A cidade de Évora, no Algarve português, fica a 135 Km de
distância de Lisboa e é fácil de ser visitada a partir da capital. O percurso é
feito em pouco menos de 2h de trem, partindo da Estação de Santa Apolônia em
Lisboa, e pode ser visitada em um bate-e-volta de um dia.
Entre a estação de trem e o centro histórico destaco a Ermida de
São Brás, que lembra um castelo medieval e foi erguida no século XV. A igreja
fortificada possui contrafortes cilíndricos e capitéis nos telhados.
A encantadora cidade fortificada de Évora começou a ganhar
importância na época do império romano e sendo um centro de estudos e artes na
idade média. As muralhas que protegeram Évora ao longo dos séculos formam dois
círculos incompletos, sendo o círculo interno datado da época da dominação
romana e o externo, construído no século XIV para englobar a cidade que se
expandia e protegê-la dos ataques espanhóis. Este segundo círculo de muralhas
ainda pode ser visto em partes pela cidade.
Resquícios da muralha original do círculo interno |
Muralha do círculo externo de Évora |
Vindos da estação encontramos a Igreja da Misericórdia, no largo
de mesmo nome, com seu interior todo revestido de azulejos do século XVIII e
apesar da simplicidade da construção, sua beleza me encantou.
Igreja da Misericórdia |
Caminhe até o Largo dos Colegiais, onde encontra-se a Universidade
de Évora e a Igreja do Espírito Santo e Convento de São Francisco. O largo é
uma grande praça aberta com um antigo chafariz ao centro, onde os estudantes se
encontram antes e depois das aulas.
A Universidade de Évora ocupa hoje o prédio do Colégio do Espírito
Santo, fundado pelos jesuítas. Inaugurada em 1559 a escola cresceu por 200 anos
até a expulsão da ordem religiosa em 1759. Hoje a universidade ocupa o prédio e
utiliza sua bela capela para as cerimônias de formaturas.
Universidade de Évora |
Antigo Colégio do Espírito Santo |
Na praça está a Igreja de São Francisco, mas quando estivemos por
lá, em março de 2015, a igreja estava em reformas e só o que pudemos ver na
nave principal eram andaimes de obras.
Igreja de São Francisco |
Interior da igreja em obras... |
Mas um dos pontos altos da visita a Évora está nesta igreja, pois
a Capela dos Ossos no interior do Convento de São Francisco é um ícone (um
tanto sinistro) da cidade.
Montada em uma cripta no fim do século XVI pelos frades
franciscanos que viviam no mosteiro, a capela visa um reflexo sobre a frágil
condição da existência humana. No pórtico de entrada a chocante e realista
frase diz: “Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos”.
Detalhe de uma coluna na Capela dos Ossos com a parede ao fundo |
A capela é construída com os ossos de milhares de pessoas e conta
com mais de 5.000 crânios humanos, sendo as paredes e as oito colunas montadas
com os ossos unidos por cimento pardo.
Mais de 5.000 pessoas formam a capela |
Paredes da capela |
No fundo estão dependurados dois corpos mumificados, sendo um
deles de uma criança.
Ainda no antigo convento pode-se conhecer a Sala do Capítulo com
azulejos que representam a Via Sacra e um altar formado por uma maquete do
existente na Sé de Évora.
Caminhando pelas ruas de Évora encontramos a Igreja da Graça e
Convento de Nossa Senhora das Graças, um mosteiro dos Frades Calçados de Santo
Agostinho, que foi construído em 1511 e que possui figuras atlantes decorando a
fachada. As figuras são conhecidas como “Os Meninos” e a igreja foi apelidada
de “Igreja dos Meninos da Graça” por conta das figuras. O lugar foi abandonado
após a expulsão das ordens religiosas e chegou a ter parte da estrutura
desabando (a abóbada do teto e seus azulejos).
Igreja de Nossa Senhora das Graças |
Um dos Meninos da Graça na fachada |
A principal praça da cidade é a Praça do Giraldo, onde encontra-se
a Igreja de Santo Antão que foi erguida em 1557 diante de um chafariz de 1571.
Para a construção da igreja foi demolido o Arco do Triunfo romano e no interior
pode-se ver altares de talha dourada.
Praça do Giraldo com a Igreja de Santo Antão |
Detalhe do altar |
Foi nesta praça que, em 1483, João II assistiu a decapitação de
seu cunhado, o Duque de Bragança. Também nesta praça há registro de que houve
uma pessoa queimada pela inquisição em 1573. Hoje a praça é um movimentado ponto
de encontro da cidade.
A Praça do Giraldo é rodeada de restaurantes e lojas para turistas
que se espalham pela Rua 5 de Outubro, e aproveitamos para almoçar por ali.
Fomos muito bem atendidos no “Restaurante Fanatismo” e aproveitamos para comer
pratos típicos portugueses.
Modesta entrada do Restaurante Fanatismo |
Almoçando bacalhau na alentejana Évora |
Évora é famosa pelas diversas construções que marcaram a cidade ao
longo da história e uma das mais conhecidas é o Templo Romano que está
localizado no centro histórico da cidade.
Ruínas de um templo romano em Évora |
Detalhe das colunas romanas |
Diante das ruínas do templo romano encontra-se o Jardim de Diana
com um mirante de onde se tem a vista da cidade.
Jardins de Diana: Nome em homenagem ao templo romano que muitos acreditam ter sido dedicado a deusa da caça |
Aline com a cidade vista do mirante nos Jardins de Diana |
Junto ao jardim e diante do Templo Romano está o Convento dos
Loios que foi construído no século XV sobre o que restava de um castelo
medieval. Hoje o antigo convento funciona como um hotel (bem longe dos padrões
mochileiros) onde os hóspedes dormem em celas e jantam nos claustros. Faz parte
do complexo a Igreja de São João que preserva os azulejos do século XVIII.
Convento dos Loios: Hotel |
Igreja de São João |
A cidade possui um dos grandes museus da região, o Museu de Évora,
que está montado no prédio do antigo Paço Episcopal e possui uma coleção de
mais de 20.000 objetos entre peças de arqueologia, artes, decorativas e
ciências naturais.
Museu de Évora |
Acervo do museu |
Entre as numerosas obras em mármore encontrei um Brasão de Armas
da família Abreu, sendo eu um dos descendentes não pude deixar de registrar ;-)
Percorrer as salas e corredores do antigo paço nos revela encantos
da própria construção, como painéis de azulejos nos corredores e acessos.
Uma das obras de arte que mais se destaca no acervo do museu é o
Retábulo da Sé, uma encomenda flamenga do final do século XV, composta por 19 pinturas
divididas em duas séries, sendo a primeira composta de 13 painéis e a segunda
pelos 6 restantes. Todas as pinturas são alusivas a vida de Cristo, estando ao
centro da primeira sequencia a imagem da Virgem da Glória.
Pinturas em exposição com o retábulo da Sé ao fundo |
Retábulo da Sé |
Diante do Museu de Évora encontra-se a Basílica Sé de Nossa
Senhora da Assunção, a Catedral da cidade, que começou a ser construída em 1186
e consagrada no ano de 1204, apesar de estar pronta apenas em 1250.
Chama atenção as esculturas dos apóstolos que flanqueiam o grande
portão principal da Catedral e datam do século XIV. A visita é paga e pode-se
conhecer a igreja, os claustros e o telhado, além do tesouro da Sé.
Pórtico de entrada ladeado com os apóstolos em fila |
Detalhe de um das filas de apóstolos |
O grandioso interior conta com três naves e bonitos altares, mas
uma das capelas góticas teve que ser desmontada para ampliação do altar
principal, resultando no desmonte do retábulo que hoje está no Museu de Évora.
O órgão de 1562 ainda hoje é usado.
A imensa igreja |
Órgão de 1562 |
O claustro gótico, de aproximadamente 1325, guarda os túmulos dos
Bispos de Évora e exibe estátuas dos evangelistas que guardam cada canto da
construção que rodeia um jardim interno.
Claustros da Sé |
Túmulos dos bispos de Évora |
Aline nos jardins do claustro |
Nesta igreja foram benzidas as bandeiras do navegador Vasco da
Gama, antes de sua partida para Índia em 1497.
No canto do claustro uma escada em caracol nos leva até os
telhados da Catedral de onde se pode observar a cidade ao redor.
Escada que liga o claustro ao telhado |
A cidade vista do telhado da Catedral |
A visita ao telhado é bem agradável e subindo os diferentes níveis
chega-se ao telhado mais alto junto a torre principal. Os sinos da Catedral
marcam as horas de Évora desde os tempos medievais até os dias de hoje.
Bem perto da torre da Sé, só que por fora! |
Detalhes nos telhados da Catedral |
Ficamos algum tempo por ali descansando, admirando a paisagem e já
sentindo saudades das terras lusitanas...
Évora |
Voltamos para Lisboa já com o sol se pondo no horizonte e ainda
passamos mais um dia na capital portuguesa, mas essa parte da história eu já
contei aqui no início de tudo. Depois voltamos ao Brasil em uma longa viagem
sobre o Atlântico já com saudades das paisagens portuguesas.
Percorrendo as ruas de Évora de volta a estação de trem. Fim de viagem... |
Gastos para 2 pessoas em Março de 2015:
- Metrô em Lisboa - Centro x Santa Apolônia (ida e volta): € 5,60
- Trem para Évora (ida e volta): € 44,00
- Capela dos Ossos: € 4,00
- Almoço: € 25,00
- Igreja da Sé: € 9,00
- Água: € 2,00
- Lanche: € 8,20
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