Passamos apenas um dia e meio em Salamanca, dormindo duas noites
na cidade. Chegamos no fim do dia, vindos do norte de Portugal, passamos mais
um dia inteiro com uma segunda noite na cidade e mais metade de um dia, antes
de tomar o ônibus para Madrid. Foi pouco tempo e acredito que a cidade mereça
mais um pouco, mas conhecemos tudo que queríamos e apesar de bem corrido valeu
ter parado um pouco na cidade.
Eu sempre ouvi falar muito bem da Plaza Mayor de Salamanca e
queria muito conhecê-la, mas admito que mesmo preparado me espantei com a
beleza do lugar, que é considerada a mais bonita da Espanha!!!
Diferente de todas que eu havia visto a Plaza Mayor de Salamanca é
totalmente fechada e cercada por construções, não havendo acesso de veículos.
Quatro grandes passagens permitem a entrada de pedestres. A praça foi concebida
no século XVIII e ao leste está o Pavilhão Real.
Uma cena que me chamou a atenção na praça foi a quantidade de
pessoas sentadas ao chão, conversando, lendo ou simplesmente apreciando a
paisagem. Jovens sentavam diretamente sobre a pedra, sem toalhas nem nada,
parecendo que estavam em um parque sentados na grama.
Pessoas sentadas no chão na praça: cena comum em Salamanca |
Ficamos hospedados no bom Hostel Alda Plaza Mayor, que fica
próximo a uma das entradas da praça. Gostei bastante do lugar que tem um Café e
Bar na parte de baixo, onde se pode tomar o desayuno,
que não está incluso, mas tem um desconto especial para hóspedes.
Salamanca é conhecida pelo apelido de “Cidade Dourada” devido ao
tipo de pedra amarelada que constitui suas construções, o arenito de ouro de
Villamyor. Todo o conjunto arquitetônico é feito com esta pedra, o que dá um ar
diferente à cidade.
Além das pedras de sua construção, a cidade tem outra
característica marcante: os estudantes. Salamanca é uma cidade universitária e
tem 30% de sua população formada por estudantes. As ruas possuem cadeiras e
mesas de bares e cafés que estão sempre ocupadas por jovens estudantes
universitários.
A Universidade de Salamanca foi fundada em 1218 e é a mais antiga
da Espanha e a quinta mais antiga da Europa, por onde passaram importantes
filósofos e artistas espanhóis. O símbolo da cidade é uma rã que está ligada a
uma lenda universitária, pois dizem que o estudante que encontrar a figura do
animal esculpida na fachada da faculdade passará direto sem ser reprovado nos
exames finais...
Universidade Pontifica de Salamanca |
Próximo ao prédio da universidade encontra-se uma interessante
construção, a Casa de Las Conchas. O casarão do século XVI foi ornamentado com
figuras de conchas, símbolo da Ordem de Santiago, mas hoje funciona como
biblioteca pública e posto de informações turísticas.
A Casa das Conchas |
Conchas enfeitam a fachada |
Diante da Casa das Conchas está a Igreja das Clerecías, que é
parte do Real Colégio Missionário, e foi construída entre os anos de 1611 e
1755.
Outro edifício de arquitetura interessante é o Palácio do Colégio
de Anaya, onde hoje funciona a Faculdade de Filosofia da Universidade de
Salamanca. O prédio foi erguido no mesmo lugar do antigo Colégio Bartolomeu,
destruído em um terremoto (o famoso de 1755). Ao lado está a Igreja de San
Sebastian, que era capela da velha escola e ainda está de pé.
Igreja de São Sebastião e Colégio de Anaya |
Seguindo em frente encontramos as maiores e mais impressionantes
construções de Salamanca: As Catedrais!
E não errei ao colocar no plural, pois Salamanca possui duas
catedrais interligadas uma no outra. Ao contrário de outras cidades em que uma
igreja é demolida para comportar outra maior, em Salamanca a Catedral Nova,
construída entre os séculos XVI e XVIII, não substituiu a Catedral Velha, mas
foi edificada ao seu lado.
A Catedral Velha começou a ser construída no século XII, mas só
foi concluída no século XIV. As portas de entrada conservam as esculturas
originais (impressionantes) com duas cenas da anunciação.
Entrada impressionante da Catedral |
Detalhe das cenas esculpidas sobre a porta |
Os detalhes esculpidos são extremamente detalhistas |
Ao redor da estrutura de entrada esculturas retratam animais e
seres mitológicos esculpidos na pedra. Um fato curioso é que no ano de 1992
houve uma reforma e o artista inseriu a figura de um astronauta entre os seres
mitológicos, em homenagem a Iuri Gagarim, fazendo com que muitos desavisados
criassem teorias sobre a figura achando que seria dos séculos antigos.
Uma das esculturas originais ao redor da entrada |
Suposto macaco com um sorvete (!?) |
Astronauta inserido na atualidade |
No interior encontramos a mesma grandiosidade que vimos por fora,
estando na Capela Maior um imenso retábulo, de 1445, coroado por afrescos
representando o Juízo Final.
Retábulo de 1445 |
É possível subir pelas escadarias da Torre dos Jerônimos, na
Catedral Velha, conhecendo por dentro os detalhes destas impressionantes
construções e aprendendo um pouco sobre sua história.
Torre dos Jerônimos |
Aline subindo as escadarias |
A torre leva o visitante até os telhados das Catedrais de onde se
tem uma boa vista da cidade ao redor.
A experiência de caminhar pelos telhados das Catedrais Nova e
Velha, interligados, é única, pois pode-se admirar de bem perto os detalhes
esculpidos ao longo de tantos séculos.
Caminhando pelo telhado da Catedral Velha com a catedral Nova ao fundo |
Cruzamos da Catedral Velha para a Catedral Nova entrando na segunda
construção e podendo admirar o interior marcado por imensas rachaduras causadas
por terremotos.
O tamanho impressiona e no meio da construção está o Coro Baixo
com o altar ao fundo. Os corredores em forma de cruz são imensos...
Coro Baixo visto do Coro Alto |
Uma pequena escada nos leva a uma porta baixa de volta ao telhado,
por onde caminhamos com a paisagem da cidade a frente em direção a torre mais
nova.
Entrada para o telhado |
A visita termina na Torre Sineira ou Torre de Las Campanas, onde está o mecanismo do relógio que faz os
sinos badalarem. Recomendo muito a visita a todo o complexo.
Por dentro da Torre Sineira |
De volta as bonitas ruas de Salamanca, caminhamos entre os prédios
de pedra amarelada por becos e ruelas eu nos fazem perder-nos no tempo.
Impossível não notar a Casa Maldonado, que abriga o Centro de
Estudos Brasileiros da Universidade de Salamanca, que foi construída em 1531 e
já recebeu diversos ex-presidentes do Brasil.
Casa Maldonado |
Passamos diante do Palácio de Monterrey, que foi construído pelo
conde de mesmo nome, mas que pertence a Duquesa de Alba, não sendo permitidas
visitas ao seu interior. O palácio do século XVI serviu de inspiração a muitos
outros da Espanha.
Junto ao palácio está a Capela da Ordem Terceira de São Francisco,
cujo interior me impressionou pela beleza com suas paredes esculpidas em pedra.
Caminhamos na direção do Rio Tormes, passando pelo prédio do
Arquivo Geral da Guerra Civil Espanhola que não nos interessou conhecer e
chegando na praça onde está a Cruz dos Executados. O cruzeiro encontra-se em um
pedestal onde, segundo contam, eram penduradas as cabeças dos executados a
morte para que todos que chegassem pela porta do rio soubessem que neste lugar
as leis eram cumpridas.
Arquivo Geral da Guerra Civil Espanhola |
Praça com cruzeiro |
Sobre o Rio Tormes está uma ponte romana construída no século I e
mantém 15 dos seus 26 arcos ainda originais.
A ponde cruza o rio e um grande parque em suas margens, fazendo
com que muitos de seus arcos sejam, na verdade, passagens de pedestres e
ciclistas que se exercitam nos caminhos ao longo do Tormes.
Da ponte se tem uma bela vista do centro da cidade com as torres
das igrejas e catedrais apontando para o céu entre as construções com cor de
ouro de Salamanca.
Retornamos para o centro caminhando até a Plaza Del Concícilo de Trento onde está o Convento de Santa Maria de Las Dueñas.
Outra das construções que eu considerei imperdíveis em Salamanca,
mesmo para os que não curtem igrejas e monastérios medievais, é o Convento de San Esteban.
A impressionante fachada da igreja é entalhada em relevo esculpido
na pedra de forma magnífica. Acima das portas de entrada estão painéis e brasões
cercados por imagens de santos que parecem reais, tamanha riqueza de detalhes.
O painel principal retrata o apedrejamento de São Estevão.
O interior grandioso da igreja é tão belo quanto a fachada, com um
altar cuja peça central possui colunas douradas que data do ano de 1693.
Uma curiosidade é o crucifixo da capela lateral dedicada ao Cristo
de La Luz, que pertenceu a uma igreja anteriormente construída neste lugar
(1535). A curiosidade fica por conta de que Santa Teresa de Jesus costumava
rezar diante desta imagem, que ficou famosa por ter falado com a Santa.
Na sacristia está o túmulo de D. Fernando Álvarez, III Duque de
Alba, que faleceu em Lisboa no ano de 1582 e teve seu corpo transladado para
esta igreja no ano de 1619.
A visita inclui os claustros e seu jardim interno. Nos corredores
ao redor do claustro está o confessionário de Santa Teresa e pode-se entrar e
sentar na cadeira onde o sacerdote se sentava para ouvir as confissões da
Santa.
Claustros do convento |
Confessionário de Santa Teresa |
Outro lugar interessante no claustro é o Panteão dos Teólogos,
onde estão os túmulos dos padres dominicanos que estudavam, traduziam e
transcreviam as palavras sagradas para a língua espanhola com o objetivo de
educar, principalmente os povos colonizados.
Para finalizar a visita conhecemos o bonito Coro Alto da igreja,
onde estão livros de partituras musicais e o cadeiral de madeira dos monges
sobre um grande painel pintado na parede.
Escadarias para o Coro Alto |
Coro Alto |
Pequeno livro de partituras |
De volta as ruas de Salamanca nos deparamos com a singela figura
de Santa Bonifácia, a primeira santa da cidade e com a Torre da Plaza Constitucion em meio a paisagem.
Torre da Plaza Constitucion |
Pelas praças se pode ver as homenagens aos navegadores espanhóis
que rivalizaram com os portugueses nos tempos das grandes descobertas
marítimas. Na Plaza Colom a figura de Cristóvão Colombo se destaca e nos faz
lembrar desta rivalidade, pois até o dia anterior estávamos em Portugal vendo
as homenagens aos navegadores, em especial Pedro Álvares Cabral na cidade de
Belmonte, não muito longe dali.
Homenagem aos navegadores espanhóis |
Praça Cristóvão Colombo |
O dia se aproximava do fim quando passamos pela Igreja de San
Pablo e vimos a Torre Del Clavero
entre os telhados das casas nas ruas.
Igreja de San Pablo |
Torre Del Clavero |
O fim do dia revela belas cores na cidade, com as luzes reluzindo
nas pedras cor de ouro das paredes e monumentos de Salamanca.
Paramos para descansar na Plaza de La Libertad e esperamos o sol
se pôr enquanto comíamos em um dos muitos cafés que colocam as mesas nas
calçadas em torno das praças.
Praça da Liberdade |
Já era noite quando encontramos a interessante Igreja de São
Marcos que tem o formato redondo. O pequeno templo de apenas 22 metros de
diâmetro foi construído no início do século XII pelos romanos. No seu interior
foram descobertas antigas pinturas originais revestindo as paredes.
Igreja de São Marcos: Construção romana |
Interior da igreja redonda |
Pinturas reveladas nas paredes |
De volta a Plaza Mayor encontramos no fim do dia o mesmo movimento
da manhã, com pessoas sentadas ao chão. A iluminação refletida nas paredes faz
com que a praça fique ainda mais bonita a noite e as pessoas enchem as mesas e
cadeiras que tomam os restaurantes
A vida noturna de Salamanca é bem agitada e com preços mais em
conta do que a badalada Madrid. Devido ao grande número de estudantes na
cidade, as baladas lotam durante a semana e apesar de nós não sairmos para
curtir a noite (preferimos dormir e aproveitar os dias nas cidades), o lugar
deve agradar quem busca por diversão.
No último dia, após o desayuno no hostel, seguimos para a praça no
Campo de São Francisco onde está a Igreja da Santa Vera Cruz e o Mosteiro da
Anunciação.
Igreja da Santa Vera Cruz |
Mosteiro da Anunciação |
Interior do mosteiro |
Caminhamos pelas ruas e visitamos as diversas lojas de produtos
para turistas, antes de seguir para a rodoviária onde tomamos o ônibus para Madrid.
Gastos para 2 pessoas em Março de 2015:
- Taxi rodoviária x hostel: € 4,00
- Hostel (Alda Plaza Mayor): € 30,00
- Almoço: € 6,20
- Convento San Esteban: € 30,00
- Lanche (jantar): € 10,48
- Torre dos Jeronimos e Catedrais: € 7,50
- Almoço (2º dia): € 5,40
- Taxi para rodoviária: € 4,75
- Passagem para Madrid: € 40,90
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