6º Dia no Chile (dia 14 do mochilão)
Optamos pela viagem de dia, pois o tempo de percurso entre San
Pedro de Atacama e Antofagasta é de cinco horas, não sendo possível uma noite
inteira para dormir e o último ônibus sai as 22h de San Pedro. Aconselho sempre
que puder comprar passagens com antecedência, mesmo para este trecho que é
pouco procurado pelos turistas convencionais, já que a maioria atravessa do
Atacama para a Bolívia ou sobe para o Norte com destino final no Peru, rumo a
Machu Picchu, no caminho inverso do que fizemos.
O percurso entre a rodoviária e a praça no centro, é um tanto
quanto longo. Antofagasta é a quinta cidade mais povoada do país e o entorno do
centro histórico é típico das grandes cidades.
O taxi nos deixou na histórica Plaza
Colón, onde no ano de 1879 as tropas chilenas desembarcaram para a
conquista do território, até então boliviano, durante a Guerra do Pacífico.
No centro da praça encontra-se um relógio doado pela comunidade
inglesa, no ano de 1911, em uma torre quadrangular com treze metros e meio de
altura. O relógio foi construído como uma reprodução em menor escala do que
existe na Torre do Parlamento de Westminster emitindo, inclusive, os mesmos
sons do Big Ben original.
De frente para a praça encontra-se a Catedral de San José, cuja
construção foi concluída no ano de 1917, graça aos esforços do Monsenhor Luis
Silva Lezaeta, no mesmo lugar do templo anterior que havia sido destruído por
um incêndio.
Na verdade a igreja original havia sido construída pelos
bolivianos em 1874, mas foi consumida pelo fogo durante a ocupação chilena, sendo
reconstruída através dos esforços do padre Florencio Sanches e de, seu então
secretário, Lezaeta em 1883. No entanto, em 15 de novembro de 1096 o templo de
madeira foi novamente consumido pelas chamas, sendo reconstruído, pelo já
Monsenhor Lezaeta, em pedra e ferro do modo como está até os dias atuais. Pelos
constantes esforços e dedicação o Monsenhor é hoje homenageado com uma estátua
na praça diante da Igreja que foi elevada ao status de Catedral no ano de 1929.
A praça é grande e bem arborizada, possuindo um coreto, muito
comum aqui no Brasil também. Conhecido como Kiosco
de Retreta, foi doado pela colônia croata no ano de 1911 e declarado
Monumento Histórico Nacional em 1995.
Completando nossa volta pela praça nos deparamos com um último
monumento dedicado aos reis da Espanha. Doado pela colônia espanhola como
presente pelo centenário da República Chilena, o Monumento a lós Reyes de España apresenta a figura dos reis, um
leão e um condor.
Os reis, o condor e o leão |
Atravessamos a rua da praça e paramos em um centro de informações
turísticas para saber o que tínhamos para fazer na nossa rápida estadia na
cidade. A simpática atendente nos deu um mapa da cidade e também de Caldera,
para onde iríamos depois. Nos explicou um pouco sobre os monumentos na Praça de
Armas e sobre o antigo prédio dos correios diante da praça e que não havíamos
dado tanta importância mas que foi reconhecido como monumento histórico em
2009. O prédio foi construído entre 1921 e 1930.
Entre as principais atrações turísticas de Antofagasta estão as Ruínas
de Huanchaca e a famosa La Portada,
um monumento natural que nada mais é do que uma rocha esculpida pelo mar que se
transformou em um arco de pedra. A menina do centro de informações nos informa
que é possível ir de ônibus até as ruínas e anotamos as linhas que passavam por
lá, mas que o monumento natural encontra-se a 18 Km de distância da cidade e
que não existem rotas de ônibus para lá. Teríamos que pagar um taxi que cobra
preços altíssimos, bem acima do que seria o valor normal para a distância do
percurso. Um grande painel com a foto de La
Portada estava diante de nós e consideramos que não valeria o gasto e o
esforço para ver uma pedra no mar. Preferimos ocupar nosso tempo conhecendo as
atrações dentro da cidade. Para aqueles que estão interessados em conhecer os
arredores, Antofagasta possui atrações nos balneários de longas praias e em
cidades fantasmas que eram antigos povoados mineiros, mas não posso falar sobre
eles, pois não saímos dos limites da cidade.
Deixamos a praça e seguimos caminhando pela Calle Banquedano, junto a linha do trem da Ferrocarril de
Antofagasta. Nos chamou a atenção a antiga Casa Gibbs, datada de 1915, que foi
um centro de importação e exportação de diversas mercadorias, principalmente as
referentes a mineração e cujos lados da fachada estão cobertos por um mural de
1.000 m².
O grande mural “A estação ferroviária com os heróis da história de
Antofagasta” foi pintado em 2008 e recria a estação de trem no ano de 1915 com
personagens importantes da história da cidade.
A pintura compõe o que dizem ser o maior mural do Chile, mas outra
atração ganha espaço diante da casa, a escultura “O rei da água e sua mula”,
que em tamanho real parece compor o quadro representado nas paredes da Casa
Gibbs.
O rei da água e sua mula |
Tomamos um ônibus conforme a menina do centro de informações
turísticas havia dito e seguimos para as famosas Ruínas de Huanchaca. O
percurso é um pouco longo e no caminho ainda tivemos a grata surpresa de passar
pelo Estádio Regional de Antofagasta, construído no padrão FIFA com capacidade
para menos de vinte e duas mil pessoas.
Ainda do ônibus é possível avistar as ruínas a sul da cidade. As
ruínas são o que restou do complexo industrial Playa Blanca Huanchaca que pertencia a uma companhia mineira
boliviana e recebia os minerais vindos de Oruro e Potossi. A fundição de metais,
construída a partir de 1888, foi inaugurada em 1892 e chegou a ser a mais
moderna e maior refinaria de prata da América do Sul, tendo uma usina de
energia própria para suprir as suas necessidades. Deixou de funcionar em 1902,
com o declínio da exploração de prata nas minas bolivianas e uma inundação que
fechou a mina de Pulacayo.
Na área foi erguido o Parque Cultural Ruínas de Huanchaca, por
onde se pode caminhar e apreciar as ruínas da antiga fundição. Placas com informações
contam a história do lugar que era responsável pela fusão e resfriamento de
minerais de prata e produzia cerca de duzentas toneladas por dia, chegando a
empregar mais de mil e duzentos trabalhadores no seu auge.
Aline e as ruínas |
Vagando pelas ruínas |
Eu não havia imaginado em nenhum momento que eram ruínas tão
“modernas”. Depois de tanto tempo vendo ruínas incas e de outros povos
pré-colombianos, encontrar um pouco de história recente do ciclo da mineração
boliviana e chilena foi muito bom.
Dentro da área do Parque Cultural encontra-se o “Museu do Deserto
de Atacama” que chama a atenção com um Jardím
de Rocas junto a entrada onde estão minerais e pedras extraídas na região
norte do Chile.
O moderno Museu Deserto do Atacama |
Jardim de Pedras |
Fomos muito bem recebidos no museu que é muito moderno. Deixamos
as mochilas pesadas na recepção e pegamos um controle remoto com fones de
ouvido por onde se podia ouvir as explicações em Português para as diversas
salas e exposições.
Fotos são permitidas nas exposições permanentes |
Explicações em português através de fones e controle na mão |
O museu possui 2.200 m² divididos em diversas salas com exposições
permanentes que contam a história geológica do Atacama, através de suas rochas
e fósseis, e a história da civilização desde os primeiros homens, passando
pelos incas e finalmente chegando a época da colonização espanhola e da
mineração.
A história da mineração e da própria Huanchaca começa a ser
contada em um espaço onde há uma interação entre a exposição e a ruína logo
atrás. Um painel foi pintado de forma a demonstrar como operava o complexo
industrial e de um determinado ponto é possível ver a pintura e a construção de
tal forma que uma completa a outra, dando a impressão de se olhar o passado.
Historicamente toda a região teve uma economia baseada na
exploração de minerais e nos primeiros anos a prata era a principal atração da
cidade. Posteriormente, a descoberta de jazidas de salitre e seu valor mundial,
fizeram de Antofagasta um lugar de grande interesse. Por causa do fechamento da
mina Pulacayo, a queda da prata na Bolívia e a volatilidade do preço do produto
no mercado mundial, Huanchaca encerrou suas atividades no ano de 1902. Depois da queda da prata e da indústria salitrera o país entrou numa profunda
depressão econômica, sendo realizado o desmembramento do complexo através
leilão de bens. O antigo quarto motor da fundição se tornou a capela militar de
propriedade do exército localizada na costa litorânea no centro da cidade.
Atualmente, o cobre se converteu no principal mineral da região e
toda a história da mineração é mostrada no museu, que tem os utensílios
utilizados na mineração nos últimos séculos.
Bolsa para carregar o minério do fundo da mina para a superfície |
O museu possui uma moderníssima sala de multimídia que conta toda
a história da mineração através de reconstrução em 3D. A duração dos vídeos é
de uma hora e a programação é fixa passando de duas em duas horas, mas como
estávamos sós no museu a menina da recepção nos chamou para assistir uma seção
exclusiva!
Sala de multimídia conta a história passo a passo |
Muito moderno o museu |
Vídeo que conta a história do minério no Atacama |
A última parte da exposição se volta para o cosmos e as estrelas
que nos últimos anos tem estado integrados com o deserto, já que o Atacama se
transformou em um laboratório de testes da NASA para as viagens espaciais. O
veículo lunar testado no deserto através de uma parceria da agência espacial
americana e da Universidade do Norte do Chile foi doado para o museu. Em 2013
um novo protótipo foi testado nas areias da árida e inóspita região norte do
Chile, este irá em busca de vida microscópica no planeta Marte. Com clima seco,
alto índice de radiação ultravioleta, ventos fortes e tempestades de areia, o
deserto é a combinação mais próxima do ambiente encontrado no planeta vermelho.
Módulo lunar da NASA: testado no Atacama e utilizado na Lua, foi doado para o museu depois da missão espacial |
Representação do cosmos |
Foto de uma nebulosa |
No fim buscamos nossas mochilas na recepção, devolvemos os fones e
nos despedimos com a certeza de que esta é uma visita que valeu muito a pena.
Recomendo a todos que passarem pela cidade conhecerem o Museu. Tomamos o ônibus
e descemos na costa para conhecer a capela que havia sido o quarto motor da
fundição de Huanchaca.
De volta ao mar |
A sala de máquinas de Huanchaca foi transferida para 1º Divisão de
propriedade do Exército do Chile e convertida, no ano de 1942, na bonita Capilla Militar Nuestra Señora del Carmen
que encontra-se atualmente junto ao mar.
Capela Militar construída no que foi a casa de máquinas de Huanchaca |
Gaivota andina |
A região costeira no centro da cidade é bem pedregosa e não
existem praias, apenas o mar do Pacífico batendo forte contra as rochas. Fiquei
imaginando como teria sido o desembarque das tropas chilenas quando houve a
tomada da cidade, até então boliviana, durante a guerra do Pacífico.
Ainda diante do mar encontra-se o shopping Mall Plaza de
Antofagasta. Seguimos até lá para comer e descansar. Não gosto de passeio em
shopping, mas esse foi um ótimo lugar para passar o tempo e esperar anoitecer.
Com uma vista para o mar foi possível admirar o lindo pôr do sol no Pacífico
novamente.
Pôr do Sol visto do shoping |
Todo fim do dia tem espetáculo de cores no céu |
Comemos na praça de alimentação ao ar livre, enquanto o sol ia
dando seu espetáculo de cores junto com o céu e o mar. Aproveitamos o tempo
livre para dar uma volta no shopping (Aline não ia perder essa oportunidade...
rs), sentamos e atualizamos nossas anotações no diário, que depois veio a se
tornar este relato, e aproveitamos para acertar o planejamento dos próximos
dias de viagem. No fim tomamos um taxi para a rodoviária, já a noite, pois as
23h tomaríamos o ônibus da Tur-Bus em direção a Caldera.
Despedida de Antofagasta |
Gastos
para 2 pessoas em 20/03/2014:
- Taxi
(rodoviária x centro): $ 5.000,00 CLP
- Ônibus:
$ 900,00 CLP- Museu do Atacama: $ 4.000,00 CLP
- Ônibus: $ 900,00 CLP
- Almoço no shoping: $ 7.000,00 CLP
- Taxi (shoping x rodoviária): $ 2.000,00 CLP
- Ônibus para Caldera: $ 18.000,00 CLP