Acordamos as 4h30min da madrugada. O
guia havia explicado que era necessário sair antes das 6h para chegar aos geisers
a tempo, pois só é possível vê-los bem antes de o sol esquentar o ar, já que a
diferença de temperatura é que faz com que se forme o vapor que eles exalam. O desayuno foi servido comigo ainda
acordando. O amanhecer estava realmente frio, fomos informados que a
temperatura havia atingido -5ºC durante a noite (isso porque estávamos no
verão) e até escovar os dentes era difícil, pois a água parecia congelar as
mãos e boca. Fiquei pensando como deve ser no inverno quando a temperatura pode
chegar a -20ºC. Hora de lançar a mochila no bagageiro, e dessa vez o casaco e
gorro já estavam vestidos.
O frio amanhecer do deserto |
A região dos Geisers Sol de Mañana é realmente impressionante. É como olhar para
dentro do planeta e imaginar como se deu a formação da terra com os vulcões e
tudo o mais. Na verdade não são geisers e sim fumarolas, pois não expelem
líquidos e sim apenas fumaça de vapor d’água. O cheiro de enxofre toma todo o
lugar. O dia havia acabado de amanhecer e os turistas iam chegando em vários
carros pelo deserto. Estava extremamente frio, e ao contrário do que eu
imaginava o vapor das entranhas da terra não aqueciam em nada o ar ao redor.
Não existe nenhuma restrição para caminhar ao redor das grandes aberturas no
solo, mas nosso guia avisa que devemos ter cuidado, pois o chão pode abrir-se
sob nossos pés e nos engolir, já que são formados pela erosão dos cursos subterrâneos da água aquecida na região vulcânica.
Geisers Sol de Mañana |
Buraco de fumarola no solo |
Depois de quase 1 hora na região dos
geisers nos dirigimos às Aguas Termales,
nossa próxima parada. Eu não entrei nas Águas Termais, pois não havia levado
roupa de banho e minha toalha estava na mochila em cima do carro, inacessível.
Além disso, não sei se teria coragem de tirar a roupa naquele frio da manhã,
mesmo sabendo que as águas tinham temperatura próxima a 30°C, pois teria que
sair de lá e encarar o vento gelado depois. No nosso grupo apenas uma das
meninas teve a coragem de mergulhar. Molhei os pés e as mãos nas águas quentes
que vinham das entranhas da Terra.
Laguna de águas termais |
Águas quentes no frio do deserto |
Depois das águas termais nos dirigimos
para o Deserto de Dalí, onde fizemos uma parada na Laguna Verde, aos pés do famoso
vulcão Licancabur que faz divisa com o Chile. Ao contrário de outras lagoas do
altiplano, não há vida nesta laguna. Ela é um poço de arsênico e cobre e, por
isso, é estéril e possui a exuberante cor esmeralda. Sua cor varia com o tempo
e é mais forte em outras épocas do ano, neste dia não tinha quase nada de verde
nela. Ao lado dela encontra-se a Laguna Blanca, outro impressionante exemplo de
beleza.
Deserto de Salvador Dali |
Laguna refletindo a paisagem |
Margem da Laguna Blanca |
Após as paradas nas lagunas nos
dirigimos à região de fronteira Bolívia-Chile. Neste ponto do deserto fica a
Imigração Boliviana em uma casa bem pequena e perdida em meio as areias. Neste ponto o movimento de pessoas e vans é intenso, pois é a saída
da região de Sur Lipez em direção a
San Pedro de Atacama. Muitos mochileiros aguardavam para o transfer para o Chile. Este era o ponto onde nos despediríamos da
Mariana e da Benedita, que iriam atravessar a fronteira. Eu, Leo e os franceses
voltaríamos em uma viagem de 8h de carro com 3 paradas apenas.
Nos despedimos das nossas novas amigas
já com saudades, afinal havíamos passado 3 dias juntos e não sabíamos se nos veríamos
novamente algum dia. Trocamos contatos de redes sociais e ajudamos a descer as
mochilas do teto do 4x4. Depois foi esperar as duas carimbarem os passaportes e
acenar para um último adeus enquanto elas embarcavam na van para o Chile e nós
voltávamos ao carro, agora com mais espaço, para nossa jornada de volta a
Uyuni.
A primeira parada da volta foi nas
Rochas de Salvador Dali. Uma homenagem ao pintor, que nunca esteve por lá, mas
dá nome ao local (e ao deserto) devido à imagem surrealista dos seus quadros,
similar à paisagem. Aproveitamos para caminhar um pouco e tirar fotos entre as
rochas esculpidas pelo vento.
Las Rocas de Dalí |
Paisagem Surrealista |
Rochas esculpidas pelo vento no deserto de Salvador Dalí |
A segunda parada foi em um mercadinho e
restaurante, próximo a um vilarejo, no meio do nada ainda no Deserto de Dalí
para o almoço. Pagamos Bs$ 2,00 para usar o banheiro (sem comentários sobre as
condições de higiene do lugar, teria sido mais higiênico usar uma moita no
deserto). A comida estava horrível – atum frio direto da lata e quinoa. Sorte
nossa que ainda havia sobrado alguma coisa das compras que havíamos feito antes
de entrar no salar e decidimos almoçar tudo que havia sobrado dos mantimentos.
Depois foram mais 4h dentro do 4x4, cruzando o deserto andino.
Cores do deserto |
Paisagens andinas |
Oasis no Deserto de Dalí |
A última
parada em uma cidadezinha a algumas poucas horas de Uyuni. Foram 20 min para o
motorista esticar as pernas e a coluna, beber uma água e usar o banheiro.
Aproveitamos para uma caminhada pela rua para o sangue circular um pouco,
depois voltamos ao veículo imaginando que só pararíamos em Uyuni. Não foi bem
assim. A alguns poucos quilômetros de distância do nosso destino avistamos um
carro de outra agência parado na estrada com o pneu furado. O motorista estava
com dificuldades para efetuar a troca, então paramos para ajudar. Paramos no
meio da estrada desértica enquanto os dois guias tentavam trocar o pneu. O
carro com o problema não tinha uma chave de roda e precisou pegar emprestado no
nosso. Notei como o tour depende muito do motorista, e fiquei pensando o que
faz o guia sair de Uyuni para três dias no deserto sem uma chave de roda (!?),
sorte dele que paramos para ajudar. Alguns veículos cruzaram a estrada em alta
velocidade jogando terra e poeira em cima de nós. Na verdade o carro todo era
terra por dentro a essa altura, e não tinha como não estar coberto de poeira do
deserto depois desses dias todos. Tudo que eu queria era chegar em um hostel
qualquer e tomar um banho para descansar. Ao todo ficamos uns 30 min parados
comendo poeira na estrada. Ao longe nuvens pesadas e negras cuspiam raios e
relâmpagos nas montanhas.
Foram 8h cruzando o deserto até o retorno a Uyuni |
Parada não programada para ajudar na troca de pneus de outro carro |
Chegamos a Uyuni por volta das 17h. Nos
despedimos do casal de franceses e de nosso guia e nos dirigimos ao terminal de
ônibus, pois teríamos que fazer todo o caminho de volta a partir deste ponto.
Compramos uma passagem e embarcamos para Potosí as 18h30min. A viagem foi
tranquila, mas estávamos cansados de ficar sentados em um veículo. Chegamos por
volta de 22h. Nossa intenção era dormir em Potosí e embarcar na manhã seguinte
para Sucre, no entanto, havia um ônibus partindo para Sucre em 30 min. Mesmo
cansados de viagem decidimos continuar na saga da volta e embarcamos neste
ônibus. Foram um pouco mais de 4h de viagem a partir deste ponto.
Refeição - Bs$ 36,00
Banheiro - Bs$ 2,00
Onibus para potosi - Bs$ 25,00
Onibus para sucre - Bs$ 20,00
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