sábado, 13 de setembro de 2014

Vale Sagrado dos Incas


3º Dia no Peru (dia 3 do mochilão)

No dia 09 de março de 2014 acordamos as 7h e tomamos o desayuno no hostel. Era um bonito domingo de sol e havíamos marcado com a Expediciones Waynapicchu que as 8h30min alguém nos buscaria no hostel. A recepcionista separou um lugar para deixar nossas mochilas, pois iríamos dormir em Águas Calientes essa noite, então não precisávamos pagar o quarto em Cusco, mas voltaríamos no dia seguinte para buscar as mochilas e dormir mais uma noite no Hostel Villa San Blas. Separamos pequenas bolsas de “ataque” para levar apenas o necessário para o Vale Sagrado e Machu Pichhu.

  
Hostel Villa San Blas


Sentamos no sofá da recepção e nos pomos a aguardar ansiosamente. Já passava das 9h e conforme a hora passava nosso medo de ninguém aparecer e de termos sido enganados aumentava. Mesmo já tendo feito o City Tour com a empresa no dia anterior, ficava uma certa apreensão, pois pagamos U$ 400,00 por todos os pacotes juntos e até este momento não tínhamos os tíquetes de trem e entrada para Machu Pichhu em mãos.

Aguardando na recepção: tensão com o atraso


Tudo que se refere a Machu Pichhu é muito caro e em dólar. A entrada no sítio arqueológico custa U$ 50,00 por pessoa. Existem vários meios de se chegar até lá (o pacote com a trilha inca é um deles), e nós iríamos de trem ao custo de U$ 47,00 por pessoa na ida e U$ 52,00 na volta. Estes valores se referem ao trem turístico da operadora Perú Rail e é possível adquirir passagens mais baratas nos trens tradicionais. O pacote vendido incluía também o hostel para uma noite na vila de Águas Calientes e o transporte de volta a Cusco desde a estação de trem de Ollantaytambo (de onde partem e chegam os trens), já que para ir faríamos a conexão no tour do Vale Sagrado.


Entendam que é possível comprar todas as passagens e entrada separadamente sem necessidade de uma empresa de turismo como atravessadora, neste caso ficaria bem mais barato e seria ainda necessário procurar um lugar para dormir em Águas Calientes. Nós optamos por pagar um pouco a mais pelo conforto de não precisar ficar correndo atrás de passagens e hospedagem, que são bem concorridas, e precisam ser adquiridas com certa antecedência, ou seja, trocamos um dia de procura por um preço mais salgado para não ter dor de cabeça. Além do fato de que com a Expediciones Waynapicchu negociando com o Hostel San Blas, ainda conseguimos deixar nossa mochila no hostel, não pagar a estadia da noite em que estaríamos fora e voltar com o quarto ainda reservado para o dia posterior, quando buscaríamos a bagagem e partiríamos de Cusco.


Eram quase 9h30min da manhã quando uma senhora da empresa turística chegou no hostel nos procurando para o Tour do Vale Sagrado (Alívio! Não fomos enganados e faríamos o passeio... rs). Descemos a estreita rua do hostel até a Plaza San Bras, onde o micro-ônibus estava estacionado e para nossa alegria o guia seria o excelente Jesus novamente. No ônibus nos foi entregue um envelope com as passagens de trem e entradas para as ruínas de Machu Pichhu para o dia seguinte.


Por ser domingo nossa primeira parada foi em um mercado de artesanato nos arredores de Pisac, chamado Willka Pukara. Existem diversos mercados deste tipo na região e cada tour vai parar em um diferente. Quase todos só funcionam terças, quintas e domingos, por isso estes são ótimos dias para se visitar o Vale Sagrado.

 
Ruas de Pisac

Aline em Willka Pukara
O mercado é composto de várias barracas de roupas, tapetes e esculturas artesanais com uma área verde entre elas. No centro algumas mulheres com roupas típicas estavam sentadas com suas crianças e lhamas esperando turistas que queiram uma fotografia.

 
Foto roubada , pois normalmente deve-se pagar para fotografa-los

É comum em Cusco que pessoas e seus animais se ofereçam para fotos com turistas e cobrem por isso. Não queríamos pagar pelas fotos então utilizei o zoom da máquina para “roubar” umas cenas. Depois olhamos o mercado e no fim compramos um gorro e um cachecol que iríamos levar de lembrança para parentes no Brasil (mas os preços não são tão negociáveis no mercado quanto são nas ruas).

 
Artesanato peruano

Deixamos Willka Pukara e paramos em uma loja onde se manipula a prata e vende-se objetos do metal associados a pedras da região. Ficamos aproximadamente 30 minutos na loja. Rapidamente o responsável pelo lugar nos deu uma pequena aula de fabricação de objetos de prata e explicou como diferenciar a prata verdadeira da falsa.

 
Aula sobre arte em prata

O resto do tempo foi para olhar a loja e as peças de prata, além de poder usar o banheiro. Não compramos nada, pois achamos tudo muito caro e voltamos ao ônibus.

 
Visitando loja de objetos de prata
 
Colar em prata e pedra: Preços salgados


Deixamos a cidade para trás e subimos as montanhas em direção as ruínas incas. No caminho uma rápida parada no Mirador Taray para fotos do Vale Sagrado e da cidade de Pisac abaixo.







Valse Sagrado com Pisac ao fundo


Mirante Taray



Foram mais 30 minutos subindo até as ruínas de Qantusraqay nos arredores de Pisac, a 33 Km de Cusco, um complexo arqueológico no topo de uma colina. Jesus nos explica que os incas consideravam as montanhas como lugares sagrados, por isto, templos e cidades foram construídos no alto. O complexo arqueológico de Pisac está a mais de 3000 metros acima do nível do mar. No passado Qantusraqay foi uma cidade com bairros que eram unidos por túneis, plataformas e ruas.

 
Qantusragay

O lugar estava cheio de turistas e cada um com seu guia que sempre se mostrava para o grupo através de alguma bandeira ou símbolo na mão. Jesus segurava sua sombrinha lilás bem alto e assim víamos para onde nos deslocar e seguindo a sombrinha chegamos aos gigantescos terraços agrícolas.

 
Terraços agrícolas típicos dos incas

Os terraços de Qantusraqay foram edificados com muros de pedra que lembram grandes arquibancadas. Em cada degrau, produtos eram plantados, como milho e batata. O formato das plataformas em degraus em inclinação servia, também, para proteção contra inimigos e para irrigação, ao facilitar o curso da água através de caminhos preferenciais em meio aos muros. Ainda hoje, plantam-se todos os tipos de batatas na região.

 
Terraços de Qantusragay

Jesus seguia com seus passos firmes e sua sombrinha lilás sempre nos incentivando com seus “adelante, adelante”, mas andar na altitude requer bastante fôlego e não era nada fácil segui-lo. Em certo momentos ele parava sinalizava com sua sombrinha e assim que o grupo o alcançava seguia com seu mantra “adelante, adelante” cruzando os terraços agrícolas.

 
Dificuldade para caminhar na altitude

Paramos novamente na base de uma pequena colina onde pode-se ver diversos buracos na encosta da montanha atrás dos terraços. Jesus nos explica que na cultura inca enterravam-se os corpos de agricultores, trabalhadores braçais e do povo comum em buracos nas paredes das montanhas, como forma de que repousarem em paz no seio da Pachamama. Os nobres e líderes religiosos eram enterrados no Templo do Sol de Qoricancha.

 
Buracos na montanha eram o cemitério dos incas

Diante de nós estava a maior necrópole do império inca chamada Tankana Marka, mas infelizmente este grande cemitério teve muitas múmias saqueadas pelos espanhóis em busca de ouro e outros metais preciosos.

 
Detalhe de uma sepultura de Tankana Marka

Neste ponto aqueles que queriam descansar e ficar aguardando poderiam esperar enquanto os demais subiriam as escadarias e rampas na encosta da colina a frente em direção as construções na parte alta de Qantusraqay. Muitos ficaram por ali mesmo. Nós subimos seguindo o Jesus que ia nos incentivando com seu mantra “adelante, adelante, ariba, ariba”.

 
Subindo... subindo... subindo...

Subindo e descansando entre as ruínas

No alto da colina um conjunto de construções que no passado serviam, também, como observatório astronômico. Jesus nos explica que pesquisadores acreditam que a cidade começou como um posto militar para combater invasores, mas virou um centro cerimonial, agrícola e residencial, sendo povoada desde o século X. Tivemos um tempo para descansar da subida (que na altitude é extremamente cansativa) e aproveitamos para registrar tudo em fotos. Um mirante permite uma vista privilegiada do vale sagrado a frente.

 
Descansando da subida
 
O topo da colina


Ao fundo o Vale Sagrado dos Incas

Ficamos em Pisac durante 1h30min e depois seguimos em direção a Urubamba para almoçar. Urubamba é um povoado simples e sem graça. Não há nada turístico para se ver por lá, apesar de que os veículos adaptados em motos com cabines são bastante curiosos para nós brasileiros, mas muito comuns nos povoados pequenos nos Andes.

 
Urubamba
 
Triciclo comum nos Andes


O ponto turístico é na verdade o restaurante, pois faz parte do tour o almoço com comida típica peruana. O restaurante ILLARY era simples, bonito, limpo e organizado. Eu não gosto muito de comidas típicas e admito que minhas viagens não são nada gastronômicas, portanto para mim é bem difícil comer fora, pois não gosto de experimentar nada estranho ao meu paladar. Na entrada você recebe um “passe-livre” (já que o almoço foi pago previamente, junto com o passeio) que é entregue na saída e caso queira bebidas, é só pedir ao garçom e pagar diretamente a ele.

 
Restaurante de comida típica peruana

Interior do Illary

O bufet é bem variado e carregado na comida, come-se o quanto e quantas vezes aguentar. Eu comi bem pouco, já que não tinha nada que sabia o que era, mas Aline experimentou a culinária peruana e no fim reclamou que tudo é muito temperado. Os doces também estavam inclusos e neste ponto comi melhor. No fim ainda provamos pela primeira vez uma Inka-Kola, famosa fórmula da Coca-Cola no Peru. Pela primeira vez no Peru o refrigerante veio gelado, pois até aqui todas as garrafas que compramos estavam expostas em prateleiras, não sendo costume local a refrigeração.

 
Restaurante Illary
 
Experimentamos a famosa Inka Kola: Nada de mais!


Nossa próxima parada foi o no povoado de Ollantaytambo, erguido no final do século XV, a 78 km de Cusco. A cidade é habitada até hoje por nativos indígenas e logo que o ônibus parou nos deparamos com mais uma grande feira de artesanato local. Desta vez passamos direto, pois já estávamos cheios de ver os coloridos tecidos peruanos. Diante da praça está a Igreja de São Tiago Apóstolo, que estava fechada.

  
Igreja de São Tiago Apóstolo

Atravessamos o povoado e seguimos para o Parque Arqueológico de Ollantaytambo. Nos reunimos logo na entrada ao redor de Jesus com sua sombrinha lilás erguida. O guia nos explica que este povoado é o único que manteve tantas características primariamente pré-colombinas. As casas têm fundações incas originais, que foram conservadas e aproveitadas pelos espanhóis, somente os segundos andares correspondem à arquitetura colonial dos invasores.

 
Ollantaytambo

De baixo se vê todos os terraços e plataformas que aproveitam a inclinação da montanha na construção e os infinitos degraus que seguem até o alto.


Ao fundo Jesus com seu chapéu redondo e sua sombrinha lilás conduzindo o grupo para os degraus

Nós contornamos a montanha até a parte de trás onde estão as salas ao redor de Ollantaytambo, que eram destinadas aos sacerdotes. No local existe uma fonte de água que fazia parte de um templo.

 
Fonte no interior do antigo templo

Nós subíamos pouco a pouco os degraus das escadas ao som do “ariba, ariba” de Jesus que nos reunia abanando sua sombrinha lilás e parávamos nas plataformas para ouvir suas explicações. Ele explica que o nome do lugar faz referência a um general inca, Ollanta, que se casou com a filha do 9º imperador Pachacútec. O complexo foi construído sobre duas montanhas e caracteriza-se pelas enormes pedras de até 60 toneladas trazidas de outros áreas e talhadas no local. Em posição estratégica, Ollantaytambo abriga a fortaleza de Araqama Ayllu no topo da montanha. Esta fortaleza ficou famosa na história peruana, devido à maior vitória inca sobre os espanhóis, antes da conquista da cidade em 1537.

Fortaleza no topo da montanha


Mais uma subida ao som de “adelante, adelante, ariba, ariba” de Jesus e paramos em uma plataforma de onde é possível ver na montanha a frente o formato de um rosto inca naturalmente esculpido nas rochas.

O rosto esculpido pela natureza na montanha


O guia aponta construções nas encostas da montanha diante de nós e explica que o lugar era um depósito de alimentos e que um complexo sistema de ventilação servia de refrigerador natural e a posição estratégica protegeria os alimentos no caso de enchurradas e enchentes causadas pelas chuvas andinas. O rosto na montanha chama-se Tubupa e era considerado o guardião dos alimentos ali produzidos, que eram guardados na construção em suas costas.

 
O rosto Tubupa e o local de estoque de alimentos
 
A montanha adiante e suas construções


Subimos mais e a altitude já nos deixava bem cansados. Jesus para diante de grandes paredões de pedra montados em seis grandes rochas que foram trazidas até este ponto utilizando técnicas de movimentação com rampas. O guia explica que estas paredes seriam do Templo do Sol que ficou inacabado com a chegada dos espanhóis.

O visual compensa o cansaço da subida

Grandes pedras seriam para o Templo do Sol

Deste ponto em diante não mais acompanhamos o tour, pois tomaríamos o trem para águas Calientes as 16h35min na estação de Ollantaytambo e precisávamos descer as ruínas e atravessar o vilarejo para tomar o trem. Nos despedimos do guia e do grupo e voltamos sozinhos. No caminho de volta paramos poucas vezes para fotos nas ruínas.

 
Aline e eu descendo

Despedida de Ollantaytambo

O tour do Vale Sagrado não termina em Ollantaytambo, seguindo depois para Chinchero, a 30 km de Cusco. O principal atrativo é a visita externa a uma igreja histórica e o mercado de artesanato, então achamos que não perdemos muita coisa fazendo a conexão para Machu Picchu sem ir a Chinchero.


Descendo das Ruínas de Ollantaytambo cruzamos a praça e o rio Patakancha que divide o povoado, seguindo por mais cinco minutos até a estação onde iríamos tomar o trem turístico da Perú Rail para Águas Calientes que é a cidade base para a subida a Machu Picchu.

Trem para Águas Calientes

O trem turístico é bem confortável, com uma mesa cercada por dois lugares de cada lado (uma dupla de frente e outra de costas para o trajeto) e janelas grandes que possibilitam ver a paisagem muito bem. Procuramos nossos lugares que eram os últimos no fundo do vagão de costas para a parede. Diante de nós um casal, e uma das vantagens do trem turístico é que é fácil fazer amizades nele, já que se divide a mesa com uma dupla de frente.

 
Trem turístico bem confortável

O trajeto dura 1h30min ao todo e no percurso é servido um pequeno lanche, com suco, biscoitos e um docinho. Rapidamente fizemos amizade com o casal à frente. Ele um brasileiro de são Paulo e ela uma Argentina de Buenos Aires, estavam vindo de Copacabana na Bolívia e depois iriam para o norte do Peru. Infelizmente não e recordo os nomes agora e no fim não trocamos contatos. A viagem foi bem tranquila, pois fomos conversando sobre a viagem e os roteiros que estávamos fazendo. Em algum momento um grupo de chilenos que estava na mesa ao lado entrou na conversa e fomos todos nós em alto astral até o fim.

 
Fazer amizades é garantido no trem

No caminho as paisagens são bem bonitas pela janela, passando próximos a picos nevados. Nuvens negras cercaram o trem e ficamos um pouco preocupados em pegar chuva em Machu Pichhu, pois estávamos no início do mês de março e é época de chuvas na região, apesar de que até este momento havíamos dado sorte e não pegamos tempo ruim nem em Lima nem em Cusco.

 
Paisagem pela janela
 
Picos nevados e nuvens pesadas na paisagem


Chegamos em Águas Calientes as 18h05min , na estação uma senhora nos aguardava com uma placa com nossos nomes escritos (tudo acertado pela agência). Nos apresentamos e ela nos conduziu até o Hostel Wayra Classic, onde estava nossa reserva.

 
Chegando em Águas Calientes

Águas Calientes é uma cidade dormitório onde o turista fica no máximo uma noite antes da subida as famosas ruínas de Machu Pichhu, com isso tudo no lugar gira em torno disto. Os hotéis são preparados para receber os hóspedes e liberá-los nos horários dos trens. O Wayra Classic era bem simples e a menina da recepção não tinha o mínimo preparo para lidar com turistas, não sabendo falar inglês ela se enrolava toda para atender um grupo de rapazes europeus. A recepção contava apenas com um sofá diante de uma parede com um grande mapa turístico da região. As acomodações para uma noite também eram super simples, mas confortáveis.

 
Recepção bem simples do Hostel Wayra Classic

Saímos para comer alguma coisa e demos uma caminhada pelas ruas cheias de turistas e suas mochilas. Se até esse momento eu tinha imaginado Águas Calientes como sendo uma pequena e aconchegante cidadezinha do interior, a minha primeira impressão do lugar mudou tudo. Águas Calientes é uma cidade bem pequena e confusa, com ruas estreitas e cheias de hotéis e lanchonetes com letreiros luminosos. Fiquei com a impressão de estar em um tipo de Chinatown hollywoodiana. Existem infinitas opções de culinária, mas resolvemos comer um sanduíche e voltar para o hostel, pois acordaríamos cedo no dia seguinte. Estávamos ansiosos por estar tão próximo de Machu Pichhu.

Totem na rua de Águas Calientes


Gastos para 2 pessoas em 09/03/2014:

- Soroche pills (2 comprimidos): S./ 4,00
- Artesanato local: S./ 25,00
- Inca Kola: S./ 5,00
- Água e biscoito: S./ 9,50
- Jantar: S./ 27,00

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