Havíamos deixado a região do Algarve português para conhecer no
fim de nossa viagem na esperança de conseguir dias agradáveis de sol nas praias
da região, mas deixamos Sevilha com o tempo ruim e na fronteira entre Espanha e
Portugal encontramos uma tempestade. Até este momento eu tinha esperança de um
carimbo espanhol em meu passaporte, pois quando deixamos Guarda em direção a
Salamanca o guarda de fronteira só olhou nossa foto e eu pretendia pedir um
carimbo na volta a Portugal, mas minha esperança se foi quando passamos pelo
posto de fronteira debaixo de muita chuva e o guarda acenou, de longe e
protegido, ao motorista do ônibus que não parasse... Lá se foi meu carimbo
espanhol no passaporte...
Minha esperança de dias de sol em praias do Algarve também se foi
quando chegamos na Rodoviária de Faro debaixo de chuva. Era o fim do inverno e
a primavera se aproximava com uma frente fria. Optamos por diminuir os dias na
região e ficamos apenas um único dia inteiro, passando metade dele em faro e a
outra metade em Tavira e partindo para Lisboa em seguida.
Deixo aqui o relato com um pouco do que se pode ver nessas duas
cidades, mas aviso que há muito mais o que conhecer por lá, pois a natureza foi
generosa com o sul português e pretendemos retornar um dia no verão para
aproveitar de verdade o lugar.
Praça em Faro |
Faro
Faro é a capital do Algarve no sul português e conta com um
aeroporto que fica a 5 Km do centro. Também é possível ir e vir de Faro de trem
e foi assim que partimos dali para Lisboa. A rodoviária de Faro faz a ligação
entre as cidades de região e também liga o país a Espanha.
A cidade renasceu várias vezes ao longo dos séculos, após
invasões, incêndios e terremotos. Uma vila de pescadores pré-histórica
tornou-se um importante porto e centro administrativo sob comando dos romanos
sendo depois tomada pelos mouros.
Capturada dos mouros em 1249 por Afonso III, Faro prosperou até o
ano de 1596, quando foi saqueada e incendiada pelo Conde Essex, protegido pela
rainha da Inglaterra. Uma nova cidade renasceu das cinzas para ser destruída
novamente pelo grande terremoto de 1755, deixando poucas construções antigas.
Resquícios da muralha de faro |
O
Arco da Vila que conduz ao pequeno centro antigo foi construído no século XIX
em uma retomada da cidade que encontrava-se em declínio.
Arco da Vila |
Entrada para Vila-a-Dentro |
No interior das muralhas antigas encontramos no Largo da Sé duas
importantes construções de Faro, a Catedral e o prédio do Paço Episcopal. O
paço foi construído no século XVIII e ainda é usado pela igreja, não estando
aberto ao público. Laranjeiras completam a paisagem do largo.
No lugar onde hoje está a Catedral da Sé existia uma igreja
destruída pelos ingleses em 1596, que havia sido erguida sobre uma antiga
mesquita. Da construção original ainda restam a base do campanário, seu portão
medieval e duas capelas.
É possível fazer uma visita na igreja e ver de perto o que restou
da igrejinha original e sua mistura com novos estilos resultantes da reconstrução
do lugar. O bonito coro, junto ao altar, apresenta decoração em azulejos nas
paredes e um belo retábulo dourado ao fundo.
A visita inclui conhecer um pequeno museu com arte sacra e as duas
capelas originais, ou o que restou delas. A Capela de São Miguel guarda objetos
de arte enquanto a Capela dos Ossos é apenas um altar sem teto ou paredes
laterais, mas exibe a característica que lhe dá o nome, pois o altar montado com
ossos humanos está bem preservado.
Museu de arte sacra |
Capela de São Miguel |
Altar da Capela dos Ossos: Só restou o altar de ossos na pequena capela |
Para finalizar a visita pode-se subir no Campanário original, que
resistiu a destruição, e admirar a paisagem da cidade ao redor com a Ria de
Faro ao fundo.
Sino no campanário |
Ruas de Faro com a Ria ao fundo vista do alto da torre da Catedral da Sé |
Ainda no centro antigo está o Museu Municipal na Praça Afonso III,
que funciona no antigo prédio do Convento de Nossa Senhora da Assunção, de
1540.
Praça Afonso III com o Museu Municipal ao fundo |
Mais ao sul, junto a antiga muralha está o Largo do Castelo, mas o
antigo Castelo de Faro hoje foi remodelado e funciona como uma fábrica de
cervejas.
O Arco do Descanso é uma das poucas construções mouras que ainda
podem ser vistas na cidade e liga o centro antigo (Vila-a-Dentro) ao Largo de
São Francisco, do lado de fora das muralhas, onde encontra-se a Igreja de São
Francisco de Assis.
Uma das maiores atrações da região é o Parque Natural da Ria
Formosa, que com 60 Km de extensão vai de faro a Cacela Velha e foi fundado
para proteger a biodiversidade local. Diversas agências oferecem passeios
turísticos entre as formações da Ria e suas lagoas e cavernas. Infelizmente não
pudemos fazer o tour devido ao tempo ruim. Os barcos saem da Marina de faro,
mas fomos informados que as condições marítimas não eram boas e a chuva nos
espantou de vez...
Parque Natural da Ria Formosa |
Faro, como toda cidade portuguesa, possui ótimas opções de
restaurantes e eu que não costumo indicar lugares para comer abro aqui uma
exceção, pois adoramos o “Sete Pedras Wine Bar e Restaurante” (Travessa dos
Arcos, nº 7). Atendimento muito bom e ótima comida em um ambiente que nos leva
a uma viagem no tempo.
Restaurante Sete Pedras |
Tavira
O percurso entre Faro e Tavira é rapidamente feito de ônibus e a
pequena cidade, as margens do Rio Gilão, pode ser visitada em pouco tempo, já
que estivemos por lá em metade de um dia.
A primeira atração na cidade é a antiga ponte romana que liga as
duas margens do Rio Gilão. A ponte original datava do século III, mas foi
substituída durante o império romano na península ibérica e remodelada ao longo
de séculos até a atual.
Cruzando a ponte romana |
Uma das marcas arquitetônicas da cidade é a construção de casas
com telhados de quatro lados (fácil de ver os da Rua da Liberdade), pois os
telhados em forma de pirâmides surgiram aqui para escoar as águas das
tempestades do Algarve.
Algumas lojas para turistas estão espalhadas pela cidade e a
bonita Praça Dr. Antônio Padinha guarda a Igreja de São Paulo ou Igreja de
Nossa Senhora da Ajuda, de 1606.
A Praça da República guarda o prédio da Câmara Municipal de Tavira
e é bem moderna com uma arquitetura que conta com espelhos de água e
chafarizes.
Praça da República |
Câmara Municipal de Tavira |
A cidade que era uma das mais importantes na época do domínio
mouro teve um grande declínio devido ao assoreamento do porto e agravado com
uma epidemia de peste em 1645. Tavira hoje recebe turistas que vão em busca de
sua aparência simples, igrejas históricas e bonitas mansões.
No Largo da Misericórdia está a igreja de mesmo nome que foi
erguida entre 1541 e 1551. Com a imagem de Nossa Senhora da Misericórdia ao
centro, sobre a porta, ladeada pelas figuras de São Pedro e São Paulo, a igreja
e é considerada a mais notável construção renascentista do Algarve. É uma das
igrejas que fica aberta fora dos horários de missa e pode ser visitada, mas não
se pode fotografar o interior...
Igreja da Misericórdia |
Mais adiante está o antigo solar da família Corte-Real, ligada as
explorações marítimas portuguesas, onde foram encontrados importantes vestígios
arqueológicos dos séculos VIII a.c. a XVIII d.c. como uma muralha fenícia e
estruturas habitacionais islâmicas em escavações que ainda são realizadas no
local.
Todos os caminhos, ladeira acima, levam ao castelo de Tavira e
logo se está margeando as muralhas nas ruas ao redor. Diante da entrada do
castelo encontramos a Igreja Matriz de Santa Maria do Castelo no arruamento
chamado de Calçada dos Sete Cavaleiros.
O nome vem de uma lenda local que data desde os tempos das guerras
entre cristãos e mouros por estas terras. Segundo a lenda durante uma trégua
sete cavaleiros cristãos foram emboscados e mortos pelos mouros nos arredores
de Tavira. Em represaria os cristãos, liderados por Dom Paio Peres, desferiram
um ataque tão forte contra a cidade que derrubaram suas defesas e a
conquistaram.
Os corpos dos sete cavaleiros e do conquistador Dom Paio Peres
estão enterrados na igreja, que foi erguida após a conquista sobre uma antiga
mesquita moura. A torre do relógio da igreja é um dos marcos da cidade.
Para finalizar a visita não deixe de conhecer o Castelo de Tavira
que fica no topo da colina no meio da cidade, no antigo bairro árabe.
O antigo Castelo Mourisco está aberto a visitação e é composto
apenas das muralhas e torres externas de onde se tem uma ao visão da cidade e
suas construções. Da torre pode-se ver os telhados piramidais característicos
de Tavira e a Igreja de Santiago entre as casas.
Torre do castelo |
Tavira vista de cima |
Telhados característicos de Tavira |
Igreja de São Tiago vista do castelo |
Caminhamos pela muralha e pelos jardins internos que ocupam agora
todo o espaço do antigo castelo e que renderam belas imagens.
Jardins internos |
Era o fim de nossa visita a Tavira e no fim do dia voltamos a
Faro, junto com a chuva que a noite voltou para nos expulsar de vez do Algarve.
Na manhã seguinte compramos a passagem de ônibus para Lisboa de onde tomaríamos
o voo de volta ao Brasil. Antes ainda teríamos tempo para passear mais um pouco
já que ganhamos esse dia não ficando no sul, mas isso é história para o próximo
post...
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