4º Dia no
Peru (dia 4 do mochilão)
Águas
Calientes estava fervilhando as 5h da manhã. Após comer saímos pelas ruas e
víamos pessoas se movimentando em todos os lados. Existem duas maneiras de se
chegar a Machu Picchu a partir da cidade: andando ou de ônibus.
Para
subir de ônibus basta entrar na fila (que estava gigante as 5h15min da manhã) e
pagar a passagem no valor de U$10,00 por pessoa (tudo lá é em dólar mesmo!!!).
Esse valor é apenas a subida e caso vá descer de ônibus deve-se desembolsar
mais U$10,00 por pessoa. O ônibus sobe a sinuosa estrada que liga Águas
Calientes a Machu Picchu em 30 min e o passageiro não gasta nem 1 cm da sola do
calçado.
Para
subir caminhando deve-se seguir a estrada até a entrada do Parque Arqueológico
Nacional de Machu Picchu e de lá subir uma escadaria cravada na montanha que
cruza a estrada sinuosa diversas vezes e termina na entrada das ruínas no mesmo
ponto de desembarque do ônibus. A subida varia de acordo com o ritmo de
caminhada de cada um. Média de 1h30min todo o percurso.
Escolhemos
subir andando e cruzamos a estrada até a ponte sobre o Rio Urubamba, na entrada
do Parque Nacional, em apenas 30 min de caminhada. A lua ainda estava alta no
céu, mas muitos mochileiros seguiam pelo caminho que margeia o rio com suas
lanternas em mãos. Nós usávamos uma lanterna de cabeça para avançar pela
madrugada. Na ponte existe uma guarita onde é verificado o boleto de entrada de
Machu Picchu e os documentos (passaportes) dos mochileiros. Só prossegue quem
já estiver com as entradas em mãos.
Início da subida ainda na madrugada |
Depois de
cruzar o rio Urubamba é só subir a escadaria. A noite estava fria, mas logo nos
primeiros minutos já havíamos tirado os casacos. A subida vai nos aquecendo
enquanto a noite vai dando lugar ao dia. Paramos algumas vezes para descansar e
beber uma água e aproveitamos para registrar o nascer do dia no vale aos pés da
montanha.
Subindo as escadas para Machu Picchu |
Nascer do sol na trilha inca |
Desde a
ponte até a entrada de Machu Picchu subimos escadas por 1h. Existem alguns
pontos com pequenas cabanas para descanso na subida. No trecho final já podemos
avistar as ruínas no topo da montanha.
Parada para descanso na trilha |
Machu Picchu a vista no topo da montanha |
Eram
6h40min quando finalmente chegamos na entrada das ruínas. Havíamos contratado o
guia pela agência e tínhamos a orientação de aguardá-lo neste ponto, onde ele
iria nos encontrar as 7h. Sentamos e esperamos enquanto descansávamos da subida
íngreme.
O guia
reuniu o grupo que o esperava e explicou que as ruínas encontram-se a 2350
metros acima do nível do mar (bem mais baixa que Cusco) e que a cidade
permanece praticamente intacta, pois escapou de ser saqueada pelos espanhóis
uma vez que já havia sido abandonada quando ocorreu a colonização. Não se sabe
ao certo o motivo do abandono pelos incas, mas é certo que a cidade foi
esquecida e invadida pela natureza, ficando oculta durante séculos em meio a
mata no topo da montanha. No ano de 1911 o professor, historiador e arqueólogo
norte-americano Hiram Bingham, que liderava uma expedição científica no Peru,
finalmente encontrou as construções tomadas por raízes, galhos e folhas.
Eram 8h
da manhã quando finalmente entramos no sítio arqueológico e avistamos pela
primeira vez a impressionante Machu Pichhu. Demorei a perceber que realmente
era real e que estava diante da vista clássica que já havia visto em fotos
milhares de vezes.
O guia
explica que o nome da cidade é na verdade um mistério e que ela herdou o nome
da montanha em que se encontra. Ao fundo compondo a paisagem está outra famosa
montanha: Huayna Picchu. A verdadeira trilha inca chegava de Cusco pela encosta
da montanha chegando até o portão de entrada da cidade, mais abaixo, para onde
iríamos.
Puxamos
da mochila nossa inseparável bandeira brasileira e tiramos algumas fotos. No
fim a bandeira fez sucesso e acabamos emprestando para outros brasileiros que
estavam por perto e queriam umas fotos bem patriotas também :-)
Brasileiro sempre tem uma bandeira por perto... hehehe |
Seguimos
pela estrada original que marcava o fim da trilha inca até o pórtico de
entrada, um grande espaço trapezoidal onde no passado estava a porta principal
que incluía um mecanismo de fechamento interior.
Andávamos
pelo complexo conhecendo a arquitetura inca, onde a maioria das portas e
janelas tem forma trapezoidal e as paredes de muitas construções têm nichos internos.
Aline nas ruínas |
Janelas trapezoidais |
Arquitetura inca |
Diante da
Praça Sagrada está o Templo Principal, local de muitas cerimônias religiosas. A
parede norte encontra-se em declínio, mas não se sabe o motivo. O guia diz
que uma das explicações pode ser as raízes de árvores que haviam tomado o lugar
durante os séculos em que a cidade ficou “perdida”, já que podem ter crescido
junto as pedras, deslocando a base da construção.
Mais a
frente encontra-se Intihuatana, um
dos objetos mais estudados de Machu Picchu. Uma pedra que servia como
calendário astronômico, indicando de forma precisa os solstícios e equinócios.
O guia explica que o nome Intihuatana
significa "onde se amarra o Sol", pois marcava os dias onde o sol
estava mais tempo no céu.
A área
agrícola possui terraços de cultivos que aparecem como grandes escadarias
construídas sobre o terreno, terraços de menor largura se encontram na parte
baixa de Machu Picchu, ao redor de toda a cidade. Sua função não era somente
agrícola, mas também serviam como muros de contenção.
Terraços da cidade inca ao fundo |
Os arredores da cidade |
Área agrícola |
Caminhamos
pelo extremo limite da cidade de onde pode-se observar as montanhas e o vale de
Urubamba com o rio de mesmo nome abaixo.
No limite da cidade |
Vale de Urubamba |
Nos
deparamos com a curiosa Roca Sagrada um
pedaço de pedra cravado no solo cujos contornos estão estranhamente alinhados com
as montanhas a frente. O guia explica que a rocha era usada como altar para
reverenciar os deuses da montanha Pumasillo
(Garra do Puma) situada na cordilheira a frente, um pico ainda hoje reverenciado
pelos povos andinos.
Mais a
frente está o início da trilha para Huayna Picchu, a famosa montanha que compõe
a paisagem da cidade inca. A subida até o topo de Huayna Picchu é permitida
para apenas 400 pessoas por dia (em dois grupos de 200 visitantes por vez), mas
deve-se comprar as entradas com o acesso antecipadamente. Recomendo a quem se
interessar por subir, que procure uns três meses antes da viagem pelos
ingressos, pois são disputadíssimos. Aline e eu gostaríamos de subir, mas
compramos o pacote já em Cusco e não havia possibilidade da autorização de
acesso a Huayna.
Circulamos
por entre as casas de pedra e cruzamos a comprida praça principal. Construída
sobre terraços em diferentes níveis, de acordo com o declive da montanha este
lugar é o centro da cidade e foi usada para diversos fins na antiga sociedade
inca.
Casas quase intactas |
Praça principal |
O guia
nos conduz ao Templo do Condor, que é formado por uma gruta diante da qual
encontra-se um maciço rochoso tendo a forma de um pássaro com as asas
estendidas, mas acho que não tomei meu chá de coca forte o suficiente e
portanto, não consegui visualizar a ave nas formas da rocha. O condor era um
símbolo para a civilização inca e o guia explica que nesta área o reflexo da
rocha, quando iluminada pelo sol, projeta a figura do pássaro no solo. A rocha,
na verdade, tem as formas das asas, enquanto diante da rocha natural uma pedra
trabalhada para se parecer com a cabeça da ave está disposta no solo. Este era
o lugar de cerimônias religiosas envolvendo os mortos, uma vez que o Condor era
o responsável por conduzir as almas incas. Na gruta atrás do templo eram
preparadas as múmias durante as cerimônias religiosas.
Rocha do Condor |
Cabeça do Condor |
Templo do Condor |
Os incas
aproveitaram uma nascente em uma encosta para fazer um canal de 749 metros de
extensão que abastecia a cidade. Existem diversas fontes importantes entre as
construções e a mais importante está entre o Templo do Condor e o Templo do
Sol.
O Templo
do Sol é a única construção redonda de Machu Picchu e tem duas janelas
alinhadas com os pontos onde o sol nasce nos solstícios. Seu interior não é
acessível aos turistas por motivos de preservação.
Templo do Sol com sua parede redonda |
A edificação principal é
conhecida como "Torreón" e era usada para cerimônias relacionadas com
o sol. Uma de
suas janelas mostra sinais de ornamentos incrustados que foram arrancados em
algum momento da história.
Torreón: Templo do Sol |
Detalhe da janela que mostra o espaço onde no passado existiram incrustações ornamentais (provavelmente de ouro) |
O Torreón
está construído sobre uma grande rocha sob a qual há uma pequena cova. O guia
explica que o local foi, provavelmente, um mausoléu.
Ao lado
do templo do Sol está uma cabana conhecida como Palácio da Princesa, onde o city tour guiado termina e o guia se
despede após 3h de explicações pela cidade inca. Seríamos deixados livres para
explorar a cidade a vontade.
Circulamos
pelas ruínas e visitamos as casas comuns com os telhados reformados com sapé,
supostamente similar ao original antes do abandono. Toda a arquitetura possui
características antissísmicas (inclinação adequada e pedras pequenas em meio a
grandes).
Casas com telhados reformados |
Aline se sentindo em casa... rs |
Interior das casas |
Inesquecível a paisagem das ruínas em meio as montanhas andinas |
Exploramos
a engenhosa arquitetura inca por mais uma hora até que notamos nuvens negras
aparecendo por cima das montanhas a frente. Até este momento os dias na região
de Cusco sempre foram ensolarados, apesar do ar frio algumas vezes. Estávamos
viajando em Março, que é conhecido por ser um mês chuvoso, mas estávamos com
sorte até este ponto.
Arquitetura inca |
Explorando Machu Picchu |
Inicialmente
havíamos pensado em ficar todo o dia em Machu Picchu e apenas descer das ruínas
para tomar o trem (nossas passagens estavam marcadas para as 19h). Mas o tempo
estava fechando rápido e resolvemos descer antes da chuva chegar, pois iríamos
voltar pela mesma trilha que usamos para subir. Voltamos na direção da portaria
e aproveitamos para tirar uma última foto com o famoso cenário inca ao fundo.
Descendo: Hora de ir embora |
Última foto já no caminho da saída |
Porém,
antes de sair havia algo que eu precisava muito fazer: Carimbar o passaporte! O
carimbo fica a disposição a partir das 9h da manhã próximo a entrada do sítio arqueológico.
É de graça e você mesmo carimba seu passaporte, comprovando que esteve lá.
Aline e eu garantimos o registro e com isso fechamos nossa sonhada visita.
Passaporte devidamente carimbado! |
Eram 13h da tarde quando iniciamos a descida com as
nuvens negras se formando acima de nossas cabeças. Descemos as escadas na
encosta da montanha bem rápido e mesmo com paradas para descanso, estávamos na
ponte sobre o Rio Urubamba antes das 14h.
Ponte sobre o Rio Urubamba |
Rio Urubamba |
Foi aí que a chuva nos alcançou. Puxamos as capas de
chuva do fundo das mochilas e seguimos o trecho de 30 min até Águas Calientes
sob uma chuva forte de verão.
A chuva durou puco (nesse primeiro momento) e quando
chegamos a Praça de Armas já não mais chovia. Eram 14h30min e nosso trem só
partia para Ollantaytambo
as 19h, pois havíamos imaginado que iríamos passar o dia lá em cima nas ruínas.
Praça de Armas de Águas Calientes |
Decidi conhecer a
cidade e entrei no Centro de Informações Turísticas que existe na praça. A
atendente informou que o único ponto turístico existente são as famosas águas
termais que dão nome ao lugar e ficam no fim da rua principal. Um conjunto de
piscinas com diferentes temperaturas de águas quentes e toda uma estrutura para
receber os turistas. Infelizmente a chuva voltava com força total, extinguindo
qualquer chance de um banho de piscina.
Raios, trovões e
muita chuva. Uma sensação de que fizemos a coisa certa ao descer cedo das
ruínas foi inevitável. Peguei um mapa da cidade com a atendente e nele havia
uma feira de artesanato e um Centro Cultural, mas a menina nos informa que não
há exposição por lá e que não há nada de turístico no povoado. Era sentar e
esperar a chuva passar novamente...
Resolvemos ir comer
alguma coisa e olhei pelos arredores da praça mesmo. Mais a frente do Centro de
Informações havia um “Café”, então demos uma corrida na chuva e entramos no “Café
com Pisco”.
Café com Pisco |
O simpático Pisco |
Ficamos praticamente
a tarde toda na cafeteria com o Pisco. Comemos uma deliciosa torta de sobremesa
e descansamos deixando o tempo passar um pouco até a chuva cessar de vez.
Quando a chuva se foi
aproveitamos para dar uma volta por Águas Calientes, cujo nome real é Machu Picchu Pueblo. A Igreja Matriz na
praça estava fechada e no Centro Cultural realmente não tinha nada.
Igreja Matriz de Águas Calientes |
Centro Cultural: Vazio |
De dia a cidade é
mais amigável, apesar de quase não se ver casas de moradores. Achei bem
interessante o monumento que adorna o chafariz na descida da praça em direção a
rua do rio.
Chafariz |
Detalhe da escultura: O inca, o condor, o puma e a serpente |
Circulamos um pouco e
com o reinício da chuva nos refugiamos na feira de artesanato local, que é
totalmente coberta. Mas admito que já não aguentava mais ver artesanato
peruano...
Esperando a hora de ir embora |
Eram quase 19h e
seguimos para a estação de trem. Embarcamos no trem turístico da Perú Rail
novamente. Nos sentamos nas cadeiras diante da pequena mesa do vagão diante de
duas meninas brasileiras (esse trem é ótimo para fazer amizades). Assim
conhecemos a Lígia e a Juliana, duas mineiras super gente boas. A viagem passou
rápida durante nosso papo. No fim descemos em Ollantaytambo trocando contatos e
prometendo nos encontrar em Cusco no dia seguinte. A agência havia reservado
uma van para o translado da estação de volta ao hostel em Cusco.
A viagem entre Ollantaytambo
e Cusco é demorada e o motorista corria feito um louco no meio da noite escura.
Eu tentava dormir e ignorar as curvas fechadas e freadas na estrada, mas estava
bem difícil. No fim chegamos no Hostel Villa San Blas onde
estavam nossas mochilas guardadas e o quarto reservado para a noite.
Gastos
para 2 pessoas em 10/03/2014:
- Água:
S./ 3,50
-
Almoço: S./ 49,00*Lembrando que havíamos pago o pacote todo no primeiro dia em Cusco (na época U$50,00 para entrar nas ruínas e mais algo perto desse valor em cada passagem de trem - por pessoa! Aff...)