domingo, 25 de março de 2018

Aiuruoca /MG


Uma pequena cidade no sul de Minas Gerais, na região das Terras Altas da Mantiqueira, a pouco mais de 1000 metros de altitude, que vem sendo descoberta pelos turistas e mochileiros.

O nome diferente e difícil de pronunciar para quem ouve a primeira vez é de origem tupi, sendo o original Ajuruoca, que quer dizer casa (Oca) do Papagaio (Ajuro).


A Cidade

Aiuruoca é uma cidadezinha típica do interior mineiro, pequena e sossegada, com poucas atrações turísticas na área urbana.


Na bonita e florida praça principal está a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição e um coreto, ponto de encontro e de comemorações da população da cidade.

Igreja Matriz no centro da cidade

Em meio ao casario simples encontramos uma com uma plaquinha que dizia que naquele casebre morou o poeta Dantas Motta, pouco conhecido do público, mas que deixou algumas poesias como legado.

Casa simples onde morou o poeta Dantas Motta

Conhecemos o Museu Municipal, em um casarão histórico, que conta a história de um médico famoso oriundo da cidade.

Museu Municipal de Aiuruoca conta a história de um ilustre morador da cidade

Este médico tinha um projeto de criação de um Panteão da Cura, um monumento que homenagearia os grandes médicos mundiais, mas com seu falecimento o projeto ficou parado e a estrutura está largada em uma praça no alto da cidade.

O que seria o Panteão da Cura (obra abandonada)

Próximo ao que seria o panteão está um cruzeiro de onde se tem uma boa vista da cidade por cima e do pôr do sol. E isso é tudo que se tem para ver por lá...


Viajamos em grupo (5 pessoas) e ficamos hospedados na Pousada do Waldir, no centro, que tem uma estrutura super simples, mas ótimos preços, principalmente para grupos que podem dividir o quarto ;-)


Fim do dia em Aiuruoca

Aiuruoca não possui muita estrutura turística na área urbana, já que as melhores acomodações e opções de restaurantes estão na área rural (a roça, onde estão as atrações naturais).

A noite o movimento é na pracinha

Na verdade a noite as opções para comer se resumem a duas pizzarias na pracinha, um bar (Bar do Rock), uma esfirraria, subindo a rua á direita da igreja e uma pastelaria, descendo a rua à esquerda da igreja. De dia existem mais uns 3 restaurantes no entorno da pracinha onde se pode almoçar.

Pastelaria

Pizzaria Dona Azeitona

Nosso grupo comendo uma pizza no "Aroma da Serra"

O que fazer em Aiuruoca

Se a cidade não guarda grandes atrações os arredores estão atraindo cada vez mais a atenção dos viajantes e colocando Aiuruoca no mapa do ecoturismo brasileiro.

A cidade possui mais de 80 poços e cachoeiras, mas a grande maioria está em áreas particulares ou de acesso conhecido apenas pelos locais e não são muito visitadas, isso deve mudar nos próximos anos, mas deixo aqui nosso roteiro com os principais lugares que se pode conhecer nas áreas turísticas já consolidadas.

Fomos em grupo com amigos de carro e curtimos bem a cidade e as cachoeiras em 4 dias


Pico do Papagaio

O Parque Estadual da Serra do Papagaio guarda a mais imponente formação rochosa dos arredores da cidade: O Pico do Papagaio.

Existem diversas trilhas que levam até o topo da pedra, mas todas necessitam de guias, cuidados especiais e preparo para vencer as quase 8 hrs de caminhada (ida e volta). Infelizmente não subimos o Papagaio nesta viagem, mas voltamos com a certeza que ainda iremos lá para isso.

O Pico do Papagaio: Trilhas que duram o dia inteiro para ir e voltar levam até o topo da pedra


Pocinho

A atração mais próxima do centro da cidade, o pocinho está a 3 Km de distância em estrada de terra.

Área de estacionamento do Pocinho

Barzinho e um grande gramado junto ao poço

É uma área particular onde foi erguida uma estrutura turística com barzinho e estacionamento com entrada paga (R$ 8,00 em 2018).


Pocinho

O pocinho é uma grande piscina de água natural, formada no leito do rio, com um barramento artificial com escadinhas e tudo. É a principal área de lazer da população local.


Uma piscina natural forma o Pocinho

Cachoeira Deus me Livre

Próxima ao pocinho, essa cachoeira está dentro de uma fazenda, mas é de fácil acesso e vale muito a visita.


Para chegar siga a estrada de terra passando pelo Pocinho por mais 1 Km aproximadamente. A entrada é na porteira da fazenda que está em uma curva da estrada antes de subir a colina.

Para chegar na cachoeira deve-se cruzar esta fazenda

Entrando pela fazenda é só seguir em frente cruzando o pasto e as porteiras (lembre-se de fechar todas as porteiras pelas quais passar).

Feche as porteiras quando passar ;-)

Depois que cruzar o pasto o caminho te leva até o leito do rio, neste ponto siga pela margem até encontrar uma ponte de madeira (um tronco na verdade), que cruza de um lado ao outro. Atenção neste ponto, pois o caminho segue por esta margem, mas é necessário cruzar a ponte, ou não irá chegar a lugar nenhum...

Cruze o pasto: Não tem como errar

Atenção: Cruze a ponte, se passar direto vai errar

Depois são mais alguns minutos até a bonita queda com 15 metros de altura. Ao todo caminhamos por menos de 30 minutos da estrada até a cachoeira.

Cachoeira Deus Me Livre (não sei o motivo do nome...)

Existem 3 quedas nesta cachoeira e um caminho íngreme e um tanto difícil sobre pela mata ao lado do poço, mas acredite em mim: Não vale a pena ir!

2º e 3º quedas em cima

Subimos pelo caminho, mas descobrimos que as outras 2 quedas são apenas contemplativas, na verdade a intermediária pode até servir para banho se as águas estiverem com pouca correnteza, mas não vale o risco. A queda superior é em meio a um paredão de pedras e não possui poço.

A parte de cima é bonita mas não vale muito a subida... é só contemplativa

Vale do Matutu

A região mais turística dos arredores de Aiuruoca guarda restaurantes, pousadas e até uma comunidade alternativa.


Para se chegar ao vale deve-se passar pelo Pocinho e pela entrada da fazenda que leva até a Cachoeira do Deus me Livre e seguir subindo e descendo os dois morros a frente.


O caminho é em estrada de terra bem conservada e guarda ótimas paisagens, principalmente do Pico do Papagaio.

O Pico do Papagaio visto da estrada para o Matutu

No vale estão algumas cachoeiras e a mais fácil de observar é a Três Marias, que pode ser vista da estrada, mas que não possui acesso ou poço, sendo apenas contemplativa mesmo.

Cachoeira das Três Marias

No ponto onde se vê a cachoeira na encosta está a Igrejinha de Nossa Senhora das Dores e ali começa a estrada que leva até a Cachoeira do Batuque, mas não fomos nessa...

Capela de Nossa Senhora das Dores onde uma estrada parte na direção da Cachoeira do Batuque

Mas seguindo a estrada principal está escondida uma cachoeira de fácil acesso: A Cachoeira dos Macacos.

Alguns metros depois de passar pela igrejinha o caminho segue passando por um acesso com a placa “Ananda Matutu”, uma placa azul com uma seta branca que aponta o acesso. Deixe o carro ali mesmo e siga por 10 metros na estrada principal (não entre no acesso que a placa aponta). A trilha está no lado esquerdo da estrada, na mata logo à frente.

Início da trilha para a Cachoeira dos Macacos

São 15 minutos de uma fácil caminhada na mata em direção ao rio onde está a bonita Cachoeira dos Macacos, com uma forte e relaxante ducha e um poço para banho mais abaixo no rio (não há um poço sob a cascata).

Cachoeira dos Macacos: Fácil acesso na estrada do Vale do Matutu

São cerca de 20 Km de estrada de terra entre o centro da cidade e a região central do Vale do Matutu, que está dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) da Mantiqueira, uma área marcada pela presença de uma população simples e de costumes fortes que vem crescendo e aparecendo com o turismo.

Grupo reunido: Hora de conhecer as cachoeiras e trilhas do Matutu

A estrada termina no Casarão do Matutu, sede da Associação de Moradores e amigos do Matutu e abriga um centro de informações ao visitante. Quando estivemos lá o casarão carecia de cuidados e uma campanha tentava arrecadar fundos para a conservação do casarão histórico.
  

Ao lado, em uma casinha simples, funciona uma loja de produtos artesanais da cooperativa local. Vale a visita ;-)

Compre docinhos e artesanatos na cooperativa

Ainda nesta região central do Matutu está o Poço das Fadas, a menos de 10 minutos de caminhada a partir do casarão.


O poço é um lindo lago formado no leito do rio com uma cascatinha em forma de ducha e águas claras, principalmente quando o sol incide sobre o espelho d’água.

O lindo e transparente Poço das Fadas

Diante do Casarão começa também a trilha para uma das maiores cachoeiras da região: A Cachoeira do Fundo.

Cachoeira do Fundo com 120 metros

Para chegar deve-se percorrer uma trilha de aproximadamente 2h de percursos (ida), passando também pela Cachoeira do Meio.

Não deixe de fazer a trilha para a cachoeira

O início do caminho é o mesmo que leva ao Restaurante da Tia Iraci (muito bem recomendado na região). Siga por ali até a placa que aponta a trilha para Patrimônio, onde terá que deixar de seguir na direção do restaurante e pegar este outro caminho na bifurcação.

A trilha não é muito sinalizada e apenas no início é mais difícil: Neste ponto siga pela direita

Mais alguns minutos e passará pelo Portal do Vale, marcado por uma placa junto à porteira. Depois siga em frente com atenção neste trecho inicial, pois existem caminhos alternativos que levam as casas de moradores do vale. Uma ou outra pequena placa podem ajudar (mas são pequenas e podem estar caída e fora da posição...).

Depois do Portal do Vale (uma porteira com uma placa) é só seguir a trilha sempre em frente

Passando o trecho inicial o caminho segue em uma área aberta cruzando por pontes sobre o rio e depois entra na mata fechada em uma trilha única e bem definida. Não tem mais como errar...



As subidas são um pouco puxadas e depois de mais de 1h de caminhada chega-se na Cachoeira do Meio, que tem esse nome por estar na metade do caminho e é uma ótima opção pra refrescar o corpo e ganhar fôlego para a parte final.

Cachoeira do Meio: Muitos param neste ponto, mas vale continuar caminhando depois de relaxar aqui

Seguindo a trilha por mais meia hora se chega no leito do rio em um ponto onde deve-se cruzar a água e seguir pelo caminho do outro lado.

Cruze o rio no fim da trilha na mata fechada e siga pela trilha aberta do outro lado

Deste ponto em diante o caminhante já poderá ver a imensa cachoeira na montanha à frente. Daí em diante todo o caminho é exposto ao sol.

Agora é só caminhar por cerca de 20 minutos olhando a cachoeira à frente :-)

Finalmente chegamos na Cachoeira do Fundo com seus 120 metros de queda, mas não existe um ponto junto a cachoeira onde se possa ver ela por inteiro. A trilha conduz até uma cachoeira no final da queda d’água na base dela e muitos param ali mesmo para o banho.

A parte de baixo da Cachoeira do Fundo: Uma bela queda na base da montanha

Nós continuamos subindo, pois existem outros pontos de acesso as águas da grande cachoeira. Alguns acessos levam até a encosta por onde desce a cachoeira e não tem poço, mas vale contemplar.

Subindo pela encosta encontramos alguns pontos de acesso no meio da grande queda

Essa trilha final não é percorrida por todos, mas vale muito a pena (apesar da dificuldade). Existe uma segunda queda com poço de onde se tem a visão da parte superior de toda a cachoeira. O poço é pequeno, mas a sensação de estar ali é incrível!

Um pequeno poço com a vista de toda a parte superior da cachoeira

Mais em cima ainda existe um terceiro ponto de acesso (na outra margem, do lado oposto ao que se chega), onde é possível um banho nas fortes quedas da parte de cima da cachoeira, mas o espaço para mergulho é bem pequeno em meio a pedras.

A linda Cachoeira do Fundo vista do último ponto de acesso

Aproveitamos boa parte do dia ali e super recomendo, pois o contato com a natureza e a força das águas é incrível. Depois encaramos o caminho de volta e descemos em menos de 1h20m de caminhada até o casarão.

Mais 1h20m de caminhada na volta sempre descendo (mais fácil... rs)

Fim do dia no Casarão do Matutu

Vale dos Garcias

O último lugar é um dos mais famosos pela beleza, mas também um dos mais difíceis de chegar: O Vale dos Garcias está a 13 Km de distância do centro da cidade, na direção oposta ao Matutu, dentro da Serra do Papagaio e uma estrada de terra em condições bem complicadas leva até lá...

Muito cuidado com as condições da estrada por aqui

A dificuldade no acesso é justamente a estrada que em alguns pontos vai exigir muito do carro e do motorista. Fomos em um 4x4 então não tivemos problemas, mas quem tem um carro baixo vai achar bem difícil o acesso.

Entradas para veículos, para humanos e para duendes... todos tem acesso aqui!!! hehehe

No caminho uma bifurcação leva até o Poço Joaquim Bernardo, em uma área particular que conta com um bar e estacionamento e deve-se pagar uma taxa para uso (R$ 2,00).

Poço Joaquim Bernardo com um bar e restaurante

Galera reunida esperando um petisco

O poço é ótimo com uma corredeira que desce pelas pedras no leito do rio e uma área gramada imensa em volta. O barzinho serve alguns quitutes para ajudar a passar o dia.

Um ótimo poço onde vale passar um tempo relaxando

Mas seguimos o caminho em direção a atração principal do vale que está no fim da estrada de terra.


O casal Garcia montou um restaurante de apoio que é considerado um dos melhores da região e uma área de descanso com redes e mesinhas para quem quiser relaxar diante do vale (vontade de ficar lá naquela rede dormindo... rs).


Um lugar incrível com um ótimo restaurante e uma paisagem relaxante

A famosa cachoeira está logo ali embaixo, são apenas 15 min de descida (um tanto íngreme) pela encosta de terra até a cachoeira.

Trilha descendo para a cachoeira

A Cachoeira dos Garcias tem 30 metros de queda e é realmente linda, com um poço gigantesco para banho. As águas são bem geladas e o poço é bem fundo, mas o sol incide diretamente na água e nas pedras já que a área é aberta.

Cachoeira dos Garcias com águas frias e um poço fundo


Também é possível conhecer a parte de cima da cachoeira e tomar banho no rio ali, que é bem rasinho.

Parte de cima da cachoeira

Para finalizar uma pequena caminhada de 5 minutos a partir do restaurante (na direção oposta da cachoeira, do outro lado da estrada) leva até a Prainha, um trecho de rio que forma um tipo de lago com uma faixa de areia na margem.

Prainha

Estender uma kanga ou toalha na areia e relaxar nas águas deste pequena praia é o programa ideal para fechar o dia no Vale dos Garcias depois do almoço ;-)

 
Uma praia no rio: Ideal para famílias inteiras com crianças pequenas

Dicas e Informações:

- Leve dinheiro! A maioria dos lugares na cidade não aceita cartão (incluindo as pousadas) e existe apenas uma agência bancária (Bradesco) na cidade;

- Se quer paz e sossego o carnaval é uma boa época, pois a cidade antecipa a festa e nos dias oficiais de folia não há quase nada por lá e Aiuruoca fica bem mais traqnuila;

- A cidade possui 82 cachoeiras, mas a grande maioria está em áreas particulares ou de acesso conhecido apenas pelos locais e não são muito visitadas (isso deve mudar nos próximos anos);

- É necessário um carro para conhecer as atrações a partir da cidade, mas se estiver no centro pode caminhar até o pocinho e a cachoeira Deus me Livre (3 km);

- Para conhecer a Cachoeira Deus me Livre, deixe o carro no Pocinho e vá caminhando;

- Guarde um dia inteiro para conhecer o Vale do Matutu e outro dia inteiro para o Vale dos Garcias;

- Se chover evite as estradas de terra que levam ao Vale dos Garcias.