sábado, 6 de dezembro de 2014

San Pedro de Atacama: Valle de La Luna y de La Muerte


3º Dia no Chile (dia 11 do mochilão)

Eram 6h30min quando o ônibus chegou ao seu destino na cidade de Calama. Ainda estava bem escuro, pois o sol nasce mais tarde do outro lado da Cordilheira dos Andes, no deserto chileno.


Não estávamos em uma rodoviária e sim na “garagem” da empresa de ônibus Frontera Del Norte. Na verdade era um tipo de rodoviária particular, com guichê de venda de passagens e tudo. O motorista do ônibus nos informou que seria outro veículo que faria o trajeto até San Pedro, mas que poderíamos esperar no próprio ônibus até as 8h da manhã, horário de nossa passagem.


Deitei no banco do ônibus e continuei dormindo por mais 1h30min com o veículo parado na garagem. As 8h fomos chamados para a troca de ônibus. Pegamos as mochilas e embarcamos no veículo que estava parado a frente, que seguiria para San Pedro.


Para quem estiver indo para o Atacama eu aconselho comprar a passagem casada já com a parada em Calama (não existiam passagens diretas quando estivemos por lá). A Frontera Del Norte possui ônibus semi-leitos bem confortáveis para uma noite de sono e nos trataram super bem deixando-nos dormir no veículo até a hora do novo embarque. Fica a dica... rs


Deixamos a cidade e seguimos para o deserto viajando no segundo andar do ônibus, nos bancos de frente para o parabrisa dianteiro, com toda a visão da estrada aberta a nossa frente.




Rumo a San Pedro de Atacama


Nos arredores de Calama a estrada cruza por grandes “cata-ventos” que servem para geração de energia eólica, que alimenta parte da cidade. Achei altamente louvável a atitude chilena de implantar um parque eólico para aproveitar a energia dos ventos e diversificar sua matriz energética com uma geração renovável e limpa.

 
Estrada Calama x San Pedro
 
Geração de energia eólica em Calama



O trecho entre Calama e San Pedro de Atacama é bem curto e se percorre em menos de 1h30min, chegando a pequena rodoviária de San Pedro as 9h30min. Junto a rodoviária existe uma feira de artesanato e um centro de informações turísticas. Pegamos um mapa e seguimos andando até o centro da cidade, que é bem perto.

 
Ruas de San Pedro de Atacama

Fomos buscar um hostel para nos acomodar e entramos em alguns pelo caminho, mas muitos estavam sem vagas e outros tinham valores bem acima do que queríamos pagar. No final da principal rua do vilarejo encontramos um que estava dentro do que procurávamos. Com uma fachada simples de adobe e bem rústico o Puritama Hostal (Calle Caracolles, 113 - hostalpuritama@sanpedroatacama.com) atendeu bem nossas expectativa. O lugar possui três opções de acomodações: Rústicas (banheiro coletivo), modernas (banheiros privados) e camping. Não serve desjejum, mas possui estrutura de cozinha para quem quiser preparar o seu lanche. Pegamos um quarto simples sem banheiro.

 
O rústico Puritama Hostal

Tomamos um banho no banheiro coletivo do camping que era bem cuidado e sempre limpo e seguimos para as ruas de terra de San Pedro de Atacama que é uma cidade minúscula, de casas simples com apenas três mil habitantes fixos. Paramos para comer alguma coisa (passar a noite no ônibus tem o lado ruim de não ter um desjejum quando se acorda) e aproveitamos para trocar dinheiro em uma casa de câmbio.

 
Diante da praça de San Pedro

Pelas ruas muitas lojas, restaurantes, agências de turismos, casas de câmbio e principalmente turistas com suas mochilas cargueiras nas costas. Apesar da simplicidade, a cidade é bem inflacionada e tudo parece ser bem mais caro nela. Estávamos caminhando pela rua principal e esbarramos com o Vinícius, o brasileiro que havíamos conhecido em Arica. Contamos que ficamos preocupados com ele já que havia descido do ônibus na costa em meio ao alerta de Tsunamis e ele contou que chegou ao hotel com tudo deserto sem saber do risco, mas que não houve nenhum incidente pior. Procuramos juntos algumas agências para os passeios e acabamos fechando com a Latchir Expediciones (Calle Caracoles, 254 – www.expedicioneslatchir.cl).

Conhecendo a simpática San Pedro

O primeiro passeio que faríamos seria para o Vale de La Luna e Vale de La Muerte que sai diariamente as 16h em qualquer agência. É uma ótima opção para o dia em que se chega a San Pedro, pois o horário mais tardio permite que se descanse e conheça a cidade antes. A Latchir nos cobrou $ 10.000 pesos chilenos por pessoa e informou que teríamos que pagar uma taxa de $ 2.000 por pessoa na entrada do Vale da Lua. Negociamos os demais passeios para os outros dias e no fim fechamos um pacote onde o tour à Laguna Cejar (que faríamos no último dia) saiu de graça com o desconto total do pacote! Aconselho muito que quem estiver interessado em passeios pelo Atacama negocie nas agências, pois é possível ótimos descontos como este.

 
A linda San Pedro de Atacama

Aline e eu aproveitamos o tempo livre para conhecer a pequena igreja de São Pedro do Atacama. Datada de 1774, foi construída pelos jesuítas espanhóis antes da fundação da cidade no lugar onde em 1557 havia sido celebrada uma missa para catequização dos aborígenes. Com paredes de adobe e teto de cardón (madeira de cacto) possui um altar simples e super simpático em seu interior.

 
Iglesia de San Pedro de Atacama
 
Altar simples e teto de madeira de Cacto




Caminhamos pelas ruas de terra e aproveitamos para deixar nossas roupas sujas em uma lavanderia. Almoçamos e descansamos no hostel um pouco, até que as 16h estávamos na Latchir para início do tour pelo Valle de La Luna.

 
San Pedro de Atacama: Ao fundo o Vulcão Licancabur

Embarcamos em uma van e seguimos com um guia e um grupo de turistas latinos pelo meio do deserto, sempre com belas paisagens pela janela.

 
Oásis visto pela janela da van

A primeira parada é em um lugar conhecido como Valle de La Muerte, situado na região mais árida do Atacama, a pouco mais de 3 Km de distância da cidade.

 
Valle de La Muerte
 
O impressionante Vale da Morte




De cima de um planalto de pedra podemos observar todo o vale abaixo, que apesar do cenário de desolação é de uma beleza indescritível com diversas depressões nas rochas vermelhas do solo.

 
Aline e o Vale da Morte de areias vermelhas

O guia explica que existem diversas lendas e teorias para a origem do nome do lugar, incluindo a de que um explorador espanhol havia encontrado ossadas que o levaram a acreditar que este era um local para onde os antigos iriam para morrer ou realizar sacrifícios, mas que na verdade o nome original era Vale de Marte e foi dado por um padre espanhol, pois a paisagem de terra rubra e terreno acidentado se assemelha a do planeta vermelho, mas que com o tempo o sotaque dos indígenas transformou o nome de “Marte” para “Morte”.

 
Vale da Morte ou Vale de Marte
 
Paisagem lembra o planeta Marte



Tivemos pouco tempo para fotos, pois logo seguimos adiante pela estrada que cruza o deserto em direção a uma das mais famosas paisagens do Deserto do Atacama, o Valle de La Luna.

 
Estrada no deserto

A entrada na região do vale é paga em separado e muita gente chega de bicicleta, pedalando os cerca de 19 Km que a separam San Pedro, em meio a poeira, em bikes alugadas.

 
Chegando ao Vale da Lua




Paramos em um ponto estratégico de onde se podia ver o vale abaixo, mais ou menos como no Valle de La Muerte.

 
Valle de La Luna




O Valle de La Luna é formado por uma paisagem acidentada, com diversas formações geológicas, de rocha e areia. Situado na região da Cordilheira de Sal seu aspecto ganha um tom acinzentado fazendo com que todo o lugar se pareça com a paisagem lunar.

 
Paisagem lunar no meio do Atacama

No mirante onde paramos fica uma surpreendente formação rochosa conhecida como “Pedra do Coiote”. O guia explica que o nome se dá devido ao desenho animado da Warner Bros onde o Coiote tentar pegar o Papaléguas e sempre termina em uma pedra pontiaguda sobre o precipício que, no desenho animado, se quebra fazendo com que o Coiote caia e o Papaléguas fuja. Realmente a pedra é exatamente igual a da animação.

 
Aline na Pedra do Coiote
 
Pedra do Coiote igual a do desenho animado - ainda bem que não quebrou...



Apesar de já passar das 17h o sol e o calor eram castigantes no deserto chileno. Ficamos ali admirando o céu azul se encontrando com uma infinita vastidão de rochas, areia e dunas dos mais variados tons.

 
Admirando a paisagem desértica
 

Um pouco do verde e amarelo brasileiro no vermelho deserto chileno



Ao fundo na paisagem é possível distinguir a cordilheira de montanhas que separa o Chile da Bolívia e o famoso Vulcão Licancabur na fronteira dos dois países. Com o zoom da máquina consegui uma boa foto da face chilena do vulcão, lembrando que do outro lado está o Deserto de Dali, uma continuação boliviana do Atacama, pois apesar de a natureza não reconhecer fronteiras, o homem as demarca dando diversos nomes para o mesmo bioma nos diferentes países. Com isso o Deserto de Atacama chileno é nomeado “Deserto de Ica” no Peru e “Deserto de Salvador Dali” na Bolívia.

 
Vulcão Licancabur na divisa com a Bolívia

Voltamos à van e descemos um trecho de estrada onde o guia explica que dali em diante andaríamos a pé, em uma caminhada leve, pelo deserto.

Caminhada nas areias do deserto

Caminhando sobre um sol “escaldante” descemos pelas dunas de areia até um trecho cercado de paredes de pedra avermelhada.

 
O sol do Atacama
 
Um pouco de sombra no deserto



O guia nos conta que estamos dentro da área da Cordilheira de Sal, uma área de aproximadamente quinhentos metros de diâmetro que possui o solo extremamente salino.

 
A Cordilheira de Sal do Atacama



Aline e eu na Cordilheira de sal


Adentramos o Cañon Las Cuevas de Sal, onde se pode ver de perto o solo formado por argila, gesso e sal que forma o lugar.

 
Cañon Las Cuevas de Sal

O guia explica que esta formação é bem sensível e que foi formada pela ação da erosão causada pelos ventos ao longo de milhões de anos. É possível ver as formações de sal na terra bem de perto, mas não se pode tocar, pois qualquer mudança de pressão faz com que a escultura se desfaça.

Terra e sal

As paredes de argila e sal só são possíveis porque o deserto do Atacama é a região mais seca e árida do planeta. O guia conta que não chove em San Pedro a mais de duzentos anos e que a precipitação média anual é próxima de zero considerando todo o deserto, com pouquíssima umidade do ar no Valle de La Luna.

 
Detalhe da formação salina no terreno do deserto

Apesar de o aspecto do lugar ser de desolação total, existem diversas formas de vida que habitam o lugar. Muitas vivem escondidas durante o dia para se abrigar do sol. Pudemos ver um “dragão de sal”, um tipo de calango do deserto que se alimenta de insetos e vive em buracos entre as rochas.

 
Um Dragão de Sal camuflado na paisagem

Mais a frente encontramos uma das muitas cavernas de sal que existem no lugar. Entramos rapidamente para algumas fotos e seguimos adiante. O guia pede que tomemos cuidado, pois são comuns desabamentos causados pela desestabilização das paredes e solo devido ao vento e a tremores de terra na região.

Entrada de uma caverna de sal

Aline dentro de uma caverna na Cordilheira de Sal

Cruzamos o canyon e chegamos novamente na estrada do outro lado, onde a van nos esperava. Estávamos no meio do Valle de La Luna e pudemos ver bem de perto a paisagem de outro planeta que o lugar proporciona.

 
A extraordinária paisagem do Vale da Lua

Seguimos até o coração do Valle de La Luna, na Cordilheira de Sal, até o ponto onde se encontram as “Três Marias”.




A paisagem ao redor é acinzentada, como no nosso satélite que dá nome ao lugar e os ventos fortes contra as rochas esculpem surpreendentes formas que muitas vezes se assemelham a feições humanas.

Paisagem lunar em pleno deserto

As Três Marias que dão nome ao lugar, são na verdade três rochas esculpidas pelo vento. Infelizmente só existe uma escultura intacta nos dias de hoje, pois as duas das pontas ruíram com a erosão.

 
As famosas três Marias ou o que sobrou delas

O guia nos conta que a imagem a esquerda lembrava uma mulher sentada sobre as próprias pernas segurando uma criança e que a da direita, que está semi destruída, aparentava uma mulher de joelhos em oração com a cabeça baixa. A única imagem ainda perceptível é a do meio em que se pode distinguir, sem necessidade de nenhuma erva ou chá local, uma mulher de pé com as mãos juntas olhando para o alto em posição de oração.

 
Imagem de uma mulher em oração

Não ficamos muito tempo ali, pois o maior espetáculo do passeio, e o motivo do tour se iniciar as 16h, é o pôr do sol visto do alto da Duna Mayor. Já eram quase 19h e o guia nos apressa para não perdermos a hora, já que o sol não nos esperaria para se pôr.

Deserto do Atacama

Seguimos em direção a uma duna gigantesca em meio ao deserto. A van para na base da Duna Mayor e o guia aponta para o topo da montanha de areia para onde devem subir aqueles que querem ver o espetáculo. A caminhada é árdua já que a altitude nos arredores de San Pedro é de aproximadamente 2400 metros acima do nível do mar, mas para quem já havia subido as escadarias de Machu Pichu e caminhado nas ladeiras da Isla Taquile no Titicaca, vencer a altitude era fácil. O difícil era vencer a areia fofa na caminhada duna a cima, lutando contra o tempo, pois o sol estava cada vez mais baixo no horizonte!!!!

 
Duna Mayor

No alto da duna caminhamos para uma elevação rochosa de onde se tem uma vista privilegiada da duna e do deserto. O guia havia explicado que nos dias de hoje não se pode mais caminhar livremente e descer a Duna Mayor com pranchas ou mesmo andando, por motivos de preservação ambiental, sendo permitido apenas o acesso pelo caminho em que subimos para chegar ao mirante de pedra.

 
A Duna Maior vista de frente e de cima

A paisagem é lindíssima e do alto pode-se ver o Anfiteatro que é uma das mais impressionantes formações rochosas do Vale da Lua. Formado pela erosão do vento contra a rocha, parece ter sido construído por mãos humanas de tão perfeito o aspecto.

 
Anfiteatro

Sentamos no chão rochoso e ficamos admirando o fim do dia no deserto. O sol baixando e pintando de vermelho o céu e as rochas ao redor.

Esperando o sol se pôr

Aline, eu, o sol e o deserto


 
Pôr do sol


 

 

O lugar fica lotado de gringos, pois todas as agências de turismo fazem pacotes no mesmo horário e terminam na Duna Maior, mas mesmo assim é possível se acomodar em algum ponto só seu, sem precisar se estapear por uma boa foto ou um momento de reflexão em paz.

 
As cores do fim do dia no Atacama
 
Fim do primeiro dia no deserto com um lindo pôr do sol visto da Duna Maior



Quando o sol se vai e a noite cai sobre o deserto é hora de voltar à San Pedro. Chegamos por volta das 20h30min, cansados e cheios de areia do deserto, então paramos para comer alguma coisa rápida e seguimos para o hostel. A rua Caracolles fica super lotada neste horário, pois todas as agências estão retornando do deserto, mas em poucos minutos tudo fica vazio e quando cruzamos a rua para voltar ao hostel só havia movimento dentro dos bares mais badalados. Muitos estabelecimentos já fechavam as portas.


Hora de sacudir a poeira, tomar uma banho e dormir, pois acordaríamos cedo para nosso segundo dia no Atacama.


Gastos para 2 pessoas em 17/03/2014:

- Desjejum: $ 6.380,00 CLP
- Pacote turístico para três dias no Atacama: $ 120.000,00 CLP
- Lavanderia: $ 6.000,00 CLP
- Almoço: $ 9.600,00 CLP
- Entrada no Vale da Lua: $ 4000,00 CLP
- Jantar: $ 7000,00 CLP

Câmbio em San Pedro de Atacama: U$ 1,00 = $ 568,00 CLP

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