Em
março de 2013 fomos conhecer Santa Rita de Jacutinga, uma pequena cidade do
interior mineiro, com cerca de 5 mil habitantes.
Fomos
atraídos pela fama da cidade com mais cachoeiras no Brasil, já que números
oficiais apontam que existem 72 cachoeiras espalhadas nos arredores da cidade,
além de inúmeros rios e córregos que formam poços propícios ao banho.
Em uma pequena praça, com chafariz, está
uma estátua em homenagem aos 13 combatentes santarritenses que lutaram na
Itália durante a 2º Guerra Mundial.
Praça dos Combatentes |
Aline e a estátua que homenageia os soldados |
A praça principal contém a bonita Igreja
Matriz de Santa Rita de Cássia, de 1859, de onde se pode admirar a praça, o
coreto e as casas simples da cidade.
Igreja Matriz de Santa Rita |
Praça da Matriz |
Nos hospedamos na Pousada Hospedaria Santa
Clara, cujo dono é filho do casal que administra a Fazenda Santa Clara. O lugar
é simples, mas aconchegante, o preço foi ótimo e o café da manhã bem farto.
Uma grande dica para quem vai a Santa Rita
de Jacutinga é fazer uma visita a Fazenda Santa Clara. Existem duas maneiras de
se chegar até lá. A primeira é saindo pelo portal da cidade e seguir até a
estrada antes da ponte sobre o rio, seguindo dali na direção a Rio Preto. Nesta
opção serão mais 15 Km margeando o rio por uma estrada de terra larga até a
entrada da fazenda na outra margem. A segunda opção é saindo pela estrada de
terra mais estreita em direção oposta a do portal e mantendo a direita na
bifurcação, que a esquerda leva para Cruzeiro e Boqueirão. Esta opção leva por
um caminho de terra bem castigado por 18 Km até a fazenda.
Quem nos recebe na fazenda é a própria dona
do imóvel, a Sra. Adélia que ali habita com seu marido. Eles cobram uma taxa de
R$ 10,00 por pessoa (em 2013...) para a visita guiada que dura aproximadamente uma hora e
com isso retiram um pouco de renda para manter o casarão. Também vendem
compotas de doces e frutas.
Frente do casarão da fazenda |
Charrete na entrada |
A simpática senhora nos recebe muito bem e
conta a história do casarão que teve sua construção finalizada no ano de 1856,
chegando a ter 2.800 escravos trabalhando.
Janela da sala |
Fazenda Santa Clara |
A Sra. Adélia nos conduz pelo interior da casa que possui 12 salões, um para cada mês do ano, 52 quartos, um para cada semana do ano, e 365 janelas, uma para cada dia do ano, apesar de algumas serem apenas pintadas nas paredes. Hoje a casa conta com banheiro, devido a reformas, mas originalmente havia somente um e do lado de fora no melhor estilo “casinha”.
Dona Adélia conduzindo Aline pela casa |
Sala de jantar da fazenda |
O casarão poderia estar em melhor estado de
conservação, mas a dona nos explica que faltam recursos para manter a
manutenção adequada do lugar (não sei como está nos dias de hoje, pois estive
lá no ano de 2013).
Cozinha original ainda preservada |
Fonte de água no pátio interno |
Pátio interno |
Visitamos as salas com os papéis de paredes
ainda originais e objetos do século passado, além de uma pequena capela com
diversas referências maçônicas.
Móveis e papéis de paredes originais |
Filtro de água ainda usado na casa |
Capela dentro da casa |
Pintura do teto da capela |
O mais impressionante na fazenda está
abaixo do casarão, pois o lugar conserva a senzala original, com os
instrumentos de torturas ainda expostos.
O lugar tem um ar pesado e é impossível não
se abater diante de objetos como o “vira-mundo” e a “berlinda”, além de muitos
outros ainda conservados.
Pudemos ver o grande retângulo de madeira
dividido em duas partes entre as quais havia buracos destinados a prender
a cabeça, os pulsos e os tornozelos dos escravos que ficavam presos por vários
dias, para servir de exemplo para os outros escravos e as marcas de unhas nas
paredes que apontam o desespero e sofrimento dos escravos torturados neste
local. O mais impressionante é que a senzala fica localizada abaixo da sala de
jantar!!!
A Sra. Adélia nos conta que o principal
sustento da fazenda não era o café e sim o mercado escravagista e que o lugar
funcionava para reprodução de escravos. As meninas procriavam a cada ano a
partir da idade de 12 anos.
Objetos de tortura e viga de açoite de escravos |
Existem muitas histórias que cercam a
fazenda, inclusive de que o Barão de Monte Verde teria mantido sua esposa
trancada na parte de cima da casa por 36 anos por ela ser infértil. Outras
histórias referem-se a fantasmas de escravos e almas penadas e sofridas que
circulam pelos porões. A Sra. Adélia diz que nunca viu nada de outro mundo, mas
que não circula por estas áreas após o sol se pôr...
Voltando ao casarão é possível ver pelas
janelas as instalações ao redor, onde após o fim da escravatura, foi implantado
um sistema para fabricação de queijos e que agora encontra-se abandonado e
caindo aos pedaços.
Ainda estão lá os terreiros de café
construídos em pedra e óleo de baleia, onde os escravos trabalhavam no passado.
Uma boa dica é almoçar no Restaurante do
Duque de comida mineira típica que fica do outro lado do rio, bem a frente do
casarão da fazenda. Depois paramos na Cachoeira Santa Clara que fica ao lado do
casarão, alguns metros a frente na estrada. Uma pequena queda d’água com um bom
poço para banho e margens de areia que formam uma “praia”.
Cachoeira Santa Clara ao lado da fazenda |
A noite não há muito o que se fazer na
pacata cidadezinha e no dia seguinte fizemos a caminhada até o ponto mais alto
da cidade no Morro do Calvário. O monte tem esse nome, pois ao longo da pequena
estrada de terra que conduz o caminhante até o alto, existem construções,
conhecidas como “Passos da Paixão” onde estão representadas as estações da Paixão
de Cristo. Na Páscoa são realizadas procissões por este caminho.
Subida do Morro do Calvário: Aline diante de um dos Passos da Paixão |
No alto do monte está a Capela de Nossa
Senhora Aparecida de 1912, conhecida na cidade apenas como “igrejinha do alto”.
Um senhor bem simpático que trabalha no
local abriu o templo para conhecermos e permitiu que subíssemos até a torre
sineira. O interior da capela é bem simples e aproveitamos para um pequena
oração.
Interior da capela |
Eu na capela: Foto tirada do coro alto |
Detalhe do sino na torre |
O Monte Calvário possui 800 metros de
altura e lá do alto é possível ver toda a cidade e seus arredores.
Alto do Morro do Calvário |
Santa Rita de Jacutinga vista de cima |
O acesso para subida é por uma rua de terra (que estava para ser coberta com pedras de paralelepípedos) diante da antiga estação de trem, inaugurada em 1918 e totalmente desativada com a retirada dos trilhos na década de 1970.
Antiga Estação de Trem de Santa Rita |
É hora de seguir para os verdadeiros
atrativos da região: As Cachoeiras. Santa Rita é rica em cachoeiras e esportes
de aventura, sendo possível fazer boia-cross, rappel, rafiting entre outros,
mas todas as atrações ficam um pouco distantes. Operadoras no local (raras) podem
oferecer deslocamento caso compre algum passeio ou cavalos para se deslocar
pela região. Nós estávamos de carro e não utilizamos nenhum outro recurso, fomos
aos lugares por conta própria.
Da estrada se pode ver diversas cachoeiras em fazendas |
Deixando a cidade pela rua da estação de
trem, no sentido oposto ao do portal, e seguindo por 12 Km chega-se a entrada
da estrada para a Cachoeira de Vargem do Sobrado que está a 1 Km da estrada
principal.
A água estava bem barrenta mas a cachoeira foi
bem proveitosa. Seguindo a estrada por mais 3 Km chega-se a Cachoeira do
Mendonça que pode ser vista da ponte (não sei se tem como descer para um banho)
e mais alguns quilômetros a frente existe uma entrada para a Cachoeira do
Pacau, mas deve-se deixar o carro e seguir por uma trilha até ela e não fomos
lá.
No nosso último dia em Santa Rita seguimos
para um dos cartões postais da região: O Boqueirão da Mira a 17 Km de distância
da cidade. Percorremos os 15 Km iniciais de carro até o vilarejo de Cruzeiro.
Para entrar na vila deve-se atravessar uma ponte que não parecia muito firme,
então deixamos o carro lá e seguimos caminhando.
Cruzamos o vilarejo de casas simples e
paisagem rústica do interior mineiro até sair pela estrada do outro lado que
segue na direção das fazendas e cachoeiras do vale do Boqueirão.
Depois de passar por Cruzeiro caminha-se
por mais 1 Km até a Cachoeira dos Meireles, mas o caminho não é bem sinalizado
e entramos em uma fazendo por engano, até que um senhor que lá trabalhava nos
indicou o caminho correto. Para se chegar a cachoeira é necessário descer uma
pequena trilha na mata que é indicada por uma placa pintada na tampo de um
latão metálico.
A cachoeira é na verdade uma corredeira com
um bom poço para banho. Ficamos ali um tempo.
Se o caminho até este ponto é mal
sinalizado, a partir dali a sinalização some por completo, mas basta seguir a
trilha com o rio a sua direita. O caminho termina em uma porteira de
propriedade particular com uma placa que alerta para “GADO BRAVO”. Não se
assuste, pois o caminho é esse mesmo. Ignorando o aviso deve-se seguir por
alguns metros até a ponte de cimento, neste ponto deve-se atravessar e passar a
subir a trilha com o rio a sua esquerda. Não encontramos nenhum gado na nossa trilha
e seguimos adiante, cruzando o pasto até avistarmos a grande fenda do boqueirão
em meio a mata. Depois foi só seguir até lá por uma pequena trilha entre as
árvores.
Boqueirão da Mira |
O Boqueirão da Mira é realmente um lugar
lindo. Com duas paredes de pedra com mais de 50 metros de altura, separadas
pela água, formando um lago ótimo para banho e uma pequena corredeira a frente.
Não me arrisquei a nadar entre as paredes de rocha, pois não conheço o rio e
podem haver buracos ou obstáculos que venham a prender os pés e causar
acidentes.
Retornamos a Santa Rita e almoçamos em um
restaurante de comida a quilo próximo a estação de trem. Depois seguimos para a
Cachoeira do Sô Ito que fica a 3 Km de distância da cidade.
Caminhamos até um trecho de rio com uma
ótima área para mergulhar e aproveitamos nosso fim de viagem por ali. Este
também é um ponto de camping e pode-se montar a barraca as margens do Rio
Bananal, sendo uma boa opção de hospedagem.
No fim do dia era hora de voltar para casa
com a certeza de que Santa Rita de Jacutinga é um ótimo lugar para se visitar,
mas que ainda carece de informação e sinalização. Uma boa opção é acampar a
margem de alguma cachoeira e passar o fim de semana descansando ou fazendo
turismo de aventura em um ou outro dia com alguma operadora, pois a distância
entre as diversas atrações naturais dificulta conhecer vários pontos.
Gastos para 2 pessoas durante três dias em
março de 2013:
- Hospedagem na Pousada Santa Clara: R$
180,00;
- Alimentação: R$ 140,00;- Visita a Fazenda Santa Clara: R$ 20,00;
- Combustível: R$ 120,00;
- Pedágios: R$ 20,20.