sábado, 18 de outubro de 2014

Lago Titicaca (Puno)


6º Dia no Peru (dia 6 do mochilão)

Nossa primeira noite em um ônibus foi um pouco cansativa. Aline passou muito mal durante a viagem, provavelmente, por conta da altitude, já que Puno está a mais de 3800 metros acima do nível do mar.

Nós chegamos a rodoviária de Puno por volta das 5h30min da manhã do dia 12 de março. A intenção em visitar a cidade era somente conhecer a parte peruana do famoso Lago Titicaca e logo que desembarcamos aparecem pessoas oferecendo pacotes de passeios para o dia.



Chegando em Puno


Existem pacotes de 1 ou 2 dias (este dormindo em casas de moradores da Ilha Amantani, que não visitamos) e nós fechamos o pacote para 1 dia com a empresa “Jumbo Travel”, com direito a visita as Ilhas Flutuantes de Los Uros e Ilha Taquile.

 Aline continuava passando muito mal e o senhor da empresa turística nos ofereceu uma caneca de chá de Coca para aliviar o mal da altitude. No segundo andar da rodoviária pode-se tomar um desayuno simples e aproveitamos para esperar o sol nascer enquanto comíamos uma empanada e tomávamos um chocolate quente.

 
O raiar do dia no Titicaca

O barco para o passeio parte do porto de Puno as 8h e a própria operadora de turismo faz o transfer até o local, que é bem próximo da rodoviária.

 
Porto e início da Reserva Nacional do Titicaca
 
Farol no porto de Puno


O barco é grande e confortável possuindo bancos recostáveis de ônibus, o que era ótimo, pois passaríamos mais tempo nele do que em terra neste dia. Na parte de cima havia alguns bancos de madeira que permitiam a viajante sentir o vento frio no rosto.

 
Barco da Jumbo Travel

Enquanto navegávamos para nossa primeira parada um guia a bordo explica que segundo a lenda andina, a civilização inca nasceu nas águas do Titicaca. Manco Cápac e Mama Ocllo, sua esposa, teriam assim emergido do lago e vivido inicialmente na ilha batizada de Isla del Sol, em território boliviano nos dias de hoje. Posteriormente, teriam seguido para a região de Cusco.

 
Isla del Sol no horizonte: Lado boliviano do lago

O Titicaca tem três partes: a baía, o lago maior e o lago menor. Na baía, a profundidade atinge 20 metros no máximo, enquanto no lago maior chega aos 280 metros. O Lago Titicaca está localizado a 3820 metros acima do nível do mar e tem por volta de 8300 km², com 60% de sua área no Peru e 40% na Bolívia, sendo o segundo maior lago em extensão da América do Sul e é considerado o mais alto do mundo comercialmente navegável. Mais de 20 rios deságuam no Titicaca e ele é alimentado por água das chuvas e do degelo dos picos nevados ao seu redor.

 
Titicaca

Existem quase 40 ilhas naturais e cerca de 70 construídas artificialmente em todo Titicaca. As ilhas artificiais são as chamadas Ilhas Flutuantes e habitadas ainda hoje pelo povo Uros. Nossa primeira parada seria em uma destas ilhas e segundo o guia viver em uma ilha flutuante era uma estratégia para não se deixar dominar por outros povos, pois a fuga era facilitada. Assim, a história de Uros é um símbolo de resistência ao domínio do estrangeiro e das fugas.

Uma das ilhas flutuantes dos povos Uros

Nós chegamos às Ilhas Flutuantes de Uros uns 30 minutos depois de partirmos do porto do Titicaca. O guia nos ensinara algumas poucas palavras na língua Aimará, para cumprimentarmos os povos Uros em sua língua natal.

 
Chegando na ilha flutuante

Descemos na pequena ilha flutuante e nos reunimos sentados em círculo ao redor do guia e um morador local que nos contou o que é e como é feita uma ilha flutuante.

 
Cemi-círculo a nossa espera no centro da ilha

Eles explicam que as ilhas artificiais são feitas a partir de uma planta bem comum no Titicaca, a “totora”, uma espécie de junco. Essa planta é o material que serve para a edificação das casas, barcos, canoas e das próprias ilhas.

 
Aula sobre a ilha e a Totora

No passado os povos Uros usavam a totora para confecção de barcos que eram feitos em grandes tamanhos e continham pequenas casas a bordo. As famílias então moravam nos barcos sobre as águas do lago. Com o passar dos anos essas moradias foram se sofisticando até chegarem a ser as ilhas que vemos hoje em dia.

 
Barco de Totora atual: bem menores que os antigos

Acompanhamos atentamente a historio dos povos Uros e tivemos uma aula prática, em escala reduzida, de como construir uma ilha flutuante. Primeiro, coloca-se a raiz do junco formando blocos de aproximadamente 1,5 m³. A seguir, talos de eucaliptos são posicionados nas esquinas de cada bloco, como proteção, fazendo-se uma amarração entre os blocos e colocando-se o piso de totora. As ilhas flutuam sobre conjuntos de blocos que somam de 20 a 25 metros de profundidade.

 
Ilha em escala reduzida

O guia explica que cada ilha possui um líder, como um prefeito local, e que nelas habitam até cinco famílias distintas. O líder local de onde estávamos era o senhor que nos explicava sobre o lugar em Aimará, com tradução do guia. Ele explica que uma ilha flutuante demora até 1 ano para ser construída e tem uma durabilidade que chega a 50 anos, antes de precisar ser abandonada, mas que, para isto, a cada 15 dias o piso deve ser trocado como forma de manutenção.

 
Aline e eu sobre a totora que forma a ilha

Por fim eles explicam que nas ilhas Uros, vivem caçadores e pescadores, especialmente de truta, mas que os povos só conseguem se manter vivendo nas tradições de seus antepassados devido ao turismo e a venda de artesanato. Então fomos deixados livres para percorrer a ilha e comprar os produtos artesanais, que são confeccionados ali mesmo diante de nós.

 
Arma de caça dos Uros

Caminhamos pela pequena ilha e a sensação de pisar nas ilhas artificiais é bem estranha. Acho que posso dizer que é como andar em um colchão sobre a água. A cada passo o chão afunda e balança um pouco e o pé afunda e volta.

 
Ilha flutuante
 
Flutuando no Titicaca


A ilha é bem pequena e as humildes casas nada mais são do que choupanas com colchonetes de totora e sacos de roupas e materiais de trabalho. Um programa do governo peruano instalou placas de energia solar que permitem alguns poucos luxos como uma pequena televisão, por exemplo.


Casa de família na ilha
Pode-se fazer um passeio de 15 minutos em um dos barcos tradicionais dos Uros, mas paga-se a parte e não fizemos isso. Os preços do artesanato são mais altos e pode-se negociar entre as famílias locais o melhor valor. No fim compramos capas de almofadas com o calendário maia bordado e que estavam sendo confeccionadas diante de nossos olhos.

 
Passeio de barco de totora

Voltamos ao barco e nos dirigimos para o que seria a segunda e última parada do dia: A Ilha Taquile. A viagem no barco é demorada e bem cansativa, mas é uma boa hora de fazer amizades e durante o percurso conhecemos a Fernanda e a Joana que são brasileiras também.

 
Aline e eu

Depois de horas navegando finalmente descemos na linda Ilha Taquile. Nossa programação de algumas horas consistia, basicamente, em descer em um porto da ilha e caminhar para o outro lado, onde o barco ia nos esperar. O guia pede que caminhemos sempre juntos, pois é fácil se perder e explica que no caminho andaríamos pelas simpáticas trilhas, passaríamos pelos famosos arcos de pedra e almoçaríamos na ilha.

 
Chegando em Taquile

As paisagens na Taquile são lindíssimas. Logo na chegada nos deparamos com um arco de pedra marcando o início do caminho pela ilha.

 
Arco de entrada na ilha

A ocupação de Taquile remonta ao período pré-inca e várias construções de pedras da antiga civilização pré-colombiana podem ser encontradas na ilha, além dos terraços agrícolas. Depois, já no período colonial e até o início do séc. XX, Taquile foi usada como prisão, até que, ao longo do século passado, as terras foram devolvidas aos habitantes originais, um povo de fala quéchua. Hoje a economia da ilha vem crescendo com o turismo.

 
Taquile
 
Paisagens lindas em Taquile


Seguimos pelo caminho que corta áreas agrícolas e logo cruzamos com ovelhas que andam calmamente pelas trilhas.

 
Área agrícola
 
Criação de ovelhas

Aline fazendo amizade


Subimos andando por quase uma hora e o ar rarefeito nos faz sentir os efeitos da altitude. Enfim chegamos a Praça de Armas que é bem simples, tendo uma bonita igreja junto ao arco de pedra do fim do caminho de subida. A igreja estava fechada, mas sua arquitetura com a torre externa rendeu boas fotos.

Praça de Armas

Igreja e torre

Detalhe da torre da igreja

Da praça tem-se uma vista privilegiada do horizonte e da imensidão azul do Titicaca. O guia reúne o grupo e explica sobre os costumes dos habitantes da ilha. A forma como se vestem define o status social. Pessoas importantes na comunidade usam toucas com protetores de orelha enquanto os demais habitantes usam toucas normais. Os homens casados usam toucas bem coloridas e os solteiros usam toucas com grandes detalhes em branco. As mulheres que usam saias pretas são casadas e as que usam saias coloridas são solteiras. Ele explica que os habitantes locais não gostam de ser fotografados, mas que pode-se tirar fotos com alguns que aceitam em troca de alguns nuevos soles peruanos. Tivemos um tempo livre para admirar e fotografar a paisagem.

 
Vista da Praça
 
Com o Titicaca ao fundo

Longe de casa

Mirante na Praça de Armas

Taquile tem lindas paisagens para todo lado



Seguimos então para o local de nosso almoço (que é cobrado a parte, não estando incluso no preço do tour). Uma casa simples com uma varanda de frente para a linda paisagem do Titicaca e uma mesa grande o bastante para acomodar todo o grupo. Uma tenda de lona suspensa servia para proteger do sol quente, trazendo uma sensação quase medieval. O almoço é bem servido com sopa de entrada e filé de truta com arroz e fritas como prato principal. Não comi a sopa, mas o peixe pescado no próprio Titicaca estava ótimo. Uma apresentação de música típica ajuda a se sentir em um lugar especial.

 
Seguindo para o almoço
 
Almoço no Titicaca

Apresentação de música típica


Depois do almoço era hora de voltar ao barco descendo pelo outro lado da ilha. Seguimos pelo caminho margeando a encosta pedregosa de Taquile, quando encontramos uma criança taquilenha e Aline comprou uma foto com uma pequena “propina”.


Foto com o menino com vestimentas típicas


Aline e o Titicaca


O caminho de volta



A ilha quase não tem praias, sendo rodeada de encostas íngremes com um platô mais alto. A vista é magnífica durante todo o percurso, tanto do lago como da própria ilha com sua paisagem campestre.


Vista magnífica o tempo todo


Paisagem campestre


Costa rochosa e águas claras



Cruzamos mais alguns arcos de pedra pela estreita estrada de pedras e finalmente chegamos ao porto onde nosso barco nos esperava. Infelizmente era hora de deixar a ilha para trás.


Último portal da ilha



Embarcamos de volta em uma viagem lenta, que levou aproximadamente quatro horas para percorrer os 45 Km que separam a ilha do porto de Puno. Aproveitamos para dormir já que a noite anterior no ônibus foi cansativa e a próxima noite também seria em um ônibus em direção a cidade de Arequipa.


Voltando para Puno


Última foto do Titicaca


Chegamos de volta em Puno por volta das 17h30min, não havíamos comprado passagens na rodoviária com medo de perder o ônibus com algum atraso na viagem pelo lago, pois só haviam dois horários para Arequipa: 18h e 22h.


A maior parte do grupo que estava no tour voltaria para Cusco em um ônibius as 22h e combinaram de ir para a Plaza de Armas de Puno tomar umas cervejas enquanto esperavam a hora do retorno. Eu e Aline decidimos antecipar a viagem e tentar tomar o ônibus das 18h para Arequipa, com isso não conhecemos o centro histórico de Puno, mas acho que não perdemos nada, além de uma igreja fechada na noite. Nos despedimos das brasileiras que havíamos conhecido e tomamos um taxi para a rodoviária logo à frente.

Foi tudo muito corrido. Enquanto eu ia comprar os bilhetes para o ônibus que partiria em vinte minutos, Aline foi na agência buscar nossas mochilas no maleiro. Ainda deu tempo de ir no banheiro sujo da rodoviária, pelo qual deve-se pagar. Antes de embarcar deve-se pagar uma taxa de embarque em um guichê específico que tinha uma grande fila. No fim deu o tempo certinho de fazer tudo isso e chegar na plataforma do ônibus na hora certa do embarque.


O ônibus da empresa Julsa era um dos mais baratos e apesar de ser igual ao que havíamos tomado na viagem entre Cusco e Puno (semi leito) este era mais popular e usado por trabalhadores em deslocamento entre cidades intermediárias, o que fazia com que houvesse muitas paradas no percurso. Para piorar havia uma enorme rachadura no para-brisa dianteiro e o estado de limpeza me lembrava os ônibus piratas que circulam pelo Rio de Janeiro clandestinamente.

Embarcando para Arequipa

Gastos para 2 pessoas em 12/03/2014:

- Desjejum: S./ 7,50
- Tour pelo Titicaca: S./ 200,00
- Entradas das ilhas: S./ 30,00
- Artesanato local: S./ 40,00
- Almoço em Taquile: S./ 40,00
- Água: S./ 6,00
- Banheiro da rodoviária: S./ 1,50
- Taxa de embarque da rodoviária: S./ 2,00
- Passagem para Arequipa (ônibus da Julsa): S./ 60,00

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