A
pouco mais de 270 Km de distância da cidade do Rio de Janeiro está um
verdadeiro paraíso que vem sendo descoberto nos últimos anos. A vila de
Trindade é a mais paulista das cidades fluminenses e marca a divisa entre RJ e
SP, estando no meio do caminho para as duas cidades.
Aline
e eu estivemos por lá pela primeira vez no ano de 2007 e nos apaixonamos pelo
lugar. Voltamos em 2015 com um grupo de amigos para passar três dias de um
feriado e pudemos comprovar que pouca coisa mudou em quase uma década. O clima
de paz domina a vila, seja para um fim de semana a dois, seja para uns dias com
os amigos na praia.
Aline e eu em Trindade no ano de 2007 |
Galera reunida na praia em Trindade no ano de 2015 |
Como Chegar:
Trindade
é uma vila do município de Paraty e está a, aproximadamente, 30 Km de distância
do centro da cidade histórica. Para se chegar ao vilarejo, indo do Rio de
Janeiro, deve-se seguir pela rodovia Rio-Santos (BR-101) e passar pelo trevo de
Paraty, seguindo por mais 18 Km até o trevo de Patrimônio, que na verdade é uma
entrada a esquerda de quem vem do RJ (deve-se contornar um pequeno trevo a
direita e cruzar a pista) ou a direita de quem vem de SP (neste caso nem se vê
o trevo... rs). Existem placas apontando a entrada, mas não são muito grandes e
estão à margem na rodovia.
Deste
ponto em diante a estrada é sinuosa e perigosa, não estando muito bem
sinalizada. Atravessa-se um morro que esconde a vila subindo e descendo
ladeiras muuuito íngremes. Esta ladeira é conhecida como “Deus-me-livre” por
conta de sua dificuldade quando ainda era uma estrada de terra, na época em que
depois de uma chuva não se chegava nem saía da vila. Hoje a estrada está
asfaltada, contribuindo para que Trindade entre cada vez mais no mapa do
turismo.
A
estrada possui 8 Km de sobe e desce extremo e no meio do caminho já é possível
ver um pouco da paisagem que se esconde atrás do monte. Uma dica é a Praia
Brava que tem sua entrada em uma trilha a partir da estrada. Não existe placa
no acesso, mas pode-se ver um recuo para estacionar o carro a esquerda de quem
chega. É o único recuo à margem da estradinha.
O
ponto alto da chegada a Trindade está diante da praia do Cepilho, para onde a
estrada conduz diretamente. Neste ponto deve-se atravessar um pequeno córrego
que cruza a estrada e deságua no mar. Nada difícil ou que exija um carro com
tração. Nada disso, só um charme a mais na chegada. Depois de mais um
sobe-e-desce estará na rua principal (e única) do vilarejo...
É
possível ir de ônibus, que partem a cada hora da rodoviária de Paraty
(verifique os horários antes para confirmar). Não é permitido ônibus de viagens
e vans com grupos em Trindade. Para se ir em grupos com veículos fretados
deve-se ir até a rodoviária de Paraty e lá tomar o ônibus de linha para o
vilarejo.
Sobre a cidade:
Trindade
surgiu como uma vila de pescadores isolada da civilização, protegida pelas
montanhas e pelo mar até ser descoberta pelos hippies na década de 1970. Na
década de 1980 o vilarejo caiçara é descoberto pelos surfistas. Na década de
1990 a vila é descoberta pelos aventureiros que buscam se isolar um pouco das
grandes cidades, até que na década de 2000 a vila se rende de vez ao turismo,
transformando muitas das casas de pescadores em pousadas, restaurantes e lojas
de artesanatos locais.
O
vilarejo caiçara passou e ainda passa por uma grande briga contra a especulação
imobiliária e por inúmeras disputas contra grandes empresas por posses de terra.
Por diversas vezes já se tentou a construção de empreendimentos de luxo
monopolizando as praias da região. Um morador local nos contou da primeira vez
que estivemos lá que a vila continua acessível a todos graças aos moradores que
permanecem unidos na preservação da
vila e da natureza.
A
rua principal é praticamente a única da vila, sendo ali a grande maioria das
pousadas, lojas, docerias, restaurantes e campings. Pequenas e curtas ruas
secundárias abrigam os moradores.
Onde Ficamos:
Fui
duas vezes a Trindade e nas duas fiquei no camping Tarumã. Existem muitas
opções de camping e pousadas no lugar, mas como gostei do Tarumã da primeira
vez que fui, fiquei nele quando voltei. O camping está junto da pousada Cabeça
do Índio e da última vez fomos com um grande grupo de amigos e nos dividimos
entre camping e pousada.
No camping Tarumã em 2007 |
Camping Tarumã no ano de 2015: as árvores cresceram bem! |
Para
quem curte acampar na praia, Trindade oferece diversos campings tendo acesso
direto para as areias. Nunca fiquei nestes, mas pelos sons das ondas que eu
ouvia batendo forte na madrugada no camping do outro lado da rua, imagino a
sensação de ficar diante do mar na praia...
Onde Comemos:
Deixo
aqui minhas recomendações para alguns lugares onde comemos nos dias em que
estivemos por lá, mas acho que existem diversos outros tão bons quanto:
Restaurante Caiçara, Laranjas Bar (ótima opção para almoçar e para um petisco e
bebidas a noite, com o bom e velho rock’n roll rolando solto), Restaurante
Laricas (almoço ao som de MPB) e Restaurante Amendoeiras.
Galera reunida no almoço depois de uma caminhada nas trilhas |
Galera reunida para a janta depois de uma tarde na praia |
As Praias:
Trindade
possui belas praias, cada uma com sua característica própria:
1- Praia Brava
A
primeira praia que se tem, antes mesmo de chegar a cidade é a Praia Brava. Para
acessar esta praia deve-se parar o carro em um recuo existente na estrada de
acesso a vila, atravessando o córrego para quem sai de Trindade, e descer pela
trilha por cerca de 20 min. No caminho margeia-se um riacho e é só seguir a
trilha ao longo do córrego até encontrar as areias da praia.
A Praia
Brava é um verdadeiro paraíso escondido na mata. Uma praia deserta e com boas
ondas em meio a mata atlântica.
Praia Brava |
2- Praia do Cepilho
A
primeira praia que se vê quando chega-se a vila. A praia do Cepilho é a
preferida dos surfistas, já que possui boas ondas. Um bar estrategicamente bem
colocado é a opção para matar a fome de quem prefere ficar nesta praia. Diante
das areias está o córrego que corta a estrada de chegada à vila.
3- Praia de Fora
A
Praia de Fora liga o Cepilho a Praia dos Ranchos, mas na verdade é uma única
faixa de areia que se divide em três praias. Esta praia é margeada pelos
campings que fazem a ligação dela com a rua do centro e é marcada pelas grandes
rochas que servem de cenário para fotos dos turistas que fazem o percurso entre
o Rancho e o Cepilho caminhando pelas areias.
As pedras entre o Cepilho e a Praia de Fora |
Praia de Fora |
4- Praia dos Ranchos
Praia
que tem o acesso pelo final da rua principal de Trindade (a esquerda), tem esse
nome devido aos antigos ranchos de criação de animais que existiam as margens
da faixa de areia. Hoje com as faixas de terra dominadas por estacionamentos,
onde os turistas que chegam de Paraty para passar o dia deixam os carros (bem
caro em fins de semana e feriados) os ranchos já foram locais onde se guardavam
os barcos dos pescadores.
A
Praia dos Ranchos possui bares a beira-mar com cadeiras para quem gosta de sombra
e água fresca.
A
noite os bares promovem um arrasta-pé e as areias recebem fogueiras para um ou
outro lual, mas não espere muita coisa, tudo é no ritmo fogueira e violão.
5- Praia do Meio
A Praia
do Meio é uma pequena baía com uma faixa de areia "interrompida" por
uma formação rochosa de onde se pode ver as outras praias e o mar aberto.
O
acesso é fácil seguindo um pouco adiante após o Rancho, logo no fim da vila.
Existe uma estrutura para receber os visitantes com vendedores e cadeiras para
alugar.
No
fim da faixa de areia o Rio dos Codós deságua no mar permitindo um banho de
água doce em plena areia da praia.
6- Praia do Cachadaço
A
Praia do Cachadaço é a última praia do Rio de Janeiro, já que está a poucos
metros da divisa RJ/SP e diferente das outras praias de Trindade, esta não
possui “Salva-Vidas”. Não recomendo um banho de mar para quem não sabe nadar,
pois é uma bonita praia de fortes ondas e as duas vezes que mergulhei por lá a
correnteza estava bem forte. O acesso se dá por uma pequena trilha a partir da
Praia do Meio.
A
trilha, de aproximadamente 400 metros, possui grande declividade, com uma
subida em degraus cravados na terra e pedras e uma descida da mesma forma nas
areias do outro lado do monte. O caminho não é difícil, mas pode exigir mais de
pessoas que não estão acostumadas a caminhar.
A trilha em meio a natureza |
7- Praia da Figueira
A
Praia da Figueira é na verdade uma pequena faixa de areia em meio a pedras que
fica entre a Praia do Cachadaço e a Piscina Natural, sendo conhecida por ser
usada por naturistas como praia de nudismo. Para se ter acesso a esta mini
praia deve-se descer uma trilha que parte do caminho entre o Cachadaço e a
piscina natural, mas este caminho está sem identificação nos dias de hoje.
A Área de Proteção Ambiental do
Cairuçu
Trindade
fica na APA do Cairuçu e por isto é cercada de mata atlântica preservada, mas é
possível caminhar por algumas trilhas dentro desta área. Da primeira vez que
estive na vila (em 2007) havia placas informando algumas cachoeiras, poços e
trilhas, já da última vez (em 2015) as placas não estavam mais lá, creio que
para melhor preservação do local. Muitos dos caminhos já estavam fechados.
Trindade
é o último povoado do Estado do Rio de Janeiro e lá fica a divisa com o Estado
de São Paulo: A Pedra Cabeça do Índio. Relatos de viajantes e alguns sites na
internet vão indicar que é possível chegar até a Cabeça do Índio, através de
uma caminhada pela mata, mas não vi nenhuma trilha para o local. Se algum dia
foi muito usada, hoje deve estar fechada pela mata e só é conhecida pelos
locais.
Ao fundo a divisa entre RJ e SP em uma pedra sobre o mar |
Pedra Cabeça do Índio |
Piscina Natural do Cachadaço
Uma
piscina natural se forma nas águas do mar protegida por enormes pedras
vulcânicas entre a Praia do Cachadaço e a Cabeça do Índio.
Para
se chegar até a piscina natural deve-se fazer uma trilha de, aproximadamente,
800 metros de extensão. O caminho que se inicia no fim da faixa de areia da
Praia do Cachadaço é de dificuldade média, mas muito bem definida com degraus e
corrimãos de apoio para se vencer as subidas e descidas do caminho. Também é
possível chegar até aqui em barcos que saem da Praia dos Ranchos ou da Praia do
Meio, mas nestes casos as saídas dependem da maré.
Escada nas pedras da trilha para a Piscina Natural |
Na
piscina natural não existe faixa de areia, mas pode-se sentar nas pedras.
Dentro de suas águas rasas é possível ver peixinhos coloridos.
Piscina Natural do Cachadaço: O mar represado pelas pedras |
O Rio dos Codós
O
Rio dos Codós desce pelas encostas na mata e deságua na Praia do Meio. Uma placa
junto as suas águas nas areias indica o caminho em uma trilha que conduz a
outras maravilhas da natureza escondidas na Serra do Mar. O percurso tem cerca
de 600 metros e é uma trilha de nível fácil.
Seguindo
pela trilha ao longo do rio se tem várias pequenas trilhas que conduzem a poços
e cascatas que se pode tomar banho. Antes eram mais bem sinalizadas e hoje em
dia estão com os caminhos se fechando, mas ainda é possível acessar todos os
pontos, como a Cachoeira dos Codós, também chamada de “Chuveiro”, por ser uma
pequena queda d’água em uma pedra, o poço das Duas Paredes e o poço do Escorrega,
com uma pedra que em épocas de maior volume de água permite o escorrego na
pequena corredeira.
Chuveiro ou Cachoeira dos Codós |
Poço de Duas Paredes |
Poço do Escorrega com a pedra lisa ao fundo |
Cachoeira do Poço Fundo
Seguindo
a trilha chega-se a Cachoeira do Poço Fundo, uma queda d’água entre pedras com
um poço fundo e estreito ao lado de uma piscina natural formada em um poço de
águas rasas.
Vale
muito um banho nas águas geladas com direito a uma massagem relaxante na forte
queda das águas da cachoeira. O poço estreito tem seu centro fundo, mas é
possível se apoiar nas pedras laterais e até apoiar os pés em um piso. Debaixo
da queda d’água não é fundo e pode ir sem medo ;-)
Poço e Cachoeira |
Pedra que Engole
A
trilha termina na famosa Pedra que Engole que é uma das mais visitadas atrações
naturais de Trindade, formada por uma grande rocha por onde correm as águas que
descem a Serra do Mar em direção a Praia do Meio. O acesso se dá atravessando o
rio diante da Cachoeira do Poço Fundo e subindo poucos metros pela trilha até a
parte de cima da cachoeira.
Pedra que Engole: Um buraco escondido sobre a água |
A
Pedra recebe esse nome devido a uma abertura entre as rochas, escondida por uma
cortina de água. A diversão é escorregar entre as pedras, sumindo de baixo de
uma delas dando a impressão que a pessoa que entrou no buraco foi engolida pelo
chão em meio as águas.
Eu entrando pelo buraco... |
Sendo engolido pela pedra |
A
entrada assusta a uma primeira vista, mas nada mais é do que um degrau entre
duas pedras que dá acesso a parte de baixo de uma delas. Depois de “ser
engolida” a pessoa sai por debaixo da pedra em uma passagem estreita que exige
cuidado para não bater a cabeça sobre o teto.
A saída por debaixo da pedra em uma passagem estreita |
Dicas Importantes
-
Deixe o carro estacionado na pousada ou camping e faça tudo caminhando.
Trindade é pequena;
-
Leve um snorkel para curtir a Piscina Natural do Cachadaço;
-
Chegue cedo na Piscina Natural do Cachadaço, principalmente se estiver
visitando a vila em um feriado. O lugar fica lotado conforme as horas do dia
vão avançando e chegar depois das 11h da manhã vai fazer com que encontre uma
multidão que estraga completamente o clima de paz do lugar!
-
Trindade pode ser visitada em um dia para quem estiver em Paraty. Vá cedo e
volte no finzinho do dia para aproveitar as praias e a cachoeira no Codó;
- Se
for descer na Praia Brava estacione o carro no início da trilha, mas não deixe
bolsas e itens de valor à mostra. Alguns relatos apontam roubos a veículos ali
estacionados, principalmente em dias de semana quando o movimento é pequeno na
estrada;
- A
Praia da Figueira é formada por mais pedras do que areia e praticamente some
quando a maré está alta. Atualmente relatos dão conta de que os naturalistas
tem usado a Praia Brava para nudismo;
-
Trindade é uma vila simples com acomodações modestas. Quem gosta de luxo deve
ficar hospedado em Paraty e fazer apenas visitas ao vilarejo.
Adorei conhecer o lugar e estar no meio da natureza, Tiago foi um ótimo guia do mat, rsrs Quero voltar um dia...
ResponderExcluirAdorei seu relato e nossa viagem! Amei Trindade. Muito aconchegante!
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