domingo, 24 de agosto de 2014

Lima


Partimos do Rio de Janeiro, em 06 de março de 2014, no voo de 16h15min do Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim (Galeão) em direção a Guarulhos/SP onde fizemos uma escala. O voo até São Paulo durou 1h10min e tivemos que esperar até as 19h40min quando finalmente embarcamos para Lima no Peru. Desembarcamos no Aeroporto Internacional Jorge Chavez as 22h55min já no fuso horário de 2h a menos que no Brasil.




No aeroporto fizemos o cambio de U$100 (252,20 nuevos soles peruanos) tomamos um táxi para a Av. Larco nº 655 no bairro de Miraflores, onde havíamos reservado previamente um quarto no Kusillus Hostel (única hospedagem reservada do Brasil, pois todas as outras foram procuradas no momento em que chegávamos as cidades). Nos animamos muito com o fato de ter gente caminhando pelas ruas apesar de já passar de meia noite quando chegamos ao Hostel.


1º Dia no Peru (dia 1 do mochilão)


No dia 07 de março acordamos cedo, pois só teríamos um único dia em Lima e a ideia era conhecer toda a cidade, ou pelo menos, todos principais pontos turísticos. Hoje vejo que foi uma grande ilusão achar que conheceríamos toda a metrópole em um dia, mas fomos enganados por diversos relatos que diziam que nada havia para ver em Lima.




Ainda no Hostel pegamos um mapa da cidade e informações de como circular por ela. Tomamos um ônibus na avenida diante do hostel em direção ao centro histórico e após uns 40 min de viagem descemos a umas quadras de distância da Praça de Armas.



Aline na recepção do Kusillus Hostel

Nossa primeira parada foi na Igreja de Santa Rosa de Lima, a primeira santa das Américas, que na verdade se chamava Isabel Flores y Oliva, mas que devido a sua beleza teve o nome trocado para “Rosa”. Nascida em Lima no ano de 1586 e filha de pais ricos que perderam tudo com a falência de uma indústria de mineração, ela conheceu a pobreza de perto e passava pimenta no rosto para disfarçar sua beleza e dispensar os pretendentes.

 
Igreja de Santa Rosa de Lima

Santa Rosa de Lima


Em idade de se casar, fez o voto de castidade e entrou para a Ordem Terceira Dominicana, contra a vontade dos pais. Construiu uma cela estreita e pobre no fundo do quintal da casa dos pais e passou a jejuar constantemente e a usar uma coroa de metal com pregos e coberta de rosas, além de uma corrente de ferro na cintura que era presa por um cadeado cuja chave foi atirada em um poço para que nunca se soltasse dela.



Quarto original construído por Santa Rosa


Em vida trabalhou incansavelmente pelos pobres de Lima e já era chamada de “Santa” pela população que a ela atribuía muitos milagres. Contam as histórias que o demônio veio tentá-la entre os galhos de um limoeiro onde costumava rezar, próximo a capela e depois este limoeiro secou e permaneceu dando frutos, mesmo aparentemente morto. Depois de seu falecimento, no ano de 1617, a população levava os galhos do limoeiro como lembrança de seus milagres até que a árvore foi totalmente destruída, restando apenas um tronco seco que hoje é exposto nos jardins do Santuário.

 
Tronco do limoeiro que mesmo seco dava frutos

O Santuário compreende a área da casa onde ela nasceu, a igreja, um jardim de limoeiros e o poço onde ela atirou a chave da corrente que usava na cintura. Neste poço os devotos atiram cartas com pedidos a Santa Rosa de Lima.

 
Jardins de Santa Rosa de Lima

Limoeiros no jardim

Convento na antiga casa de Santa Rosa


Poço onde Santa Rosa atirou as chaves de sua corrente
Gostamos muito da visita ao Santuário e aproveitamos para fazer uma oração pela viagem que se iniciava e deixar nossos pedidos em pedaços de papel que foram para o fundo do poço.

 
Aline deixando seu pedido no poço

Saindo do Santuário de Santa Rosa de Lima, seguimos para a Plaza de Armas. No caminho nos deparamos com um grande casarão colonial onde funciona o Centro Cultural Inca Garcilaso de La Vega. Logo na entrada um simpático rapaz vem nos explicar que não existe nenhuma exposição no Centro Cultural e que o mesmo funciona como biblioteca e centro de estudos universitários. Acho que ao perceber nosso interesse de conhecer o local e as histórias que envolviam o casarão, o rapaz então começa a nos explicar que o casarão foi construído entre os anos de 1798 e 1808 e que de sua torre redonda podia-se avistar o mar e os navios que chegavam em Lima com mercadorias.



Centro Cultural Inca Garcilaso de La Vega

Ficamos um bom tempo conversando com o rapaz que nos explicou a relação delicada da população com os terremotos em todo Peru. Ficamos muito interessados no assunto, pois nunca sentimos um tremor de terra na vida. Ele nos explicou que de tempos em tempos Lima é devastada por um terremoto e por isso não se vê muitas construções antigas na cidade apesar de ela ter sido fundada no ano de 1535. Nos falou dos grande terremotos, como o de 1650, mas em especial o de 1746, que seguido de uma tsunami matou mais de 25.000 pessoas na costa peruana. Brincando ele nos fala para não nos preocupar, pois os maiores terremotos peruanos ocorrem a cada 100 anos aproximadamente e que o último foi em 1950, portanto estaríamos a salvo da destruição completa da cidade novamente até meados de 2050. Nos despedimos mas seguimos nosso caminho ainda preocupados com os terremotos.


Aline com a miniatura do Centro Cultural

Um pouco mais a frente chegamos as Basílicas de Rosário e de Vera Cruz, além do Convento de Santo Domingo.

 
Basílica de Rosário, de Vera Cruz e Convento de St. Domingo

Apesar de o altar principal da Basílica do Rosário estar em restauração achamos que valeu muito a parada para as fotos. Em um dos altares secundários uma surpresa no mínimo estranha: os crânios de Santa Rosa de Lima e de São Martim dos Pobres estão expostos como relíquias para o povo.

 
Basílica do Rosário

Relíquia de San Martin de Pobres

Relíquia de Santa Rosa de Lima



A Basílica de Vera Cruz encontra-se na lateral do complexo e possui diversos altares, todos impressionantes.

 
Basílica de Vera Cruz


Bonito altar da Basílica


Seguimos mais alguns metros e passando pela bonita fachada da Casa de La Gastronomia Peruana chegamos a famosa Plaza de Armas de Lima.

 
Casa de La Gastronomia Peruana

A Plaza de Armas é lindíssima com seus jardins bem cuidados e em seu entorno encontra-se três dos edifícios mais importantes da época colonial da cidade: a Catedral de Lima, o Palácio do Governo e a Municipalidade de Lima.




Jardim da Plaza de Armas


No centro da praça encontra-se um grande e imponente chafariz. As construções ao redor remetem aos séculos XVII e XVIII e estão muito bem conservadas. Pode-se facilmente ver as tradicionais varandas fechadas de madeira que contribuíram para que a UNESCO declarasse o Centro Histórico de Lima como Patrimônio da Humanidade em 1988.

 
Plaza de Armas de Lima


Casarões ao redor da praça


No Palácio do Governo (que foi casa de Francisco Pizarro, fundador de Lima) ocorre diariamente as 11h45min a cerimônia de troca da guarda. Acompanhamos com atenção a cerimônia com uma banda que tocava enquanto ocorria a troca do batalhão dos Húsares de Junin no Pátio de Honra. A praça fica lotada de turistas e conseguir ver de perto é quase uma façanha.

 
Palácio do Governo

A Catedral, de 1746 (reconstruída após o grande terremoto), ocupa o mesmo lugar do edifício original de 1555. Infelizmente estava fechada e não pudemos visitar o interior onde encontra-se a tumba de Francisco Pizarro, fundador da cidade. Ao lado da Catedral está o Palacio Arzobispal que data de 1924 e possui uma fachada imponente com belos balcões de madeira.


Catedral de Lima



Palacio Arzobispal ao lado da Catedral

Deixamos a praça em direção ao Rio Rimac e a ferrovia, onde se encontra a antiga Estação dos Desamparados, atual Casa de Literatura Peruana atrás do Palácio do Governo.

 
Casa de Literatura e antiga estação dos Desamparados


Estação dos Desamparados


A estação já não funciona a tempos e a ferrovia atrás do prédio estava em reformas. O prédio funciona como uma importante biblioteca e centro de estudos. Possui uma bela arquitetura com grandes pilares e um bonito vitral no teto. As escadarias ostentam a cultura peruana com frases em cada degrau.

 
Eu na Casa de Literatura Peruana


Aline entre os pilares


Literatura até nas escadas


Uma parada rápida para comer umas empanadas e seguimos para o Parque da Muralha, que abriga os restos da enorme muralha que existiu ao redor de toda a Cidade Velha e que servia como proteção contra invasões de piratas na época colonial. A entrada é gratuita.

 
Parque da Muralha


Diante das ruínas das muralhas de Lima


Saindo do Parque da Muralha é só atravessar a rua e logo a frente está a Igreja e Convento de São Francisco de Assis, datados no século XVI. O convento que já abrigou 300 frades possui hoje 35 religiosos enclausurados. A visita guiada custa sete nuevos soles por pessoa, dinheiro que ajuda a manter as atividades do convento.



Eu diante do complexo de São Francisco de Assis


Essa foi nossa primeira experiência com guia em espanhol e na verdade foi bem ruim. A guia falava super rápido e não dava tempo para nenhuma pergunta. Achamos ela péssima como guia turística e a única vantagem de segui-la era que ao terminar de falar ela simplesmente se virava e seguia adiante nos deixando correr atrás dela, com isso pude tirar algumas poucas fotos das famosas catacumbas, apesar da proibição.


No ano de 1535 a cidade de Lima já tinha uma capela erguida em uma área destinada à Ordem Franciscana, mas foi por volta do ano de 1570 que ela foi ampliada com a construção do convento. No entanto, o conjunto original de igreja e mosteiro foi arrasado pelo terremoto de 1655. A reconstrução do complexo começou dois anos depois, ficando a igreja concluída em 1672 e o convento apenas em 1729.


O início da visita nos leva á biblioteca onde existem mais de 25000 livros. Neste espaço com piso decorado e teto com aberturas para entrada de luz natural (não se usavam velas para ler por conta do risco de incêndio) estão guardadas obras raras que datam do século XV e exibem letras cuidadosamente desenhadas em Francês, Castelhano Antigo, Português, Quéchua, entre outras, além de mapas, pergaminhos e crônicas franciscanas. Não foi possível uma foto no local L


O Coro do Convento chama atenção pelo mobiliário com 130 cadeiras, dispostas uma ao lado da outra e encostadas nas paredes. Cada cadeira é decorada com figuras e santos entalhados na madeira de cedro. Outras salas do convento, como a Sala Capitular, possuem o mesmo tipo de decoração, mas também não foi possível uma foto no local sequer.


Finalmente rumamos em direção das famosas catacumbas do convento. No passado essa área era um cemitério destinado aos religiosos, mas serviu como descanso eterno de vários políticos e figuras importantes de Lima. Nos subterrâneos as ossadas não se encontram separadas em gavetas ou túmulos distintos e sim misturadas umas às outras em tumbas abertas que atingem até quatro metros de profundidade entre paredes de pedra nua e tetos baixos. Os ossos estão expostos separados em crânios, fêmures, bacias e outros. Também existem câmaras mortuárias abertas entre portais de pedras nas paredes cheias de ossos amontoados. Nesse ponto nossa guia ligeira se afastou e eu pude registrar em uma foto rápida no celular uma das câmaras.

 
Catacumbas do convento de São Francisco

Mais adiante um enorme fosso em forma de círculo atrai nossa atenção com um estranho e macabro arranjo de ossos no fundo. Mais uma vez consegui uma foto rápida.

 
Fosso com ossada

Deixamos o complexo de São Francisco impressionados com o lugar. Com Certeza vale a visita e caminhamos em direção a Plaza Bolívar diante do prédio do Congresso Nacional, mas o lugar estava cercado e fechado para alguma comemoração festiva, pelo mesmo motivo não pudemos visitar o Museo de La Inquisición ao lado.

 
Congresso Nacional do Perú

Caminhamos em direção ao ponto de ônibus e passamos diante da bonita Igreja do Coração de Jesus, que estava fechada. No caminho passamos em um banco e fizemos o cambio de mais U$ 300,00 em S./ 810,00 (melhor cambio que no aeroporto).

 
Igreja do Coração de Jesus

Deixamos o centro histórico de Lima em um ônibus com rumo a Huaca Pucllana, uma ruína pré-inca, construída pelos Wari e cercada pela civilização moderna nos arredores de Miraflores.

 
Huaca Pucllana

Considerado um dos mais importantes centros cerimoniais da cultura de povos pré-hispânicos, Huaca Pucllana destinava-se a adoração aos deuses e sacrifícios sagrados na sociedade Wari (200 e 700 d.c.). O sítio arqueológico impressiona pela construção de uma pirâmide de 25 metros de altura erguida com adobe em uma área que chegou a ter 20 hectares.

  
Pirâmide de Huaca Pucllana


Aline e eu no sítio arqueológico

 A visita guiada acontece todos os dias (exceção as 3º feiras) e custa 12 nuevos soles. Huaca Pucllana foi descoberta em meio a escavações para ampliação de Mirafores, tendo inclusive uma parte destruída por ruas que cortam o complexo arqueológico hoje em dia. Arqueólogos estimam que o espaço do templo, cuja maior parte ainda encontra-se soterrada, deva compreender alguns quarteirões do entorno. As escavações ainda acontecem no local, mas infelizmente os edifícios de Miraflores já estrangularam as ruínas, que na década de 80 chegaram a ser usadas como pista de MotoCross. Percorremos o local e subimos a pirâmide central de onde se tem uma boa vista de Lima.



Huaca Pucllana com Lima ao redor




Huaca Pucllana vista de cima da Pirâmide


Visitamos as tumbas Wari, onde foram encontrados restos humanos em posição fetal e itens que pertenceram ao antigo povo.

Tumba Wari original com representação de uma múmia

Com a queda do povo Wari o local foi habitado pelos Ychsma (1000 a 1470 d.c.). Ao longo do percurso existem diversas maquetes com representações da cultura e rituais dos povos Wari e Ychsma.

 
Representação de ritual Wari

Representação de ritual Ychsma


O local abriga um museu que conserva peças encontradas durante as escavações.


Objetos Wari no museu

O sol já começava a baixar quando saímos de Huaca Pucllana e o fim do dia estava próximo. Decidimos acompanhar o pôr do sol no mar do Pacífico, até então inédito para nós!


Saímos um pouco apressados das ruínas e corremos para pegar um ônibus lotado com gente saindo do trabalho. O transito de Lima é assustador e os motoristas fazem barbaridades ao volante.

Paramos no Parque do Amor, em Miraflores, com seus mosaicos com temas para os apaixonados. No centro do parque uma escultura com um casal se beijando dá o tom do lugar.


Escultura "El Beso" no Parque do Amor



Mais à frente o Farol de Lima que é datado de 1900. Do farol se pode apreciar à praia mais abaixo na paisagem e apesar de Lima ser uma cidade litorânea as praias não são convidativas, com pedras no lugar da areia e mar poluído.

Farol de Lima

Praia pedregosa

Perto do fim do dia chegamos ao Shopping Center Larcomar, inaugurado em 1998 com um conjunto de lojas chiques e restaurantes sofisticados, além de diversos bares.

 
Aline no Larcomar

Uma coisa interessante em Lima é que apesar de ter praia, a cidade está a 154 metros acima do nível do mar e o motivo disso pode ser visto facilmente do Larcomar: o oceano e a Avenida Costa Verde estão na base de um penhasco que parece segurar a planície que sustenta a cidade.

 
Desnível entre Lima e o Mar do Pacífico


Mar em Miraflores


Nosso primeiro pôr do sol diante do mar do Pacífico foi lindíssimo e ficamos ali admirando o fim de nosso primeiro dia de mochilão por um bom tempo.

 
Fim do dia


Aline e eu


Pôr do sol em Lima


O Larcomar é um shopping a céu aberto com as escadas rolantes, corredores e parte central ao ar livre que se debruça sobre o mar na encosta de Lima. Não é meu tipo de turismo ir ao shopping, mas a paisagem vale a visita.


Vista noturna a partir da praça de alimentação do shopping


Demos uma volta no shopping e achamos o lugar meio caro para comer ou fazer compras. No fim, jantamos no Pizza Hunt que tinha preços compatíveis com os que costumamos pagar no Rio de Janeiro.

 
Aline no Shoping Larcomar

Voltamos andando por Miraflores em direção ao Hostel. Vimos o calçadão de Miraflores e nos apaixonamos pela cidade de vez. O lugar tem parques, praças, jardins, quadras de esportes, ciclovias e pistas para correr que se estendem ao longo de quilômetros.


De volta ao Hostel ficamos com a sensação de que precisávamos de muito mais tempo em Lima, pois teríamos que pegar o voo para Cusco na manhã seguinte e não conseguimos conhecer muita coisa na cidade. Gostaríamos de ver o Espetáculo das Águas, o Parque Central e muitos outros pontos que são recomendados por todos. Esta é uma boa dica que deixo para quem estiver planejando uma ida à Lima: Não acredite em quem fala que a cidade não tem nada para fazer e que deve-se ficar pouco tempo e ir logo para Cusco. Isto é uma mentira absurda, porque a cidade é linda e tem muita coisa para conhecer. Vale ficar dois dias por lá.


Gastos para 2 pessoas em 07/03/2014:

- Hostel: U$ 48,00
- Táxi aeroporto x hostel: S./ 60,00
- Ônibus (3 viagens pela cidade): S./ 8,00
- Água: S./ 4,40
- Museu de São Francisco: S./ 14,00
- Lanche: S./ 13,30
- Huaca Pucllana: S./ 24,00
- Jantar: S./ 31,90


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