Para se chegar a Belém é preciso pegar o Elétrico nº 15, que tem o
ponto inicial na Praça da Figueira. Belém exibe a antiga glória marítima de
Portugal, pois está situada na foz do Rio Tejo, de onde as caravelas partiam
para as viagens de descobrimentos.
Belém é um bairro bem elegante com parques e jardins, mas é
mundialmente famoso por um doce português que foi criado originalmente aqui: Os
Pastéis de Belém. Apesar de chamarmos todos os pastéis por este nome, os únicos
Pastéis de Belém são os aqui vendidos, enquanto todos os outros são
simplesmente “pastéis de nata” e uma visita a loja e fábrica originais é
imperdível para quem vai a Belém.
Os pastéis são fabricados na Rua Belém nº 84, próximo ao ponto do
elétrico e do Museu dos Coches, desde 1837 e até hoje mantém-se a receita
original. A fila é grande, mas compensa, já que a grande demanda faz com que
sempre estejam quentinhos.
Hora de provar os Pastéis de Belém |
Centenas de pastéis quentes a todo instante |
Logo a frente na mesma rua se encontra a Praça Afonso de
Albuquerque que tem o nome do primeiro vice-rei português da Índia. No centro
da praça há uma estátua dele no alto de uma coluna com cenas de sua vida
esculpidas na base.
Diante da praça encontra-se o Palácio de Belém que é hoje a atual
residência do presidente português e que no passado já foi o Palácio Real. Era
neste palácio que estava a família real no ano de 1755, quando houve o
terremoto e graças a isto não houve mortos na coroa portuguesa neste evento,
pois o Palácio do Paço foi muito atingido pelo tremor e pelas ondas que
entraram pelo Tejo na ocasião.
Mais a frente está a bonita Praça do Império que foi construída em
1940 diante do Mosteiro dos Jerônimos. Toda a área da praça foi erguida sobre
um aterro no Rio Tejo a mando de Salazar, quando esta região foi revitalizada
por ocasião da Grande Exposição do Mundo Português.
Mosteiro dos Jerônimos ao fundo com os jardins da Praça do Império a frente |
Chafariz na Praça do Império |
Cruzando as pistas de veículos e a linha férrea por uma passagem
subterrânea chega-se a um dos grandes monumentos de Belém: Ao Padrão dos
Descobrimentos.
Construído na margem do Rio Tejo o monumento homenageia os
navegantes, patronos reais e todos os que participaram da Era dos
Descobrimentos em Portugal. Com 52 metros de altura o Padrão dos Descobrimentos
foi erguido em 1960 para celebrar o quinto centenário da morte do navegador
Henrique que está esculpido a frente de figuras importantes como Vasco da Gama,
Pedro Álvares Cabral e Fernão de Magalhães, entre outros.
Navegadores esculpidos diante do monumento |
O monumento tem a forma estilizada de uma caravela com o brasão
português nas laterais e a espada da Casa Real de Avis, símbolo do Rei
Sebastião, acima do portal de entrada.
Padrão em forma de caravela |
Espada da Casa Avis sob a entrada |
Dentro do monumento são apresentadas exposições temporárias no
subsolo, não necessariamente relacionadas aos descobrimentos. Estão lá expostas
as plantas do próprio monumento.
Exposições dentro do monumento |
Um elevador percorre o monumento ao longo de seis andares, onde
uma pequena escada leva ao topo a 52 metros de altura de onde se tem uma vista
privilegiada do Tejo e suas margens.
Do alto é possível ver a enorme bússola de navegação desenhada na
calçada, diante do monumento, que foi presente da África do Sul no ano de 1960.
No centro um mapa com figuras de sereias e caravelas mostra as rotas dos
descobrimentos dos séculos XV e XVI.
O vento é bem frio lá em cima, mas a vista compensa, pois pode-se
observar a Torre de Belém no rio e a Praça do Império a frente do Mosteiro dos
Jerónimos. Mais atrás está o Estádio do Restelo, sede do Clube de Futebol Os
Belenenses.
Torre de Belém vista do Padrão dos Descobrimentos |
Praça do Império e o Mosteiro dos Jerônimos |
Estádio do Restelo |
Seguindo a margem do rio encontramos um dos antigos faróis que
serviam de sinal para as embarcações que navegavam pelo Tejo e cruzando as
marinas uma praça expõe uma réplica do hidroavião que fez a primeira travessia
aérea do Atlântico Sul, entre Lisboa e Rio de Janeiro, em 1922.
Farol |
O farol com o Padrão dos Descobrimentos, o Tejo e a Ponte 25 de Abril ao fundo |
Réplica do Hidroavião que atravessou o Atlântico em 1922 |
Também junto ao Tejo está o Museu de Arte Popular inaugurado em
1948 em um prédio bem simples. Não nos animamos para conhecer seu acervo e
seguimos adiante.
Uma caminhada leva a Torre de Belém, construída diante da Praia de
Belém como uma fortaleza no meio do Rio Tejo entre os anos de 1515 e 1521.
Ponto de partida dos navegadores que viajavam para descobrir as rotas de
comércio, esta torre tornou-se um símbolo da grande era de expansão de
Portugal, sendo declarada Patrimônio Mundial pela UNESCO em 1983.
Com o aterro realizado no século XIX, que estreitou o Tejo, a
torre deixou de estar no meio do rio e ficou mais próxima a sua margem. Uma
curiosidade é a pequena figura de um rinoceronte esculpida na base de uma
guarita na fachada, pois em 1513 desembarcou em Lisboa um rinoceronte vindo da
Índia que D. Manuel ofereceu ao Papa Leão X na embaixada de Tristão de Cunha,
no entanto a embarcação naufragou e o animal teve seu corpo recuperado e
empalhado servindo de inspiração para o escultor na construção da fortaleza.
O rinoceronte esculpido na base da guarita |
Entrada da torre |
A torre, que originalmente servia como proteção para a cidade de
Lisboa, deixou de ter sua função ao longo dos séculos e foi utilizada como
aduana, posto de sinalização, telégrafo e paiol. Mais tarde os seus paióis
foram utilizados como masmorras para presos políticos.
Antigo paiol e masmorras |
A base é construída em um baluarte poligonal com 16 canhoneiras e
um terraço com guaritas cilíndricas como posto de sentinelas que servia como
segundo nível de baterias de canhões.
Canhoneira no baluarte |
Guarita no terraço |
Terraço que servia de segundo nível de baterias de canhões |
No terraço do baluarte está o Santuário de Nossa Senhora do Bom
Sucesso com o Menino. A imagem conhecida como “Virgem do Rastelo” está virada
para o Tejo observando e abençoando o caminho dos navegadores.
Acima do baluarte ergue-se a torre quadrangular em cinco
pavimentos, sendo o primeiro a Sala do Governador, o segundo a chamada Sala dos
Reis e o terceiro a Sala de Audiências. No quarto nível da torre está a Capela
e o último andar é o terraço.
Sala do Governador |
Capela |
A visita a Torre de Belém é ponto obrigatório para quem vai a
Lisboa e apesar da quantidade de turistas que desembarcam dos ônibus, fazendo
fila para entrar, o lugar não chega a ficar lotado e todos podem visitar a
atração de forma confortável.
Ao lado da torre está o Forte do Bom Sucesso onde funciona o Museu
aos Combatentes, que foi criado para homenagear os militares portugueses que
participaram da primeira guerra mundial, campanhas do ultramar e missões de
paz. Diante do museu o Monumento aos Combatentes de Ultramar com lápides que
apontam os nomes dos soldados e uma pira acesa, guardada por dois sentinelas,
que lembra os mortos em combates.
Forte do Bom Sucesso |
Monumento aos Combatentes de Ultramar |
Retornado em direção ao Centro Cultural de Belém e a Praça do
Império fomos na direção do Mosteiro dos Jerônimos.
Uma das maiores construções de Belém, o Mosteiro dos Jerônimos foi
construído com as riquezas da Era dos Descobrimentos. Encomendado por Manuel I
por volta de 1501, após o retorno de Vasco da Gama das Índias, sua construção
foi financiada pelo comércio de especiarias e o mercado do ouro.
Detalhes do portão do Monastério |
O Claustro possui imagens entalhadas decorando os arcos e
balaustres cercando um grande jardim interno que servia de área de lazer e
meditação dos monges no passado.
Corredor do claustro |
Detalhe de uma coluna |
Claustros do mosteiro |
Outra área impressionante é o refeitório retangular com uma faixa
nas paredes revestida de azulejos do século XVIII. Os painéis laterais mostram
cenas do Antigo Testamento e ao norte um painel retrata o milagre da
multiplicação dos pães.
Refeitório do monastério |
Painel de azulejos no refeitório |
Grandes personalidades estão sepultadas neste mosteiro, entre elas
Fernando Pessoa, um dos maiores poetas do século XX. O túmulo do poeta foi
trasladado para o mosteiro no cinquentenário de sua morte.
Na Sala do Capítulo, que recebeu esse nome pois os monges aqui se
reuniriam com a leitura de um capítulo bíblico, está o túmulo de Alexandre
Herculano, historiador e primeiro prefeito de Belém. Painéis contam um pouco da
história de Portugal e do historiador que teve papel importante em muitos
eventos históricos.
Nos claustros estão os doze confessionários utilizados pelos
monges da Ordem de São Jerônimo, um dever para com marinheiros e peregrinos. O
confessor ficava no claustro e o fiel penitente no interior da igreja e se
comunicavam através de uma pequena grade de ferro.
Confessionários |
Pequena janela com grade de ferro permitia confissões |
No interior da Igreja pode-se conhecer o Coro Alto com uma imagem
de Cristo na Cruz de 1550 e um cadeiral do século XVI. Do alto se tem uma visão
privilegiada de toda a igreja.
Imagem de Cristo na Cruz de 1550 |
Cadeiral |
No interior da Igreja de Santa Maria estão os túmulos de Manoel I
e de sua esposa, dona Maria, de João III e Catarina, além de um grande túmulo
construído para Dom Sebastião. A curiosidade fica por conta de que o Rei
Sebastião partiu em uma cruzada contra o islã e foi derrotado na batalha de
1578, quando ele e 8.000 soldados foram mortos, enquanto outros 15.000 foram
vendidos como escravos. O rei nunca voltou da batalha, deixando uma grande
marca no coração dos portugueses, e o túmulo está vazio.
Altar da igreja |
O coro alto e o teto vistos do chão |
Também estão sepultados no interior da igreja o navegador Vasco da
Gama, em um túmulo entalhado com temas de viagens marítimas, e o poeta Luís Vaz
de Camões, autor de “Os Lusíadas”.
Eu com roupa de gala para visitar o túmulo de Vasco da Gama |
Túmulo de Luís de Camões |
Túmulo de Vasco da Gama |
Para finalizar uma visita à bonita Capela do Senhor dos Passos que
tem quatro telas de Antônio Bernades, de 1703, que representam anjos segurando
instrumentos da Paixão de Cristo: Coluna, Sudário, Coroa de Espinhos e Santo
Lenho.
Capela do Senhor dos Passos com telas pintadas por Antônio Bernades em 1703 |
Deixando o monastério em direção ao Palácio da Ajuda encontra-se uma praça onde foi erguida a Igreja
da Memória em 1760. Uma história interessante marca o lugar já que a igreja foi fundada a pedido do Rei José I em
agradecimento por ter escapado de uma tentativa de assassinato no mesmo local
em 1758.
O rei voltava de um encontro amoroso secreto quando sua carruagem
foi atacada e seu braço atingido por um tiro. O Marquês de Pombal usou esse
fato como desculpa para se livrar de seus inimigos, torturando e executando
todos em nome da justiça contra esse fato em 1759. No ano seguinte a igreja foi
erguida.
No interior do templo, todo de mármore, está uma urna de madeira
com os restos mortais do Marquês de Pombal.
Seguindo rua acima encontramos o Jardim Botânico da Ajuda
construído pelo Marquês de Pombal em 1768. O jardim tem 5.000 espécies vegetais
da África, Ásia e América. Destaque para a fonte do século XVIII decorada com
peixes alados, cavalos marinhos e criaturas míticas.
Jardim Botânico da Ajuda |
Chafariz e fonte no meio dos jardins |
Nossa última parada em Belém (não que não haja muitos outros
lugares a se visitar por lá) foi no Palácio Nacional da Ajuda.
O Palácio Real foi destruído em um incêndio no ano de 1795, sendo
substituído no século XIX pelo prédio atual que está inacabado, pois a
construção foi abandonada quando a família real portuguesa veio para o Brasil.
O palácio está inacabado, faltando uma ala |
Não são permitidas fotos no interior do palácio, mas vale muito a visita já que o palácio foi utilizado quando Luís I foi coroado rei e mobiliou o lugar com todos os exageros da realeza.
Átrio do Palácio Nacional da Ajuda |
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