3º Dia no
Chile (dia 11 do mochilão)
Eram 6h30min quando o ônibus
chegou ao seu destino na cidade de Calama. Ainda estava bem escuro, pois o sol
nasce mais tarde do outro lado da Cordilheira dos Andes, no deserto chileno.
Não estávamos em uma rodoviária
e sim na “garagem” da empresa de ônibus Frontera
Del Norte. Na verdade era um tipo de rodoviária particular, com guichê de
venda de passagens e tudo. O motorista do ônibus nos informou que seria outro
veículo que faria o trajeto até San Pedro, mas que poderíamos esperar no
próprio ônibus até as 8h da manhã, horário de nossa passagem.
Deitei no banco do ônibus e
continuei dormindo por mais 1h30min com o veículo parado na garagem. As 8h
fomos chamados para a troca de ônibus. Pegamos as mochilas e embarcamos no
veículo que estava parado a frente, que seguiria para San Pedro.
Para quem estiver indo para o
Atacama eu aconselho comprar a passagem casada já com a parada em Calama (não
existiam passagens diretas quando estivemos por lá). A Frontera Del Norte possui ônibus semi-leitos bem confortáveis para
uma noite de sono e nos trataram super bem deixando-nos dormir no veículo até a
hora do novo embarque. Fica a dica... rs
Deixamos a cidade e seguimos
para o deserto viajando no segundo andar do ônibus, nos bancos de frente para o
parabrisa dianteiro, com toda a visão da estrada aberta a nossa frente.
Rumo a San Pedro de Atacama |
Nos arredores de Calama a
estrada cruza por grandes “cata-ventos” que servem para geração de energia
eólica, que alimenta parte da cidade. Achei altamente louvável a atitude
chilena de implantar um parque eólico para aproveitar a energia dos ventos e
diversificar sua matriz energética com uma geração renovável e limpa.
Estrada Calama x San Pedro |
Geração de energia eólica em Calama |
O trecho entre Calama e San
Pedro de Atacama é bem curto e se percorre em menos de 1h30min, chegando a
pequena rodoviária de San Pedro as 9h30min. Junto a rodoviária existe uma feira
de artesanato e um centro de informações turísticas. Pegamos um mapa e seguimos
andando até o centro da cidade, que é bem perto.
Fomos buscar um hostel para nos
acomodar e entramos em alguns pelo caminho, mas muitos estavam sem vagas e
outros tinham valores bem acima do que queríamos pagar. No final da principal
rua do vilarejo encontramos um que estava dentro do que procurávamos. Com uma
fachada simples de adobe e bem rústico o Puritama
Hostal (Calle Caracolles, 113 - hostalpuritama@sanpedroatacama.com)
atendeu bem nossas expectativa. O lugar possui três opções de acomodações:
Rústicas (banheiro coletivo), modernas (banheiros privados) e camping. Não serve desjejum, mas possui estrutura de cozinha para quem quiser preparar o seu lanche. Pegamos um quarto simples sem banheiro.
Tomamos um banho no banheiro
coletivo do camping que era bem cuidado e sempre limpo e seguimos para as ruas
de terra de San Pedro de Atacama que é uma cidade minúscula, de casas simples
com apenas três mil habitantes fixos. Paramos para comer alguma coisa (passar a
noite no ônibus tem o lado ruim de não ter um desjejum quando se acorda) e
aproveitamos para trocar dinheiro em uma casa de câmbio.
Pelas ruas muitas lojas,
restaurantes, agências de turismos, casas de câmbio e principalmente turistas
com suas mochilas cargueiras nas costas. Apesar da simplicidade, a cidade é bem
inflacionada e tudo parece ser bem mais caro nela. Estávamos caminhando pela
rua principal e esbarramos com o Vinícius, o brasileiro que havíamos conhecido
em Arica. Contamos que ficamos preocupados com ele já que havia descido do
ônibus na costa em meio ao alerta de Tsunamis e ele contou que chegou ao hotel
com tudo deserto sem saber do risco, mas que não houve nenhum incidente pior. Procuramos
juntos algumas agências para os passeios e acabamos fechando com a Latchir Expediciones (Calle Caracoles, 254 – www.expedicioneslatchir.cl).
Conhecendo a simpática San Pedro |
O primeiro passeio que faríamos
seria para o Vale de La Luna e Vale de La Muerte que sai diariamente as 16h em
qualquer agência. É uma ótima opção para o dia em que se chega a San Pedro,
pois o horário mais tardio permite que se descanse e conheça a cidade antes. A
Latchir nos cobrou $ 10.000 pesos chilenos por pessoa e informou que teríamos
que pagar uma taxa de $ 2.000 por pessoa na entrada do Vale da Lua. Negociamos os
demais passeios para os outros dias e no fim fechamos um pacote onde o tour à
Laguna Cejar (que faríamos no último dia) saiu de graça com o desconto total do
pacote! Aconselho muito que quem estiver interessado em passeios pelo Atacama
negocie nas agências, pois é possível ótimos descontos como este.
Aline e eu aproveitamos o tempo
livre para conhecer a pequena igreja de São Pedro do Atacama. Datada de 1774,
foi construída pelos jesuítas espanhóis antes da fundação da cidade no lugar
onde em 1557 havia sido celebrada uma missa para catequização dos aborígenes. Com
paredes de adobe e teto de cardón
(madeira de cacto) possui um altar simples e super simpático em seu interior.
Iglesia de San Pedro de Atacama |
Altar simples e teto de madeira de Cacto |
Caminhamos pelas ruas de terra
e aproveitamos para deixar nossas roupas sujas em uma lavanderia. Almoçamos e
descansamos no hostel um pouco, até que as 16h estávamos na Latchir para início do tour pelo Valle de La Luna.
Embarcamos em uma van e
seguimos com um guia e um grupo de turistas latinos pelo meio do deserto,
sempre com belas paisagens pela janela.
A primeira parada é em um lugar
conhecido como Valle de La Muerte, situado
na região mais árida do Atacama, a pouco mais de 3 Km de distância da cidade.
Valle de La Muerte |
O impressionante Vale da Morte |
De cima de um planalto de pedra
podemos observar todo o vale abaixo, que apesar do cenário de desolação é de
uma beleza indescritível com diversas depressões nas rochas vermelhas do solo.
O guia explica que existem
diversas lendas e teorias para a origem do nome do lugar, incluindo a de que um
explorador espanhol havia encontrado ossadas que o levaram a acreditar que este
era um local para onde os antigos iriam para morrer ou realizar sacrifícios,
mas que na verdade o nome original era Vale de Marte e foi dado por um padre
espanhol, pois a paisagem de terra rubra e terreno acidentado se assemelha a do
planeta vermelho, mas que com o tempo o sotaque dos indígenas transformou o
nome de “Marte” para “Morte”.
Vale da Morte ou Vale de Marte |
Paisagem lembra o planeta Marte |
Tivemos pouco tempo para fotos,
pois logo seguimos adiante pela estrada que cruza o deserto em direção a uma
das mais famosas paisagens do Deserto do Atacama, o Valle de La Luna.
A entrada na região do vale é
paga em separado e muita gente chega de bicicleta, pedalando os cerca de 19 Km
que a separam San Pedro, em meio a poeira, em bikes alugadas.
Chegando ao Vale da Lua |
Paramos em um ponto estratégico
de onde se podia ver o vale abaixo, mais ou menos como no Valle de La Muerte.
Valle de La Luna |
O Valle de La Luna é formado por uma paisagem acidentada, com
diversas formações geológicas, de rocha e areia. Situado na região da
Cordilheira de Sal seu aspecto ganha um tom acinzentado fazendo com que todo o
lugar se pareça com a paisagem lunar.
No mirante onde paramos fica
uma surpreendente formação rochosa conhecida como “Pedra do Coiote”. O guia
explica que o nome se dá devido ao desenho animado da Warner Bros onde o Coiote tentar pegar o Papaléguas e sempre
termina em uma pedra pontiaguda sobre o precipício que, no desenho animado, se
quebra fazendo com que o Coiote caia e o Papaléguas fuja. Realmente a pedra é
exatamente igual a da animação.
Aline na Pedra do Coiote |
Pedra do Coiote igual a do desenho animado - ainda bem que não quebrou... |
Apesar de já passar das 17h o
sol e o calor eram castigantes no deserto chileno. Ficamos ali admirando o céu
azul se encontrando com uma infinita vastidão de rochas, areia e dunas dos mais
variados tons.
Admirando a paisagem desértica |
Um pouco do verde e amarelo brasileiro no vermelho deserto chileno |
Ao fundo na paisagem é possível
distinguir a cordilheira de montanhas que separa o Chile da Bolívia e o famoso
Vulcão Licancabur na fronteira dos dois países. Com o zoom da máquina consegui
uma boa foto da face chilena do vulcão, lembrando que do outro lado está o
Deserto de Dali, uma continuação boliviana do Atacama, pois apesar de a
natureza não reconhecer fronteiras, o homem as demarca dando diversos nomes
para o mesmo bioma nos diferentes países. Com isso o Deserto de Atacama chileno
é nomeado “Deserto de Ica” no Peru e “Deserto de Salvador Dali” na Bolívia.
Voltamos à van e descemos um
trecho de estrada onde o guia explica que dali em diante andaríamos a pé, em
uma caminhada leve, pelo deserto.
Caminhada nas areias do deserto |
Caminhando sobre um sol
“escaldante” descemos pelas dunas de areia até um trecho cercado de paredes de
pedra avermelhada.
O sol do Atacama |
Um pouco de sombra no deserto |
O guia nos conta que estamos
dentro da área da Cordilheira de Sal, uma área de aproximadamente quinhentos
metros de diâmetro que possui o solo extremamente salino.
A Cordilheira de Sal do Atacama |
Aline e eu na Cordilheira de sal |
Adentramos o Cañon Las Cuevas de Sal, onde se pode
ver de perto o solo formado por argila, gesso e sal que forma o lugar.
O guia explica que esta
formação é bem sensível e que foi formada pela ação da erosão causada pelos
ventos ao longo de milhões de anos. É possível ver as formações de sal na terra
bem de perto, mas não se pode tocar, pois qualquer mudança de pressão faz com
que a escultura se desfaça.
Terra e sal |
As paredes de argila e sal só
são possíveis porque o deserto do Atacama é a região mais seca e árida do
planeta. O guia conta que não chove em San Pedro a mais de duzentos anos e que
a precipitação média anual é próxima de zero considerando todo o deserto, com
pouquíssima umidade do ar no Valle de La
Luna.
Apesar de o aspecto do lugar
ser de desolação total, existem diversas formas de vida que habitam o lugar.
Muitas vivem escondidas durante o dia para se abrigar do sol. Pudemos ver um “dragão
de sal”, um tipo de calango do deserto que se alimenta de insetos e vive em
buracos entre as rochas.
Mais a frente encontramos uma
das muitas cavernas de sal que existem no lugar. Entramos rapidamente para
algumas fotos e seguimos adiante. O guia pede que tomemos cuidado, pois são
comuns desabamentos causados pela desestabilização das paredes e solo devido ao
vento e a tremores de terra na região.
Entrada de uma caverna de sal |
Aline dentro de uma caverna na Cordilheira de Sal |
Cruzamos o canyon e chegamos
novamente na estrada do outro lado, onde a van nos esperava. Estávamos no meio
do Valle de La Luna e pudemos ver bem
de perto a paisagem de outro planeta que o lugar proporciona.
Seguimos até o coração do Valle de La Luna, na Cordilheira de Sal,
até o ponto onde se encontram as “Três Marias”.
A paisagem ao redor é
acinzentada, como no nosso satélite que dá nome ao lugar e os ventos fortes
contra as rochas esculpem surpreendentes formas que muitas vezes se assemelham
a feições humanas.
Paisagem lunar em pleno deserto |
As Três Marias que dão nome ao
lugar, são na verdade três rochas esculpidas pelo vento. Infelizmente só existe
uma escultura intacta nos dias de hoje, pois as duas das pontas ruíram com a
erosão.
O guia nos conta que a imagem a
esquerda lembrava uma mulher sentada sobre as próprias pernas segurando uma
criança e que a da direita, que está semi destruída, aparentava uma mulher de
joelhos em oração com a cabeça baixa. A única imagem ainda perceptível é a do
meio em que se pode distinguir, sem necessidade de nenhuma erva ou chá local,
uma mulher de pé com as mãos juntas olhando para o alto em posição de oração.
Não ficamos muito tempo ali,
pois o maior espetáculo do passeio, e o motivo do tour se iniciar as 16h, é o
pôr do sol visto do alto da Duna Mayor.
Já eram quase 19h e o guia nos apressa para não perdermos a hora, já que o sol
não nos esperaria para se pôr.
Deserto do Atacama |
Seguimos em direção a uma duna
gigantesca em meio ao deserto. A van para na base da Duna Mayor e o guia aponta para o topo da montanha de areia para
onde devem subir aqueles que querem ver o espetáculo. A caminhada é árdua já
que a altitude nos arredores de San Pedro é de aproximadamente 2400 metros
acima do nível do mar, mas para quem já havia subido as escadarias de Machu
Pichu e caminhado nas ladeiras da Isla
Taquile no Titicaca, vencer a altitude era fácil. O difícil era vencer a
areia fofa na caminhada duna a cima, lutando contra o tempo, pois o sol estava
cada vez mais baixo no horizonte!!!!
No alto da duna caminhamos para
uma elevação rochosa de onde se tem uma vista privilegiada da duna e do
deserto. O guia havia explicado que nos dias de hoje não se pode mais caminhar
livremente e descer a Duna Mayor com pranchas ou mesmo andando, por motivos de
preservação ambiental, sendo permitido apenas o acesso pelo caminho em que
subimos para chegar ao mirante de pedra.
A paisagem é lindíssima e do
alto pode-se ver o Anfiteatro que é uma das mais impressionantes formações
rochosas do Vale da Lua. Formado pela erosão do vento contra a rocha, parece ter sido construído por mãos humanas de tão perfeito o aspecto.
Sentamos no chão rochoso e
ficamos admirando o fim do dia no deserto. O sol baixando e pintando de
vermelho o céu e as rochas ao redor.
Esperando o sol se pôr |
Aline, eu, o sol e o deserto |
Pôr do sol |
O lugar fica lotado de gringos,
pois todas as agências de turismo fazem pacotes no mesmo horário e terminam na
Duna Maior, mas mesmo assim é possível se acomodar em algum ponto só seu, sem
precisar se estapear por uma boa foto ou um momento de reflexão em paz.
As cores do fim do dia no Atacama |
Fim do primeiro dia no deserto com um lindo pôr do sol visto da Duna Maior |
Quando o sol se vai e a noite
cai sobre o deserto é hora de voltar à San Pedro. Chegamos por volta das
20h30min, cansados e cheios de areia do deserto, então paramos para comer
alguma coisa rápida e seguimos para o hostel. A rua Caracolles fica super
lotada neste horário, pois todas as agências estão retornando do deserto, mas
em poucos minutos tudo fica vazio e quando cruzamos a rua para voltar ao hostel
só havia movimento dentro dos bares mais badalados. Muitos estabelecimentos já
fechavam as portas.
Hora de sacudir a poeira, tomar
uma banho e dormir, pois acordaríamos cedo para nosso segundo dia no Atacama.
Gastos
para 2 pessoas em 17/03/2014:
- Desjejum:
$ 6.380,00 CLP
- Pacote
turístico para três dias no Atacama: $ 120.000,00 CLP- Lavanderia: $ 6.000,00 CLP
- Almoço: $ 9.600,00 CLP
- Entrada no Vale da Lua: $ 4000,00 CLP
- Jantar: $ 7000,00 CLP
Câmbio
em San Pedro de Atacama: U$ 1,00 = $ 568,00 CLP
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