sexta-feira, 28 de abril de 2017

Canindé /CE

A pequena cidade de Canindé, a 120 Km de Fortaleza, é um dos destinos do turismo religioso no Ceará e recebe milhões de romeiros no início do mês de outubro de cada ano.

Entrada da cidade de Canindé demonstra a devoção da população a São Francisco

Canindé é o centro das peregrinações dos devotos de São Francisco e recebe a maior romaria franciscana das Américas e a segunda maior do mundo, só perdendo para Assis (na Itália), onde o santo nasceu.

A cidade cresceu ao redor da Igreja de São Francisco das Chagas

Nossa passagem por Canindé foi durante os festejos e celebrações do santo em outubro, como somos devotos de São Francisco escolhemos parar na cidade no caminho de volta de Ubajara para Fortaleza.


A cidade realmente fica lotada e não imagine uma festa organizada e sim uma turba de pessoas que se locomovem pelo lugar. Barracas vendem de tudo, mas sempre com o tema religioso.

Espaço Cultural no centro da cidade

Paramos o carro ao lado da Igreja de Nossa Senhora das Dores e seguimos para percorrer o pequeno centro a pé. É impossível transitar de carro durante a festa, pois ruas são fechadas e uma multidão se joga entre os veículos.

Igreja de Nossa Senhora das Dores, no centro de Canindé

Estátua de São Francisco

O único atrativo turístico da cidade é a imensa estátua de São Francisco das Chagas que demonstra a fé do povo da região e fica longe do centro de Canindé. Durante as festa religiosas existem diversas vans e ônibus fazendo a todo tempo o percurso entre a Praça dos Romeiros e a Estátua.


O monumento com 30 metros de altura foi inaugurado no ano de 2005 e pode ser visto de quase todos os pontos da cidade.

A imensa estátua de São Francisco é o principal ponto turístico da cidade

A estátua fica em um monte às margens da rodovia que vem de Fortaleza (antes da entrada da cidade). A grande praça aos seus pés é um mirante com vista de 360º de onde se pode observar toda a cidade e seus arredores.

O centro de Canindé visto do mirante

Do mirante se tem uma visão de toda a região

Praça dos Romeiros

A praça foi inaugurada em 1989 para abrigar os romeiros e peregrinos que chegam na cidade para a festa e é o maior anfiteatro a céu aberto do nordeste.

Entrada para a Praça dos Romeiros de Canindé
A praça recebe romeiros e possui banheiros e bebedouros públicos

A praça comporta 100 mil pessoas (em pé e no sol) e possui uma estrutura com bebedouros e banheiros públicos. Os romeiros, pessoas super simples, vindos de todos os lugares do nordeste acampam na praça com suas redes e barracas, dividindo os espaços entre as poucas árvores, onde possível.

Acampamento de romeiros durante as festas de São Francisco de Assis

Pessoas chegam de todo o nordeste movidas pela fé e acampam na Praça dos Romeiros

Na praça estão o Zoológico de Canindé e o Museu de São Francisco que foi criado na década de 1970 para expor um pouco da arte atrelada as romarias e hoje conta com um acervo que retrata um pouco da história da região, com muitos itens levados pelo povo.

Museu Regional de São Francisco

O museu abriga um grande acervo de obras voltadas ao santo

Obras de diversos artistas retratam São Francisco

Basílica de São Francisco

A Igreja Matriz dedicada a São Francisco das Chagas é o coração da cidade e foi erguida pelos frades capuchinhos em 1915, no lugar da antiga capela franciscana de 1775.

Igreja Matriz de São francisco das Chagas
A Igreja Matriz fica no coração da cidade e recebe milhares de fiéis durante os dias de festa

Ao lado da igreja está a Casa dos Milagres que guarda os itens trazidos pelos peregrinos em agradecimento às graças alcançadas.


Ex-votos refletem as graças alcançadas

Durante a festa religiosa as missas são celebradas na quadra atrás da igreja, onde é montado um altar. A maioria das pessoas da região usam roupas em tons de marrom na missa e muitas usam túnicas apesar do calor do sertão.

As missas na quadra da igreja ficam lotadas

Missa no dia de São Francisco de Assis

Na quadra existe uma pequena estrutura com água na Gruta de Nossa Senhora e é tradição que os peregrinos que chegam para a missa molhem a cabeça nas bicas de água corrente para aliviar o calor.

Gruta artificial com água benta atrai os fiéis


Dicas:

- A cidade não tem atrativos turísticos além da grande estátua, portanto se você não busca destinos religiosos não terá o que fazer na região;
- Para chegar na estátua de São Francisco (dirigindo) siga pela rodovia que liga Canindé à Fortaleza ao invés de tentar rodar por dentro da cidade, pois o caminho é bem complicado e mal sinalizado em Canindé. Existe um acesso que liga a estátua à rodovia;

- A festa de São Francisco acontece anualmente na última semana do mês de setembro até o dia 04 de outubro, mas em anos eleitorais o calendário é alterado iniciando-se após as votações.

domingo, 23 de abril de 2017

Trilhas do Parque Nacional de Ubajara /CE

O Parque Nacional de Ubajara, na Serra da Ibiapaba, está a 350 Km de Fortaleza e é o menor do Brasil, guardando a única gruta do Ceará.


O bondinho que faz a ligação entre a parte alta da área de preservação e a entrada da gruta sempre foi o maior atrativo da cidade de Ubajara e a visitação à gruta atrai milhares de turistas para a região. Mas atualmente (2016) o transporte está parado aguardando manutenção sem data para retornar as atividades, mas ainda é possível chegar até a gruta pela trilha na mata.

Arte em uma parede mostra o símbolo mais conhecido do Parque

A entrada no parque custa R$ 5,00 e dá direito a um tour pelo roteiro Histórico-Cultural guiado.

Entrada do Menor Parque Nacional do Brasil



O roteiro começa no Centro de Visitantes onde é explicado um pouco do histórico da região, bem como são apresentadas a fauna e flora encontrada no parque e as trilhas existentes.

Centro de Visitantes: História e características da região

O guia explica que a região já foi morada dos índios Tabajara e que o nome do lugar remete ao cacique que dominava a área. Uma lenda conta que o índio morou na gruta, que já foi de propriedade particular e abrigou diversas cerimônias religiosas, incluindo casamentos.

Espécies da região em exposição: Educação Ambiental

Interessante é que esta é a única gruta do Ceará e o guia nos mostra uma maquete que apresenta a parte já explorada, sendo que existem salões e túneis ainda não descobertos. O parque foi criado em 1959 com o objetivo de proteger a gruta, sendo ampliado posteriormente.

Representação da gruta em 3D

Ao lado do centro de visitantes existe uma área de lazer para crianças, com parquinho para os pequeninos.

Parquinho para a criançada

O roteiro segue até o Mirante do Bondinho, onde fica a estação que faz a ligação entre a parte alta do parque e a gruta, a 550 metros abaixo.


O guia explica que o bonde está parado para manutenção sem data para voltar a operar. O sistema foi inaugurado em 1976 e o sistema é bem antigo já não existindo peças para manutenção adequada, portanto deve-se substituir todo o maquinário. No entanto, até o dia em que estivemos por lá (final de 2016) não havia nem sido iniciada licitação para a obra.

Mirante do Bondinho

A Serra vista do mirante forma uma linda paisagem

A cidade de Araticum vista do mirante

O parque sempre foi o maior atrativo turístico da região e muito se deve ao bonde que leva até a gruta. O guia explica que com o fechamento do transporte o movimento caiu ao extremo e que isso gerou muitas demissões nas equipes do parque. Segundo ele, os guias eram 25 e hoje são só 5 por conta do fechamento do sistema...

O bondinho que está fora de funcionamento

O sistema leva até a gruta
Trilhas de Ubajara

O parque possui três circuitos de trilhas que podem ser feitas pelos visitantes. A Trilha da Samambaia que leva até o Mirante da Gameleira, de nível leve e que tem 2400 metros (ida e volta), sendo percorrida em uma hora de caminhada. A trilha das Cachoeiras, de nível médio e que demora duas horas para ser percorrida e a Travessia Ubajara x Araticum, de nível pesado que conduz à cidade vizinha em mais de 3h de caminhada.

Placa com o mapa das trilhas do Parque Nacional de Ubajara

A trilha que conduz a Araticum também leva até a gruta e antigamente era comum descer caminhando e subir no bonde, hoje a única opção é ir e voltar pela trilha. A gruta está quase no final da travessia e o tempo total de caminhada (ida e volta) fica entre cinco e seis horas, dependendo do ritmo e preparo de cada um.

Início da Trilha da Samambaia

A vantagem da Trilha da Gruta é que se percorre as três trilhas existentes, passando pelo mirante e pelas cachoeiras, mas é obrigatório o serviço do guia que cobra R$ 150,00.

Trilha fácil até o primeiro mirante

O parque abre as 8h da manhã e a partir deste horário é possível fazer a trilha completa a cada hora até o meio dia. O guia conduz um grupo de até 6 pessoas, portanto vale esperar para ver se mais gente se junta para dividir o valor.

Início plano e ideal para famílias caminharem

Chegamos as 8h e não havia mais ninguém para a trilha, fizemos o roteiro histórico que dura cerca de 40 min e voltamos para entrada do parque para ver se mais alguém aparecia para as 9h. Demos sorte e um casal de jovens alemães apareceu para fazer a mesma trilha e rachamos o valor por dois casais (R$ 75,00 para cada casal).

Apesar da boa sinalização é obrigatório o acompanhamento de guias cadastrados

A primeira parte percorrida é a Trilha que leva até o Mirante da Gameleira, fácil de caminhar e bem plana. Do mirante se tem uma boa visão do vale onde está a gruta e de uma cachoeira no paredão de pedra, que estava praticamente sem água no dia, por conta da seca na região.

A trilha para o mirante é bem fácil

Paisagem do Mirante da Gameleira

Cachoeira do Cafundó quase seca vista do mirante

A seca que assola o Ceará interferiu bastante na paisagem, pois saindo da trilha da Samambaia seguimos para a Trilha das Cachoeiras que cruza diversos rios que estavam praticamente sem água.


No início da trilha um cruzeiro, de madeira de Ipê Amarelo, marca o local onde se iniciavam procissões religiosas de peregrinação até a gruta no passado.

Cruzeiro de onde partiam procissões até a gruta

A trilha conduz até uma escadaria de madeira que dá acesso à Cachoeira do Cafundó. O guia explica que nas épocas de chuvas fortes a cachoeira chega a fechar para visitação por conta da força de suas águas e que nas secas a queda praticamente some.

Rio Cafundó

Acesso a Cachoeira do Cafundó

O rio despenca no paredão de pedras que vimos do mirante, mas nesse dia não tinha quase água no Rio Cafundó devido a forte seca da região.

Cachoeira do Cafundó em época de seca no nordeste

Rio Cafundó despencando no paredão: Paisagem que vimos do Mirante da Gameleira

Voltando para trilha seguimos em direção à gruta e nesta última etapa o terreno muda bastante.

Início do caminho para a Gruta na travessia para Araticum

Saindo do circuito das cachoeiras o caminho passa a ser uma estrada de pedras construída pelos escravos que faziam a travessia de mercadorias entre Araticum e Ubajara.

Caminho de pedras feito pelos escravos

O terreno fica bem íngreme, mas todo o percurso é feito em meio à mata sem grande exposição ao sol. Neste trecho, menos visitado pelos turistas, é comum avistar macacos-pregos.

Macacos-Pregos são comuns nesta trilha

Interessante é que os macacos utilizam pedras como ferramentas para abrir pequenos coquinhos, como faziam nossos ancestrais... Colocam o fruto em uma pedra plana e com uma outra pedra menor batem até abri-lo. Chega a ficar a marca mais funda na pedra, onde encaixam novos frutos para a abertura e chegamos a vê-los fazendo isso pelo caminho (claro que quando nos viam vindo eles fugiam para as árvores).

Os macacos usam as pedras como ferramentas para abrir as frutas

A trilha ainda cruza o Rio das Minas (ou o que sobrou dele em meio as pedras com a seca) e um pequeno córrego de água, chamado Mijo da Velha, que apesar do nome nada convidativo serve para abastecer as garrafas com água potável.

Rio das Minas cruzando a trilha
Paisagem no meio da trilha

Depois de quase 3h de caminhada se chega na bifurcação que separa a travessia do caminho para a gruta. Deste ponto caminha-se alguns metros em meio as pedras até a base do paredão onde está a estação do bonde.

Seguindo à esquerda por mais alguns quilômetros se conclui a travessia e para direita está a gruta

A estação do bonde que desce da entrada do parque até a gruta

A entrada da gruta fica fechada por um portão para garantir que não se entre sem um guia, já que a travessia é ainda hoje utilizada livremente pelos nativos, sendo o caminho mais curto entre as duas cidades.

Entrada para a gruta fechada por um portão: Obrigatório guia devido a depredações no passado

Paramos para lanchar na entrada da caverna e seguimos para conhecer seu interior. Logo na entrada vimos muitas pichações deixadas por depredadores na época em que não havia controle sobre a entrada. Interessante é que a inscrição mais antiga é datada de 1890!!!

Entrando na Gruta de Ubajara

Depredações: A pichação mais antiga data de 1890

O primeiro salão é onde ocorriam as cerimônias religiosas antigamente e muitos casamentos foram realizados neste lugar. Conhecida como "Sala da Imagem" o lugar tem até piso construído em pedras e guarda ainda hoje uma imagem de Nossa Senhora no lugar onde era montado o altar para as celebrações.

A Sala da Imagem é o primeiro salão

Lugar de celebrações religiosas no passado

A gruta tem uma extensão conhecida de 1200 metros com 75 metros de profundidade, mas só podemos percorrer 450 metros deste total.



No Corredor das Maravilhas destacam-se formações rochosas típicas como cortinas, estalactites e estalagmites, enquanto o Salão da Rosa recebeu o nome devido a uma formação que lembra a flor no teto.

Corredor das Maravilhas

Um dos maiores salões visitados é o Salão do Índio, além deste, o Salão do Presépio também recebeu o nome por conta de uma formação rochosa que lembra a cena natalina.

Salão do Índio no interior da gruta

A gruta é o lar de milhares de morcegos e em um trecho o som dos animais chega a ser ensurdecedor, bem como é insuportável o cheiro do guano que forma uma montanha no centro do salão. O guia explica que existem áreas infestadas por morcegos mais para dentro, mas olhando o teto se mexendo ao som dos bichanos não consigo imaginar uma região com mais morcegos do que ali. Não deu para registra em uma foto pelas condições de iluminação, mas acredito que você possa imaginar... ou não! rs

A quantidade de morcegos chega a ser assustadora e o cheiro de guano toma o maior salão da gruta

A visita dentro da gruta dura cerca de 40 minutos e saímos fedendo a guano de morcego (isso não é muito saudável, portanto não manuseie alimentos até lavar-se). Era hora de voltar os 7 Km de trilha pensando como seria bom o bondinho funcionando...


O caminho de volta é muito cansativo, pois a subida é bem íngreme. Enquanto a descida apresenta o mirante e a cachoeira, a subida é longa e chata... realmente valia a pena descer pela trilha e subir no bondinho, pena que estava parado L

O caminho em pedras é fácil de percorrer, mas é muito íngreme e cansativo

Onde Ficamos

Para conhecer o Parque Nacional e fazer a trilha ficamos hospedados duas noites na cidade, a primeira quando chegamos, já no fim do dia e a segunda depois da trilha para descansar.


Existem diversas opções de hospedagem em Ubajara, mas indico a Pousada Gruta de Ubajara, onde ficamos, que é bem perto da entrada do parque e tem uma ótima estrutura.

 
Pousada Gruta de Ubajara
Vista da varanda do nosso quarto na pousada


Dicas:

- Não é necessário levar lanterna, pois a gruta possui iluminação artificial e o guia leva uma para auxiliar;
- O valor da trilha com o teleférico funcionando é de R$ 15,00 por pessoa, mais R$ 8,00 pela volta no bondinho, mas com ele parado o valor está em R$ 150,00 para um grupo de até 6 pessoas. Vale encontrar mais interessados e dividir a conta;
- O Hotel Neblina Park que fica bem próximo a entrada do Parque Nacional, oferece o uso da piscina por R$ 10,00 e é uma ótima opção para depois da caminhada;
- Ubajara não tem vida noturna e algumas poucas opções para comer alguma coisa a noite. Comemos uma ótima pizza de massa fina na Pizzaria Nova Lima.