segunda-feira, 27 de julho de 2015

Lisboa: Belém


Para se chegar a Belém é preciso pegar o Elétrico nº 15, que tem o ponto inicial na Praça da Figueira. Belém exibe a antiga glória marítima de Portugal, pois está situada na foz do Rio Tejo, de onde as caravelas partiam para as viagens de descobrimentos.


Belém é um bairro bem elegante com parques e jardins, mas é mundialmente famoso por um doce português que foi criado originalmente aqui: Os Pastéis de Belém. Apesar de chamarmos todos os pastéis por este nome, os únicos Pastéis de Belém são os aqui vendidos, enquanto todos os outros são simplesmente “pastéis de nata” e uma visita a loja e fábrica originais é imperdível para quem vai a Belém.

 
Fábrica original dos Pastéis de Belém

Os pastéis são fabricados na Rua Belém nº 84, próximo ao ponto do elétrico e do Museu dos Coches, desde 1837 e até hoje mantém-se a receita original. A fila é grande, mas compensa, já que a grande demanda faz com que sempre estejam quentinhos.

 
Hora de provar os Pastéis de Belém

Centenas de pastéis quentes a todo instante


Logo a frente na mesma rua se encontra a Praça Afonso de Albuquerque que tem o nome do primeiro vice-rei português da Índia. No centro da praça há uma estátua dele no alto de uma coluna com cenas de sua vida esculpidas na base.

 
Praça Afonso de Albuquerque

Diante da praça encontra-se o Palácio de Belém que é hoje a atual residência do presidente português e que no passado já foi o Palácio Real. Era neste palácio que estava a família real no ano de 1755, quando houve o terremoto e graças a isto não houve mortos na coroa portuguesa neste evento, pois o Palácio do Paço foi muito atingido pelo tremor e pelas ondas que entraram pelo Tejo na ocasião.


Mais a frente está a bonita Praça do Império que foi construída em 1940 diante do Mosteiro dos Jerônimos. Toda a área da praça foi erguida sobre um aterro no Rio Tejo a mando de Salazar, quando esta região foi revitalizada por ocasião da Grande Exposição do Mundo Português.

 
Mosteiro dos Jerônimos ao fundo com os jardins da Praça do Império a frente

Chafariz na Praça do Império


Cruzando as pistas de veículos e a linha férrea por uma passagem subterrânea chega-se a um dos grandes monumentos de Belém: Ao Padrão dos Descobrimentos.




Construído na margem do Rio Tejo o monumento homenageia os navegantes, patronos reais e todos os que participaram da Era dos Descobrimentos em Portugal. Com 52 metros de altura o Padrão dos Descobrimentos foi erguido em 1960 para celebrar o quinto centenário da morte do navegador Henrique que está esculpido a frente de figuras importantes como Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral e Fernão de Magalhães, entre outros.

 
Navegadores esculpidos diante do monumento





O monumento tem a forma estilizada de uma caravela com o brasão português nas laterais e a espada da Casa Real de Avis, símbolo do Rei Sebastião, acima do portal de entrada.

 
Padrão em forma de caravela

Espada da Casa Avis sob a entrada


Dentro do monumento são apresentadas exposições temporárias no subsolo, não necessariamente relacionadas aos descobrimentos. Estão lá expostas as plantas do próprio monumento.

Exposições dentro do monumento

Um elevador percorre o monumento ao longo de seis andares, onde uma pequena escada leva ao topo a 52 metros de altura de onde se tem uma vista privilegiada do Tejo e suas margens.

 
Aline e eu no alto do Padrão dos Descobrimentos

Do alto é possível ver a enorme bússola de navegação desenhada na calçada, diante do monumento, que foi presente da África do Sul no ano de 1960. No centro um mapa com figuras de sereias e caravelas mostra as rotas dos descobrimentos dos séculos XV e XVI.

 
Mapa na bússola mostra as rotas dos descobrimentos

O vento é bem frio lá em cima, mas a vista compensa, pois pode-se observar a Torre de Belém no rio e a Praça do Império a frente do Mosteiro dos Jerónimos. Mais atrás está o Estádio do Restelo, sede do Clube de Futebol Os Belenenses.

 
Torre de Belém vista do Padrão dos Descobrimentos





Praça do Império e o Mosteiro dos Jerônimos

Estádio do Restelo


Seguindo a margem do rio encontramos um dos antigos faróis que serviam de sinal para as embarcações que navegavam pelo Tejo e cruzando as marinas uma praça expõe uma réplica do hidroavião que fez a primeira travessia aérea do Atlântico Sul, entre Lisboa e Rio de Janeiro, em 1922.

 
Farol

O farol com o Padrão dos Descobrimentos, o Tejo e a Ponte 25 de Abril ao fundo

Réplica do Hidroavião que atravessou o Atlântico em 1922



Também junto ao Tejo está o Museu de Arte Popular inaugurado em 1948 em um prédio bem simples. Não nos animamos para conhecer seu acervo e seguimos adiante.

 
Museu de Arte Popular

Uma caminhada leva a Torre de Belém, construída diante da Praia de Belém como uma fortaleza no meio do Rio Tejo entre os anos de 1515 e 1521. Ponto de partida dos navegadores que viajavam para descobrir as rotas de comércio, esta torre tornou-se um símbolo da grande era de expansão de Portugal, sendo declarada Patrimônio Mundial pela UNESCO em 1983.

 
Torre de Belém

Com o aterro realizado no século XIX, que estreitou o Tejo, a torre deixou de estar no meio do rio e ficou mais próxima a sua margem. Uma curiosidade é a pequena figura de um rinoceronte esculpida na base de uma guarita na fachada, pois em 1513 desembarcou em Lisboa um rinoceronte vindo da Índia que D. Manuel ofereceu ao Papa Leão X na embaixada de Tristão de Cunha, no entanto a embarcação naufragou e o animal teve seu corpo recuperado e empalhado servindo de inspiração para o escultor na construção da fortaleza.



O rinoceronte esculpido na base da guarita

Entrada da torre


A torre, que originalmente servia como proteção para a cidade de Lisboa, deixou de ter sua função ao longo dos séculos e foi utilizada como aduana, posto de sinalização, telégrafo e paiol. Mais tarde os seus paióis foram utilizados como masmorras para presos políticos.

 


Antigo paiol e masmorras


A base é construída em um baluarte poligonal com 16 canhoneiras e um terraço com guaritas cilíndricas como posto de sentinelas que servia como segundo nível de baterias de canhões.

Canhoneira no baluarte

Guarita no terraço

Terraço que servia de segundo nível de baterias de canhões

No terraço do baluarte está o Santuário de Nossa Senhora do Bom Sucesso com o Menino. A imagem conhecida como “Virgem do Rastelo” está virada para o Tejo observando e abençoando o caminho dos navegadores.

 
Santuário da Virgem do Rastelo

Acima do baluarte ergue-se a torre quadrangular em cinco pavimentos, sendo o primeiro a Sala do Governador, o segundo a chamada Sala dos Reis e o terceiro a Sala de Audiências. No quarto nível da torre está a Capela e o último andar é o terraço.

 
Sala do Governador

Capela


A visita a Torre de Belém é ponto obrigatório para quem vai a Lisboa e apesar da quantidade de turistas que desembarcam dos ônibus, fazendo fila para entrar, o lugar não chega a ficar lotado e todos podem visitar a atração de forma confortável.




Ao lado da torre está o Forte do Bom Sucesso onde funciona o Museu aos Combatentes, que foi criado para homenagear os militares portugueses que participaram da primeira guerra mundial, campanhas do ultramar e missões de paz. Diante do museu o Monumento aos Combatentes de Ultramar com lápides que apontam os nomes dos soldados e uma pira acesa, guardada por dois sentinelas, que lembra os mortos em combates.

 
Forte do Bom Sucesso

Monumento aos Combatentes de Ultramar


Retornado em direção ao Centro Cultural de Belém e a Praça do Império fomos na direção do Mosteiro dos Jerônimos.

Mosteiro dos Jerônimos
 
Lateral da Igreja do Mosteiro

Uma das maiores construções de Belém, o Mosteiro dos Jerônimos foi construído com as riquezas da Era dos Descobrimentos. Encomendado por Manuel I por volta de 1501, após o retorno de Vasco da Gama das Índias, sua construção foi financiada pelo comércio de especiarias e o mercado do ouro.

 
Detalhes do portão do Monastério


O Claustro possui imagens entalhadas decorando os arcos e balaustres cercando um grande jardim interno que servia de área de lazer e meditação dos monges no passado.
Corredor do claustro

Detalhe de uma coluna

Claustros do mosteiro

Outra área impressionante é o refeitório retangular com uma faixa nas paredes revestida de azulejos do século XVIII. Os painéis laterais mostram cenas do Antigo Testamento e ao norte um painel retrata o milagre da multiplicação dos pães.

 
Refeitório do monastério

Painel de azulejos no refeitório


Grandes personalidades estão sepultadas neste mosteiro, entre elas Fernando Pessoa, um dos maiores poetas do século XX. O túmulo do poeta foi trasladado para o mosteiro no cinquentenário de sua morte.

 
Túmulo de Fernando Pessoa

Na Sala do Capítulo, que recebeu esse nome pois os monges aqui se reuniriam com a leitura de um capítulo bíblico, está o túmulo de Alexandre Herculano, historiador e primeiro prefeito de Belém. Painéis contam um pouco da história de Portugal e do historiador que teve papel importante em muitos eventos históricos.

 
Túmulo de Alexandre Herculano

Nos claustros estão os doze confessionários utilizados pelos monges da Ordem de São Jerônimo, um dever para com marinheiros e peregrinos. O confessor ficava no claustro e o fiel penitente no interior da igreja e se comunicavam através de uma pequena grade de ferro.

 
Confessionários

Pequena janela com grade de ferro permitia confissões


No interior da Igreja pode-se conhecer o Coro Alto com uma imagem de Cristo na Cruz de 1550 e um cadeiral do século XVI. Do alto se tem uma visão privilegiada de toda a igreja.

Imagem de Cristo na Cruz de 1550

Cadeiral





No interior da Igreja de Santa Maria estão os túmulos de Manoel I e de sua esposa, dona Maria, de João III e Catarina, além de um grande túmulo construído para Dom Sebastião. A curiosidade fica por conta de que o Rei Sebastião partiu em uma cruzada contra o islã e foi derrotado na batalha de 1578, quando ele e 8.000 soldados foram mortos, enquanto outros 15.000 foram vendidos como escravos. O rei nunca voltou da batalha, deixando uma grande marca no coração dos portugueses, e o túmulo está vazio.

Altar da igreja

O coro alto e o teto vistos do chão
 
Túmulo do Rei D. Sebastião: Vazio

Também estão sepultados no interior da igreja o navegador Vasco da Gama, em um túmulo entalhado com temas de viagens marítimas, e o poeta Luís Vaz de Camões, autor de “Os Lusíadas”.

Eu com roupa de gala para visitar o túmulo de Vasco da Gama


Túmulo de Luís de Camões

Túmulo de Vasco da Gama

Para finalizar uma visita à bonita Capela do Senhor dos Passos que tem quatro telas de Antônio Bernades, de 1703, que representam anjos segurando instrumentos da Paixão de Cristo: Coluna, Sudário, Coroa de Espinhos e Santo Lenho.

Capela do Senhor dos Passos com telas pintadas por Antônio Bernades em 1703

Deixando o monastério em direção ao Palácio da Ajuda encontra-se uma praça onde foi erguida a Igreja da Memória em 1760. Uma história interessante marca o lugar já que a igreja foi fundada a pedido do Rei José I em agradecimento por ter escapado de uma tentativa de assassinato no mesmo local em 1758.

 
Igreja da Memória

O rei voltava de um encontro amoroso secreto quando sua carruagem foi atacada e seu braço atingido por um tiro. O Marquês de Pombal usou esse fato como desculpa para se livrar de seus inimigos, torturando e executando todos em nome da justiça contra esse fato em 1759. No ano seguinte a igreja foi erguida.

 
Interior da igreja

No interior do templo, todo de mármore, está uma urna de madeira com os restos mortais do Marquês de Pombal.

 
Urna com os restos mortais do Marquês de Pombal

Seguindo rua acima encontramos o Jardim Botânico da Ajuda construído pelo Marquês de Pombal em 1768. O jardim tem 5.000 espécies vegetais da África, Ásia e América. Destaque para a fonte do século XVIII decorada com peixes alados, cavalos marinhos e criaturas míticas.

Jardim Botânico da Ajuda



Chafariz e fonte no meio dos jardins

Nossa última parada em Belém (não que não haja muitos outros lugares a se visitar por lá) foi no Palácio Nacional da Ajuda.

 
Palácio Nacional da Ajuda

O Palácio Real foi destruído em um incêndio no ano de 1795, sendo substituído no século XIX pelo prédio atual que está inacabado, pois a construção foi abandonada quando a família real portuguesa veio para o Brasil.

O palácio está inacabado, faltando uma ala


Não são permitidas fotos no interior do palácio, mas vale muito a visita já que o palácio foi utilizado quando Luís I foi coroado rei e mobiliou o lugar com todos os exageros da realeza.

Átrio do Palácio Nacional da Ajuda