Partindo do Porto é possível chegar facilmente as duas cidades
mais conhecidas da região do Minho: Braga e Guimarães.
Reservamos apenas um único dia para conhecer as duas cidades, foi
bem corrido, mas dá para fazer... Saindo do Porto de trem chega-se a Braga com
aproximadamente 1h de viagem. De Braga a Guimarães fizemos o trajeto de ônibus
e voltamos de Guimarães ao Porto de Trem. Compramos as passagens Porto x Braga
e Guimarães x Porto antes de partir e as passagens do ônibus assim que chegamos
a Braga, para garantir que teríamos vaga.
Braga
Com mansões do século XVIII e lindas igrejas, a cidade sempre foi
a capital religiosa do país. Apesar de hoje Fátima ser um grande polo
religioso, ainda cabe a Braga ser a capital eclesiástica de Portugal.
Quem chega de trem faz uma pequena caminhada dos arredores mais
novos em direção ao centro histórico da cidade, passando pelo Arco da Porta
Nova.
Arco da Porta Nova |
Cruzando a o Arco logo encontramos a Igreja e Convento do Pópulo,
construída a partir de 1596 a igreja é uma joia de beleza com o interior
decorado com azulejos historiados azuis e brancos e retábulos de talha dourada.
O convento ao lado foi ocupado pelos Frades até 1834.
Igreja e Convento do Pópulo |
Bonito interior e altar |
Detalhe do interior da igreja do Pópulo |
Cruzando a praça diante da igreja chega-se a Praça do Município,
onde está o antigo casarão onde hoje funciona a Câmara Municipal de Braga com
um bonito chafariz diante dele.
Praça do Município e o casarão onde funciona a Câmara Municipal de Braga |
Detalhe do chafariz da Praça do Município |
Uma das grandes atrações da cidade é o complexo do Antigo Paço
Episcopal, logo a frente da Praça do Município. O prédio do antigo paço foi
quase todo destruído por um incêndio em 1866, mas hoje está restaurado. No
Largo do Paço está uma fonte de água datada do ano de 1723.
Antigo Paço Episcopal de Braga |
Largo do Paço |
Fonte do largo datada de 1723 |
Para finalizar a visita ao antigo Paço não pode-se deixar de
visitar um dos cartões postais de Braga: Os Jardins de Santa Bárbara.
Jardins de Santa Bárbara |
Os jardins são lindos e bem cuidados, no centro uma fonte de água
com a imagem da santa que dá o nome ao lugar pertencia ao antigo Convento dos
Remédios e data do século XVII.
Fonte com a imagem de Santa Bárbara no centro dos jardins |
Aproveitamos o dia ensolarado no frio dia de fim de inverno no
norte português para descansar nos jardins com a muralha da ala medieval do
Paço Episcopal ao fundo.
Deixando o paço encontramos a Igreja da Misericórdia, que fica de
frente para o paço e de costas para a Sé. Com a fachada renascentista de 1562 o
templo guarda em seu interior um impressionante retábulo de talha dourada
construído entre 1735 e 1740. No centro do retábulo uma pintura de 1736 feita
por José Lopes retratando a padroeira. Minha foto não ficou muito boa, pois
estava acontecendo a missa e não é permitido fotografar durante a celebração.
Como bom Cristão tento seguir as regras quase sempre, mas nesse caso burlei as
regras para roubar uma foto. Apesar da boa intenção me pergunto se foto roubada
na missa é pecado??? Enfim, na dúvida tirei umazinha só... rs
Fachada da Igreja da Misericórdia |
Interior da igreja |
Dando a volta no complexo, a Igreja da Sé foi o lugar que mais me
impressionou no centro de Braga, não pela construção em si, mas sim pelo que
tem em seu interior.
Igreja da Sé de Braga |
A igreja foi construída no século XI no mesmo lugar de outro
templo, mas uma inscrição na parede externa aponta que o lugar já poderia ser
usado como templo a muito mais tempo. A escrita romana fragmentada é datada do
período entre os anos 2 a.c. e 14 d.c. e aponta uma ordem do Imperador César
(só não se sabe que ordem, já que se tem apenas um fragmento...).
Em seu interior a igreja possui dois órgãos de tubos que ficam de
frente um para o outro. Datados de 1737 e 1739 são verdadeiras obras de arte no
coro alto. As pinturas no teto são impressionantes e nos fazem ter torcicolo
para admira-las.
Ainda na igreja, em uma capela lateral ao lado da entrada
principal, encontra-se o túmulo do Infante Dom Afonso, filho primogênito de
João I, antigo rei de Portugal. O túmulo e o baldaquino que o sombreia são de
madeira trabalhada e revestidos de placas de cobre douradas e prateadas.
O tesouro da Sé está guardado no Museu de Arte Sacra e não pode
ser fotografado, como também não se pode tirar fotos nos claustros e capelas
dos arredores. Na capela de São Geraldo está sepultado o corpo do santo que dá
nome a capela.
Na Capela dos Reis estão os túmulos dos fundadores da igreja,
Henrique de Borgonha e sua esposa. Mas o que mais impressiona nesta capela é o
corpo mumificado do Arcebispo D. Lourenço Vicente. Foi ele quem fez o discurso
de aclamação do Mestre de Avis como Rei de Portugal e foi um dos maiores
conselheiros do novo Rei, acompanhando-o na Batalha de Aljubarrota, que
inspirou a construção desta capela e do famoso mosteiro na cidade de Batalha. O
corpo foi desenterrado e para surpresa de todos estava incorruptível e
naturalmente mumificado, estando exposto assim no interior da capela.
Deixamos a igreja pela Rua São João onde se pode admirar a imagem
de Nossa Senhora do Leite, padroeira da cidade de Braga, que fica abrigada sob
um baldaquino gótico ornamentado.
A rua nos leva em direção a três igrejas seculares da cidade:
Capela dos Coimbras, Capela da Conceição e Igreja de Santa Cruz.
Capela dos Coimbras |
Igreja da Conceição |
Igreja da santa Cruz |
Tomando a Rua São Marcos se chega na Praça da República, margeada
pela Avenida Central. Em uma esquina, junto a praça na Rua do Souto, está o
famoso “Café A Brasileira”, decorado no estilo do século XIX.
Praça da República |
Igreja dos Congregados na praça |
Café A Brasileira |
Poucos passos a frente encontra-se a Torre de Menagem de Braga. A
torre do século XIV é a única construção ainda restante da fortificação
original da cidade.
Nos arredores de Braga está uma das maiores atrações do lugar e
também o principal responsável pelo turismo religioso atrelado a cidade e para
se chegar a Bom Jesus do Monte pegamos o Autocarro nº 2 ao lado de um pequeno
shopping na Avenida da Liberdade. O ônibus passa a cada 30 minutos e do centro
de Braga até lá são aproximadamente 10 Km de distância.
Acredito que Bom Jesus do Monte seja o mais espetacular santuário
de Portugal, não pela igreja e sim pela enorme escadaria que é fotografada aos
montes pelos turistas. Mas antes de chegar até ela sobe-se por um caminho bem
arborizado onde estão as 14 capelas que retratam os passos de Cristo na Via Cucis, deste a agonia no Jardim das
Oliveiras até sua crucificação.
Início do caminho com poucas escadas |
Uma das capelas da Via Crucis do caminho |
Capelas representam cenas da Paixão de Cristo com imagens |
O caminho leva até um mirante diante da famosa escadaria. Olhando
as paredes brancas caiadas e os degraus de granito tive aquela ótima sensação
de estar diante de um cenário que havia visto centenas de vezes em fotos e que
faz seus olhos demorarem a crer que não é uma imagem e sim a construção real
diante da gente.
A primeira escadaria a partir deste ponto é dedicada aos cinco
sentidos humanos. Cinco fontes de água representam cada um dos sentidos: visão,
audição, olfato, paladar e tato. Diante do escadório está uma grande fonte com
água brotando de cinco pontos em uma referência as chagas de Cristo.
Fonte no início da subida representando os cinco sentidos humanos |
Vista do mirante no início da escadaria |
Subindo pelas escadas históricas pode-se admirar estátuas
bíblicas, mitológicas e simbólicas, estando de um lado os personagens
masculinos e do outro os femininos.
O trecho final é chamado de escadaria das Três Virtudes e
representa a fé, a esperança e a caridade, sempre simbolizadas por fontes de
água em cada patamar.
Final da subida |
No topo da pequena colina repousa a bonita Igreja de Bom Jesus.
Erguida em 1811 no mesmo lugar do antigo templo no século XV a igreja está
diante de oito estátuas que lembram as pessoas que condenaram Jesus, entre elas
Herodes e Pilatos.
No interior destaque para o Altar das Relíquias que exibe o que
seria um pedaço do santo Lenho, ou seja, uma lasca da verdadeira Cruz de
Cristo. Infelizmente não se tem como comprovar e dizem que se juntar todos os
pedaços que dizem ser da cruz daria para construir um navio... rs. Relíquias de
santos estão em exibição em sete prateleiras formando uma coluna de imagens com
peças abaixo do pequeno pedaço de madeira.
Interior da igreja |
Detalhe das imagens atrás do Altar |
Sobre estas relíquias todas está a ossada de São Clemente, um
soldado martirizado. Os ossos estão ligados com resina e vestidos de forma a se
ter a visão de estar diante do santo. Um pouco mórbido, mas interessante.
Ao redor da igreja um parque com lago e até um hotel. Para descer
iríamos tomar o histórico funicular de 1882, que faz o translado para quem não
quer subir ou descer as escadarias, mas infelizmente estava fechado para a
sesta (descanso após o horário de almoço). Descemos caminhando de volta pelas
escadas...
O ponto do ônibus que liga Bom Jesus do Monte a Braga fica diante
da bilheteria do funicular e foi lá que tomamos o transporte de volta para o
centro. Descemos direto na rodoviária e compramos a passagem para Guimarães.
Estávamos com fome e como decidimos fazer as duas cidades no mesmo dia tudo
ficou um pouco corrido por conta dos deslocamentos, portanto almoçamos na
rodoviária mesmo. Achei que iria encontrar uma comida de menor qualidade, mas
nos surpreendeu a ótima refeição que fizemos por lá. Quem dera as rodoviárias
no Brasil tivessem bons cardápios como em Braga.
Guimarães
Guimarães é conhecida por ter sido o berço da nação portuguesa.
Quando Afonso Henriques proclamou-se o primeiro rei de Portugal, no ano de
1139, escolheu a cidade para ser a capital do país, estando o castelo de
Guimarães até hoje no brasão de Portugal.
A cidade velha preserva suas construções medievais e tem um ar de
cidadezinha do interior, sendo muito bonita e aconchegante. Caminhamos pelas
ruelas e nos perdemos nos becos e praças.
Ruas estreitas em Guimarães |
Se perder em Guimarães é normal e mesmo com um mapa não se
consegue caminhar sabendo-se onde vai e de onde veio. Mas aconselho se perder
sem medo, pois em cada esquina uma bela surpresa como docerias e lojas locais
com pracinhas e mesas postas na rua.
Perder-se em Guimarães é certo. Encontrar cantinhos charmosos em cada esquina também |
Bonitas ruas de Guimarães |
Nas sacadas se pode ver roupas dependuradas nos varais presos nas
fachadas das casas, uma cena comum em todas as cidades do país.
Roupas em varais nas sacadas: Cena comum em Portugal |
Já tínhamos almoçado na rodoviária, então aproveitamos para comer
a sobremesa na cidade e para saborear uma das especiarias do lugar, o
Toucinho-do-céu de Guimarães.
No centro da cidade velha está o Largo das Oliveiras, mas um dos
locais onde se pode sentar e comer algo relaxando na pacata cidade.
No largo está a Igreja e Mosteiro de Nossa Senhora das Oliveiras e
um monumento conhecido como Padrão do Selado, um pequeno santuário gótico do
século XIV que guarda uma cruz que está ligada a origem do nome do largo e do
mosteiro e a árvore a sua frente. Segundo a lenda, uma oliveira foi trazida para o local para fornecer óleo à luminária do altar da igreja, mas não resistiu e secou. No ano de 1342 um comerciante colocou a cruz sobre a árvore e ela floresceu. Apesar de a cruz ainda ser a mesma a oliveira na praça não é mais a da lenda...
Interior da Igreja |
Jardins do Mosteiro |
Ao lado da igreja está um casarão onde funciona hoje o Museu de
Alberto Sampaio, que apresenta arte sacra e itens importantes da história real
portuguesa.
Uma caminhada pela rua de Santa Maria sai do Largo das Oliveiras e
nos leva ao topo de uma colina baixa próxima ao centro histórico onde
encontra-se as maiores atrações históricas da cidade: O Palácio dos Duques e o
Castelo de Guimarães.
O Paço dos Duques foi construído no século XV pelo primeiro duque
de Bragança. O casarão foi residência oficial do presidente durante o período
do governo salazarista. Hoje o palácio abriga um museu que expõe um luxuoso
acervo com tapetes persas, mobiliário e quadros.
Alguns cômodos impressionam, como a sala de banquetes que
apresenta um teto em forma de um casco virado de uma caravela, em homenagem as
explorações marítimas no tempo dos descobrimentos.
Entre o Paço dos Duques e o Castelo de Guimarães está a Capela de
São Miguel que serviu de capela real e onde está a pia onde foi batizado o
primeiro rei de Portugal, Afonso Henriques.
Capela de São Miguel |
Pia onde Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal, foi batizado |
Por fim o Castelo de Guimarães marca a paisagem em meio a vegetação.
Com uma grande torre quadrada, foi construído no século X para deter os ataques
mouros e normandos.
O castelo foi fortificado dois séculos depois de construído com a
construção de novas torres que protegem os paços e cercam as entradas. A visita
é gratuita já que não há nada no interior do castelo. Estão intactas apenas as
muralhas, estando o interior em ruínas.
Torres ao lado da escada de acesso ao interior do castelo |
Interior vazio |
Por dentro do Castelo de Guimarães |
Era o fim de nossa visita a Braga e Guimarães. Passamos metade de
um dia em cada cidade e apenas percorremos os pontos principais, mas aconselho
a quem tiver tempo ficar um dia em cada e aproveitar os encantos dessas
cidadezinhas portuguesas para relaxar e viver um pouco a vida calma de um
cenário medieval (como fizemos em Óbidos, como contei aqui antes).
Caminhamos de volta pelo centro após visitar a parte alta |
Fizemos todo o percurso em Guimarães caminhando e assim seguimos
para a estação de trem (comboio) para nosso retorno de volta ao Porto, de onde
seguiríamos viagem.
Igreja de São Pedro no caminho da estação de Trem |
Gastos
em dois dias para 2 pessoas em Março de 2015:
- Passagens de trem Porto x Braga: € 7,20
- Visita Igreja da Sé de Braga: € 6,00
- Ônibus (ida e volta) para Bom Jesus do Monte: € 6,60
- Almoço: € 8,60
- Ônibus Braga x Guimarães: € 6,40
- Doces portugueses: € 2,60
- Água: € 1,50
- Paço dos Duques: € 10,00
- Passagem de trem Guimarães x Porto: € 6,20