Chegamos na cidade de Tiradentes, minha
predileta do circuito de cidades históricas e passagem obrigatória para os
mochileiros que cruzam o interior de
Minas Gerais.
Fundada
no início do século XVIII entre a Serra de São José e o Rio das Mortes, a
cidade já teve vários nomes em homenagem a serra, ao rio e ao seu padroeiro,
Santo Antônio. O atual nome da cidade foi uma homenagem ao mártir da
inconfidência mineira, o alferes Joaquim José da Silva Xavier, conhecido como
Tiradentes, devido a sua profissão de dentista e antigo morador da cidade.
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Homenagem a Tiradentes |
A
Cidade
O
Largo das Forras é a principal praça de Tiradentes, usada pela população para
encontros e lazer. Hoje o largo concentra pousadas e restaurantes no seu
entorno, mas o nome não deixa passar despercebido o passado do lugar que era a
praça onde escravos eram alforriados.
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Aline no Largo das Forras |
Cheia
de turistas Tiradentes está sempre movimentada, mas no Largo das Forras todos
parecem se encontrar, antes e depois de rodar pela cidade. Lojas de artesanato
e restaurantes atraem moradores locais e visitantes não só durante o dia, mas
também a noite.
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Monumento em homenagem a Tiradentes no largo |
No
largo está o antigo prédio da prefeitura de Tiradentes, em um casarão colonial
datado de 1720 (um dos mais antigos da cidade), onde funciona a Secretaria de
Cultura e Turismo e se pode conseguir informações diversas sobre a cidade.
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Prédio da prefeitura e Secretaria de Turismo |
Umas
das construções mais importantes para a cidade é o Chafariz de São José que era
usado para abastecimento de toda a cidade no passado. Datado de 1749 o bonito
chafariz era usado também para matar a sede dos cavalos, além de ser usado
pelos escravos para lavar roupas.
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Chafariz de São José que serviu para abastecimento de água da cidade |
A
fachada que lembra a fachada de uma igreja guarda a imagem de São José de
Botas, padroeiro dos bandeirantes, e tem água de boa qualidade jorrando de três
fontes.
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Imagem de São José de Botas na fachada de 1749 |
Nas
laterais estão os espaços reservados aos animais e a lavagem de roupas. De um
lado um cocho onde os cavalos dos viajantes e fazendeiros bebiam água e do
outro um tanque para os escravos lavarem as roupas de seus senhores.
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Nas laterais o espaço para as lavadeiras e cavalos |
Por
detrás do chafariz um aqueduto conduz a água desde a nascente no Bosque Mãe
D’Água até a distribuição pública na praça. A entrada para o bosque fica bem
próxima ao
chafariz e a entrada é gratuita.
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Aqueduto no Bosque Mãe D'Água |
Foi
me perguntando como a população tinha água entre os anos de fundação da cidade
e o ano de inauguração do chafariz público que cheguei ao Bosque da Matriz. Uma
área verde atrás da Igreja Matriz e pouco visitada pelos turistas que guarda o
primeiro ponto de abastecimento da cidade: O Poço da Matriz.
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Poço da Matriz |
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Aline no Poço que fica atrás da Igreja Matriz |
A
cidade é repleta de lojas de artesanatos e produtos para turistas, além de se
poder comprar quase tudo em relação a culinária mineira, incluindo queijos
diversos, doces em compotas e cachaças mineiras. Perfeito para quem gosta de
lembranças e produtos típicos regionais.
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Lojas de artesanato se espalham pelo centro histórico |
Caminhar
por Tiradentes e descobrir os encantos da cidade é muito bom. Pequenas belezas
como a arquitetura das casas coloniais e o encanto da ponte de pedra sobre o
Córrego Santo Antônio se misturam com a graça da leveza do povo mineiro em suas
ruas e praças.
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Ruas de Tiradentes |
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Praça que é o Quartel General dos Malas |
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Ponte sobre o Córrego Santo Antônio |
Onde
Ficar
Tiradentes
possui dezenas de pousadas e será fácil achar uma que caiba no seu bolso. Nas
vezes em que estivemos por lá nos hospedamos na Pousada da Sirlei e na Pousada Vila Inconfidentes que gostamos muito ;-)
Onde
Comer
Além
de pousadas e lojas de artesanatos, o que mais se encontra pelas ruas de
Tiradentes são restaurantes e cafeterias. Há lugares para todos os tipos de
gostos e com preços variados.
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Comida mineira da melhor qualidade |
Entre
os que frequentamos destacamos o bar Conto de Rés, a creperia Jardins de Santo
Antônio, o restaurante San Felice, o restaurante Dona Xica, além de cafeterias
como a “Café De La Place” e a “Café Conosco”. Todos muito bons!!!
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O charmoso e aconchegante Café de la Place |
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Aline no elegante Café Conosco |
Igrejas
Históricas
Tiradentes
possui muitas e belas igrejas históricas, com destaque para a Matriz de Santo
Antônio que se eleva no centro da cidade e pode ser vista de várias ruas do
entorno e outros pontos altos de Tiradentes.
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A Igreja Matriz vista das ruas de Tiradentes |
A
bela Igreja Matriz de Santo Antônio foi erguida em 1710 e é a segunda maior
igreja em ouro do país. Os 482 Kg de ouro espalhado e entalhado em seu interior
estão divididos no altar-mor e nos seis altares laterais.
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Igreja Matriz de Santo Antônio |
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Interior da Igreja Matriz talhado em ouro |
Uma
das maiores atrações da igreja é o órgão português, construído entre 1785 e
1788, que encontra-se no coro alto. Nas noites de sexta-feira é apresentado um
evento musical denominado “Concertos ao Órgão” onde se pode apreciar a bela
melodia do instrumento.
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O coro alto com o órgão português |
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Detalhe do órgão |
Do
lado de fora da igreja o relógio de sol chama a atenção por um detalhe
interessante, já que ele possui duas faces para indicar o horário de acordo com
a posição do sol, sendo uma para uso no inverno e outra no verão.
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Um das faces do relógio de sol: de um lado horário de verão e do outro o horário de inverno |
A
vista das ruas da cidade e da Serra de São José diante das portas da igreja é
uma das marcas principais de Tiradentes, completando uma visita imperdível na
cidade.
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A cidade e a Serra de São José vistas da Matriz |
Outra
igreja interessante é a de Nossa Senhora do Rosário que foi erguida pelos
escravos, sendo concluída em 1708 e é a mais antiga de Tiradentes (normalmente
as igrejas dedicadas ao Rosário de Nossa Senhora era frequentadas pelos
escravos).
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Igreja do Rosários dos Pretos |
Este
templo foi erguido a noite, pois era o horário que os escravos tinham para
descansar e optavam por trabalhar na construção. Contam as histórias que o ouro
em seu altar era roubado dos senhores nos garimpos, pois os escravos guardavam
sobre as unhas pequenas quantidades todos os dias para ornamentar e decorar o
altar da igreja.
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Altar com ouro trazido sobre as unhas dos escravos |
A
pequena Capela de Santo Antônio da Canjica foi erguida no início do século
XVIII e ganhou esse nome devido as pepitas de ouro que eram encontradas nesta
região, que tinham o tamanho de um grão de milho e eram chamadas de canjicas.
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Capela de Santo Antônio das Canjicas |
A
Igreja de Nossa Senhora das Mercês é uma obra prima do rococó mineiro. A
fachada não possui torres e o sino está em uma das janelas, enquanto no
interior pode-se admirar as pinturas de Manoel Victor de Jesus, executadas
entre 1793 a 1824, que se misturam em beleza com o dourado do altar e da
capela-mor.
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Igreja de Nossa Senhora das Mercês |
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Altar com pinturas de Manoel Victor de Jesus |
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Detalhe da pintura no teto |
Outra
igreja que não possui torres é a Capela de São João Evangelista, construída em
1760.
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Capela de São João Evangelista |
Do
alto de uma colina a Capela de São Francisco de Paula guarda um mirante da
cidade de onde se pode ver a Igreja Matriz e os telhados das casas mais abaixo.
É um dos melhores lugares de Tiradentes para se admirar o pôr do sol no fim do
dia.
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Capela de São Francisco de Paula |
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Tiradentes com a Igreja Matriz vista do mirante |
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Pôr do sol visto diante da Igreja de São Francisco de Paula |
Na Praça
das Forras está a simpática e simples Capela do Bom Jesus da Pobreza que foi
construída em 1760 e guarda uma bonita imagem do cristo agonizante no altar.
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Capela de Bom Jesus da Pobreza no Largo das Forras |
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O altar simples e bonito da capela |
Para
finalizar nossa visita pelas igrejas históricas fomos visitar a da Santíssima
Trindade. Construída em 1810 como uma capela, ganhou destaque a partir de 1923
quando se tornou centro de romaria e posteriormente foi elevada a categoria de
Santuário. Destaque para a rara (mas simples) imagem do Pai Eterno em seu
interior.
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Santuário da Santíssima Trindade |
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Altar da igreja com a imagem do Pai Eterno |
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Igreja aberta a todos rs |
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Jardim da igreja com chafariz de água potável |
Além
das igrejas destaco os Passos da Paixão de Cristo que são pequenos altares
erguidos pela cidade em capelas que se abrem na época da Páscoa para as
procissões que remetem ao Calvário.
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Capelinha de um dos Passos da Paixão de Cristo |
Circuito Cultural
A
cidade de Tiradentes é uma das principais do circuito de cidades históricas
mineiras, possuindo atrações culturais e naturais que fazem valer a pena passar
alguns dias por lá em qualquer época do ano.
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Busto em homenagem a Tiradentes |
O
calendário cultural é extenso possuindo eventos durante todo o ano, como Mostra
de Cinema, Carnaval, Semana Santa, Jubileu da Santíssima Trindade, Encontro de
Motos, Festival de Cultura e Gastronomia, entre muitos outros.
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A Páscoa na cidade preserva bem os ritos católicos |
A
Casa da Câmara Municipal abriga exposições temporárias, mas a própria
construção se destaca na paisagem com seu varandão e escadaria. Localizada na
Rua da Câmara, diante da Matriz de Santo Antônio a construção que já abrigou o
antigo Fórum de Tiradentes.
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Casa da Câmara e antigo Fórum de Tiradentes serve hoje para exposições temporárias |
Um
prédio importante para a cidade é onde funciona o Museu de Arte sacra e que já
foi a antiga cadeia de Tiradentes. O casarão foi erguido em 1730 mas foi
reconstruído depois de um incêndio que ocorreu em 1829.
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Antiga Cadeia e Museu de Sant'ana de Artes Sacras |
Outro
espaço de cultura religiosa é o Museu da Liturgia, no centro histórico de
Tiradentes, que conta com mais de 400 peças sobre o tema e é o único da América
Latina voltado a celebração da liturgia católica. Possui modernas instalações
com acervo multimídia com destaque para o pátio interno onde acentos junto a um
muro de pedras permitem escutar trechos bíblicos e salmos e são um convite a
reflexão e relaxamento.
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Museu da Liturgia |
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Cadeiras com som ambiente de textos bíblicos: relaxamento total |
Um
solar ao lado da Igreja de São João Evangelista foi a casa onde morou o padre
inconfidente Carlos Correia de Toledo e onde funciona o Museu Padre Toledo. A
importância histórica do casarão vaio além do seu porão que já abrigou
escravos, pois o movimento da Inconfidência Mineira provavelmente começou neste
solar.
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Museu Padre Toledo |
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Destaque para os tetos dos cômodos |
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Porão que abrigou escravos |
Dentro
do museu uma coleção de objetos históricos está espalhada pelos 14 cômodos do
casarão. Destaque para as reproduções dos trechos das sentenças de morte e
esquartejamento de Tiradentes.
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Exposição de artes no Museu Padre Toledo |
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Bandeira brasileira da época do império exposta |
Não
só para quem é apaixonado por motocicletas, mas também para aqueles que curtem
viajar ao passado diante de modelos raros, o Museu da Moto é um programa
imperdível.
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Museu da Moto |
Localizado
na entrada da cidade, na estrada que da acesso a Tiradentes (antes de cruzar o
Rio das Mortes), o museu conta com mais de 80 motos catalogadas.
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Motos antigas expostas no museu |
Estação
de Trem
Logo
na entrada da cidade está a Estação Ferroviária que foi construída em 1881 e
ainda hoje é usada para ligar Tiradentes a São João Del Rei.
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Estação de trem de Tiradentes: Foto de reprodução da Internet |
Para
quem vai até a cidade vizinha o passeio percorre 13 Km em um vagão antigo
puxado por uma locomotiva do tipo “Maria Fumaça” e percorre lindos trechos nos
arredores das cidades.
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Passeio de trem para são João Del Rei |
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Paisagem pela janela do vagão |
Belezas
Naturais
Além
de história, Tiradentes guarda ainda alguns atrativos naturais que tornam a
cidade completa. A mais conhecida é a Cachoeira do Bom Despacho que fica a 5
minutos de carro da Igreja da Santíssima Trindade.
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Cachoeira do Bom Despacho |
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Banho em um dos pequenos poços da cachoeira |
A
cachoeira recebeu esse nome por ficar no lugar onde se reuniam os tropeiros que
iam levar as cargas pela estrada real até Paraty, no Rio de Janeiro. Era o
local de despachar as mercadorias e por este mesmo motivo o lugar também recebeu
o primeiro Marco da Estrada Real.
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A cachoeira e o local onde se despachavam as mercadoreis |
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Marco zero do projeto Estrada Real |
Além
da Cachoeira do bom Despacho Tiradentes guarda boas surpresas para quem se
aventura nas trilhas da Serra de São José, como a Cachoeira do Mangue e as
piscinas naturais da Trilha do Carteiro.
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Cachoeira do Mangue |
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Piscinas naturais na Serra de São José |
Arredores
da Cidade
Separado
de Tiradentes pela Estrada Real está o Município de Prados, fundado pelos
Bandeirantes em 1704.
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Paisagem de Prados com a Igreja do Rosário em destaque |
Mas
podemos dizer que o lugar mais turístico de Prados é o Distrito de Vitoriano
Veloso, conhecido pelo nome de “Bichinho” e que abriga uma população de
aproximadamente 1.000 moradores.
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Praça central de Bichinho |
Bichinho
entrou no mapa turístico de Tiradentes devido as suas diversas lojas de
artesanato e bons restaurantes. Para conhecer um pouco mais desse lugarejo aconchegante veja o ótimo post do Blog Destinos e Afins sobre o lugar.
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Bichinho é rica em artesanato mineiro |
Para
se chegar a Bichinho deve-se percorrer apenas 7 Km de uma estrada repleta de
fazendas e que tem ainda o Museu do Automóvel da Estrada Real que possui mais
de 60 carros das décadas entre 30 e 60 (atenção, pois o museu só abre de quarta
a domingo!).
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Museu do Automóvel da Estrada Real |
Para
finalizar indico conhecer a Gruta Casa de Pedra que fica na rodovia que segue
para São João Del Rei a apenas 2 Km de distância do trevo de entrada para
Tiradentes.
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Gruta Casa de Pedra |
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Aline e eu no Salão do Lustre na casa de Pedra: O lugar já teve até casamento em seu interior |
Dicas:
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Esqueça o carro e percorra o centro caminhando, as ruas estreitas e ladeiras de
pedras não ajudam aos carros e há poucas vagas para estacionar no centro
histórico;
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Atenção no calçado que vai usar, principalmente as mulheres, pois as ruas de
pedra exigem tênis confortáveis;
- As
hospedagens no centro são mais caras do que as mais longe, mas vale a busca por
opções entre o centro histórico e a estação de trem, pois não ficam longe para
caminhar e são mais baratas, enquanto as que ficam do outro lado do Rio das
Mortes (antes da estação no caminho de chegada) vão exigir carro para ir ao
centro;
-
Não é necessário agendar com agências para se conhecer a Casa de Pedra a não
ser que deseje fazer Rapel por lá, neste caso procure uma operadora de turismo;
- Para conhecer os arredores (Gruta Casa de Pedra e Vila de Bichinho) você deve estar de carro ou procurar operadoras turísticas que te levem até lá.
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