domingo, 22 de novembro de 2015

Salamanca


Passamos apenas um dia e meio em Salamanca, dormindo duas noites na cidade. Chegamos no fim do dia, vindos do norte de Portugal, passamos mais um dia inteiro com uma segunda noite na cidade e mais metade de um dia, antes de tomar o ônibus para Madrid. Foi pouco tempo e acredito que a cidade mereça mais um pouco, mas conhecemos tudo que queríamos e apesar de bem corrido valeu ter parado um pouco na cidade.


Eu sempre ouvi falar muito bem da Plaza Mayor de Salamanca e queria muito conhecê-la, mas admito que mesmo preparado me espantei com a beleza do lugar, que é considerada a mais bonita da Espanha!!!

 
Plaza Mayor de Salamanca

Diferente de todas que eu havia visto a Plaza Mayor de Salamanca é totalmente fechada e cercada por construções, não havendo acesso de veículos. Quatro grandes passagens permitem a entrada de pedestres. A praça foi concebida no século XVIII e ao leste está o Pavilhão Real.




Uma cena que me chamou a atenção na praça foi a quantidade de pessoas sentadas ao chão, conversando, lendo ou simplesmente apreciando a paisagem. Jovens sentavam diretamente sobre a pedra, sem toalhas nem nada, parecendo que estavam em um parque sentados na grama.

Pessoas sentadas no chão na praça: cena comum em Salamanca

Ficamos hospedados no bom Hostel Alda Plaza Mayor, que fica próximo a uma das entradas da praça. Gostei bastante do lugar que tem um Café e Bar na parte de baixo, onde se pode tomar o desayuno, que não está incluso, mas tem um desconto especial para hóspedes.

 
Hotel Alda Plaza Mayor

Salamanca é conhecida pelo apelido de “Cidade Dourada” devido ao tipo de pedra amarelada que constitui suas construções, o arenito de ouro de Villamyor. Todo o conjunto arquitetônico é feito com esta pedra, o que dá um ar diferente à cidade.

 
Pedras amareladas constituem a paisagem

Além das pedras de sua construção, a cidade tem outra característica marcante: os estudantes. Salamanca é uma cidade universitária e tem 30% de sua população formada por estudantes. As ruas possuem cadeiras e mesas de bares e cafés que estão sempre ocupadas por jovens estudantes universitários.

 
Mesas e cadeiras nas calçadas com estudantes

A Universidade de Salamanca foi fundada em 1218 e é a mais antiga da Espanha e a quinta mais antiga da Europa, por onde passaram importantes filósofos e artistas espanhóis. O símbolo da cidade é uma rã que está ligada a uma lenda universitária, pois dizem que o estudante que encontrar a figura do animal esculpida na fachada da faculdade passará direto sem ser reprovado nos exames finais...

Universidade Pontifica de Salamanca

Próximo ao prédio da universidade encontra-se uma interessante construção, a Casa de Las Conchas. O casarão do século XVI foi ornamentado com figuras de conchas, símbolo da Ordem de Santiago, mas hoje funciona como biblioteca pública e posto de informações turísticas.

 
A Casa das Conchas
 
Conchas enfeitam a fachada


Diante da Casa das Conchas está a Igreja das Clerecías, que é parte do Real Colégio Missionário, e foi construída entre os anos de 1611 e 1755.

 
Igreja das Clecerías

Outro edifício de arquitetura interessante é o Palácio do Colégio de Anaya, onde hoje funciona a Faculdade de Filosofia da Universidade de Salamanca. O prédio foi erguido no mesmo lugar do antigo Colégio Bartolomeu, destruído em um terremoto (o famoso de 1755). Ao lado está a Igreja de San Sebastian, que era capela da velha escola e ainda está de pé.
Igreja de São Sebastião e Colégio de Anaya

Seguindo em frente encontramos as maiores e mais impressionantes construções de Salamanca: As Catedrais!

 
Catedrais de Salamanca: Catedral Velha e Catedral Nova em perfeita comunhão

E não errei ao colocar no plural, pois Salamanca possui duas catedrais interligadas uma no outra. Ao contrário de outras cidades em que uma igreja é demolida para comportar outra maior, em Salamanca a Catedral Nova, construída entre os séculos XVI e XVIII, não substituiu a Catedral Velha, mas foi edificada ao seu lado.

 
Catedral Velha

A Catedral Velha começou a ser construída no século XII, mas só foi concluída no século XIV. As portas de entrada conservam as esculturas originais (impressionantes) com duas cenas da anunciação.

 
Entrada impressionante da Catedral
 
Detalhe das cenas esculpidas sobre a porta

Os detalhes esculpidos são extremamente detalhistas


Ao redor da estrutura de entrada esculturas retratam animais e seres mitológicos esculpidos na pedra. Um fato curioso é que no ano de 1992 houve uma reforma e o artista inseriu a figura de um astronauta entre os seres mitológicos, em homenagem a Iuri Gagarim, fazendo com que muitos desavisados criassem teorias sobre a figura achando que seria dos séculos antigos.

 
Uma das esculturas originais ao redor da entrada
 
Suposto macaco com um sorvete (!?)

Astronauta inserido na atualidade


No interior encontramos a mesma grandiosidade que vimos por fora, estando na Capela Maior um imenso retábulo, de 1445, coroado por afrescos representando o Juízo Final.



Retábulo de 1445


É possível subir pelas escadarias da Torre dos Jerônimos, na Catedral Velha, conhecendo por dentro os detalhes destas impressionantes construções e aprendendo um pouco sobre sua história.

 
Torre dos Jerônimos
 
Aline subindo as escadarias


A torre leva o visitante até os telhados das Catedrais de onde se tem uma boa vista da cidade ao redor.





A experiência de caminhar pelos telhados das Catedrais Nova e Velha, interligados, é única, pois pode-se admirar de bem perto os detalhes esculpidos ao longo de tantos séculos.

 
Caminhando pelo telhado da Catedral Velha com a catedral Nova ao fundo
 


Cruzamos da Catedral Velha para a Catedral Nova entrando na segunda construção e podendo admirar o interior marcado por imensas rachaduras causadas por terremotos.

 
Marcas dos tremores de terra nas paredes

O tamanho impressiona e no meio da construção está o Coro Baixo com o altar ao fundo. Os corredores em forma de cruz são imensos...

 
Coro Baixo visto do Coro Alto
 


Uma pequena escada nos leva a uma porta baixa de volta ao telhado, por onde caminhamos com a paisagem da cidade a frente em direção a torre mais nova.

 
Entrada para o telhado
 



A visita termina na Torre Sineira ou Torre de Las Campanas, onde está o mecanismo do relógio que faz os sinos badalarem. Recomendo muito a visita a todo o complexo.

Por dentro da Torre Sineira

De volta as bonitas ruas de Salamanca, caminhamos entre os prédios de pedra amarelada por becos e ruelas eu nos fazem perder-nos no tempo.

 
Ruas de Salamanca

Impossível não notar a Casa Maldonado, que abriga o Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Salamanca, que foi construída em 1531 e já recebeu diversos ex-presidentes do Brasil.

Casa Maldonado

Passamos diante do Palácio de Monterrey, que foi construído pelo conde de mesmo nome, mas que pertence a Duquesa de Alba, não sendo permitidas visitas ao seu interior. O palácio do século XVI serviu de inspiração a muitos outros da Espanha.

 
Palácio de Monterrey

Junto ao palácio está a Capela da Ordem Terceira de São Francisco, cujo interior me impressionou pela beleza com suas paredes esculpidas em pedra.


Capela de São Francisco
Bonito interior com paredes esculpidas





Caminhamos na direção do Rio Tormes, passando pelo prédio do Arquivo Geral da Guerra Civil Espanhola que não nos interessou conhecer e chegando na praça onde está a Cruz dos Executados. O cruzeiro encontra-se em um pedestal onde, segundo contam, eram penduradas as cabeças dos executados a morte para que todos que chegassem pela porta do rio soubessem que neste lugar as leis eram cumpridas.

 
Arquivo Geral da Guerra Civil Espanhola
 
Praça com cruzeiro


Sobre o Rio Tormes está uma ponte romana construída no século I e mantém 15 dos seus 26 arcos ainda originais.

 
Ponte sobre o Rio Tormes

A ponde cruza o rio e um grande parque em suas margens, fazendo com que muitos de seus arcos sejam, na verdade, passagens de pedestres e ciclistas que se exercitam nos caminhos ao longo do Tormes.




Da ponte se tem uma bela vista do centro da cidade com as torres das igrejas e catedrais apontando para o céu entre as construções com cor de ouro de Salamanca.




Retornamos para o centro caminhando até a Plaza Del Concícilo de Trento onde está o Convento de Santa Maria de Las Dueñas.

 
Convento de Santa Maria de Las Dueñas

Outra das construções que eu considerei imperdíveis em Salamanca, mesmo para os que não curtem igrejas e monastérios medievais, é o Convento de San Esteban.

 
Igreja e Convento de San Esteban

A impressionante fachada da igreja é entalhada em relevo esculpido na pedra de forma magnífica. Acima das portas de entrada estão painéis e brasões cercados por imagens de santos que parecem reais, tamanha riqueza de detalhes. O painel principal retrata o apedrejamento de São Estevão.





O interior grandioso da igreja é tão belo quanto a fachada, com um altar cuja peça central possui colunas douradas que data do ano de 1693.

 
Altar principal

Uma curiosidade é o crucifixo da capela lateral dedicada ao Cristo de La Luz, que pertenceu a uma igreja anteriormente construída neste lugar (1535). A curiosidade fica por conta de que Santa Teresa de Jesus costumava rezar diante desta imagem, que ficou famosa por ter falado com a Santa.

 
Imagem do Cristo que teria falado com Santa Teresa

Na sacristia está o túmulo de D. Fernando Álvarez, III Duque de Alba, que faleceu em Lisboa no ano de 1582 e teve seu corpo transladado para esta igreja no ano de 1619.

 
Sacristia

A visita inclui os claustros e seu jardim interno. Nos corredores ao redor do claustro está o confessionário de Santa Teresa e pode-se entrar e sentar na cadeira onde o sacerdote se sentava para ouvir as confissões da Santa.

 
Claustros do convento
 
Confessionário de Santa Teresa


Outro lugar interessante no claustro é o Panteão dos Teólogos, onde estão os túmulos dos padres dominicanos que estudavam, traduziam e transcreviam as palavras sagradas para a língua espanhola com o objetivo de educar, principalmente os povos colonizados.

 
Panteão dos Teólogos

Para finalizar a visita conhecemos o bonito Coro Alto da igreja, onde estão livros de partituras musicais e o cadeiral de madeira dos monges sobre um grande painel pintado na parede.

 
Escadarias para o Coro Alto
 
Coro Alto

Pequeno livro de partituras


De volta as ruas de Salamanca nos deparamos com a singela figura de Santa Bonifácia, a primeira santa da cidade e com a Torre da Plaza Constitucion em meio a paisagem.

 
Santa Bonifácia: Primeira santa da cidade

Torre da Plaza Constitucion
Pelas praças se pode ver as homenagens aos navegadores espanhóis que rivalizaram com os portugueses nos tempos das grandes descobertas marítimas. Na Plaza Colom a figura de Cristóvão Colombo se destaca e nos faz lembrar desta rivalidade, pois até o dia anterior estávamos em Portugal vendo as homenagens aos navegadores, em especial Pedro Álvares Cabral na cidade de Belmonte, não muito longe dali.

 
Homenagem aos navegadores espanhóis
 
Praça Cristóvão Colombo


O dia se aproximava do fim quando passamos pela Igreja de San Pablo e vimos a Torre Del Clavero entre os telhados das casas nas ruas.

Igreja de San Pablo

Torre Del Clavero


O fim do dia revela belas cores na cidade, com as luzes reluzindo nas pedras cor de ouro das paredes e monumentos de Salamanca.




Paramos para descansar na Plaza de La Libertad e esperamos o sol se pôr enquanto comíamos em um dos muitos cafés que colocam as mesas nas calçadas em torno das praças.

Praça da Liberdade

Já era noite quando encontramos a interessante Igreja de São Marcos que tem o formato redondo. O pequeno templo de apenas 22 metros de diâmetro foi construído no início do século XII pelos romanos. No seu interior foram descobertas antigas pinturas originais revestindo as paredes.

 
Igreja de São Marcos: Construção romana
 
Interior da igreja redonda

Pinturas reveladas nas paredes


De volta a Plaza Mayor encontramos no fim do dia o mesmo movimento da manhã, com pessoas sentadas ao chão. A iluminação refletida nas paredes faz com que a praça fique ainda mais bonita a noite e as pessoas enchem as mesas e cadeiras que tomam os restaurantes

 
De volta a Plaza Mayor: iluminação impressiona

A vida noturna de Salamanca é bem agitada e com preços mais em conta do que a badalada Madrid. Devido ao grande número de estudantes na cidade, as baladas lotam durante a semana e apesar de nós não sairmos para curtir a noite (preferimos dormir e aproveitar os dias nas cidades), o lugar deve agradar quem busca por diversão.




No último dia, após o desayuno no hostel, seguimos para a praça no Campo de São Francisco onde está a Igreja da Santa Vera Cruz e o Mosteiro da Anunciação.

 
Igreja da Santa Vera Cruz
 
Mosteiro da Anunciação

Interior do mosteiro


Caminhamos pelas ruas e visitamos as diversas lojas de produtos para turistas, antes de seguir para a rodoviária onde tomamos o ônibus para Madrid.






Gastos para 2 pessoas em Março de 2015:

- Taxi rodoviária x hostel: € 4,00
- Hostel (Alda Plaza Mayor): € 30,00
- Almoço: € 6,20
- Convento San Esteban: € 30,00
- Lanche (jantar): € 10,48
- Torre dos Jeronimos e Catedrais: € 7,50
- Almoço (2º dia): € 5,40
- Taxi para rodoviária: € 4,75
- Passagem para Madrid: € 40,90

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