segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Cusco: Maras e Moray


5º Dia no Peru (dia 5 do mochilão)

No dia 11 de março de 2014 acordamos as 8h, pois iríamos fazer o último tour já contratado: Terraços agrícolas de Moray e Salinas de Maras. Tomamos o desayuno e nos pomos a esperar o guia como sempre.



Aline na recepção do Hostel Villa San Blas

Esse tour não é tão cedo quanto os outros e o guia passou para nos buscar as 9h45min, com 15 minutos de atraso para a hora agendada. Entramos no micro ônibus e logo tivemos uma agradável surpresa: A primeira parada seria em Chinchero, apesar de esse tour normalmente não parar lá.

No dia anterior a subida à Machu Picchu fizemos o tour pelo Vale Sagrado dos Incas, no entanto, não chegamos a última parada do passeio, que era Chinchero, pois tomamos o trem em Ollantaytambo. E agora teríamos a chance de conhecer o lugar, mesmo que rapidamente.

Chinchero está a 28 Km de Cusco e sua principal atração turística é uma ruína onde existe uma igreja e o mercado de artesanato, cujo melhor dia para visitar é o domingo. Infelizmente essa visita só se faz no tour do Vale Sagrado mesmo e nós fomos até lá para conhecer a fabricação têxtil artesanal.

Paramos em uma oficina têxtil, para observar o trabalho das artesãs na confecção de roupas. Éramos esperados por duas senhoritas vestidas a caráter para demonstração de como elas ainda lavam a lã de alpacas e lhamas e tingem o material com corantes naturais.

 
Artesãs de Chinchero

Elas nos mostraram um parasita agregado a cactos que se amassado sobre as mãos pode-se extrair um líquido rubro usado para tingir o tecido. Misturado a outras substâncias como sal e limão, o líquido adquire diferentes tons de vermelho. Outras cores, como azul, verde e amarelo são obtidas também naturalmente através de outras plantas e raízes. Elas realizam o tingimento de alguns tecidos ali diante de nós como demonstração.

 
Cacto com parasita usado para tingimento
 

Aula de tingimento natural de tecidos


Uma das demonstrações mais interessantes é o chamado “xampu Inca”, substância espumante, semelhante a sabão, extraída de uma raiz dos Andes usada para lavar as lãs e, segundo as mulheres, o segredo para o cabelo negro das descendentes indígenas, uma vez que ele combateria os fios brancos quando usado para lavar os cabelos.

Nativa dando explicações sobre a cultura e o artesanato
No fim da “aula” elas nos servem chá de munia (Aline achou bem melhor do que chá de coca e eu admito que nem provei) e não cobram nada pela demonstração, mas tentam nos vender seus produtos. Nós não compramos nada, mas achamos que valeu muito a visita, pois a oportunidade de conhecimento da cultura inca não tem preço.

 
Exposição para venda de tapeçaria feita a mão

Deixamos Chinchero e atravessando uma longa estrada de terra em meio a lindas paisagens andinas, rumamos para Moray, um distrito de Urubamba.

 
Chegando a Zona Arqueológica de Moray

De longe Moray parece um anfiteatro grego, mas de perto vê-se um grande complexo de terraços agrícolas que em forma de escada apresentam variação de temperatura de até 15°C entre o topo e a base no centro, com cada degrau apresentando uma temperatura diferente, devido a variação altitude e de exposição ao sol.

 
Terraços agrícolas de Moray

Moray foi um grande laboratório de agricultura dos incas que era usado para testar as melhores condições para o cultivo de diversas espécies. Os terraços elípticos se chamam Muyus e há três deles bem visíveis em Moray, tendo o maior quase 50 metros de profundidade.

 
Muyu maior
 

Muyu intermediário



Muyu Menor



O guia explica que todo o sistema foi erguido sobre muros de arrimo preenchidos com terra e irrigados por um complexo sistema e que os terraços, de 2m de altura, exibem traços de mais de 250 tipos de cereais e legumes.

 
Detalhe dos terraços agrícolas
 

Caminhando nos Muyus



Subindo os terraços



No horizonte as nuvens negras começavam a se formar enquanto caminhávamos entre os terraços.

 
Aline e eu nas terras agrícolas incas
 

Nuvens negras se aproximam



O vento frio aumentava e apesar do sol ainda alto no céu o clima estava mais parecido com o dos picos nevados no horizonte a frente. Nos apressamos em sair enquanto a chuva nos cercava pela estrada.

 
Picos nevados entre as nuvens de chuva
 

A chuva chegando no Muyu menor



Seguimos no micro ônibus para o povoado de Maras. A chuva nos cercava e fizemos um city tour de dentro do veículo com o guia apontando o humilde e simples povoado pela janela.

 
Chuva na estrada para Maras
 

Praça de Armas de Maras



Ruas simples do povoado de Maras
Chegamos finalmente as famosas Salinas de Maras, que remontam aos tempos pré-colombianos. A descida da estrada principal para as salinas é feita em uma estradinha minúscula de terra, onde só passa um veículo de cada vez. A sensação é de que o ônibus vai despencar pelo barranco, mas no fim chegamos todos bem.

 
Salinas de Maras vistas do alto da estrada

O complexo salineiro é abastecido por um olho d’água e pequenos canais que distribuem a água extremamente salgada por 4.828 “piscinas” onde a água evapora sob o sol para a extração de sal. Centenas de mineradores ainda trabalham no local utilizando a mesma antiga técnica extratora.


Olho d'água que abastece as salinas

Piscinas das salinas de Maras


Ficamos livres para caminhar por entre as piscinas de sal por um tempo e aproveitei para algumas fotos do lugar que eu, particularmente, achei extremamente interessante, pois nunca havia visto água salgada brotando da terra naturalmente tão distante do mar.

 
Salinas expostas para evaporação da água e extração do sal
 

Caminhando pelas piscinas de sal


Aline e as piscinas


O lugar é impressionante



No fim, como de costume, o tour nos levou a lojas no lugar. Além do já cansativo artesanato peruano podia-se comprar os 3 tipos de sal produzidos em Maras.

 
Os 3 tipos de sal vendidos nas salinas

Retornamos ao micro ônibus e voltamos para a estrada rumo a cidade. A chuva ficou para trás e pudemos observar a linda paisagem andina, com uma mistura de cores vivas da natureza.

 
Estrada para Cusco
 
Paisagens de cores vivas



A natureza parece uma pintura



Eram mais de 15h quando retornamos a Cusco. Ainda do ônibus avistamos a Iglesia de San Cristobal construída sobre o que foi outrora o palácio de Manco Capac. Segundo o guia, sua construção começou em 1673 e era uma paróquia destinada aos índios e nativos locais. É um templo de uma torre, cuja arquitetura é quase igual à da Igreja de Santa Clara, a torre da igreja é de pedra, mas a igreja em si é feita de adobe.

 
Iglesia de San Cristóbal em Cusco

O micro ônibus nos deixa na Praça de Armas, diante da bonita Igreja da Companhia de Jesus, junto à Catedral. Ela foi construída à custa da destruição do palácio inca de Huayna Cápac que se encontrava no mesmo local. Erguida pelos jesuítas em 1571 e destruída pelo terremoto de 1650, a Companhia de Jesus passou por um processo de reconstrução até 1688. Deixamos para visitar a igreja após as 17h, quando a visitação é livre (e acabamos não voltando).

 
Igreja da Companhia de Jesus

Ao lado encontra-se a famosa Catedral, construída em 1560, levou mais de um século para ser completamente terminada. Sua base está edificada sobre o antigo palácio do inca Wiracocha e, como se não bastasse essa destruição, os blocos de pedra usados para erguê-la vieram da fortaleza inca, agora arruinada, de Sacsayhuamán, que visitamos no City Tour do primeiro dia em Cusco.

 
Catedral de Cusco

Aproveitamos para fazer o cambio de U$ 150,00 por S./ 415,50, em uma taxa bem próxima da que pagaram da outra vez. Seguimos em direção ao hostel, passando pela praça e igreja de San Blas. Pegamos nossas mochilas e encerramos nossa estadia no hostel.

 
Iglesia San Blas

Caminhamos pelas ruas de Cusco e compramos a passagem de ônibus com destino a cidade de Puno para as 22h, o que nos deu um bom tempo livre para conhecer mais um pouco da cidade.

 
Arquitetura cusquenha
 
Ruas de Cusco



Praças e canteiros



Não havíamos conhecido o interior de nenhuma igreja em Cusco, então seguimos em direção a Igreja e Monastério de Santa Teresa. A igreja estava fechada e só é possível chegar até a porta do claustro onde existe uma pequena janelinha que serve para atendimento a população e única comunicação das freiras enclausuradas com o mundo.

 
Igreja e Monastério de Santa Teresa
 

Monastério



Aline na entrada do claustro



Saímos da igreja e, sob nuvens negras de chuva, passamos diante do prédio da Municipalidade de Cusco e resolvemos conhecer algum museu cusquenho.

 
Nuvens negras sobre o prédio da Municipalidade de Cusco

Existem diversos museus na cidade e fomos visitar o Museu de História Regional, antiga casa do historiador e poeta inca do século XVI, Garcilaso de La Vega.

 
Museu de História Regional

Não se permitem fotos nas salas do museu que exibe peças datadas da época pré-cerâmica até o período colonial, além de diversas pinturas da escola cusquenha.





Antiga casa de Garcilasco de La Vega

Um quarto conta a história do antigo dono da casa: o escritor e historiador peruano mestiço e cronista inca Garcilaso de La Vega. Nascido em Cusco, mudou-se para Espanha aos 20 anos de idade e hoje é considerado como o pai das letras do continente americano. Filho de um cavaleiro espanhol e da princesa inca filha do imperador Huallpa-Túpac, educou-se entre referências culturais das tradições inca e espanhola. Serviu o exército espanhol chegando a ser capitão, mas abandonou o posto devido ao preconceito com sua condição de mestiço e voltou-se para o estudo da história e à leitura e tradução dos poetas clássicos e renascentistas.

 
Pátio interno do Museu

Saímos do museu e fomos surpreendidos com a chuva forte que havia nos cercado mais cedo em Maras e Moray. As igrejas de Cusco abrem para visitação após as 17h então corremos em direção a Plaza de San Francisco, onde encontramos a igreja aberta e entramos para nos proteger da chuva.

 
Altar da Igreja de São Franscisco de Assis

Gostaríamos de conhecer o Museu Inca e outros pontos turísticos de Cusco, mas a chuva forte caía incansavelmente fazendo com que não tivéssemos outra opção a não ser ficar na Igreja de São Francisco esperando. Já havíamos encerrado a estadia no hostel e iríamos para a rodoviária para tomar um ônibus para Puno, onde também não teríamos estadia, viajando a noite para chegar e para sair de lá, portanto, não poderíamos nos dar ao luxo de tomar um banho de chuva já que não haveria onde, nem como, trocar de roupas depois. Aproveitamos para conhecer a igreja por dentro e por lá ficamos por mais de 2h até a chuva cessar.

 
Altar lateral
 
Detalhes do interior da igreja



A Igreja e Convento de São Francisco foram fundados em 1645. O complexo foi destruído pelo grande terremoto de 1650 e posteriormente reconstruído sob a supervisão de padres franciscanos. A igreja possui uma só torre com a fachada de pedras marrons como todas as outras. No seu interior, há um grande órgão no coro acima da entrada da nave principal.

 
Órgão no coro

Quando deixamos a igreja já era noite e precisávamos comer alguma coisa. Encontramos um ótimo lugar chamado Café Panam diante da Plaza Regocijo. De lá nos comunicamos com as meninas que havíamos conhecido no trem retornando de Águas Calientes e marcamos um último jantar antes de irmos embora da cidade. As mineirinhas Juliana e Lígia nos encontraram e juntos comemos ótimas empanadas de queijo e alfajores como sobremesa enquanto conversávamos como se nos conhecêssemos a anos, apesar de ser a segunda vez que nos víamos na vida. Foi nossa despedida das novas amigas de viagem, pois iríamos seguir, enquanto elas permaneceriam mais alguns dias em Cusco.

 
Eu, Aline, Lígia e Juliana: Despedida das novas amigas

Por volta das 21h nos despedimos, com a promessa de que voltaríamos a nos ver no Brasil, e tomamos um taxi para a rodoviária, onde as 22h15min embarcamos em um ônibus da empresa Transzela para uma viagem noturna com destino a cidade de Puno.


Gastos para 2 pessoas em 11/03/2014:

- Entrada nas Salinas Maras: S./ 14,00
- Água: S./ 3,00
- Lanche: S./ 3,00
- Passagem para Puno (ônibus da Transzela): S./ 80,00
- Jantar: S./ 27,00
- Taxi para rodoviária: S./ 5,00
- Taxa de embarque da rodoviária: S./ 2,60

Câmbio em Cusco: U$ 1,00 = S./ 2,77

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