4º Dia no
Chile (dia 12 do mochilão)
Acordamos cedo para tomar o desayuno em um restaurante próximo ao
hostel. No nosso segundo dia em San Pedro faríamos o tour para as Lagunas Altiplanicas e para o Salar do Atacama. A Latchir Expediciones agendou a saída
para as 8h, prometendo o retorno para as 16h. O valor já estava incluso no que
pagamos como pacote no dia anterior e custou $ 30.000 pesos chilenos por
pessoa.
Na hora marcada estávamos na
agência e embarcamos em um micro ônibus em direção ao deserto.
Rodamos por 38 Km até a vila de
Toconao, um dos muitos oásis no meio do Atacama. Desembarcamos na ponte sobre o
Rio Toconao de onde andaríamos pela pequena cidade.
O rio se resume a um pequeno
filete de água que parece quase desaparecer em meio ao árido deserto, mas que
trás vida ao oásis e abastece o pequeno vilarejo. Ao redor burros caminham em
meio a areia do deserto ignorando completamente nossa presença.
Ponto sobre o Rio Toconao |
Rio Toconao e seu traçado no deserto |
Burros pastando na entrada do vilarejo |
A vila de Toconao é um lugar
tranquilo de arquitetura colonial típica, possuindo casas construídas com
pedras vulcanicas. Caminhamos pelas ruas de terra praticamente vazias.
Caminhamos até a arborizada
praça principal onde o guia reuniu todo o grupo para contar um pouco sobre as
construções e histórias do lugar. O guia explica que estamos a 2.475 metros
acima do nível do mar e que o povoado de Toconao possui uma população que não
atinge mil habitantes. Ficamos sabendo que a pedra vulcânica utilizada nas
construções chama-se Liparita e é adquirida em uma mina nos arredores do
povoado.
Diante da praça está uma antiga
torre branca e atrás desta uma pequenina igreja colonial. O guia nos conta que
a torre sineira é datada de 1750 e que a igreja de São Lucas foi a segunda
construída em todo o Chile.
O guia explica que quando os
espanhóis chegaram aqui encontraram uma população de cinco mil indígenas,
número muito superior ao dos conquistadores, por isso adotaram uma tática de
separação da população local, dividindo o povo em três e enviando homens para
um local, mulheres a outro e crianças para um terceiro lugar, de modo que se
qualquer uma das regiões se rebelasse as outras duas seriam mortas em retaliação.
Desta forma controlaram os aborígenes no norte do Chile e criaram três cidades:
San Pedro de Atacama, Toconao e Socaire.
O guia continua as histórias
nos explicando que normalmente o campanário se localiza ao lado da igreja, mas
que este encontra-se a frente devido a um sincretismo popular e religioso
incentivado pela divisão das famílias durante a colonização espanhola. A torre
representaria o homem, enquanto a igreja representa a mulher, portanto se
encontra à frente com significado de proteção do homem para com a mulher, sendo
os visitantes a representação dos filhos e o elo da fecundidade.
Eu, a Torre e a Igreja |
A Igreja de San Lucas que
existe nos dias de hoje, atrás da torre sineira, não é a original que datava do
ano de 1744. O templo ruiu durante um forte terremoto, sendo este erguido em
1935 no mesmo lugar do anterior.
Iglesia de San Lucas reconstruída após um terremoto |
O interior da igreja é bem
simples, com um pequeno altar principal e um Cristo crucificado em um oratório
na lateral. O telhado, as portas e a escada de acesso ao coro são construídos
com madeira de cacto e amarrados com couro de lhama.
Altar da igreja com o telhado de madeira de cacto |
Oratório simples |
Aline e a escada construída em madeira de cacto |
Era hora de embarcar de volta
no micro ônibus e partir de volta ao deserto. Seguimos na direção do famoso
Salar de Atacama que fica no setor “Soncor” da Reserva Nacional Los Flamencos a 24 Km de distância de Toconao.
O salar formou-se quando os
lagos que existiam nesta bacia evaporaram, deixando uma espessa camada de
cristais de sal sobre a terra. O salar é hoje o maior do Chile e o terceiro
maior do mundo, atrás apenas de Uyuni na Bolívia e Salt Lake City nos EUA.
O Salar de Atacama em nada se
parece com o Salar de Uyuni, que eu havia conhecido no ano anterior, pois este
tem uma superfície irregular e escurecida. Os cristais de sal possuem
diferentes formas com grandes pedaços que alcançam até 70 cm de altura. Esta
variação é devido a diferença dos componentes minerais do sal e da velocidade
de evaporação da água, que no Atacama foi muito superior ao de Uyuni.
Não é permitido caminhar sobre
o salar aleatoriamente, devendo-se andar nos caminhos já demarcados para os
turistas, de forma a preservar o ambiente ao redor. Enquanto seguíamos o guia,
nos deparamos com um “Dragão de Sal”, um tipo de lagarto do deserto que já
havíamos visto na Cordilheira de Sal do Vale de La Luna.
Caminho no Salar |
Dragão de Sal camuflado na pedra |
Paramos debaixo de uma
cobertura de palha e tivemos uma apresentação onde ouvimos curiosidades sobre o
lugar e também sobre a importância do Salar. O guia explica que a região possui
uma área de aproximadamente 3.000 Km², a 2.350 metros acima do nível do mar, em
uma depressão geológica entre as cordilheiras de Domeyko e dos Andes. A
importância econômica fica por conta do lítio armazenado nestas terras
salgadas.
Uma gigantesca laguna se formou
dentro da área do salar. Formada pelas águas de lençóis freáticos andinos, que
infiltram nas montanhas mais altas e afloram na baixada, a Laguna Chaxa possui suas
margens cobertas por sal cristalizado que se acumula devido a evaporação das
águas salinas subterrâneas.
Laguna Chaxa em meio ao Salar |
A linda Laguna Chaxa |
A bela composição de cores entre o Salar, e a Laguna |
Fomos deixados livres para
caminhar por toda a região, sempre seguindo pelo caminho demarcado que tem
aproximadamente quinhentos metros de extensão com várias placas explicativas no
percurso. Existem dois mirantes de onde pode-se enxergar os flamingos se alimentando
tranquilamente na lagoa.
Os flamingos na paisagem |
Existem três tipos de flamingos
que podem ser encontrados na região: Flamingo Andino (Parina Grande), Flamingo Chileno (Flamenco Chileno) e Flamingo James (Parina Chica). Segundo o guia a principal característica que
permite diferenciá-los está nas pernas e joelhos, pois o andino tem pernas
totalmente brancas, enquanto o chileno possui os joelhos bem avermelhados e o
james a perna inteiramente rosada.
Ao fundo o Andino e suas pernas brancas, a frente o Chileno e seus joelhos vermelhos e entre eles o James com pernas rosadas |
Ficamos sabendo que a população
destas espécies não passa de 200 mil indivíduos, sendo o andino o mais raro,
com apenas 40 mil exemplares.
Os Flamingos se alimentam de um
pequeno crustáceo, parecido com um camarão, que possui em torno de um
centímetro comprimento e se adaptou completamente às águas geladas e salgadas das
lagunas da região. Estes são os grandes responsáveis pela coloração avermelhada
dos flamingos.
O guia nos mostra nas margens da
laguna, uma proliferação destes pequenos crustáceos, chamados “artêmias”, quase
invisíveis na água devido ao diminuto tamanho. Tentei uma foto, mas só é
possível ver “riscos” na água esverdeada, pois as artêmias são muito pequenas e
até a olho nu deve-se prestar muita atenção para vê-las.
Caminhamos uma última vez pelas
trilhas do salar em direção ao veículo, onde embarcamos e tomamos a estrada em
meio ao deserto novamente. Rumamos para as maiores altitudes nas quais
chegaríamos no dia, nas Lagunas Miscanti e Miñeques. Percorrendo uma estrada mal
sinalizada podíamos contemplar a beleza do deserto andino.
A estrada e o deserto |
Paisagem andina |
O deserto nos reservou diversas
surpresas ao longo de toda viagem, e neste dia nos deparamos com uma das mais
agradáveis. No caminho para as lagunas encontramos um Zorro, que é um tipo de
raposa do deserto e vive nos altiplanos andinos. Pudemos observa-lo bem de
perto. Quando o motorista parou o ônibus o animal se aproximou com curiosidade,
mas me demonstrou um dos impactos ambientais da grande visita de turistas na
área, pois com certeza o zorro está acostumado a ser alimentado pelos
visitantes, fazendo com que ao ver o ônibus parar logo se aproxime esperando
por comida. Isso pode levar a um desequilíbrio ecológico e a perda da capacidade
de caça da espécie...
Aa Lagunas Miscanti e Miñique
estão localizadas na região da Comunidad
Indigena Atacameña de Socaire na
Reserva Nacional Los Flamencos, e para visitação deve-se pagar uma taxa de
entrada que não está inclusa no pacote do tour.
Logo podemos ver a Laguna
Miscanti, a maior das duas com 15 Km² de superfície, que fica na base do vulcão
de mesmo nome.
Laguna Miscanti e o vulcão |
Beleza indescritível |
Caminhamos pela região para
registrar a beleza do lugar em fotos. A vista da paisagem marcada por um
contraste de cores entre o deserto e a laguna e ainda tendo as montanhas ao
fundo é realmente recompensadora. O céu extremamente azul completa a beleza do
lugar.
Laguna Miscanti |
Nós, a laguna e o vulcão Miscanti |
O sol estava quente, mas a água devia estar gelada |
Descemos a encosta na direção
da superfície azul da laguna, seguindo por um caminho demarcado no solo. Apesar
do sol forte do deserto o vento gelado logo me fez colocar o casaco, afinal
estávamos a 4.200 metros acima do nível do mar.
Apesar de estarmos no fim do
verão o vento gelado não parava de soprar e o guia explica que esta visita não
é oferecida no inverno, pois as temperaturas negativas e as nevascas impedem o
acesso e cobrem completamente o lugar, mas que em outras épocas a neve dá um
tom a mais nas montanhas e a visita é bem indicada na primavera e no outono.
Junto a laguna algumas vicunhas
se alimentava ou descansavam, longe do nosso alcance, deitadas sobre a
vegetação amarelada.
Caminhamos pela pista na faixa
de terra que separa as duas lagunas e chegamos na Miñeques, a menor com apenas
1,5 Km² de superfície.
Não se pode aproximar de suas
margens e paramos em um mirante para contemplação. As águas da Laguna Miñeques
tem um belo tom de azul esverdeado.
Detalhe das águas da Miñeques |
Laguna Miñeques |
Deixamos as lagunas e seguimos
de volta para San Pedro de Atacama. Normalmente os pacotes turísticos realizam
uma parada no vilarejo de Socaire antes de chegar na região das lagunas, no
entanto, nosso guia trocou essa ordem e no retorno realizamos essa parada.
Socaire está a 38 Km de
distância das lagunas e a 90 Km de San Pedro. Encontra-se a 3.400 metros acima
do nível do mar e é o lar de aproximadamente 300 pessoas que se dedicam a
agricultura em terraços (típica da região) e o pastoreio.
Terraços de agricultura nos arredores da vila |
Socaire |
O povoado é extremamente
pequeno e simples. Uma igrejinha colonial é o principal patrimônio histórico da
localidade, possuindo o campanário separado da nave principal.
Igreja na paisagem |
Igreja de Socaire |
Interior da igreja |
Nossa programação era de apenas
vinte minutos em Socaire, mas um pequeno incidente mudou tudo. Enquanto
manobrava o ônibus na estrada irregular diante da igreja uma pedra furou um dos
pneus traseiros e teríamos que esperar a troca. O motorista levou o ônibus até
a arborizada praça da cidade para a manutenção. Sentamos e esperamos
pacientemente.
Praça principal de Socaire |
Diante da praça existe uma
igreja mais moderna, apesar de manter algumas características coloniais. O
tempo de troca do pneu demorou bem mais do que o previsto, e ficamos conversando
com os outros turistas que estavam no tour.
Fizemos algumas amizades por ali, como um casal de argentinos que já havia
conhecido o Brasil e duas meninas chilenas que exploravam o norte do próprio
país.
Pneu trocado, voltamos para
estrada e retornamos a San Pedro de Atacama. O fim do passeio estava previsto
para as 16h, de modo que muitas pessoas conseguem fazer outros pacotes no mesmo
dia (os que não saem de manhã cedo, saem neste horário), mas chegamos depois
das 17h. Felizmente, não havíamos planejado nenhum tour a mais para este dia, justamente com medo de atrasos.
Tomamos um banho no hostel e
saímos para jantar. Por volta das 19h30min o sol se põe no deserto e pinta de
lindas cores o céu atacamenho enquanto as lâmpadas se acendem, dando um toque
especial ao vilarejo.
Fim do dia em San Pedro: Espetáculo de luzes no anoitecer do deserto |
A noite surge extremamente estrelada me fazendo entender
por que o céu do Atacama é muito procurado para observação astronômica,
havendo, inclusive, um pacote oferecido por algumas agências de turismo que
leva a um passeio noturno com direito a observação do céu com telescópios e a
uma visita ao museu astronômico. Esse tour começa diariamente as 20h30min, mas como
iríamos acordar as 4h da madrugada do dia seguinte, resolvi dormir.
Gastos
para 2 pessoas em 18/03/2014:
- Lanche:
$ 1.500,00 CLP
- Entrada
na Reserva Nacional: $ 10.000,00 CLP- Jantar: $ 10.000,00 CLP
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