domingo, 25 de outubro de 2015

Braga e Guimarães


Partindo do Porto é possível chegar facilmente as duas cidades mais conhecidas da região do Minho: Braga e Guimarães.

Reservamos apenas um único dia para conhecer as duas cidades, foi bem corrido, mas dá para fazer... Saindo do Porto de trem chega-se a Braga com aproximadamente 1h de viagem. De Braga a Guimarães fizemos o trajeto de ônibus e voltamos de Guimarães ao Porto de Trem. Compramos as passagens Porto x Braga e Guimarães x Porto antes de partir e as passagens do ônibus assim que chegamos a Braga, para garantir que teríamos vaga.


Braga

Com mansões do século XVIII e lindas igrejas, a cidade sempre foi a capital religiosa do país. Apesar de hoje Fátima ser um grande polo religioso, ainda cabe a Braga ser a capital eclesiástica de Portugal.

 
Chegando em Braga

Quem chega de trem faz uma pequena caminhada dos arredores mais novos em direção ao centro histórico da cidade, passando pelo Arco da Porta Nova.

Arco da Porta Nova

Cruzando a o Arco logo encontramos a Igreja e Convento do Pópulo, construída a partir de 1596 a igreja é uma joia de beleza com o interior decorado com azulejos historiados azuis e brancos e retábulos de talha dourada. O convento ao lado foi ocupado pelos Frades até 1834.

 
Igreja e Convento do Pópulo
 
Bonito interior e altar

Detalhe do interior da igreja do Pópulo


Cruzando a praça diante da igreja chega-se a Praça do Município, onde está o antigo casarão onde hoje funciona a Câmara Municipal de Braga com um bonito chafariz diante dele.

 
Praça do Município e o casarão onde funciona a Câmara Municipal de Braga
 
Detalhe do chafariz da Praça do Município


Uma das grandes atrações da cidade é o complexo do Antigo Paço Episcopal, logo a frente da Praça do Município. O prédio do antigo paço foi quase todo destruído por um incêndio em 1866, mas hoje está restaurado. No Largo do Paço está uma fonte de água datada do ano de 1723.

 
Antigo Paço Episcopal de Braga
 
Largo do Paço

Fonte do largo datada de 1723


Para finalizar a visita ao antigo Paço não pode-se deixar de visitar um dos cartões postais de Braga: Os Jardins de Santa Bárbara.

 
Jardins de Santa Bárbara
 


Os jardins são lindos e bem cuidados, no centro uma fonte de água com a imagem da santa que dá o nome ao lugar pertencia ao antigo Convento dos Remédios e data do século XVII.

Fonte com a imagem de Santa Bárbara no centro dos jardins
Aproveitamos o dia ensolarado no frio dia de fim de inverno no norte português para descansar nos jardins com a muralha da ala medieval do Paço Episcopal ao fundo.





Deixando o paço encontramos a Igreja da Misericórdia, que fica de frente para o paço e de costas para a Sé. Com a fachada renascentista de 1562 o templo guarda em seu interior um impressionante retábulo de talha dourada construído entre 1735 e 1740. No centro do retábulo uma pintura de 1736 feita por José Lopes retratando a padroeira. Minha foto não ficou muito boa, pois estava acontecendo a missa e não é permitido fotografar durante a celebração. Como bom Cristão tento seguir as regras quase sempre, mas nesse caso burlei as regras para roubar uma foto. Apesar da boa intenção me pergunto se foto roubada na missa é pecado??? Enfim, na dúvida tirei umazinha só... rs

 
Fachada da Igreja da Misericórdia
 
Interior da igreja


Dando a volta no complexo, a Igreja da Sé foi o lugar que mais me impressionou no centro de Braga, não pela construção em si, mas sim pelo que tem em seu interior.


Igreja da Sé de Braga

A igreja foi construída no século XI no mesmo lugar de outro templo, mas uma inscrição na parede externa aponta que o lugar já poderia ser usado como templo a muito mais tempo. A escrita romana fragmentada é datada do período entre os anos 2 a.c. e 14 d.c. e aponta uma ordem do Imperador César (só não se sabe que ordem, já que se tem apenas um fragmento...).

 
Inscrição romana na parede lateral da Sé

Em seu interior a igreja possui dois órgãos de tubos que ficam de frente um para o outro. Datados de 1737 e 1739 são verdadeiras obras de arte no coro alto. As pinturas no teto são impressionantes e nos fazem ter torcicolo para admira-las.

 
Órgãos vistos de baixo com o teto entre eles

Ainda na igreja, em uma capela lateral ao lado da entrada principal, encontra-se o túmulo do Infante Dom Afonso, filho primogênito de João I, antigo rei de Portugal. O túmulo e o baldaquino que o sombreia são de madeira trabalhada e revestidos de placas de cobre douradas e prateadas.

 
Túmulo do Infante Dom Afonso

O tesouro da Sé está guardado no Museu de Arte Sacra e não pode ser fotografado, como também não se pode tirar fotos nos claustros e capelas dos arredores. Na capela de São Geraldo está sepultado o corpo do santo que dá nome a capela.

 
Capela de São Geraldo

Na Capela dos Reis estão os túmulos dos fundadores da igreja, Henrique de Borgonha e sua esposa. Mas o que mais impressiona nesta capela é o corpo mumificado do Arcebispo D. Lourenço Vicente. Foi ele quem fez o discurso de aclamação do Mestre de Avis como Rei de Portugal e foi um dos maiores conselheiros do novo Rei, acompanhando-o na Batalha de Aljubarrota, que inspirou a construção desta capela e do famoso mosteiro na cidade de Batalha. O corpo foi desenterrado e para surpresa de todos estava incorruptível e naturalmente mumificado, estando exposto assim no interior da capela.

 
Altar da capela: Foto de reprodução da Internet

Deixamos a igreja pela Rua São João onde se pode admirar a imagem de Nossa Senhora do Leite, padroeira da cidade de Braga, que fica abrigada sob um baldaquino gótico ornamentado.

 
Padroeira de Braga: Nossa Senhora do Leite

A rua nos leva em direção a três igrejas seculares da cidade: Capela dos Coimbras, Capela da Conceição e Igreja de Santa Cruz.

 
Capela dos Coimbras
 
Igreja da Conceição

Igreja da santa Cruz


Tomando a Rua São Marcos se chega na Praça da República, margeada pela Avenida Central. Em uma esquina, junto a praça na Rua do Souto, está o famoso “Café A Brasileira”, decorado no estilo do século XIX.

 
Praça da República
Igreja dos Congregados na praça
 

Café A Brasileira


Poucos passos a frente encontra-se a Torre de Menagem de Braga. A torre do século XIV é a única construção ainda restante da fortificação original da cidade.

 
Torre de Menagem de Braga

Nos arredores de Braga está uma das maiores atrações do lugar e também o principal responsável pelo turismo religioso atrelado a cidade e para se chegar a Bom Jesus do Monte pegamos o Autocarro nº 2 ao lado de um pequeno shopping na Avenida da Liberdade. O ônibus passa a cada 30 minutos e do centro de Braga até lá são aproximadamente 10 Km de distância.

 
Início da subida para a Igreja de Bom Jesus do Monte

Acredito que Bom Jesus do Monte seja o mais espetacular santuário de Portugal, não pela igreja e sim pela enorme escadaria que é fotografada aos montes pelos turistas. Mas antes de chegar até ela sobe-se por um caminho bem arborizado onde estão as 14 capelas que retratam os passos de Cristo na Via Cucis, deste a agonia no Jardim das Oliveiras até sua crucificação.

 
Início do caminho com poucas escadas
 
Uma das capelas da Via Crucis do caminho

Capelas representam cenas da Paixão de Cristo com imagens



O caminho leva até um mirante diante da famosa escadaria. Olhando as paredes brancas caiadas e os degraus de granito tive aquela ótima sensação de estar diante de um cenário que havia visto centenas de vezes em fotos e que faz seus olhos demorarem a crer que não é uma imagem e sim a construção real diante da gente.

 
Igreja de Bom Jesus do Monte e as famosas escadarias

A primeira escadaria a partir deste ponto é dedicada aos cinco sentidos humanos. Cinco fontes de água representam cada um dos sentidos: visão, audição, olfato, paladar e tato. Diante do escadório está uma grande fonte com água brotando de cinco pontos em uma referência as chagas de Cristo.

 
Fonte no início da subida representando os cinco sentidos humanos
 
Vista do mirante no início da escadaria


Subindo pelas escadas históricas pode-se admirar estátuas bíblicas, mitológicas e simbólicas, estando de um lado os personagens masculinos e do outro os femininos.


O trecho final é chamado de escadaria das Três Virtudes e representa a fé, a esperança e a caridade, sempre simbolizadas por fontes de água em cada patamar.

Final da subida
No topo da pequena colina repousa a bonita Igreja de Bom Jesus. Erguida em 1811 no mesmo lugar do antigo templo no século XV a igreja está diante de oito estátuas que lembram as pessoas que condenaram Jesus, entre elas Herodes e Pilatos.

 
Igreja de Bom Jesus do Monte e as estátuas dos que condenaram Cristo a morte

No interior destaque para o Altar das Relíquias que exibe o que seria um pedaço do santo Lenho, ou seja, uma lasca da verdadeira Cruz de Cristo. Infelizmente não se tem como comprovar e dizem que se juntar todos os pedaços que dizem ser da cruz daria para construir um navio... rs. Relíquias de santos estão em exibição em sete prateleiras formando uma coluna de imagens com peças abaixo do pequeno pedaço de madeira.

Interior da igreja

Detalhe das imagens atrás do Altar

 
Altar das Relíquias

Sobre estas relíquias todas está a ossada de São Clemente, um soldado martirizado. Os ossos estão ligados com resina e vestidos de forma a se ter a visão de estar diante do santo. Um pouco mórbido, mas interessante.

 
Ossada de São Clemente no Altar das Relíquias

Ao redor da igreja um parque com lago e até um hotel. Para descer iríamos tomar o histórico funicular de 1882, que faz o translado para quem não quer subir ou descer as escadarias, mas infelizmente estava fechado para a sesta (descanso após o horário de almoço). Descemos caminhando de volta pelas escadas...





O ponto do ônibus que liga Bom Jesus do Monte a Braga fica diante da bilheteria do funicular e foi lá que tomamos o transporte de volta para o centro. Descemos direto na rodoviária e compramos a passagem para Guimarães. Estávamos com fome e como decidimos fazer as duas cidades no mesmo dia tudo ficou um pouco corrido por conta dos deslocamentos, portanto almoçamos na rodoviária mesmo. Achei que iria encontrar uma comida de menor qualidade, mas nos surpreendeu a ótima refeição que fizemos por lá. Quem dera as rodoviárias no Brasil tivessem bons cardápios como em Braga.


Guimarães

Guimarães é conhecida por ter sido o berço da nação portuguesa. Quando Afonso Henriques proclamou-se o primeiro rei de Portugal, no ano de 1139, escolheu a cidade para ser a capital do país, estando o castelo de Guimarães até hoje no brasão de Portugal.




A cidade velha preserva suas construções medievais e tem um ar de cidadezinha do interior, sendo muito bonita e aconchegante. Caminhamos pelas ruelas e nos perdemos nos becos e praças.

Ruas estreitas em Guimarães

Se perder em Guimarães é normal e mesmo com um mapa não se consegue caminhar sabendo-se onde vai e de onde veio. Mas aconselho se perder sem medo, pois em cada esquina uma bela surpresa como docerias e lojas locais com pracinhas e mesas postas na rua.

Perder-se em Guimarães é certo. Encontrar cantinhos charmosos em cada esquina também




Bonitas ruas de Guimarães


Nas sacadas se pode ver roupas dependuradas nos varais presos nas fachadas das casas, uma cena comum em todas as cidades do país.

Roupas em varais nas sacadas: Cena comum em Portugal

Já tínhamos almoçado na rodoviária, então aproveitamos para comer a sobremesa na cidade e para saborear uma das especiarias do lugar, o Toucinho-do-céu de Guimarães.

 
Famosos Toucinhos-do-Céu de Guimarães

No centro da cidade velha está o Largo das Oliveiras, mas um dos locais onde se pode sentar e comer algo relaxando na pacata cidade.

 
Largo da Oliveira


No largo está a Igreja e Mosteiro de Nossa Senhora das Oliveiras e um monumento conhecido como Padrão do Selado, um pequeno santuário gótico do século XIV que guarda uma cruz que está ligada a origem do nome do largo e do mosteiro e a árvore a sua frente. Segundo a lenda, uma oliveira foi trazida para o local para fornecer óleo à luminária do altar da igreja, mas não resistiu e secou. No ano de 1342 um comerciante colocou a cruz sobre a árvore e ela floresceu. Apesar de a cruz ainda ser a mesma a oliveira na praça não é mais a da lenda...
 
A Igreja de Nossa Senhora das Oliveiras, a oliveira e o Santuário Gótico com a famosa Cruz


O mosteiro foi fundado por Afonso Henriques e reformado por João I em agradecimento a vitória na Batalha de Aljubarrota. A torre ainda original data do ano de 1515.


Interior da Igreja



Jardins do Mosteiro


Ao lado da igreja está um casarão onde funciona hoje o Museu de Alberto Sampaio, que apresenta arte sacra e itens importantes da história real portuguesa.

 
Museu Alberto Sampaio

Uma caminhada pela rua de Santa Maria sai do Largo das Oliveiras e nos leva ao topo de uma colina baixa próxima ao centro histórico onde encontra-se as maiores atrações históricas da cidade: O Palácio dos Duques e o Castelo de Guimarães.

 
Paço dos Duques

O Paço dos Duques foi construído no século XV pelo primeiro duque de Bragança. O casarão foi residência oficial do presidente durante o período do governo salazarista. Hoje o palácio abriga um museu que expõe um luxuoso acervo com tapetes persas, mobiliário e quadros.




Alguns cômodos impressionam, como a sala de banquetes que apresenta um teto em forma de um casco virado de uma caravela, em homenagem as explorações marítimas no tempo dos descobrimentos.

 
Salão de Banquetes do Palácio dos Duques: Teto lembra uma caravela invertida

Entre o Paço dos Duques e o Castelo de Guimarães está a Capela de São Miguel que serviu de capela real e onde está a pia onde foi batizado o primeiro rei de Portugal, Afonso Henriques.

 
Capela de São Miguel
 
Pia onde Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal, foi batizado


Por fim o Castelo de Guimarães marca a paisagem em meio a vegetação. Com uma grande torre quadrada, foi construído no século X para deter os ataques mouros e normandos.


Castelo de Guimarães


O castelo foi fortificado dois séculos depois de construído com a construção de novas torres que protegem os paços e cercam as entradas. A visita é gratuita já que não há nada no interior do castelo. Estão intactas apenas as muralhas, estando o interior em ruínas.

 
Torres ao lado da escada de acesso ao interior do castelo
 
Interior vazio

Por dentro do Castelo de Guimarães


Era o fim de nossa visita a Braga e Guimarães. Passamos metade de um dia em cada cidade e apenas percorremos os pontos principais, mas aconselho a quem tiver tempo ficar um dia em cada e aproveitar os encantos dessas cidadezinhas portuguesas para relaxar e viver um pouco a vida calma de um cenário medieval (como fizemos em Óbidos, como contei aqui antes).

Caminhamos de volta pelo centro após visitar a parte alta

Fizemos todo o percurso em Guimarães caminhando e assim seguimos para a estação de trem (comboio) para nosso retorno de volta ao Porto, de onde seguiríamos viagem.
Igreja de São Pedro no caminho da estação de Trem

Gastos em dois dias para 2 pessoas em Março de 2015:

- Passagens de trem Porto x Braga: € 7,20
- Visita Igreja da Sé de Braga: € 6,00
- Ônibus (ida e volta) para Bom Jesus do Monte: € 6,60
- Almoço: € 8,60
- Ônibus Braga x Guimarães: € 6,40
- Doces portugueses: € 2,60
- Água: € 1,50
- Paço dos Duques: € 10,00
- Passagem de trem Guimarães x Porto: € 6,20