6º Dia no
Peru (dia 6 do mochilão)
Nossa primeira noite em um ônibus foi um pouco cansativa. Aline passou
muito mal durante a viagem, provavelmente, por conta da altitude, já que Puno
está a mais de 3800 metros acima do nível do mar.
Nós chegamos a rodoviária de Puno por volta das 5h30min da manhã do dia
12 de março. A intenção em visitar a cidade era somente conhecer a parte
peruana do famoso Lago Titicaca e logo que desembarcamos aparecem pessoas
oferecendo pacotes de passeios para o dia.
Chegando em Puno |
Existem pacotes de 1 ou 2 dias (este dormindo em casas de moradores da Ilha
Amantani, que não visitamos) e nós fechamos o pacote para 1 dia com a empresa
“Jumbo Travel”, com direito a visita as Ilhas Flutuantes de Los Uros e Ilha Taquile.
O barco para o passeio parte do porto de Puno as 8h e a própria
operadora de turismo faz o transfer
até o local, que é bem próximo da rodoviária.
Porto e início da Reserva Nacional do Titicaca |
Farol no porto de Puno |
O barco é grande e confortável possuindo bancos recostáveis de ônibus, o
que era ótimo, pois passaríamos mais tempo nele do que em terra neste dia. Na
parte de cima havia alguns bancos de madeira que permitiam a viajante sentir o
vento frio no rosto.
Enquanto navegávamos para nossa primeira parada um guia a bordo explica
que segundo a lenda andina, a civilização inca nasceu nas águas do Titicaca. Manco
Cápac e Mama Ocllo, sua esposa, teriam assim emergido do lago e vivido
inicialmente na ilha batizada de Isla del
Sol, em território boliviano nos dias de hoje. Posteriormente, teriam
seguido para a região de Cusco.
O Titicaca tem três partes: a baía, o lago maior e o lago menor. Na
baía, a profundidade atinge 20 metros no máximo, enquanto no lago maior chega aos
280 metros. O Lago Titicaca está localizado a 3820 metros acima do nível do mar
e tem por volta de 8300 km², com 60% de sua área no Peru e 40% na Bolívia,
sendo o segundo maior lago em extensão da América do Sul e é considerado o mais
alto do mundo comercialmente navegável. Mais de 20 rios deságuam no Titicaca e
ele é alimentado por água das chuvas e do degelo dos picos nevados ao seu redor.
Existem quase 40 ilhas naturais e cerca de 70 construídas
artificialmente em todo Titicaca. As ilhas artificiais são as chamadas Ilhas
Flutuantes e habitadas ainda hoje pelo povo Uros. Nossa primeira parada seria
em uma destas ilhas e segundo o guia viver em uma ilha flutuante era uma
estratégia para não se deixar dominar por outros povos, pois a fuga era
facilitada. Assim, a história de Uros é um símbolo de resistência ao domínio do
estrangeiro e das fugas.
Uma das ilhas flutuantes dos povos Uros |
Nós chegamos às Ilhas Flutuantes de Uros uns 30 minutos depois de
partirmos do porto do Titicaca. O guia nos ensinara algumas poucas palavras na
língua Aimará, para cumprimentarmos os povos Uros em sua língua natal.
Descemos na pequena ilha flutuante e nos reunimos sentados em círculo ao
redor do guia e um morador local que nos contou o que é e como é feita uma ilha
flutuante.
Eles explicam que as ilhas artificiais são feitas a partir de uma planta
bem comum no Titicaca, a “totora”, uma espécie de junco. Essa planta é o
material que serve para a edificação das casas, barcos, canoas e das próprias
ilhas.
No passado os povos Uros usavam a totora para confecção de barcos que
eram feitos em grandes tamanhos e continham pequenas casas a bordo. As famílias
então moravam nos barcos sobre as águas do lago. Com o passar dos anos essas
moradias foram se sofisticando até chegarem a ser as ilhas que vemos hoje em
dia.
Acompanhamos atentamente a historio dos povos Uros e tivemos uma aula
prática, em escala reduzida, de como construir uma ilha flutuante. Primeiro,
coloca-se a raiz do junco formando blocos de aproximadamente 1,5 m³. A seguir,
talos de eucaliptos são posicionados nas esquinas de cada bloco, como proteção,
fazendo-se uma amarração entre os blocos e colocando-se o piso de totora. As
ilhas flutuam sobre conjuntos de blocos que somam de 20 a 25 metros de
profundidade.
O guia explica que cada ilha possui um líder, como um prefeito local, e
que nelas habitam até cinco famílias distintas. O líder local de onde estávamos
era o senhor que nos explicava sobre o lugar em Aimará, com tradução do guia.
Ele explica que uma ilha flutuante demora até 1 ano para ser construída e tem
uma durabilidade que chega a 50 anos, antes de precisar ser abandonada, mas
que, para isto, a cada 15 dias o piso deve ser trocado como forma de manutenção.
Por fim eles explicam que nas ilhas Uros, vivem caçadores e pescadores,
especialmente de truta, mas que os povos só conseguem se manter vivendo nas
tradições de seus antepassados devido ao turismo e a venda de artesanato. Então
fomos deixados livres para percorrer a ilha e comprar os produtos artesanais,
que são confeccionados ali mesmo diante de nós.
Caminhamos pela pequena ilha e a sensação de pisar nas ilhas artificiais
é bem estranha. Acho que posso dizer que é como andar em um colchão sobre a
água. A cada passo o chão afunda e balança um pouco e o pé afunda e volta.
Ilha flutuante |
Flutuando no Titicaca |
A ilha é bem pequena e as humildes casas nada mais são do que choupanas
com colchonetes de totora e sacos de roupas e materiais de trabalho. Um
programa do governo peruano instalou placas de energia solar que permitem
alguns poucos luxos como uma pequena televisão, por exemplo.
Casa de família na ilha |
Pode-se fazer um passeio de 15 minutos em um dos barcos tradicionais dos
Uros, mas paga-se a parte e não fizemos isso. Os preços do artesanato são mais
altos e pode-se negociar entre as famílias locais o melhor valor. No fim
compramos capas de almofadas com o calendário maia bordado e que estavam sendo
confeccionadas diante de nossos olhos.
Voltamos ao barco e nos dirigimos para o que seria a segunda e última
parada do dia: A Ilha Taquile. A viagem no barco é demorada e bem cansativa,
mas é uma boa hora de fazer amizades e durante o percurso conhecemos a Fernanda
e a Joana que são brasileiras também.
Depois de horas navegando finalmente descemos na linda Ilha Taquile.
Nossa programação de algumas horas consistia, basicamente, em descer em um
porto da ilha e caminhar para o outro lado, onde o barco ia nos esperar. O guia
pede que caminhemos sempre juntos, pois é fácil se perder e explica que no
caminho andaríamos pelas simpáticas trilhas, passaríamos pelos famosos arcos de
pedra e almoçaríamos na ilha.
As paisagens na Taquile são lindíssimas. Logo na chegada nos deparamos
com um arco de pedra marcando o início do caminho pela ilha.
A ocupação de Taquile remonta ao período pré-inca e várias construções
de pedras da antiga civilização pré-colombiana podem ser encontradas na ilha,
além dos terraços agrícolas. Depois, já no período colonial e até o início do
séc. XX, Taquile foi usada como prisão, até que, ao longo do século passado, as
terras foram devolvidas aos habitantes originais, um povo de fala quéchua. Hoje
a economia da ilha vem crescendo com o turismo.
Taquile |
Paisagens lindas em Taquile |
Seguimos pelo caminho que corta áreas agrícolas e logo cruzamos com
ovelhas que andam calmamente pelas trilhas.
Área agrícola |
Criação de ovelhas |
Aline fazendo amizade |
Subimos andando por quase uma hora e o ar rarefeito nos faz sentir os
efeitos da altitude. Enfim chegamos a Praça de Armas que é bem simples, tendo
uma bonita igreja junto ao arco de pedra do fim do caminho de subida. A igreja
estava fechada, mas sua arquitetura com a torre externa rendeu boas fotos.
Praça de Armas |
Igreja e torre |
Detalhe da torre da igreja |
Da praça tem-se uma vista privilegiada do horizonte e da imensidão azul
do Titicaca. O guia reúne o grupo e explica sobre os costumes dos habitantes da
ilha. A forma como se vestem define o status social. Pessoas importantes na
comunidade usam toucas com protetores de orelha enquanto os demais habitantes
usam toucas normais. Os homens casados usam toucas bem coloridas e os solteiros
usam toucas com grandes detalhes em branco. As mulheres que usam saias pretas
são casadas e as que usam saias coloridas são solteiras. Ele explica que os
habitantes locais não gostam de ser fotografados, mas que pode-se tirar fotos
com alguns que aceitam em troca de alguns nuevos
soles peruanos. Tivemos um tempo livre para admirar e fotografar a
paisagem.
Vista da Praça |
Com o Titicaca ao fundo |
Longe de casa |
Mirante na Praça de Armas |
Taquile tem lindas paisagens para todo lado |
Seguimos então para o local de nosso almoço (que é cobrado a parte, não
estando incluso no preço do tour). Uma casa simples com uma varanda de frente
para a linda paisagem do Titicaca e uma mesa grande o bastante para acomodar
todo o grupo. Uma tenda de lona suspensa servia para proteger do sol quente,
trazendo uma sensação quase medieval. O almoço é bem servido com sopa de entrada
e filé de truta com arroz e fritas como prato principal. Não comi a sopa, mas o
peixe pescado no próprio Titicaca estava ótimo. Uma apresentação de música típica ajuda a se sentir em um lugar especial.
Seguindo para o almoço |
Almoço no Titicaca |
Apresentação de música típica |
Depois do almoço era hora de voltar ao barco descendo pelo outro lado da
ilha. Seguimos pelo caminho margeando a encosta pedregosa de Taquile, quando
encontramos uma criança taquilenha e Aline comprou uma foto com uma pequena
“propina”.
Foto com o menino com vestimentas típicas |
Aline e o Titicaca |
O caminho de volta |
A ilha quase não tem praias, sendo rodeada de encostas íngremes com um
platô mais alto. A vista é magnífica durante todo o percurso, tanto do lago
como da própria ilha com sua paisagem campestre.
Vista magnífica o tempo todo |
Paisagem campestre |
Costa rochosa e águas claras |
Cruzamos mais alguns arcos de pedra pela estreita estrada de pedras e
finalmente chegamos ao porto onde nosso barco nos esperava. Infelizmente era
hora de deixar a ilha para trás.
Último portal da ilha |
Embarcamos de volta em uma viagem lenta, que levou aproximadamente
quatro horas para percorrer os 45 Km que separam a ilha do porto de Puno.
Aproveitamos para dormir já que a noite anterior no ônibus foi cansativa e a
próxima noite também seria em um ônibus em direção a cidade de Arequipa.
Voltando para Puno |
Última foto do Titicaca |
Chegamos de volta em Puno por volta das 17h30min, não havíamos comprado
passagens na rodoviária com medo de perder o ônibus com algum atraso na viagem
pelo lago, pois só haviam dois horários para Arequipa: 18h e 22h.
A maior parte do grupo que estava no tour voltaria para Cusco em um ônibius
as 22h e combinaram de ir para a Plaza de Armas de Puno tomar umas cervejas
enquanto esperavam a hora do retorno. Eu e Aline decidimos antecipar a viagem e
tentar tomar o ônibus das 18h para Arequipa, com isso não conhecemos o centro
histórico de Puno, mas acho que não perdemos nada, além de uma igreja fechada
na noite. Nos despedimos das brasileiras que havíamos conhecido e tomamos um
taxi para a rodoviária logo à frente.
Foi tudo muito corrido. Enquanto eu ia comprar os bilhetes para o ônibus
que partiria em vinte minutos, Aline foi na agência buscar nossas mochilas no
maleiro. Ainda deu tempo de ir no banheiro sujo da rodoviária, pelo qual
deve-se pagar. Antes de embarcar deve-se pagar uma taxa de embarque em um
guichê específico que tinha uma grande fila. No fim deu o tempo certinho de
fazer tudo isso e chegar na plataforma do ônibus na hora certa do embarque.
O ônibus da empresa Julsa era um dos mais baratos e apesar de ser igual
ao que havíamos tomado na viagem entre Cusco e Puno (semi leito) este era mais
popular e usado por trabalhadores em deslocamento entre cidades intermediárias,
o que fazia com que houvesse muitas paradas no percurso. Para piorar havia uma
enorme rachadura no para-brisa dianteiro e o estado de limpeza me lembrava os
ônibus piratas que circulam pelo Rio de Janeiro clandestinamente.
Embarcando para Arequipa |
Gastos
para 2 pessoas em 12/03/2014:
-
Desjejum: S./ 7,50
-
Tour pelo Titicaca: S./ 200,00- Entradas das ilhas: S./ 30,00
- Artesanato local: S./ 40,00
- Almoço em Taquile: S./ 40,00
- Água: S./ 6,00
- Banheiro da rodoviária: S./ 1,50
- Taxa de embarque da rodoviária: S./ 2,00
- Passagem para Arequipa (ônibus da Julsa): S./ 60,00
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