domingo, 14 de dezembro de 2014

Lagunas Altiplânicas e Salar do Atacama


4º Dia no Chile (dia 12 do mochilão)

Acordamos cedo para tomar o desayuno em um restaurante próximo ao hostel. No nosso segundo dia em San Pedro faríamos o tour para as Lagunas Altiplanicas e para o Salar do Atacama. A Latchir Expediciones agendou a saída para as 8h, prometendo o retorno para as 16h. O valor já estava incluso no que pagamos como pacote no dia anterior e custou $ 30.000 pesos chilenos por pessoa.

Na hora marcada estávamos na agência e embarcamos em um micro ônibus em direção ao deserto.

  
Rota do deserto no Atacama

Rodamos por 38 Km até a vila de Toconao, um dos muitos oásis no meio do Atacama. Desembarcamos na ponte sobre o Rio Toconao de onde andaríamos pela pequena cidade.

 
Chegando a Toconao

O rio se resume a um pequeno filete de água que parece quase desaparecer em meio ao árido deserto, mas que trás vida ao oásis e abastece o pequeno vilarejo. Ao redor burros caminham em meio a areia do deserto ignorando completamente nossa presença.

 
Ponto sobre o Rio Toconao
 
Rio Toconao e seu traçado no deserto


Burros pastando na entrada do vilarejo



A vila de Toconao é um lugar tranquilo de arquitetura colonial típica, possuindo casas construídas com pedras vulcanicas. Caminhamos pelas ruas de terra praticamente vazias.

 
Ruas de Toconao

Caminhamos até a arborizada praça principal onde o guia reuniu todo o grupo para contar um pouco sobre as construções e histórias do lugar. O guia explica que estamos a 2.475 metros acima do nível do mar e que o povoado de Toconao possui uma população que não atinge mil habitantes. Ficamos sabendo que a pedra vulcânica utilizada nas construções chama-se Liparita e é adquirida em uma mina nos arredores do povoado.

 
A praça de Toconao é bem arborizada

Diante da praça está uma antiga torre branca e atrás desta uma pequenina igreja colonial. O guia nos conta que a torre sineira é datada de 1750 e que a igreja de São Lucas foi a segunda construída em todo o Chile.

 
A Iglesia de San Lucas com sua torre a frente

O guia explica que quando os espanhóis chegaram aqui encontraram uma população de cinco mil indígenas, número muito superior ao dos conquistadores, por isso adotaram uma tática de separação da população local, dividindo o povo em três e enviando homens para um local, mulheres a outro e crianças para um terceiro lugar, de modo que se qualquer uma das regiões se rebelasse as outras duas seriam mortas em retaliação. Desta forma controlaram os aborígenes no norte do Chile e criaram três cidades: San Pedro de Atacama, Toconao e Socaire.

 
Coreto da praça

O guia continua as histórias nos explicando que normalmente o campanário se localiza ao lado da igreja, mas que este encontra-se a frente devido a um sincretismo popular e religioso incentivado pela divisão das famílias durante a colonização espanhola. A torre representaria o homem, enquanto a igreja representa a mulher, portanto se encontra à frente com significado de proteção do homem para com a mulher, sendo os visitantes a representação dos filhos e o elo da fecundidade.


Eu, a Torre e a Igreja
A Igreja de San Lucas que existe nos dias de hoje, atrás da torre sineira, não é a original que datava do ano de 1744. O templo ruiu durante um forte terremoto, sendo este erguido em 1935 no mesmo lugar do anterior.

Iglesia de San Lucas reconstruída após um terremoto

O interior da igreja é bem simples, com um pequeno altar principal e um Cristo crucificado em um oratório na lateral. O telhado, as portas e a escada de acesso ao coro são construídos com madeira de cacto e amarrados com couro de lhama.

 
Altar da igreja com o telhado de madeira de cacto
 
Oratório simples


Aline e a escada construída em madeira de cacto



Era hora de embarcar de volta no micro ônibus e partir de volta ao deserto. Seguimos na direção do famoso Salar de Atacama que fica no setor “Soncor” da Reserva Nacional Los Flamencos a 24 Km de distância de Toconao.


O salar formou-se quando os lagos que existiam nesta bacia evaporaram, deixando uma espessa camada de cristais de sal sobre a terra. O salar é hoje o maior do Chile e o terceiro maior do mundo, atrás apenas de Uyuni na Bolívia e Salt Lake City nos EUA.

 
Salar de Atacama

O Salar de Atacama em nada se parece com o Salar de Uyuni, que eu havia conhecido no ano anterior, pois este tem uma superfície irregular e escurecida. Os cristais de sal possuem diferentes formas com grandes pedaços que alcançam até 70 cm de altura. Esta variação é devido a diferença dos componentes minerais do sal e da velocidade de evaporação da água, que no Atacama foi muito superior ao de Uyuni.

 
Detalhe do solo do salar

Não é permitido caminhar sobre o salar aleatoriamente, devendo-se andar nos caminhos já demarcados para os turistas, de forma a preservar o ambiente ao redor. Enquanto seguíamos o guia, nos deparamos com um “Dragão de Sal”, um tipo de lagarto do deserto que já havíamos visto na Cordilheira de Sal do Vale de La Luna.

 
Caminho no Salar
 
Dragão de Sal camuflado na pedra



Paramos debaixo de uma cobertura de palha e tivemos uma apresentação onde ouvimos curiosidades sobre o lugar e também sobre a importância do Salar. O guia explica que a região possui uma área de aproximadamente 3.000 Km², a 2.350 metros acima do nível do mar, em uma depressão geológica entre as cordilheiras de Domeyko e dos Andes. A importância econômica fica por conta do lítio armazenado nestas terras salgadas.

 
Aline, eu e o salar

Uma gigantesca laguna se formou dentro da área do salar. Formada pelas águas de lençóis freáticos andinos, que infiltram nas montanhas mais altas e afloram na baixada, a Laguna Chaxa possui suas margens cobertas por sal cristalizado que se acumula devido a evaporação das águas salinas subterrâneas.

Laguna Chaxa em meio ao Salar

A linda Laguna Chaxa

A bela composição de cores entre o Salar, e a Laguna

Fomos deixados livres para caminhar por toda a região, sempre seguindo pelo caminho demarcado que tem aproximadamente quinhentos metros de extensão com várias placas explicativas no percurso. Existem dois mirantes de onde pode-se enxergar os flamingos se alimentando tranquilamente na lagoa.

Os flamingos na paisagem

Existem três tipos de flamingos que podem ser encontrados na região: Flamingo Andino (Parina Grande), Flamingo Chileno (Flamenco Chileno) e Flamingo James (Parina Chica). Segundo o guia a principal característica que permite diferenciá-los está nas pernas e joelhos, pois o andino tem pernas totalmente brancas, enquanto o chileno possui os joelhos bem avermelhados e o james a perna inteiramente rosada.

 
Ao fundo o Andino e suas pernas brancas, a frente o Chileno e seus joelhos vermelhos e entre eles o James com pernas rosadas

Ficamos sabendo que a população destas espécies não passa de 200 mil indivíduos, sendo o andino o mais raro, com apenas 40 mil exemplares.

 
Os três tipos de Flamingos podem ser vistos juntos: Andino, Chileno e James

Os Flamingos se alimentam de um pequeno crustáceo, parecido com um camarão, que possui em torno de um centímetro comprimento e se adaptou completamente às águas geladas e salgadas das lagunas da região. Estes são os grandes responsáveis pela coloração avermelhada dos flamingos.

 
Um flamingo se alimentando na Laguna Chaxa

O guia nos mostra nas margens da laguna, uma proliferação destes pequenos crustáceos, chamados “artêmias”, quase invisíveis na água devido ao diminuto tamanho. Tentei uma foto, mas só é possível ver “riscos” na água esverdeada, pois as artêmias são muito pequenas e até a olho nu deve-se prestar muita atenção para vê-las.

 
Minúsculas artêmias na laguna: parecem rabiscos na água

Caminhamos uma última vez pelas trilhas do salar em direção ao veículo, onde embarcamos e tomamos a estrada em meio ao deserto novamente. Rumamos para as maiores altitudes nas quais chegaríamos no dia, nas Lagunas Miscanti e Miñeques. Percorrendo uma estrada mal sinalizada podíamos contemplar a beleza do deserto andino.

 
A estrada e o deserto
 
Paisagem andina



O deserto nos reservou diversas surpresas ao longo de toda viagem, e neste dia nos deparamos com uma das mais agradáveis. No caminho para as lagunas encontramos um Zorro, que é um tipo de raposa do deserto e vive nos altiplanos andinos. Pudemos observa-lo bem de perto. Quando o motorista parou o ônibus o animal se aproximou com curiosidade, mas me demonstrou um dos impactos ambientais da grande visita de turistas na área, pois com certeza o zorro está acostumado a ser alimentado pelos visitantes, fazendo com que ao ver o ônibus parar logo se aproxime esperando por comida. Isso pode levar a um desequilíbrio ecológico e a perda da capacidade de caça da espécie...

 
O Zorro Andino

Aa Lagunas Miscanti e Miñique estão localizadas na região da Comunidad Indigena Atacameña de Socaire na Reserva Nacional Los Flamencos, e para visitação deve-se pagar uma taxa de entrada que não está inclusa no pacote do tour.

 
Espetáculo da natureza

Logo podemos ver a Laguna Miscanti, a maior das duas com 15 Km² de superfície, que fica na base do vulcão de mesmo nome.

 
Laguna Miscanti e o vulcão
 
Beleza indescritível



Caminhamos pela região para registrar a beleza do lugar em fotos. A vista da paisagem marcada por um contraste de cores entre o deserto e a laguna e ainda tendo as montanhas ao fundo é realmente recompensadora. O céu extremamente azul completa a beleza do lugar.

 
Laguna Miscanti
 
Nós, a laguna e o vulcão Miscanti


O sol estava quente, mas a água devia estar gelada



Descemos a encosta na direção da superfície azul da laguna, seguindo por um caminho demarcado no solo. Apesar do sol forte do deserto o vento gelado logo me fez colocar o casaco, afinal estávamos a 4.200 metros acima do nível do mar.

 
Sol quente e vento frio a 4.200 metros de altitude

Apesar de estarmos no fim do verão o vento gelado não parava de soprar e o guia explica que esta visita não é oferecida no inverno, pois as temperaturas negativas e as nevascas impedem o acesso e cobrem completamente o lugar, mas que em outras épocas a neve dá um tom a mais nas montanhas e a visita é bem indicada na primavera e no outono.

 
A Miscanti em pleno verão, sem neve

Junto a laguna algumas vicunhas se alimentava ou descansavam, longe do nosso alcance, deitadas sobre a vegetação amarelada.

 
Vichunha

Caminhamos pela pista na faixa de terra que separa as duas lagunas e chegamos na Miñeques, a menor com apenas 1,5 Km² de superfície.

 
Entre a Miscanti e a Miñeques

Não se pode aproximar de suas margens e paramos em um mirante para contemplação. As águas da Laguna Miñeques tem um belo tom de azul esverdeado.

 
Detalhe das águas da Miñeques
 
Laguna Miñeques



Deixamos as lagunas e seguimos de volta para San Pedro de Atacama. Normalmente os pacotes turísticos realizam uma parada no vilarejo de Socaire antes de chegar na região das lagunas, no entanto, nosso guia trocou essa ordem e no retorno realizamos essa parada.

 
Paisagem na estrada para Socaire

Socaire está a 38 Km de distância das lagunas e a 90 Km de San Pedro. Encontra-se a 3.400 metros acima do nível do mar e é o lar de aproximadamente 300 pessoas que se dedicam a agricultura em terraços (típica da região) e o pastoreio.

 
Terraços de agricultura nos arredores da vila
 
Socaire



O povoado é extremamente pequeno e simples. Uma igrejinha colonial é o principal patrimônio histórico da localidade, possuindo o campanário separado da nave principal.

 
Igreja na paisagem
 
Igreja de Socaire


Interior da igreja



Nossa programação era de apenas vinte minutos em Socaire, mas um pequeno incidente mudou tudo. Enquanto manobrava o ônibus na estrada irregular diante da igreja uma pedra furou um dos pneus traseiros e teríamos que esperar a troca. O motorista levou o ônibus até a arborizada praça da cidade para a manutenção. Sentamos e esperamos pacientemente.

Praça principal de Socaire

Diante da praça existe uma igreja mais moderna, apesar de manter algumas características coloniais. O tempo de troca do pneu demorou bem mais do que o previsto, e ficamos conversando com os outros turistas que estavam no tour. Fizemos algumas amizades por ali, como um casal de argentinos que já havia conhecido o Brasil e duas meninas chilenas que exploravam o norte do próprio país.

 
Igreja da praça mais moderna, mesmo com estilo colonial

Pneu trocado, voltamos para estrada e retornamos a San Pedro de Atacama. O fim do passeio estava previsto para as 16h, de modo que muitas pessoas conseguem fazer outros pacotes no mesmo dia (os que não saem de manhã cedo, saem neste horário), mas chegamos depois das 17h. Felizmente, não havíamos planejado nenhum tour a mais para este dia, justamente com medo de atrasos.

 
Voltando para San Pedro de Atacama

Tomamos um banho no hostel e saímos para jantar. Por volta das 19h30min o sol se põe no deserto e pinta de lindas cores o céu atacamenho enquanto as lâmpadas se acendem, dando um toque especial ao vilarejo.
Fim do dia em San Pedro: Espetáculo de luzes no anoitecer do deserto
A noite surge extremamente estrelada me fazendo entender por que o céu do Atacama é muito procurado para observação astronômica, havendo, inclusive, um pacote oferecido por algumas agências de turismo que leva a um passeio noturno com direito a observação do céu com telescópios e a uma visita ao museu astronômico. Esse tour começa diariamente as 20h30min, mas como iríamos acordar as 4h da madrugada do dia seguinte, resolvi dormir.

Gastos para 2 pessoas em 18/03/2014:

- Lanche: $ 1.500,00 CLP
- Entrada na Reserva Nacional: $ 10.000,00 CLP
- Jantar: $ 10.000,00 CLP

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