.

 




As ruínas são a única mostra do que sobrou da antiga cidade após o devastador terremoto, já que toda a cidade foi destruída e apenas a igreja permaneceu parcialmente de pé.


 
Ruínas da Igreja de São Francisco

A guia nos conta toda a história do templo, que foi construído pela Sociedade de Maria e consagrado à Imaculada Conceição. Nesta propriedade se instalou, em 1609, a Companhia de Jesus, que em 1628 começou a transformação do templo em uma bela construção de pedra, cal e tijolos, com uma grandiosa nave com capelas laterais, que se concluiu em 1645. Em 1767 os jesuítas foram expulsos e tiveram que fechar as portas de seu templo para deixar o país. No ano de 1798 os franciscanos tomaram o lugar e o transformaram em um convento. Alguns anos depois a igreja foi parcialmente destruída por um terremoto, e quando foi finalmente reinaugurado o templo franciscano da Companhia de Jesus foi gravemente afetado pelo grande terremoto de 1861 que acabou com a cidade de Mendoza.

Paredes que permaneceram de pé após o histórico terremoto


A guia nos conta que após o terremoto de 20 de março de 1861 e dos três dias de incêndio que devastaram a cidade, apenas se via uma única construção entre destroços e poeira: A Igreja de São Francisco. Em seu interior estava a imagem de Nossa Senhora de Carmen de Cuyo, patrona do Exército dos Andes, e o fato do templo não ter desmoronado completamente e soterrado a imagem foi considerado um milagre da santa.



Coluna e paredes

Mas infelizmente os danos causados à estrutura foram grandes demais e a fachada do templo acabou destruída após o terremoto. A imagem da Virgem de Carmen de Cuyo foi guardada em segurança até a construção da atual Iglesia de San Francisco, na área nova da cidade, para onde a imagem original foi encaminhada e se encontra até hoje.

 
Por dentro da antiga igreja

A igreja, hoje em ruínas, foi o lugar de onde partiu, em 1817, o Exército dos Andes liderado pelo General San Martin e o lugar onde o general e seu exército jurou bandeira antes de cruzar a cordilheira para ajudar na libertação das colônias espanholas.

Escadarias da torre ainda intactas

Pudemos caminhar em volta das paredes ainda de pé e subir pela escadaria intacta que levava à torre sineira. A guia explica onde ficava a nave principal e aponta as colunas que restaram após o desabamento pós-terremoto. No fim da visita deixamos as ruínas, que foram declaradas Monumento Histórico Nacional no ano de 1941, e seguimos de volta para a praça onde nos despedimos da simpática menina que nos guiou e contou um pouco sobre a incrível história da cidade.

 
Imagem da igreja antes do tremor de terra

A visita durou cerca de 1h30min, portanto ainda faltavam mais trinta minutos para o ônibus turístico passar pelo mesmo ponto em que descemos. Tínhamos as entradas para o Aquário Municipal, que ganhamos quando compramos a visita ao museu Fundacional, portanto resolvemos seguir caminhando até o Parque O’Higgins, um pouco mais a frente, pois este liga o museu ao aquário. O parque estava bem deserto e possui um caminho que cruza toda sua extensão. O nome do lugar homenageia Bernardo O’Higgins, um militar e estadista chileno que foi considerado o pai da pátria, sendo um dos responsáveis pela independência do Chile, ajudado pelo General San Martin e pelo Exército dos Andes.

 
Parque O'Higgins

No parque está o Teatro Municipal Gabriela Mistral, outra homenagem a uma figura do país vizinho, já que seu nome remete a famosa poetisa chilena que ganhou um Nobel de Literatura em 1945. Diante do teatro encontra-se um busto da escritora.

 
Teatro Municipal Gabriela Mistral
 
Busto de Gabriela Mistral


Cruzamos o parque caminhando calmamente e avistamos a cúpula e torre da Iglesia e Convento La Merced que fica a dois quarteirões do parque. Resolvemos ir conhecer a igreja que é muito bonita e foi totalmente reconstruída após o terremoto de 1861.

 
Iglesia e Convento La Merced

Deixamos a igreja e seguimos margeando o parque até chegarmos ao Aquário Municipal de Mendoza (aberto diariamente entre 9h e 19h30min).




Inaugurado em 1945, foi o primeiro aquário do país e depois de reformado é hoje um espaço super moderno e agradável de se conhecer. Pagamos a taxa de entrada e fomos ver os diversos mini aquários que contam com telas contendo as informações de cada espécie.

Por dentro do Aquário Municipal


Aquário

Exemplo de peixe em um dos aquários
Pudemos ver diversas espécies tanto de água doce (peixes tropicais vivíparos e ovíparos) como marinha (anêmonas, cavalos-marinhos, ouriços, moluscos e crustáceos).

 
Nem sei o que é isso... rs
 
Peixes bonitos e curiosos


Nos divertimos vendo espécies curiosas que nunca havíamos visto e famosas espécies reproduzidas nos cinemas em forma de animações como o caso dos personagens “Nemo” e “Dory”.





Em um aquário especial que recria um recife marinho está a grande tartaruga chamada Jorge que tem 95 anos de idade. Não curto animais em cativeiro e me incomodou ver o grande Jorge pelo vidro, depois de ter visto muitas tartarugas marinhas na natureza em outros lugares por aí. Mais a frente um tanque apresenta diversas tartarugas em meio a pedras que recriam o ambiente natural.

 
Tartaruga Jorge com 95 anos de idade

No terraço encontra-se a área destinada aos jacarés e répteis, com um tanque em uma área com paredes e telhados de vidro, que possui areia, água e pedras para recriar o ambiente natural dessas espécies.

 
Jacaré no terraço do Aquário Municipal

Ainda no terraço uma lagoa a céu aberto, com plantas flutuantes e musgos, apresenta peixes e recria o habitat da vida aquática. Este é o fim da visita ao aquário e descemos pela rampa de acesso de volta a rua.

 
Terraço do Aquário Municipal de Mendoza

Na frente do aquário Municipal existe um ponto do ônibus turístico, mas ainda teríamos mais meia hora, pois quando estávamos chegando ao aquário passou um ônibus. Esta era a oportunidade de conhecer o Serpentário de Mendoza, que fica diante do Aquário e do ponto do Bus Turistico.




O serpentário é uma coleção particular bem pequena. Pode-se ver diversas espécies de cobras em caixas de vidro ao longo de um grande corredor.

 
Serpentário de Mendoza

Cada espécie possui uma plaqueta de identificação contando sua origem e características principais. Cartazes e baners explicam um pouco sobre os seres e os tipos de venenos, além de curiosidades e informações diversas sobre os répteis.



Além das cobras o serpentário também possui algumas espécies de aracnídeos. É um lugar bem estranho para quem nunca foi, como eu, mas achei legal conhecer. A visita é super rápida e saímos em tempo de tomar o ônibus.

 
Aracnídeos expostos no serpentário

Seguimos com o ônibus até o ponto próximo ao prédio da Municipalidade de Mendoza, onde toda quinta-feira do mês de março, sempre às 20h, é realizado no terraço o evento “Música e Vinho na Altura”. Haviam nos falado sobre o evento, cujo objetivo é combinar música com boas bebidas e demonstrar como as melodias e acordes podem melhorar o sabor de um vinho. Quando soubemos nos interessamos em ir, já que durante as reuniões se apresentavam grupos de diferentes estilos musicais, como pop e músicas dos anos 60, 70 e 80, além de música lounge, mas infelizmente, o evento tinha sido no mesmo dia em que fomos ao Cañon Del Atuel e quando retornamos já havia passado da hora.

 
Municipalidade de Mendoza
 
Gravura na varanda do prédio



Por detrás do prédio da prefeitura da cidade encontra-se o Palácio de Justiça com uma fachada imponente, composta de 14 colunas de pedra, e ao seu lado, o Palácio de Governo do Distrito de Mendoza diante de uma grande praça verde. Esta é a região conhecida como “Centro Cívico” da cidade.

 
Palácio de Justiça
 
Palácio do Governo


No centro da praça, diante do Palácio do Governo, está o Memorial da Bandeira, um monumento de reflexão, que destaca a historia da Bandeira do Exército dos Andes através de uma pira que homenageia o General San Martin e seus soldados.

Memorial da Bandeira

Uma rampa conduz o visitante para o subsolo abaixo da praça onde grandes paredes separam duas salas através de um corredor que contém dizeres do general.

 
Rampa de acesso ao subsolo do memorial
 
Frases do General San Martin nas paredes


A primeira sala é guardada por um soldado do exército argentino vestido com uma réplica do uniforme do Exército dos Andes. No centro da sala, diante de um retrato do General San Martin está a bandeira original usada na ofensiva que culminou com a libertação de diversas colônias espanholas. A Bandeira está nesta sala com controle de temperatura, iluminação e umidade, junto de quepes usados pelos soldados de diferentes patentes, conforme nos explicava o carismático soldado. O próprio uniforme usado pelo soldado que nos falava, tinha seus significados em cada apetrecho. O soldadinho era bem simpático, mas não nos deixou fotografar a sala nem a bandeira, por isso eu busquei algumas imagens de internet para mostrar o que vimos por lá.

Sala da bandeira de San Martin com um soldado e exposição de peças: Foto de reprodução da Internet

O soldado nos contou a história do general que após conquistar a independência da Argentina, em 1816, cruzou a Cordilheira com o Exercito de Los Andes para participar do processo de independência do Chile e do Peru, junto com General O’Hinggis, além de ajudar o General Bolívar a libertar a Bolívia. Ele nos contou que a bandeira foi bordada a mão pelas freiras de Mendoza e que nela foram fixadas diversas joias doadas pela alta classe da população, mas que não mais podemos ver estes itens, pois durante a guerra o exército, necessitado de recursos, precisou vender estes apetrechos para comprar mantimentos e munição. Na sala também está o documento original de juramento à bandeira, que foi realizado na Igreja de São Francisco em 1817, quarenta e quatro anos antes do grande terremoto destruí-la.

 
Bandeira do Exército dos Andes: Foto de reprodução da internet

A segunda sala, do outro lado do corredor, guarda dois troféus de batalha, conquistados por San Martin: os estandartes do Exército Real Espanhol que foram capturados durante a batalha de Chacabuco em 1817. Os mesmos foram levados a Buenos Aires e retornados a Mendoza para a inauguração do memorial em 2012. Apesar de não poder fotografar, aproveitamos que estávamos sós e registramos rapidamente os estandartes espanhóis... hehehe.

 
Bandeiras tomadas em batalha no ano de 1817
 
Bandeira do Real Exército Espanhol


Estandarte como troféu de guerra



Deixamos o centro cívico impressionados com a história da libertação e como o povo argentino é orgulhoso dos feitos de seu libertador. Já havíamos visto tamanho sentimento cívico em outros países (eu inclusive relatei aqui que na Bolívia deixam coroas de flores nas estátuas de Simón Bolívar), mas infelizmente no Brasil a história é mal contada e não se percebe nenhum orgulho nacional pelo passado. Enfim... tomamos o ônibus no mesmo lugar onde descemos e voltamos ao nosso city tour comentado pelos fones de ouvido.

 
Ônibus Turístico

O ônibus cruza o centro gastronômico da cidade e segue na direção do Parque General San Martin, cuja entrada é guardada por um imponente portão de ferro. O parque é uma das mais belas áreas verdes da cidade, em seu interior estão praças, lagos, um zoológico, museus, entre outras atrações.

 
Portão do Parque General de San Martin

No interior do parque há uma grande fonte, a Fuente de los Continentes, que possui quatro figuras humanas que sustentam um pedestal com quatro imagens de crianças simbolizando os quatro continentes: Américas, Europa, Ásia e África, já que a Oceania não era considerada um continente na época de sua fabricação. Completam a construção, quatro figuras de sereias com conchas no espelho d’água.

 
Fonte dos Continentes
 
Detalhe da fonte



O local é ótima opção para quem quer descansar, pedalar, ou simplesmente passear ao ar livre, no entanto, nós não teríamos tempo de conhecer e desfrutar do parque, por isso apenas apreciamos a paisagem vista do ônibus.

 
Parque San Martin
 
Parque visto pelo ônibus


Nossa intenção era de descer no alto do mirante existente no Cerro de La Gloria. Uma subida bem íngreme e sinuosa nos conduz ao alto da colina. Pelo caminho pudemos observar as torres de iluminação do Estádio Provincial Las Malvinas, construído dentro do Parque para realização da Copa do Mundo de 1978.

 
As torres de iluminação do estádio foi só o que vimos

Oura atração existente dentro do parque é o Anfiteatro, onde acontece anualmente a festa da Vendímia. A festa é um dos maiores eventos da cidade e ocorre sempre no primeiro sábado do mês de março, seu nome está associado a colheita da uva para as vinícolas, comemorada nesta data. Uma pena que a festa havia ocorrido um fim de semana antes de nossa chegada...

 
Anfiteatro: Palco da Vendímia

Finalmente o ônibus nos deixa no Cerro de La Gloria, de onde se tem uma vista privilegiada de toda a região.

 
Mirante no Cerro de La Gloria

O acesso ao topo do cerro se dá diante de um paredão contendo diversos brasões que remetem as glórias do exército comandado pelo General San Martin. Placas argentinas, chilenas e peruanas homenageiam o famoso Ejército de los Andes de diversas formas.

Cerro de La Gloria: Homenagem ao Exército dos Andes
 
Brasões homenageiam o exército liderado pelo General San Martin
 
Imenso brasão no Cerro de La Gloria





No topo do Cerro de La Gloria está o Monumento ao Ejército de los Andes, uma obra de autoria do artista uruguaio Juan Manuel Ferrari. A base foi feita com pedras trazidas da Cordilheira dos Andes e todas as esculturas, ricas em detalhes, são de bronze. No centro do monumento está a imagem do General montado em seu cavalo.

 
Monumento ao Exército dos andes
 
O General e seu cavalo


Ao redor do monumento as outras esculturas representam o exército que cruzou a cordilheira com o general e também momentos marcantes dessa travessia.

 
A história contada na escultura
 
Placas de bronze recriam as batalhas


No topo de toda escultura, uma imagem representa a liberdade, principal objetivo das batalhas do exército.

 
A liberdade representada em meio ao exércido
 



O monumento foi construído em 1914, após um concurso, vencido pelo uruguaio, para o melhor projeto em homenagem ao exército. Foi o próprio escultor quem escolheu o local onde a escultura vencedora seria instalada. Quando o local foi escolhido o governo mudou o nome da colina, que antes se chamava Cerro Del Pilar, para Cerro de La Gloria.

Cerro de La Gloria

Ficamos no cerro por uma hora, até que o próximo ônibus subiu pela estrada. Embarcamos de volta para descer e cruzamos o parque San Martin, saindo pelo Parque Del Aborigen.




Voltamos para as ruas mendocinas e terminamos todo o circuito do ônibus acompanhando as explicações através do áudio com fones, até o ponto inicial onde embarcamos pela primeira vez na Plaza Independencia.

 
A cidade vista do ônibus

Desembarcamos do ônibus e fomos a uma loja da CATA, uma operadora de ônibus de viagem, para comprar nossas passagens para Buenos Aires. Este seria nosso último trecho viajando num ônibus e resolvemos que iríamos no melhor que pudéssemos. Nos demos de presente o conforto do CATA Royal Suite, cujo preço era um pouco salgado, mas compensava em uma viagem direta de 12h, enquanto as demais linhas ofereciam de 14h a 16h de viagem com parada em outras cidades no caminho.


Para nossa surpresa havia na praça uma feirinha de artesanato que funcionava até as 21h, então ficamos por lá um tempo olhando alguns itens. A noite caiu de vez, iluminando a praça e seguimos para as ruas no entorno procurando um bom lugar para jantar.

 
Plaza Independência a noite

Paramos no restaurante Estancia La Florencia (Avenida Sarmiento, 698). Sentamos em uma área reservada junto à calçada, como acontece com quase todos os restaurantes na cidade. Neste dia pedimos uma garrafa de vinho mendocino para acompanhar o tradicional prato de carne com batata argentino. Achamos bem legal com um bom atendimento e ficamos um bom tempo ali degustando o vinho após terminar o jantar.

 
Restaurante Estancia La Florencia

Depois voltamos para o hotel caminhando tranquilamente pelas calmas ruas da cidade. Tomamos um banho e caímos na cama bem cansados depois de um dia cheio.




4º Dia na Argentina (dia 23 do mochilão)

Dormimos até mais tarde no nosso último dia em Mendoza. A ideia era passar um dia bem tranquilo antes da longa viagem até Buenos Aires, onde se encerraria nosso mochilão na América do Sul.

Depois de comer no hotel seguimos para a rua e caminhamos até a Plaza España. Mendoza possui quatro praças em volta da Plaza Independencia, sendo a Plaza España a mais bonita delas, na minha opinião.




A praça, que teve muitos nomes, foi construída em 1863 quando se reconstruiu a cidade após o grande terremoto, sendo remodelada por artesãos espanhóis em 1946, quando ganhou murais de azulejos vitrificados nas fontes e bancos, além de pequenos azulejos que ornamentam o piso de toda a praça.

 
Bonito monumento com azulejos
 
Plaza España

Banco na praça: Azulejos espanhóis


Seguimos até a segunda praça equidistante da praça central e chegamos a Plaza San Martin, que homenageia o famoso general. No centro da praça uma estátua mostra o General em seu cavalo.

 
Monumento ao General San Martin
 
Plaza San Martin


Do outro lado da rua está a Basílica de São Francisco, a igreja mais antiga da cidade de Mendoza. Construída em 1875, foi o primeiro templo erguido após o terremoto de 1861.

 
Iglesia de San Francisco

Entramos para conhecer a igreja cujo projeto foi inspirado na Igreja da Trindade que fica em Paris. A basílica é bem grande, possuindo três naves, mas a torre sineira central e duas torres laterais foram destruídas no terremoto de 1920, oito anos antes de o ser declarada Patrimônio Histórico Nacional.

 
Interior da igreja
 
Altar


Desde que fizemos a visita as Ruínas de San Francisco no dia anterior, ficamos curiosos de visitar esta basílica, pois a guia havia informado que em seu interior estava a imagem original de Nuestra Señora Del Carmen de Cuyo que resistiu milagrosamente ao grande terremoto. Segundo nos foi contado, a Virgem de Cuyo foi consagrada Padroeira e General do Exército dos Andes, em 1817, pelo próprio General San Martin, que antes de cruzar os Andes a ofertou seu Bastão de Mando em apreço pelo sucesso na campanha que se iniciava.

 
A Virgem de Cuyo com o bastão de San Martin

No interior da basílica também encontra-se um mausoléu onde estão os restos mortais de Mercedes Tomasa, filha do general, Mariano Balcarce, seu filho, além de sua neta Maria Mercedes.

 
Mausoléu na igreja

Deixamos a igreja e caminhamos alguns quarteirões até a Plaza Chile, marcada por um monumento dedicado à amizade entre os Argentina e Chile. O monumento no centro da praça exibe o herói da independência Argentina, José de San Martin, e o libertador do Chile, Bernardo O’Higgins.

 
Plaza Chile

Deixamos para visitar a Plaza Italia depois, a última das quatro praças, e acabamos não indo. Caminhamos pelas ruas arborizadas de Mendoza olhando vitrines de lojas diversas. Cabe destacar que em Mendoza o comércio fecha as portas na hora do almoço, de modo que todas as lojas permanecem fechadas entre 12h e 15h, portanto reserve este horário para passear pelas praças da cidade.

 
Praças de Mendoza




Caminhamos pela Alameda Mendocina que foi planejada pelo próprio San Martin, muito antes do terremoto de 1861, mas que foi totalmente replanejada quando a cidade foi reconstruída. Hoje a alameda esta sobre o principal rio que abastece Mendoza e irriga as diversas árvores nas ruas e praças.

 
Alameda

A partir da Plaza Independencia existe um paseo com diversos restaurantes e cafés e foi lá que paramos para almoçar. O lugar é muito simpático, com cadeiras no passeio e muitas opções de cardápio para escolher. Paramos no “Villavicencio” e almoçamos muito bem ao ar livre. Ao fundo, no meio do paseo, uma banda amadora tocava em troca de moedas deixando todo o lugar envolto em um clima super agradável.

 
Villavicencio no passeio
 
Clima muito agradável na cidade


Caminhamos pelo paseo procurando algo doce para comer depois do almoço e paramos para provar os doces da famosa “Havanna”, que também tinha suas cadeiras na frente da loja.




Ficamos sentados nos bancos da Plaza Independencia por um tempo e voltamos ao hotel Wine Aparts (Calle La Rioja, 1738). Já havia dito aqui que achamos o apart hotel bem confortável, com quarto e cozinha separados e utensílios para preparar nossa própria comida, além de servir o desayuno no hall. Tomamos um banho e arrumamos nossas mochilas que já não comportavam tudo, pois compramos vinhos em Santiago e Luján de Cuyo, além de algumas lembranças pelo caminho. Montamos uma mochila extra (antes usada como mochila de “ataque” para caminhadas) e encerramos nossa estadia.

 
Nossa cozinha no quarto do Wine Aparts
 
Despedida do hotel



Nosso ônibus saía as 19h30min do terminal e decidimos ir caminhando até a rodoviária. O trecho é bem longo, principalmente com as mochilas nas costas e uma caixa com três garrafas de vinho na mão, mas andamos com calma e aproveitamos para conhecer um pouco mais a cidade. Era nossa despedida.

 
Plaza Pellegrini

Chegamos cedo e ficamos um bom tempo ali sentados vendo os ônibus chegarem e saírem, até que as 19h30min embarcamos no ônibus o CATA Royal Suite, com destino a Buenos Aires. Para quem quer conforto eu super recomendo o ônibus que possui poltronas com inclinação de 180º e televisão individual para cada assento. De fome ninguém pode reclamar, pois são servidos entrada e prato principal, tudo muito exagerado, além de vinho para acompanhar e uma taça de champagne que podíamos pedir para a assistente que acompanhava a viagem. Ainda levamos uma pequena garrafa de vinho (esse bem ruim) de lembrança, como um regalo. Antes de dormir eu ainda vi um filme.

 
Aline descansando no ônibus

Gastos para 2 pessoas em 28/03/2014:

- Bus Turístico: A$ 150,00
- Museu + Aquário: A$ 32,00
- Serpentário: A$ 40,00
- Lanche: A$ 85,00
- Água: A$ 10,00
- Jantar: A$ 400,00
- Compras diversas (lembranças): A$ 155,00
- Passagens para Buenos Aires (CATA): A$ 1720,00

Gastos para 2 pessoas em 29/03/2014:

- Hotel (Wine Aparts): A$ 1018,00
- Almoço/ Sobremesa: A$ 275,00
- Compras diversas (lembranças): A$ 235,00
- Água: A$ 10,00
- Jantar: A$ 250,00

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