sábado, 7 de novembro de 2015

Belmonte, Almeida e Guarda

Nossa despedida do norte português se deu nos arredores da famosa Serra da Estrela. Escolhemos a cidade de Guarda para hospedagem e alugamos um carro para percorrer os arredores. No último dia ficamos em Guarda e de lá tomamos um ônibus rumo a Espanha.

Nos hospedamos no Hostel Residência Filipe no centro de Guarda e alugamos um carro para conhecer os arredores. Depois do primeiro dia pelas aldeias históricas (conforme contei no último post) seguimos pela rodovia N-18 em direção a cidade de Belmonte.


Belmonte

Saindo do hostel, em Guarda, percorremos 24 Km pela rodovia secundária N-18 até Belmonte. Escolhemos esta rota ao invés da rodovia principal, pois a A-23 possui pedágios no caminho, além do que a Serra da Estrela seria nossa paisagem pela janela.

Belmonte

Belmonte é a terra natal da família Cabral e seu filho mais ilustre foi Pedro Álvares Cabral. O navegador que primeiro chegou ao Brasil era filho de Fernão Cabral, conhecido como “Gigante das Beiras” devido a sua grande força física. Uma estátua em tamanho real em uma bonita e florida praça da cidade lembra o navegador e em meio as flores da praça uma pedra reproduz as palavras de Pero Vaz de Caminha escritas no dia do descobrimento.

 
Imagem de Pedro Álvares Cabral em praça de Belmonte

A primeira parada que indico na cidade é na moderna Igreja da Sagrada Família, que foi fundada em 1940. Na fachada uma grande faixa comemorava os 500 anos de evangelização no Brasil.

 
Igreja da Sagrada Família

Mas antes que você se pergunte por que indiquei conhecer uma igreja da década de 1940 em meio a tantas construções históricas importantes, saiba que esta igreja guarda em seu interior um objeto que esteve na Nau que veio até o Brasil em 1500.

 
Moderno interior da igreja
 
Sagrada Família no altar


A imagem de Nossa Senhora da Esperança, exposta em um altar lateral da igreja, navegou com Pedro Álvares Cabral na embarcação que chegou em 22 de abril de 1500 em terras desconhecidas para os portugueses. Feita de madeira no século XIV a imagem está exposta ao lado de uma réplica da imagem de Nossa Senhora Aparecida, hoje padroeira do Brasil.

 
Imagem que navegou com Pedro Álvares Cabral ao lado da padroeira do Brasil

Outra igreja que merece uma visita é a que está dedicada a São Tiago. Talvez por afinidade de nome (rs) eu sempre busco conhecer as igrejas de São Tiago, mas por algum motivo elas estão sempre fechadas... A única que vi aberta tinha se tornado uma livraria em Óbidos e já não era uma igreja, apesar de aparentar (mas isso já contei antes).

Igreja de São Tiago de Belmonte
Para não perder o costume a igreja estava fechada e tive que me contentar com conhecer a fachada da igreja e da pequena capela do século XIII que está ao lado. Fazer uma oração na Igreja de São Tiago de Belmonte era um dos meus objetivos na cidade devido a coincidência dos nomes do santo e do lugar com meu, mas infelizmente não foi possível...

 
Detalhe do Sino na torre da igreja
 
São Tiago na fachada


Passamos algum tempo na cidade em meio as suas casas de pedra, bons restaurantes e pequenas lojas de guloseimas portuguesas.

 
Ruas e praças de Belmonte

Belmonte origina de “Belo Monte” e realmente é uma bonita colina com um grande Castelo no topo e a cidade em volta. O Castelo, que pertencia a família Cabral, foi o lugar de nascimento do descobridor do Brasil. Na torre principal do castelo pode-se ver as bandeiras de Brasil e Portugal expostas lado a lado nos fazendo lembrar a pequena relação existente entre nosso país, esta cidade e principalmente este castelo.

O Castelo de Belmonte que pertenceu a família Cabral e onde nasceu Pedro Álvares Cabral

Próximas ao castelo estão a Capela de Santo Antônio, que tem o brasão da família Cabral talhado em pedra na fachada, e a Capela do Calvário. A primeira é mais antiga, sendo do século XV, enquanto a segunda foi construída no século XIX.

 
Capela de Santo Antônio
 
Brasão de armas da família Cabral na fachada da capela

Capela do Calvário a frente e Capela de St. Antônio ao fundo


Deixamos Belmonte de volta pela N-18 e logo avistamos a Centum Cellas, uma torre romana que pode ser vista da estrada, no lado esquerdo da rodovia. A estrutura de três andares é um mistério arqueológico, já que não se sabe ao certo para que era usada, podendo ter sido uma base militar do império romano, um albergue de estrada para tropas ou até mesmo algum templo.

 
Centum Cellas: Ruína de uma construção romana na estrada nas proximidades de Belmonte

Seguimos para a cidade de Almeida, voltando pelo percurso que fizemos de manhã pela N-18 e seguindo pela rodovia A-25 depois de passar por Guarda. Ao todo foram aproximadamente 70 Km neste percurso.

Almeida

A cidade fortificada de Almeida possui sua muralha em forma de uma estrela de doze pontas e o acesso a ela se dá cruzando uma ponte sobre um fosso e um túnel por dentro dos portões, como nos filmes hollywoodianos.

 
Muralha e portão de entrada da cidade fortificada de Almeida
 
Fosso ao redor da muralha externa de Almeida


Entrando pelas Portas de São Francisco, o portão principal, cruza-se um túnel que guarda um arsenal que abriga lembranças militares do passado da fortaleza, no agora Museu Histórico Militar de Almeida, que está montado por dentro das muralhas.

 
Túnel de entrada por dentro da muralha
 
Portão por dentro da fortaleza


Almeida está localizada na fronteira entre Portugal e Espanha e já foi território de disputa entre os dois países, mesmo depois do reconhecimento oficial, em 1297, por parte da Espanha como sendo território português.





A cidade fortaleza foi projetada em 1641 depois que Filipe IV, da Espanha, destruiu as defesas anteriores da cidade e também seu castelo medieval.

 
Ruas e becos da pacata Almeida
 
Muitas guerras e invasões marcaram as ruas e construções da cidade-fortaleza


Caminhamos pelas ruas simples da cidade-fortaleza imaginando quantas batalhas já foram travadas neste lugar, pois entre os anos de 1742 e 1743 a cidade voltou a estar em mãos espanholas até a Guerra Peninsular, quando a cidade foi tomada pelos franceses.

 
Almeida

A cidade chegou a ser tomadas pelos ingleses e depois, no ano de 1810, sofreu um grande cerco de tropas francesas que culminou com a destruição total do castelo da cidade.




Em meio a tantas guerras, que com certeza mataram muita gente, encontramos um monumento aos mortos da Primeira Guerra Mundial e nenhuma lembrança aos mortos nesta cidade durante as demais batalhas...

 
Monumento aos Mortos da Grande Guerra

Umas das construções mais antigas da cidade é a Igreja da Misericórdia, do século XVII, que fica ao lado do prédio da Santa Casa da Misericórdia.

 
igreja da Misericórdia e Santa Casa
 
Santa Casa de Misericórdia de Almeida


Em uma grande praça está um prédio do século XVIII que abrigou o antigo corpo de guarda principal da cidade e onde hoje encontra-se a Câmara Municipal de Almeida. Próximo a este está o prédio do Tribunal e Registro Civil que já foi Casa dos Governadores nos séculos XVII e XVIII.

Câmara Municipal

Tribunal de Registro Civil

Caminhar pelas ruas de Almeida é praticamente como voltar ao passado, em charmosas ruas que misturam casas de pedra e de alvenaria, que mostram as marcas de uma cidade que já foi muitas vezes reconstruída.

 
Aline e eu nas ruas de pedra que remetem ao passado
Ruas de Almeida

No lugar onde um dia esteve o Castelo de Almeida estão hoje o cemitério e uma torre com um relógio. A torre, datada de 1830, foi erguida sobre as fundações da torre sineira da Igreja Matriz de Nossa Senhora das Candeias, destruída junto com o castelo em 1810.

 
Torre de 1830

Na entrada do cemitério uma frase recebe os visitantes de forma mórbida, mas extremamente verdadeira: “Ó tu quem quer que és, repara como eu estou. Eu já fui como tu és e tu serás como eu sou”.

 
Mórbida, mas realista, frase na entrada do cemitério

Voltando pelas ruas de Almeida podemos ver o fosso que separa a cidade dos muros externos, margeando as ruas e construções da cidadela.

 
Fosso ao redor da cidade com o local do antigo castelo ao lado
 
O fosso de Almeida


Caminhamos até o muro da cidade e subimos por uma escadaria e depois seguimos por cima, observando a cidade em seus limites e seguindo até a porta principal novamente.

 
A cidade vista do alto da muralha


Serra da Estrela

Tomamos a estrada de volta, indo no sentido da Serra da Estrela, na região da Guarda. O fim do dia se aproximava e resolvemos ver o pôr-do-sol do alto das colinas da serra.

 
Serra da Estrela na região do Vale de Estrela

Cruzamos pelo Vale de Estrela e seus lugarejos pequenos, subindo e descendo pelas encostas da serra. A Serra da Estrela é repleta de imensos “cata-ventos” responsáveis pela geração de energia eólica.


Portugal tem um grande parque eólico possuindo mais de 2.500 aerogeradores, ocupando todas as zonas montanhosas do país.

 
Aerogerador de energia eólica: Fonte renovável na matriz energética portuguesa

O fim do dia no alto da serra é bem bonito, com o sol baixando no horizonte, pintando o céu de laranja. Paramos o carro em um recuo junto ao acostamento no topo de uma colina e esperamos o sol desaparecer atrás dos contornos do relevo a frente.



Pôr-do-sol no alto da Serra da Estrela

Fim do dia com o céu laranja marcando o contraste dos aerogeradores na Serra da Estrela


O céu ainda escurecia quando retornamos a cidade de Guarda. Aproveitamos o carro alugado para ir até a rodoviária e comprar as passagens para Salamanca, na Espanha, para o dia seguinte. No fim do dia paramos para comer no Shopping Center Vivaci no centro histórico de Guarda.

 
Estrada de volta a Guarda: Descendo a Serra em direção ao vale de Estrela no fim do dia
 
Guarda vista da estrada durante o anoitecer



Guarda

Apesar de já estarmos na cidade a duas noites, deixamos para conhecer o lugar no último dia. Depois de rodar um pouco pelos arredores com o carro alugado, era hora de devolver o veículo. Minha dica para quem quiser conhecer a região é alugar um carro, pois os castelos e outras atrações da região ficam distantes e as estações de trem ficam longe dos centros, fazendo com que se tenha que pegar taxis e ônibus (estes com horários nem sempre agradáveis).

 
Casario em rua de Guarda

As locadoras de Guarda não ficam próximas ao centro histórico e quando alugamos fomos até lá de taxi (que foi quem nos indicou onde alugar), na volta da locadora tomamos um ônibus com destino a região central novamente.

 
Capela de São Pedro

O centro histórico de Guarda não é grande e pode-se percorre-lo tranquilamente a pé. Caminhando pode-se ver o que restou da antiga muralha que protegia a cidade, que foi demolida, junto com muitas outras construções, ao longo do século XIX para dar lugar a expansão urbana da cidade. As pedras retiradas dos muros, portões e castelo medievais foram usadas nas ruas e novas construções.

 
Trecho que restou da muralha da cidade de Guarda

Junto a muralha está a Porta do Sol, ou Porta da Erva, que foi a antiga entrada para a judiaria de Guarda e marcava a área onde existia uma grande comunidade judaica no século XIII.

Porta do sol: Entrada para a judiaria de Guarda

Chama a atenção uma torre quadrangular conhecida como Torre dos Ferreiros, por guardar a porta de mesmo nome. Construída a mando do Rei D. Dinis com pedras provenientes da Igreja de Nossa Senhora da Consolação a torre apresenta dois vãos de acesso que formavam uma entrada pela muralha.

 
Torre dos Ferreiros em meio a antiga muralha

No vão entre as duas portas, por dentro da torre, está um oratório com a imagem do Cristo Crucificado, conhecido como Senhor dos Aflitos.

Antiga Porta dos Ferreiros e oratório do senhor dos aflitos

Guarda foi fundada no século XII por D. Sancho I, segundo rei de Portugal, que hoje tem sua estátua exposta na Praça Luís de Camões, diante da Igreja da Sé.

 
Dom Sancho I: 2º rei de Portugal e fundador de Guarda

A Catedral da Sé é uma impressionante igreja que começou a ser construída no final do século XII, mas que demorou 400 anos para ser concluída.

Eu diante da grandiosa Catedral da Sé
 
Aline na Praça da Sé diante da igreja

Com o passar dos séculos os estilos arquitetônicos foram mudando, mas a igreja, que ganhou detalhes góticos e manuelinos, não deixou de ter uma aparência de fortaleza quando vista de fora.

 
Catedral lembra uma fortaleza

Dentro da enorme catedral em forma de cruz estão diversos túmulos espalhados pelo piso, cena comum nas igrejas medievais quando se sepultavam os devotos no interior do templo, antes de a peste negra mudar este hábito, pois depois passou-se a enterrar os mortos nos terrenos atrás das igrejas e não mais em seu interior.

 
Túmulos cobrem todo interior da Sé

No altar-mor está um grande retábulo de pedra, datado do ano de 1553, constituído de mais de cem figuras esculpidas em alusão a cenas do Antigo e Novo Testamento. No centro uma invocação de Nossa Senhora da Assunção, padroeira da cidade.

 
Retábulo do altar esculpido em 1553

Caminhando pelas ruas da Guarda é possível admirar belas e antigas construções que remetem ao passado medieval, alguns hoje dedicados ao turismo de habitação (com preços altíssimos).
Solar construído em 1686 com uma capela anexa
No alto de uma colina na Serra da Estrela, a cidade de Guarda é a mais alta de Portugal, estando a 1056 metros acima do nível do mar e no ponto mais alto da cidade ergue-se a Torre de Menagem, parte do antigo Castelo da Guarda, onde funciona um pequeno museu sobre a cidade.

 
Serra vista da Torre de Menagem no alto da cidade de Cuarda
Torre de Menagem

Guarda é uma cidade comum e apesar de o centro histórico ser interessante, não acho que tenha nada de excepcional por lá e que já não se tenha visto em muitas outras cidadelas portuguesas. Voltamos caminhando até a Hospedaria Filipe para encerrar nossa estadia e aproveitamos para conhecer a Igreja da Misericórdia que fica diante do hostel.

 
Igreja da Misericórdia

Interior da igreja
Feita nossa última oração era hora de seguir até a rodoviária para pegar o ônibus para Salamanca e nos despedir de Portugal. É possível caminhar até o terminal de ônibus para quem está com mochila nas costas, mas a caminhada é um tanto longa. Se estiver com mala de rodinha, pegue um táxi!

Casario com os balcões típicos

A fronteira terrestre entre Portugal e Espanha é tranquila de se atravessar e eu que queria um carimbo espanhol em meu passaporte fiquei só na vontade.

 
Prédio da fronteira Portugal x espanha

Na fronteira, próxima a cidade de Almeida, o ônibus encosta e um policial espanhol entra no veículo para olhar os documentos de todos. Eu estava preparado para pedir ao guarda que carimbasse meu passaporte, mas nem descemos do veículo, pois ele somente olhou a foto e nosso rosto e se foi. Não tinha um carimbo, nem nada com ele! Fiquei chateado, mas pensei que quando retornasse a Portugal, pelo sul, vindo da Espanha iria conseguir o carimbo (ledo engano)...

Lado espanhol da fronteira: Ciudad Rodrigo

Gastos para 2 pessoas em dois dias em Março de 2015:

- Taxi para locadora de carro em Guarda: € 4,00
- Aluguel do carro (Fiat Panda): € 51,56
- Almoço: € 16,35
- Hostel (Hospedaria Filipe): € 60,00
- Jantar (lanche a noite): € 6,80
- Passagens para Salamanca: € 64,00
- Gasolina: € 18,27
- Ônibus da locadora para o centro de Guarda: € 2,00
- Museu da Guarda: € 6,00
- Almoço: € 12,48

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