3º Dia no
Peru (dia 3 do mochilão)
No dia 09
de março de 2014 acordamos as 7h e tomamos o desayuno no hostel. Era um bonito domingo de sol e havíamos marcado
com a Expediciones Waynapicchu que as 8h30min alguém nos buscaria no hostel. A
recepcionista separou um lugar para deixar nossas mochilas, pois iríamos dormir
em Águas Calientes essa noite, então não precisávamos pagar o quarto em Cusco,
mas voltaríamos no dia seguinte para buscar as mochilas e dormir mais uma noite
no Hostel Villa San Blas. Separamos pequenas bolsas de “ataque” para levar
apenas o necessário para o Vale Sagrado e Machu Pichhu.
Sentamos no sofá da recepção e nos pomos a aguardar ansiosamente. Já passava das 9h e conforme a hora passava nosso medo de ninguém aparecer e de termos sido enganados aumentava. Mesmo já tendo feito o City Tour com a empresa no dia anterior, ficava uma certa apreensão, pois pagamos U$ 400,00 por todos os pacotes juntos e até este momento não tínhamos os tíquetes de trem e entrada para Machu Pichhu em mãos.
Aguardando na recepção: tensão com o atraso |
Tudo que se
refere a Machu Pichhu é muito caro e em dólar. A entrada no sítio arqueológico
custa U$ 50,00 por pessoa. Existem vários meios de se chegar até lá (o pacote
com a trilha inca é um deles), e nós iríamos de trem ao custo de U$ 47,00 por
pessoa na ida e U$ 52,00 na volta. Estes valores se referem ao trem turístico da
operadora Perú Rail e é possível adquirir passagens mais baratas nos trens
tradicionais. O pacote vendido incluía também o hostel para uma noite na vila
de Águas Calientes e o transporte de volta a Cusco desde a estação de trem de
Ollantaytambo (de onde partem e chegam os trens), já que para ir faríamos a
conexão no tour do Vale Sagrado.
Entendam
que é possível comprar todas as passagens e entrada separadamente sem
necessidade de uma empresa de turismo como atravessadora, neste caso ficaria
bem mais barato e seria ainda necessário procurar um lugar para dormir em Águas
Calientes. Nós optamos por pagar um
pouco a mais pelo conforto de não precisar ficar correndo atrás de passagens e
hospedagem, que são bem concorridas, e precisam ser adquiridas com certa
antecedência, ou seja, trocamos um dia de procura por um preço mais salgado
para não ter dor de cabeça. Além do fato de que com a Expediciones Waynapicchu
negociando com o Hostel San Blas, ainda conseguimos deixar nossa mochila no
hostel, não pagar a estadia da noite em que estaríamos fora e voltar com o
quarto ainda reservado para o dia posterior, quando buscaríamos a bagagem e
partiríamos de Cusco.
Eram quase
9h30min da manhã quando uma senhora da empresa turística chegou no hostel nos
procurando para o Tour do Vale Sagrado (Alívio! Não fomos enganados e faríamos
o passeio... rs). Descemos a estreita rua do hostel até a Plaza San Bras, onde o micro-ônibus estava estacionado e para nossa
alegria o guia seria o excelente Jesus novamente. No ônibus nos foi entregue um
envelope com as passagens de trem e entradas para as ruínas de Machu Pichhu
para o dia seguinte.
Por ser
domingo nossa primeira parada foi em um mercado de artesanato nos arredores de
Pisac, chamado Willka Pukara. Existem
diversos mercados deste tipo na região e cada tour vai parar em um diferente.
Quase todos só funcionam terças, quintas e domingos, por isso estes são ótimos
dias para se visitar o Vale Sagrado.
Aline em Willka Pukara |
O mercado é
composto de várias barracas de roupas, tapetes e esculturas artesanais com uma
área verde entre elas. No centro algumas mulheres com roupas típicas estavam
sentadas com suas crianças e lhamas esperando turistas que queiram uma
fotografia.
É comum em
Cusco que pessoas e seus animais se ofereçam para fotos com turistas e cobrem
por isso. Não queríamos pagar pelas fotos então utilizei o zoom da máquina para
“roubar” umas cenas. Depois olhamos o mercado e no fim compramos um gorro e um
cachecol que iríamos levar de lembrança para parentes no Brasil (mas os preços
não são tão negociáveis no mercado quanto são nas ruas).
Deixamos Willka Pukara e paramos em uma loja onde
se manipula a prata e vende-se objetos do metal associados a pedras da região.
Ficamos aproximadamente 30 minutos na loja. Rapidamente o responsável pelo
lugar nos deu uma pequena aula de fabricação de objetos de prata e explicou
como diferenciar a prata verdadeira da falsa.
O resto do
tempo foi para olhar a loja e as peças de prata, além de poder usar o banheiro.
Não compramos nada, pois achamos tudo muito caro e voltamos ao ônibus.
Visitando loja de objetos de prata |
Colar em prata e pedra: Preços salgados |
Deixamos a
cidade para trás e subimos as montanhas em direção as ruínas incas. No caminho
uma rápida parada no Mirador Taray para
fotos do Vale Sagrado e da cidade de Pisac abaixo.
Foram mais 30 minutos subindo até as ruínas de Qantusraqay nos arredores
de Pisac, a 33 Km de Cusco, um complexo arqueológico no topo de uma colina. Jesus nos
explica que os incas consideravam as montanhas como lugares sagrados, por isto,
templos e cidades foram construídos no alto. O complexo arqueológico de Pisac
está a mais de 3000 metros acima do nível do mar. No passado Qantusraqay foi
uma cidade com bairros que eram unidos por túneis, plataformas e ruas.
O lugar estava cheio
de turistas e cada um com seu guia que sempre se mostrava para o grupo através
de alguma bandeira ou símbolo na mão. Jesus segurava sua sombrinha lilás bem
alto e assim víamos para onde nos deslocar e seguindo a sombrinha chegamos aos
gigantescos terraços agrícolas.
Os terraços de
Qantusraqay foram edificados com muros de pedra que lembram grandes
arquibancadas. Em cada degrau, produtos eram plantados, como milho e batata. O
formato das plataformas em degraus em inclinação servia, também, para proteção
contra inimigos e para irrigação, ao facilitar o curso da água através de
caminhos preferenciais em meio aos muros. Ainda hoje, plantam-se todos os tipos
de batatas na região.
Jesus seguia com seus
passos firmes e sua sombrinha lilás sempre nos incentivando com seus “adelante,
adelante”, mas andar na altitude requer bastante fôlego e não era nada fácil
segui-lo. Em certo momentos ele parava sinalizava com sua sombrinha e assim que
o grupo o alcançava seguia com seu mantra “adelante, adelante” cruzando os
terraços agrícolas.
Paramos novamente na
base de uma pequena colina onde pode-se ver diversos buracos na encosta da
montanha atrás dos terraços. Jesus nos explica que na cultura inca
enterravam-se os corpos de agricultores, trabalhadores braçais e do povo comum
em buracos nas paredes das montanhas, como forma de que repousarem em paz no
seio da Pachamama. Os nobres e líderes religiosos eram enterrados no Templo do
Sol de Qoricancha.
Diante de nós estava
a maior necrópole do império inca chamada Tankana
Marka, mas infelizmente este grande cemitério teve muitas múmias saqueadas
pelos espanhóis em busca de ouro e outros metais preciosos.
Neste ponto aqueles
que queriam descansar e ficar aguardando poderiam esperar enquanto os demais
subiriam as escadarias e rampas na encosta da colina a frente em direção as
construções na parte alta de Qantusraqay. Muitos ficaram por ali mesmo. Nós
subimos seguindo o Jesus que ia nos incentivando com seu mantra “adelante,
adelante, ariba, ariba”.
Subindo e descansando entre as ruínas |
No alto da colina um
conjunto de construções que no passado serviam, também, como observatório
astronômico. Jesus nos explica que pesquisadores acreditam que a cidade começou
como um posto militar para combater invasores, mas virou um centro cerimonial,
agrícola e residencial, sendo povoada desde o século X. Tivemos um tempo para
descansar da subida (que na altitude é extremamente cansativa) e aproveitamos
para registrar tudo em fotos. Um mirante permite uma vista privilegiada do vale
sagrado a frente.
Descansando da subida |
O topo da colina |
Ao fundo o Vale Sagrado dos Incas |
Ficamos em Pisac
durante 1h30min e depois seguimos em direção a Urubamba para almoçar. Urubamba
é um povoado simples e sem graça. Não há nada turístico para se ver por lá,
apesar de que os veículos adaptados em motos com cabines são bastante curiosos
para nós brasileiros, mas muito comuns nos povoados pequenos nos Andes.
Urubamba |
Triciclo comum nos Andes |
O ponto turístico é
na verdade o restaurante, pois faz parte do tour o almoço com comida típica
peruana. O restaurante ILLARY era simples, bonito, limpo e organizado. Eu não
gosto muito de comidas típicas e admito que minhas viagens não são nada
gastronômicas, portanto para mim é bem difícil comer fora, pois não gosto de
experimentar nada estranho ao meu paladar. Na entrada você recebe um
“passe-livre” (já que o almoço foi pago previamente, junto com o passeio) que é
entregue na saída e caso queira bebidas, é só pedir ao garçom e pagar
diretamente a ele.
Interior do Illary |
O bufet é bem variado
e carregado na comida, come-se o quanto e quantas vezes aguentar. Eu comi bem
pouco, já que não tinha nada que sabia o que era, mas Aline experimentou a
culinária peruana e no fim reclamou que tudo é muito temperado. Os doces também
estavam inclusos e neste ponto comi melhor. No fim ainda provamos pela primeira
vez uma Inka-Kola, famosa fórmula da Coca-Cola no Peru. Pela primeira vez no
Peru o refrigerante veio gelado, pois até aqui todas as garrafas que compramos
estavam expostas em prateleiras, não sendo costume local a refrigeração.
Restaurante Illary |
Experimentamos a famosa Inka Kola: Nada de mais! |
Nossa próxima parada
foi o no povoado de Ollantaytambo, erguido no final do século XV, a 78 km de
Cusco. A cidade é habitada até hoje por nativos indígenas e logo que o ônibus
parou nos deparamos com mais uma grande feira de artesanato local. Desta vez
passamos direto, pois já estávamos cheios de ver os coloridos tecidos peruanos.
Diante da praça está a Igreja de São Tiago Apóstolo, que estava fechada.
Atravessamos o
povoado e seguimos para o Parque Arqueológico de Ollantaytambo. Nos reunimos
logo na entrada ao redor de Jesus com sua sombrinha lilás erguida. O guia nos
explica que este povoado é o único que manteve tantas características
primariamente pré-colombinas. As casas têm fundações incas originais, que foram
conservadas e aproveitadas pelos espanhóis, somente os segundos andares
correspondem à arquitetura colonial dos invasores.
De baixo se vê todos
os terraços e plataformas que aproveitam a inclinação da montanha na construção
e os infinitos degraus que seguem até o alto.
Ao fundo Jesus com seu chapéu redondo e sua sombrinha lilás conduzindo o grupo para os degraus |
Nós contornamos a
montanha até a parte de trás onde estão as salas ao redor de Ollantaytambo, que
eram destinadas aos sacerdotes. No local existe uma fonte de água que fazia
parte de um templo.
Nós subíamos pouco a
pouco os degraus das escadas ao som do “ariba, ariba” de Jesus que nos reunia
abanando sua sombrinha lilás e parávamos nas plataformas para ouvir suas explicações.
Ele explica que o nome do lugar faz referência a um general inca, Ollanta, que
se casou com a filha do 9º imperador Pachacútec. O complexo foi construído
sobre duas montanhas e caracteriza-se pelas enormes pedras de até 60 toneladas
trazidas de outros áreas e talhadas no local. Em posição estratégica,
Ollantaytambo abriga a fortaleza de Araqama
Ayllu no topo da montanha. Esta fortaleza ficou famosa na história peruana,
devido à maior vitória inca sobre os espanhóis, antes da conquista da cidade em
1537.
Fortaleza no topo da montanha |
Mais
uma subida ao som de “adelante, adelante, ariba, ariba” de Jesus e paramos em
uma plataforma de onde é possível ver na montanha a frente o formato de um
rosto inca naturalmente esculpido nas rochas.
O rosto esculpido pela natureza na montanha |
O guia aponta
construções nas encostas da montanha diante de nós e explica que o lugar era um
depósito de alimentos e que um complexo sistema de ventilação servia de
refrigerador natural e a posição estratégica protegeria os alimentos no caso de
enchurradas e enchentes causadas pelas chuvas andinas. O rosto na montanha
chama-se Tubupa e era considerado o guardião dos alimentos ali produzidos,
que eram guardados na construção em suas costas.
O rosto Tubupa e o local de estoque de alimentos |
A montanha adiante e suas construções |
Subimos mais e a
altitude já nos deixava bem cansados. Jesus para diante de grandes paredões de
pedra montados em seis grandes rochas que foram trazidas até este ponto
utilizando técnicas de movimentação com rampas. O guia explica que estas
paredes seriam do Templo do Sol que ficou inacabado com a chegada dos espanhóis.
O visual compensa o cansaço da subida |
Deste ponto em diante
não mais acompanhamos o tour, pois tomaríamos o trem para águas Calientes as
16h35min na estação de Ollantaytambo e precisávamos descer as ruínas e
atravessar o vilarejo para tomar o trem. Nos despedimos do guia e do grupo e
voltamos sozinhos. No caminho de volta paramos poucas vezes para fotos nas
ruínas.
Despedida de Ollantaytambo |
O tour do Vale
Sagrado não termina em Ollantaytambo, seguindo depois para Chinchero, a 30 km
de Cusco. O principal atrativo é a visita externa a uma igreja histórica e o
mercado de artesanato, então achamos que não perdemos muita coisa fazendo a
conexão para Machu Picchu sem ir a Chinchero.
Descendo das Ruínas
de Ollantaytambo cruzamos a praça e o rio Patakancha que divide o povoado,
seguindo por mais cinco minutos até a estação onde iríamos tomar o trem
turístico da Perú Rail para Águas Calientes que é a cidade base para a subida a
Machu Picchu.
Trem para Águas Calientes |
O trem turístico é
bem confortável, com uma mesa cercada por dois lugares de cada lado (uma dupla
de frente e outra de costas para o trajeto) e janelas grandes que possibilitam
ver a paisagem muito bem. Procuramos nossos lugares que eram os últimos no
fundo do vagão de costas para a parede. Diante de nós um casal, e uma das
vantagens do trem turístico é que é fácil fazer amizades nele, já que se divide
a mesa com uma dupla de frente.
O trajeto dura
1h30min ao todo e no percurso é servido um pequeno lanche, com suco, biscoitos
e um docinho. Rapidamente fizemos amizade com o casal à frente. Ele um
brasileiro de são Paulo e ela uma Argentina de Buenos Aires, estavam vindo de
Copacabana na Bolívia e depois iriam para o norte do Peru. Infelizmente não e
recordo os nomes agora e no fim não trocamos contatos. A viagem foi bem
tranquila, pois fomos conversando sobre a viagem e os roteiros que estávamos
fazendo. Em algum momento um grupo de chilenos que estava na mesa ao lado
entrou na conversa e fomos todos nós em alto astral até o fim.
No caminho as
paisagens são bem bonitas pela janela, passando próximos a picos nevados.
Nuvens negras cercaram o trem e ficamos um pouco preocupados em pegar chuva em
Machu Pichhu, pois estávamos no início do mês de março e é época de chuvas na
região, apesar de que até este momento havíamos dado sorte e não pegamos tempo
ruim nem em Lima nem em Cusco.
Paisagem pela janela |
Picos nevados e nuvens pesadas na paisagem |
Chegamos em Águas
Calientes as 18h05min , na estação uma senhora nos aguardava com uma placa com
nossos nomes escritos (tudo acertado pela agência). Nos apresentamos e ela nos
conduziu até o Hostel Wayra Classic, onde estava nossa reserva.
Águas Calientes é uma
cidade dormitório onde o turista fica no máximo uma noite antes da subida as
famosas ruínas de Machu Pichhu, com isso tudo no lugar gira em torno disto. Os
hotéis são preparados para receber os hóspedes e liberá-los nos horários dos
trens. O Wayra Classic era bem simples e a menina da recepção não tinha o
mínimo preparo para lidar com turistas, não sabendo falar inglês ela se
enrolava toda para atender um grupo de rapazes europeus. A recepção contava
apenas com um sofá diante de uma parede com um grande mapa turístico da região.
As acomodações para uma noite também eram super simples, mas confortáveis.
Saímos para comer
alguma coisa e demos uma caminhada pelas ruas cheias de turistas e suas
mochilas. Se até esse momento eu tinha imaginado Águas Calientes como sendo uma
pequena e aconchegante cidadezinha do interior, a minha primeira impressão do
lugar mudou tudo. Águas Calientes é uma cidade bem pequena e confusa, com ruas
estreitas e cheias de hotéis e lanchonetes com letreiros luminosos. Fiquei com
a impressão de estar em um tipo de Chinatown hollywoodiana. Existem infinitas opções de culinária, mas
resolvemos comer um sanduíche e voltar para o hostel, pois acordaríamos cedo no
dia seguinte. Estávamos ansiosos por estar tão próximo de Machu Pichhu.
Totem na rua de Águas Calientes |
Gastos
para 2 pessoas em 09/03/2014:
-
Soroche pills (2 comprimidos): S./ 4,00
- Artesanato local: S./ 25,00
- Inca
Kola: S./ 5,00- Artesanato local: S./ 25,00
- Água e biscoito: S./ 9,50
- Jantar: S./ 27,00
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