4º Dia na Bolívia
Eram
mais de 23h30min quando chegamos a Uyuni. O ônibus nos deixa em uma praça e as
ruas estavam quase desertas, a exceção de caça-turistas com panfletos tentando
empurrar pacotes para visitar o salar. A noite estava bem fria, apesar de estar
em pleno verão um termômetro na esquina marcava 5º C. Precisávamos de um hostel
para dormir e não tinha nenhuma luz no entorno da rua onde desembarcamos do
ônibus. Nesse momento vimos 2 meninas que haviam descido do mesmo ônibus que
nós, elas estavam de pé com um mapa e falavam em português sobre localização de
lugar para dormir ali perto. Nos apressamos em nos convidar a ajudar com o
mapa, pois também precisávamos de um quarto para a noite. Juntos, nós quatro,
fomos até o local mais próximo onde havia demarcado um hostel no mapa. A
recepicionista nos cobrou Bs$ 30,00 pela noite (10 vezes mais barato que o mais
barato hostel que eu tinha visto até então em território boliviano).
Precisávamos somente dormir aquela noite, então aceitamos.
Imagino
que todos já sabem que era uma espelunca e que não recomendo a ninguém nem
passar na calçada. No banheiro não havia papel higiênico e caso necessitasse
era preciso pagar Bs$ 2,00 por um rolo de papel rosa (tipo lixa) na recepção. O
banheiro coletivo era sujo e com as paredes e chão de cimento cheios de limo,
tinha água quente, mas um buraco na vidraça permitia um vento frio, do tipo
congelante, entrar e estragar qualquer banho, aliais decidi nem tentar um banho
ali e fui direto para a cama. Apenas tirei as botas e o cinto e deitei. A cama
tinha cheiro de poeira, mas eu estava tão cansado que dormi assim mesmo.
Infelizmente não me recordo o nome do lugar, mas acredito que se olharem o
dormitório antes de fechar na recepção não correm o risco de tomarem um quarto
neste hostel.
Acordamos o mais cedo possível e deixamos o lugar. As duas meninas com
quem havíamos conseguido o hostel deixaram os quartos de manhã também e fomos
juntos procurar um lugar para o desayuno.
Nos apresentamos e aproveitamos para conversar um pouco e assim conhecemos
Benedita e Mariana. Descobrimos que as duas eram portuguesas e que estudavam
por intercambio no Rio de Janeiro. Elas estavam se formando na faculdade e
terminando os estudos resolveram viajar pela América do Sul antes de
voltarem a Portugal. As duas também estavam indo para o salar, então fomos
juntos procurar uma agência de turismo para o passeio.
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Uyuni |
Todas
as agências de Uyuni fazem o mesmo passeio, não acho que exista alguma diferença
no percurso, então se alguém oferecer vantagens no roteiro não acredite, mas pergunte sobre os locais de pernoite, pois variam entre as agências. A
escolha por uma agência tem um pouco de sorte, aconselho que peguem
dicas com quem já foi para tentar evitar entrar numa furada com alguma agência
de baixa qualidade, mas uma agência que atendeu bem um, pode ser desastrosa
para outro, muito por conta de que tudo depende muito do motorista, responsável
pelo Tour pelos 3 dias. Nós dois havíamos
buscado algumas indicações e as meninas também tinham uma lista de
preferências. E eu ainda tinha uma história de um amigo que havia ido ao salar
no ano anterior e o motorista dormiu ao volante capotando com o carro e
estragando a viagem de todos, sem falar de ossos quebrados e péssimas
experiências em hospitais bolivianos. As agências que tínhamos como boas
indicações de pessoas que já haviam ido eram: Red Planet, Full Turismo, Colque
Tours, Avi Tours e Cordillera Tour (essa muito recomendada por todos).
Assim
que saímos na rua uma avalanche de pessoas com panfletos vem oferecer agências,
eram pouco mais de 8h da manhã e a maioria das operadoras ainda estava fechada.
Fomos ver as indicações que tínhamos e encontramos duas já abertas, pesquisamos
os preços e escolhemos a mais barata entre elas. Fomos muito bem atendidos e
não tivemos problemas em todo o percurso, então deixo aqui minha indicação para
a agência “Full Turismo”, mas não se esqueçam: tudo pode depender da sorte
neste ponto. O passeio de 3 dias num carro 4x4 nos custou Bs$ 700 (ou U$ 100 com tudo
incluso: alimentação, hospedagem para noite e as meninas ainda incluíram o tranfer para o Atacama ao invés da volta
a Uyuni). Todas as agências abrem perto das 9h e os passeios começam a sair por
volta de 10h ou 11h da manhã, não indico pesquisar em agências antes de chegar
a Uyuni por medo de não conseguir vaga, não creio que exista esse risco por lá.
Com
a agência escolhida só faltava efetuar o pagamento. Eu e Leo fomos a uma casa
de Câmbio junto ao passeio da Praça Acre (um bom preço no câmbio) e as meninas
foram a um caixa eletrônico sacar dinheiro. Indico passar em um mercado e
comprar papel higiênico e suprimentos para os 3 dias, pois apesar de as
refeições estarem inclusas no preço é bom ter algum complemento e
principalmente água. DICA: Comprem muita água, pois são 3 dias no deserto.
Com
o pacote acertado fomos conhecer a cidade. Uyuni não é uma cidade bonita, nem
em sua parte central, no entorno da Praça Acre existem ruas pavimentadas, casas
de câmbio, restaurantes, pizzarias, uma avenida com tendas e lojas de
artesanato local e uma igreja. O resto é terra e poeira, lixo nas ruas e uma
cidade bem feia.
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Ruas de Uyuni |
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Praça Acre |
Após
uma rápida volta pela cidade e uma parada para as compras no mercado, voltamos
para a Full Turismo. Cada carro tem capacidade para 6 pessoas (além do
motorista), então fomos informados que iria um casal conosco. Conhecemos
nosso motorista e guia pelos próximos 3 dias e um casal de franceses que
completaram as vagas.
Antes
de sair o guia solicita que tiremos da mochila todos os itens que iremos
precisar ao longo do dia, pois as mochilas são presas ao bagageiro de teto e
lonadas. Olhem bem atentamente para não deixarem nada importante na mochila,
pois vai ficar o dia todo sem ela. O dia estava quente e ensolarado (ao
contrário da noite anterior), então vesti uma camisa de manga comprida por
baixo de uma blusa de manga comum e deixei o casaco na mochila. DICA: Não
esqueçam de levar óculos escuros, chapéu e protetor solar.
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O grupo todo no carro |
Saímos
da área povoada de Uyuni observando o lixo que se acumula nas ruas a beira do
deserto ao redor, vimos muito plástico preso nas árvores. A sujeira me
incomodou muito, não gosto de ver a humanidade lançando seus resíduos de forma
tão primitiva. Rodamos apenas 3 Km e chegamos ao famoso Cemitério de Trens. É
uma área cheia de carcaças de antigos vagões e locomotivas, enferrujados e
abandonados. São trens que no passado transitavam para a região de Potosí e chegavam
a La Paz (via Oruro), e também até Calama no Chile. A malha ferroviária foi
construída no século XIV para escoar a produção de minérios. No início do
século XX, a exportação já apresentava declínio, enfraquecida pela crise de
décadas. Na década de 1940, a indústria colapsou e estes trens foram ali
abandonados de vez, apesar de que, segundo nosso guia, os restos no cemitério
começaram a ser depositados neste local ainda na década de 1890, pois eram
locomotivas e vagões obsoletos ou destruídos por descarrilamentos e outros acidentes
diversos. As carcaças estão abandonadas sem critério algum, a céu aberto,
enferrujadas e pichadas por turistas.
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Cemitério de Trens |
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Trem abandonado |
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Cemitério de Trens de Uyuni |
Saímos
do cemitério de trens e fomos para nossa segunda parada do dia, a última antes
de entrar no salar. Colchani, a cerca de 20 km de Uyuni, vilarejo que se dedica
ao sal e a criação de lhamas. Outra grande fonte de renda da
cidade são os turistas e o local tem uma rua dedicada as tendas e lojas locais.
Todos param lá para comprar artesanatos de sal e vários tipos de artesanato em
tecido nas barraquinhas espalhadas pela rua e por uma praça. Ainda nos
arredores existe um museu de sal, essa também é uma das poucas oportunidades de
ir ao banheiro.
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Artesanato em Colchani |
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Museu de sal |
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Interior do museu de sal |
Após
isso entramos no salar, aos poucos deixamos de rodar sobre areia para avançar
sobre sal puro. De longe já se pode ver os montes para extração de sal que são
feitos e deixados sob o sol para secar visando o transporte da melhor maneira
para Colchani e Oruro, onde acontece o processamento.
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Extração de sal |
Essa
é nossa próxima parada para fotos e as explicações do guia sobre o sal e o local.
O Salar de Uyuni é o maior deserto de sal do mundo e está localizado a 3.653m de altitude em
relação ao nível do mar. Quando ocorreu a elevação da Cordilheira dos Andes,
devido aos choques das placas tectônicas, formaram-se grandes lagos salgados
confinados nas montanhas. Há cerca de 100 milhões de anos, o lugar era um lago
salgado pré-histórico chamado Minchim, cuja água se evaporou e deixou como
remanescentes dois grandes desertos salgados, Coipasa (o menor) e o Uyuni, com
10.582 km² de área. Ele nos explica que o Salar contém aproximadamente 10
bilhões de toneladas de sal, das quais menos de 25 mil toneladas são extraídas
anualmente.
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Nós 6 no salar: O casal francês, Leo, eu e as meninas portuguesas |
Rodamos
mais uns quilômetros no sal e chegamos ao Hotel e Museu de Sal Playa Blanca no meio do Salar. Era o
local de nosso almoço também. O guia prepara o almoço na carroceria do carro e
nos sentamos em qualquer pedra de sal para comer. Se a refeição não era uma
maravilha, admito que era melhor do que eu esperava: Quinoa, carne, salada e
refrigerante.
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Praça das bandeiras ao lado do Hotel de sal |
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Hotel de sal Playa Blanca |
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Almoço sendo servido no salar |
Após
o almoço fomos para nossa próxima parada no Salar: Isla Incahuasi, também chamada de Isla del Pescado. Um pedaço de terra com 1 km² cercado de sal por
todos os lados, com sua superfície coberta por uma floresta de cactos gigantes.
Deve-se pagar uma taxa de $15 bs para visitação no local (não inclusa no pacote
do passeio, conforme previamente informado). O guia explica que existem mais de
150 espécies diferentes de cactos catalogadas nesta ilha. Ficamos por volta de
40 min na ilha e pudemos explorar bem o lugar. Subimos por um caminho entre os
cactos e passamos por uma gruta chamada “Arco de Pedra”. Existem cactos milenares
com quase 10m de altura na ilha. Do alto se vê a junção da terra e salar. Fiquei
um tempo ali apreciando a paisagem da ilha no meio de um mar que secou. É um
lugar único.
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Isla Incahuasi |
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Filhote de Lhama em Incahuasi |
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Ilha de cactos em meio ao sal |
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Cacto milenar com 9 metros de altura |
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Um pedaço de terra cercado de sal por todos os lados |
Saindo
da ilha rodamos por mais de 1 hora e paramos no meio do salar para as famosas
fotos panorâmicas, que só são possíveis por não existir nenhum ponto de
referência no horizonte. É impressionante olhar ao redor e só ver sal. Na época
das chuvas o chão fica espelhado e confunde-se com o céu, mas em março as
chuvas contínuas já passaram e o salar estava seco. Nosso guia explica que
durante os meses de Janeiro e início de Fevereiro, quando as chuvas são mais
intensas, não consegue-se, muitas vezes, nem chegar na Isla del Pescado. O sol estava bem forte e apesar do vento
constante não fez frio no salar neste dia, fazendo com que a roupa leve que eu
usava desse conta da temperatura e ainda protegesse bem do sol.
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Salar de Uyuni |
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Levitando no salar |
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Perspectiva |
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Os gigantes franceses |
Depois
de toda tarde no salar de Uyuni fomos em direção ao Salar de Chiguana onde
iríamos dormir em um hotel de sal próximo ao vilarejo de San Juan. Diferente de Uyuni e de Coipasa este não é de sal puro e
branco, e sim de uma terra vermelha extremamente salgada. No caminho ainda
pudemos admirar o bonito pôr do sol pela janela do carro.
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Salar de Chiguana |
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Fim de tarde em San Juan |
O
hotel se mostrou bem confortável e interessante, com paredes, mesas e camas
confeccionadas em blocos de sal. O chão era todo forrado de sal. Possuía quartos
duplos e banheiro coletivo onde era possível tomar um banho quente por Bs$ 5,00.
Sentamos todos em uma grande mesa de sal e fomos servidos com uma boa comida
(sopa e pães de entrada, arroz, quinoa e carne vermelha como prato principal). Conforme
o sol vai se pondo a temperatura vai caindo rapidamente. Após o jantar ficamos
conversando à mesa até que sem nenhum aviso prévio a luz foi desligada! Ninguém
nos avisou, mas, exatamente as 21h, o gerador é desligado, deixando tudo as
escuras e isso significa sem possibilidades de carregar baterias de maquinas
fotográficas e celulares, além de acabar com qualquer chance de um banho
quente. Era dormir sujo a única opção, então nos recolhemos e dormi assim
mesmo pela segunda noite consecutiva.
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Hotel de sal |
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Hotel de sal: Corredor e banheiro ao fundo |
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Reunidos para a refeição |
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Quarto aconchegante |
Gastos - 23.03.2013
Hostel - Bs$ 30,00
Café da manha - Bs$ 25,00
Tour 3 dias em Uyuni - Bs$ 700,00
Compras mercado - Bs$ 56,00
Artesanato de sal - Bs$ 19,00
Entrada na Isla del Pescado - Bs$ 15,00