segunda-feira, 30 de março de 2015

Santa Rita de Jacutinga / MG



Em março de 2013 fomos conhecer Santa Rita de Jacutinga, uma pequena cidade do interior mineiro, com cerca de 5 mil habitantes.


Fomos atraídos pela fama da cidade com mais cachoeiras no Brasil, já que números oficiais apontam que existem 72 cachoeiras espalhadas nos arredores da cidade, além de inúmeros rios e córregos que formam poços propícios ao banho.

 
Mapa de Santa Rita de Jacutinga disponível na internet

Para chegar a Santa Rita pegamos a Dutra no Rio de Janeiro e seguimos para Piraí e depois no sentido Barra do Piraí. Seguimos para Conservatória, passando por Ipiabas. Da cidade das serestas são 23 km até Santa Isabel e depois apenas mais 12 km até Santa Rita de Jacutinga. Cruzamos apenas 3 km em estrada de terra que estão sendo asfaltados atualmente. Total de 173 km rodados. É possível ir por Volta Redonda e Amparo, economizando alguns poucos quilômetros.

 
Aline diante do portal de entrada da cidade

Santa Rita é uma cidade típica do interior, pequena e aconchegante, com clima ameno e a tranquilidade que se espera fora dos centros urbanos. Um ótimo refúgio para descansar, mas que infelizmente possui todas suas atrações naturais distantes do centrinho, dificultando a vida do viajante que esteja sem carro.

 
Imagem de Santa Rita de Cássia diante do portal

Seguindo a estrada após transpor o portal de entrada encontra-se o Lago dos Anjos, um grande espaço de lazer.
 
Lago dos Anjos

Em uma pequena praça, com chafariz, está uma estátua em homenagem aos 13 combatentes santarritenses que lutaram na Itália durante a 2º Guerra Mundial.

Praça dos Combatentes

Aline e a estátua que homenageia os soldados

A praça principal contém a bonita Igreja Matriz de Santa Rita de Cássia, de 1859, de onde se pode admirar a praça, o coreto e as casas simples da cidade.

 
Igreja Matriz de Santa Rita
 
Praça da Matriz



Nos hospedamos na Pousada Hospedaria Santa Clara, cujo dono é filho do casal que administra a Fazenda Santa Clara. O lugar é simples, mas aconchegante, o preço foi ótimo e o café da manhã bem farto.

 
Hospedaria Santa Clara: Foto de reprodução da internet

Uma grande dica para quem vai a Santa Rita de Jacutinga é fazer uma visita a Fazenda Santa Clara. Existem duas maneiras de se chegar até lá. A primeira é saindo pelo portal da cidade e seguir até a estrada antes da ponte sobre o rio, seguindo dali na direção a Rio Preto. Nesta opção serão mais 15 Km margeando o rio por uma estrada de terra larga até a entrada da fazenda na outra margem. A segunda opção é saindo pela estrada de terra mais estreita em direção oposta a do portal e mantendo a direita na bifurcação, que a esquerda leva para Cruzeiro e Boqueirão. Esta opção leva por um caminho de terra bem castigado por 18 Km até a fazenda.

 
Casarão da fazenda Santa Clara visto da estrada

Quem nos recebe na fazenda é a própria dona do imóvel, a Sra. Adélia que ali habita com seu marido. Eles cobram uma taxa de R$ 10,00 por pessoa (em 2013...) para a visita guiada que dura aproximadamente uma hora e com isso retiram um pouco de renda para manter o casarão. Também vendem compotas de doces e frutas.

 
Frente do casarão da fazenda
 
Charrete na entrada


A simpática senhora nos recebe muito bem e conta a história do casarão que teve sua construção finalizada no ano de 1856, chegando a ter 2.800 escravos trabalhando.

 
Janela da sala
 
Fazenda Santa Clara

A Sra. Adélia nos conduz pelo interior da casa que possui 12 salões, um para cada mês do ano, 52 quartos, um para cada semana do ano, e 365 janelas, uma para cada dia do ano, apesar de algumas serem apenas pintadas nas paredes. Hoje a casa conta com banheiro, devido a reformas, mas originalmente havia somente um e do lado de fora no melhor estilo “casinha”.

 
Dona Adélia conduzindo Aline pela casa
 
Sala de jantar da fazenda


O casarão poderia estar em melhor estado de conservação, mas a dona nos explica que faltam recursos para manter a manutenção adequada do lugar (não sei como está nos dias de hoje, pois estive lá no ano de 2013).

 
Cozinha original ainda preservada
 
Fonte de água no pátio interno

Pátio interno


Visitamos as salas com os papéis de paredes ainda originais e objetos do século passado, além de uma pequena capela com diversas referências maçônicas.

 
Móveis e papéis de paredes originais
 
Filtro de água ainda usado na casa

Capela dentro da casa

Pintura do teto da capela


O mais impressionante na fazenda está abaixo do casarão, pois o lugar conserva a senzala original, com os instrumentos de torturas ainda expostos.

 
Entrada da senzala

O lugar tem um ar pesado e é impossível não se abater diante de objetos como o “vira-mundo” e a “berlinda”, além de muitos outros ainda conservados.

 
Objetos de tortura ainda expostos na senzala

Pudemos ver o grande retângulo de madeira dividido em duas partes entre as quais havia buracos destinados a prender a cabeça, os pulsos e os tornozelos dos escravos que ficavam presos por vários dias, para servir de exemplo para os outros escravos e as marcas de unhas nas paredes que apontam o desespero e sofrimento dos escravos torturados neste local. O mais impressionante é que a senzala fica localizada abaixo da sala de jantar!!!

 
Marcas de unhas nas paredes demonstram o sofrimento causado aos escravos neste lugar

A Sra. Adélia nos conta que o principal sustento da fazenda não era o café e sim o mercado escravagista e que o lugar funcionava para reprodução de escravos. As meninas procriavam a cada ano a partir da idade de 12 anos.

Objetos de tortura e viga de açoite de escravos

Existem muitas histórias que cercam a fazenda, inclusive de que o Barão de Monte Verde teria mantido sua esposa trancada na parte de cima da casa por 36 anos por ela ser infértil. Outras histórias referem-se a fantasmas de escravos e almas penadas e sofridas que circulam pelos porões. A Sra. Adélia diz que nunca viu nada de outro mundo, mas que não circula por estas áreas após o sol se pôr...

 
Fazenda Santa Clara

Voltando ao casarão é possível ver pelas janelas as instalações ao redor, onde após o fim da escravatura, foi implantado um sistema para fabricação de queijos e que agora encontra-se abandonado e caindo aos pedaços.

 
Área montada para fabricação de queijos

Ainda estão lá os terreiros de café construídos em pedra e óleo de baleia, onde os escravos trabalhavam no passado.

 
Terrero do cafezal

Uma boa dica é almoçar no Restaurante do Duque de comida mineira típica que fica do outro lado do rio, bem a frente do casarão da fazenda. Depois paramos na Cachoeira Santa Clara que fica ao lado do casarão, alguns metros a frente na estrada. Uma pequena queda d’água com um bom poço para banho e margens de areia que formam uma “praia”.

 
Restaurante do duque: Foto de reprodução da internet

Cachoeira Santa Clara ao lado da fazenda

A noite não há muito o que se fazer na pacata cidadezinha e no dia seguinte fizemos a caminhada até o ponto mais alto da cidade no Morro do Calvário. O monte tem esse nome, pois ao longo da pequena estrada de terra que conduz o caminhante até o alto, existem construções, conhecidas como “Passos da Paixão” onde estão representadas as estações da Paixão de Cristo. Na Páscoa são realizadas procissões por este caminho.

Subida do Morro do Calvário: Aline diante de um dos Passos da Paixão

No alto do monte está a Capela de Nossa Senhora Aparecida de 1912, conhecida na cidade apenas como “igrejinha do alto”.

 
Capela de Nossa Senhora Aparecida

Um senhor bem simpático que trabalha no local abriu o templo para conhecermos e permitiu que subíssemos até a torre sineira. O interior da capela é bem simples e aproveitamos para um pequena oração.

 
Interior da capela
 
Eu na capela: Foto tirada do coro alto

Detalhe do sino na torre


O Monte Calvário possui 800 metros de altura e lá do alto é possível ver toda a cidade e seus arredores.

 
Alto do Morro do Calvário
 
Santa Rita de Jacutinga vista de cima


O acesso para subida é por uma rua de terra (que estava para ser coberta com pedras de paralelepípedos) diante da antiga estação de trem, inaugurada em 1918 e totalmente desativada com a retirada dos trilhos na década de 1970.

Antiga Estação de Trem de Santa Rita


É hora de seguir para os verdadeiros atrativos da região: As Cachoeiras. Santa Rita é rica em cachoeiras e esportes de aventura, sendo possível fazer boia-cross, rappel, rafiting entre outros, mas todas as atrações ficam um pouco distantes. Operadoras no local (raras) podem oferecer deslocamento caso compre algum passeio ou cavalos para se deslocar pela região. Nós estávamos de carro e não utilizamos nenhum outro recurso, fomos aos lugares por conta própria.

 
Os arredores de Santa Rita são cheios de rios e córregos
Da estrada se pode ver diversas cachoeiras em fazendas


Deixando a cidade pela rua da estação de trem, no sentido oposto ao do portal, e seguindo por 12 Km chega-se a entrada da estrada para a Cachoeira de Vargem do Sobrado que está a 1 Km da estrada principal.

 
Cachoeira de Vargem do Sobrado

A água estava bem barrenta mas a cachoeira foi bem proveitosa. Seguindo a estrada por mais 3 Km chega-se a Cachoeira do Mendonça que pode ser vista da ponte (não sei se tem como descer para um banho) e mais alguns quilômetros a frente existe uma entrada para a Cachoeira do Pacau, mas deve-se deixar o carro e seguir por uma trilha até ela e não fomos lá.

  
Cachoeira do Mendonça vista da estrada

No nosso último dia em Santa Rita seguimos para um dos cartões postais da região: O Boqueirão da Mira a 17 Km de distância da cidade. Percorremos os 15 Km iniciais de carro até o vilarejo de Cruzeiro. Para entrar na vila deve-se atravessar uma ponte que não parecia muito firme, então deixamos o carro lá e seguimos caminhando.

 
Não tive coragem de passar com o carro na ponte que balançava

Cruzamos o vilarejo de casas simples e paisagem rústica do interior mineiro até sair pela estrada do outro lado que segue na direção das fazendas e cachoeiras do vale do Boqueirão.

 
Vila de Cruzeiro
 
Igreja de Cruzeiro em uma colina


Depois de passar por Cruzeiro caminha-se por mais 1 Km até a Cachoeira dos Meireles, mas o caminho não é bem sinalizado e entramos em uma fazendo por engano, até que um senhor que lá trabalhava nos indicou o caminho correto. Para se chegar a cachoeira é necessário descer uma pequena trilha na mata que é indicada por uma placa pintada na tampo de um latão metálico.

 
Placa no alto de uma árvore aponta o caminho para a pequena trilha

A cachoeira é na verdade uma corredeira com um bom poço para banho. Ficamos ali um tempo.

 
Cachoeira dos Meireles

Se o caminho até este ponto é mal sinalizado, a partir dali a sinalização some por completo, mas basta seguir a trilha com o rio a sua direita. O caminho termina em uma porteira de propriedade particular com uma placa que alerta para “GADO BRAVO”. Não se assuste, pois o caminho é esse mesmo. Ignorando o aviso deve-se seguir por alguns metros até a ponte de cimento, neste ponto deve-se atravessar e passar a subir a trilha com o rio a sua esquerda. Não encontramos nenhum gado na nossa trilha e seguimos adiante, cruzando o pasto até avistarmos a grande fenda do boqueirão em meio a mata. Depois foi só seguir até lá por uma pequena trilha entre as árvores.

 
Último trecho: depois de cruzar o pasto alguns metros de mata até o boqueirão
Boqueirão da Mira


O Boqueirão da Mira é realmente um lugar lindo. Com duas paredes de pedra com mais de 50 metros de altura, separadas pela água, formando um lago ótimo para banho e uma pequena corredeira a frente. Não me arrisquei a nadar entre as paredes de rocha, pois não conheço o rio e podem haver buracos ou obstáculos que venham a prender os pés e causar acidentes.

 
Poço diante da fenda na rocha
 
O rio após passar pelo Boqueirão


Retornamos a Santa Rita e almoçamos em um restaurante de comida a quilo próximo a estação de trem. Depois seguimos para a Cachoeira do Sô Ito que fica a 3 Km de distância da cidade.

 
Rio próximo a Cachoeira de Sô Ito

Caminhamos até um trecho de rio com uma ótima área para mergulhar e aproveitamos nosso fim de viagem por ali. Este também é um ponto de camping e pode-se montar a barraca as margens do Rio Bananal, sendo uma boa opção de hospedagem.

 
Área para Camping em Sô Ito

No fim do dia era hora de voltar para casa com a certeza de que Santa Rita de Jacutinga é um ótimo lugar para se visitar, mas que ainda carece de informação e sinalização. Uma boa opção é acampar a margem de alguma cachoeira e passar o fim de semana descansando ou fazendo turismo de aventura em um ou outro dia com alguma operadora, pois a distância entre as diversas atrações naturais dificulta conhecer vários pontos.

Gastos para 2 pessoas durante três dias em março de 2013:

- Hospedagem na Pousada Santa Clara: R$ 180,00;
- Alimentação: R$ 140,00;
- Visita a Fazenda Santa Clara: R$ 20,00;
- Combustível: R$ 120,00;
- Pedágios: R$ 20,20.